Autores
Billacrês, M.A.R. (LABORATÓRIO DE ESTUDOS SOCIAIS-LAES/INPA) ; Narbaes, A.C.C. (LABORATÓRIO DE ESTUDOS SOCIAIS-LAES/INPA)
Resumo
Este trabalho analisa as implicações da cadeia produtiva da pecuária bovina da Amazônia. O objetivo deste trabalho é analisar em síntese de que forma a cadeia produtiva da pecuária bovina impacta o meio ambiente, especificamente no município de Boca do Acre. Na pecuária bovina da Amazônia brasileira, este processo de retirada de cobertura vegetal ocorre nas seguintes etapas da cadeia: produção, distribuição e circulação, analisou-se que do ponto de vista ambiental, os custos dos desmatamentos são significativos, superando inclusive os benefícios privados da pecuária, sobretudo, quando se consideram as incertezas associadas as perdas irreversíveis de um patrimônio genético e ambiental pouco conhecido.
Palavras chaves
Impacto; Ambiente; Economicidade
Introdução
Partindo do pressuposto que a economicidade que rodeia a dinâmica de múltiplos impactos (sociais, econômicos, políticos e ambientais) é baseada em matérias- primas fornecidas pela natureza, no qual a interação da economia com o ambiente é baseada na função de reserva de recursos. Algumas dessas relações são percebidas pela dinâmica de Cadeia de Produção, onde cada etapa é uma organização territorial específica, e consequentemente há diversas formações de paisagem. A pecuária bovina na formação sócioespacial brasileira se estruturou com importante papel na ocupação de regiões novas, e desse modo consequentemente implicando no meio ambiente, sobretudo no solo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar as implicações da cadeia de produção no ambiente, especificamente no município de Boca do Acre.
Material e métodos
Os referenciais teórico-metodológico são para analises de compreensão e intervenção das ações sociais em cruzamento com a compreensão da ecodinâmica da natureza e suas potencialidades, visto que as transformações na natureza são decorrentes das diferentes interseções humanas e os arranjos espaciais em diferentes escalas estão relacionados com os capitais e o nível de inserção no contexto econômico.
Resultado e discussão
Geógrafos, como Milton Santos (1997), apresentam a expressão geográfica para
este processo, o Circuito Espacial de Produção, mas na essência trata-se do
mesmo fenômeno, pois este o define como “... as diversas etapas pelas quais
passariam um produto, desde o começo do processo de produção até chegar ao
consumo final.” (SANTOS, p. 49, 1997).
A análise desse movimento se deve pelo conhecimento de relações sociais e
econômicas que é de vital importância para o planejamento ambiental (ROSS,
1995). Além do mais, o ambiente, é para o geógrafo um dado percebido,
vivido, gerenciado, um objeto político; sendo assim, um objeto social que
interagem dados sociais e elementos naturais dentro de uma construção que
tem às vezes a natureza e a cultura (VEYRET, 2007).
Cada etapa da cadeia (produção-distribuição-circulação-consumo) apresenta
uma organização espacial/territorial específica, que visa transformar um
espaço dado em benefícios dos homens que o ocupam, particularmente medindo o
valor dos recursos do meio natural e reduzindo os contrastes para se adaptar
(RECHEZZA, 2007).
Desta forma, como aponta Ross (2009) para preocupações de fragilidades e
planejamento ambiental é preciso tratar e apreender os diversos lugares,
face suas diversidades sociais e naturais, no contexto de totalidade,
envolvendo, portanto, sociedade e natureza.
Com isso, a geomorfologia tripartite (AB’SABER, 1969), sendo uma simbiose
conceitual, por meio de seus níveis de tratamento, apontam dados que
acompanhados de uma analise de cadeia, proporcionam evidenciar as
interferências no relevo e, as relações deste no contexto social e
econômico. Sendo possível analisar a exploração dos recursos naturais com o
desenvolvimento tecnológico, científico e econômico das sociedades humanas.
As cadeias produtivas atuam no que Ross (2008, 2009) denomina de
Ecodinâmicas Instáveis, pois as intervenções antrópica modificam
intensamente os ambientes naturais, através de desmatamentos e práticas de
atividades econômicas diversas.
A cadeia produtiva de pecuária bovina- em seus diversos encadeamentos
(carne, leite, couro), pois as cadeias não são puras- é colocada como a
principal causa do desmatamento da Amazônia brasileira, por conta disso
apresenta tendências e implicações para a conservação ambiental (MICHELS,
2000; MARGULIS, 2003; ARIMA, 2005; BILLACRÊS, 2013).
Para a região Ab’ Saber (2003) apontou que houve uma ocupação pontual e
linear, que sucedeu um modelo areolar e metastático de supressão de
florestas de terra firme interfluvial para a instalação de monótonas e pouco
produtiva agropecuárias. Um ciclo de pastagens degradáveis, no coração das
selvas, a partir de cabeceiras de igarapés e pequenos rios, interferindo na
vicinalidade e cultura das comunidades de pequenos cursos d’água regionais.
Neste sentido, as cadeias produtivas, como intervenção humana, afeta
primeiramente a cobertura vegetal, e como aponta Tricart (1977) apud Ross
(2009) a partir desta modificação, modifica-se: o valor econômico da água
(qualidade), a pedogênese, e o regime dos rios. E mais, a inexistência da
cobertura vegetal, além de não condicionar a infiltração das águas pluviais
no solo, contribuindo para seu ressecamento, favorece o escoamento
superficial, facilitando a atividade erosiva.
Em áreas, como a região Amazônica, de climas mais quentes, a presença de
cobertura vegetal, torna-se essencial pela atenuação da violência de águas,
nos quais dificulta os processos erosivos, pois a água que atinge o solo tem
seu escoamento superficial retardado, em virtude das camadas de folhas. Sem
a presença dessa cobertura, a ação do vento é alterada, bem como a ação das
gotas de chuvas sobre o solo, a quantidade de água antes absorvida pela
infiltração penetra com muito mais força e, na zona das raízes, onde havia o
acúmulo de água, facilitando a absorção, isto não mais acontece: a área de
acumulação passa a ser a lixiviação. A quantidade de água que chega ao solo
não pode ser mais absorvida com a mesma velocidade que a água cai,
originando um escoamento rápido e superficial. (ROMARIZ, 2008)
Na pecuária bovina da Amazônia brasileira, este processo de retirada de
cobertura vegetal ocorre nas seguintes etapas da cadeia: produção,
distribuição e circulação. Na produção é aliada ao menor preço das
pastagens, que é suficiente para compensar os menores preços recebidos pelo
gado na Amazônia, ou seja, os produtores conseguem obter maior retorno pelo
investimento, do que no centro sul, aumentando o desmatamento.
Na distribuição e circulação, toma destaque o transporte, atividade
econômica que tem por objetivo reduzir distâncias (BAVOUX, 2005), eliminando
obstáculos naturais, e o seu impacto no ambiente ocorrem, pelo fato de, em
primeiro lugar, as infraestruturas de transportes, terminais, equipamentos e
as redes ocupam um importante lugar no espaço e constituem a base de um
sistema complexo espacial. Em segundo lugar, uma vez que a geografia procura
explicar as relações espaciais, redes de transporte são de interesse
específico, porque eles são o suporte principal dessas interações (RODRIGUE,
2009).
Sendo assim, como apontou Lefebvre (2008), a natureza, como o espaço, com o
espaço, é simultaneamente posta em pedaços, fragmentada, vendida por
fragmentos, é destruída como tal e remanejada segundo as exigências da
sociedade neocapitalistas. As exigências da recondução das relações sociais
envolvem a venalidade generalizada da própria natureza.
Desta forma, e partindo da percepção de Tricart (apud MOREIRA, 2008) “O
homem está na natureza e na sociedade. É o elo. E o salto. A rigor, é a
razão e a gênese do meio. O meio é um meio do homem. E essa dupla presença
se faz ‘numa rede de rivalidades de interesse, de lutas econômicas e
políticas, de ambições concorrentes’. Por isso, esse duplo se reproduz num
duplo positivo-negativo na relação com o meio” (p.123).
Essa reprodução dupla é vista na cadeia de bovinos das seguintes formas: no
ponto de vista social- os benefícios privados da pecuária de larga escala
são distribuídos de forma excludente, pouco contribuindo para reduzir a
desigualdade econômica e social. Do ponto de vista ambiental, os custos dos
desmatamentos são significativos, superando inclusive os benefícios privados
da pecuária, sobretudo, quando se consideram as incertezas associadas as
perdas irreversíveis de um patrimônio genético e ambiental pouco conhecido
(MARGULIS, 2003)
Billacrês (2013) aponta dados para a realidade do sul do estado do Amazonas,
no município de Boca do Acre, na depressão madeira-purus, onde se encontra a
maior atividade de bovinocultura do estado, impacto da expansão da fronteira
agropecuária. Esta atividade é responsável pela retirada da floresta
ombrófila, e como forma de ordenamento e gestão do território houve no
município a formação de Unidades de Conservação (que são: Flona do Iquiri,
FlonaMapiá-Iauni e RESEX Arapaxi) que cobrem 32% do território, com o
intuito de conservar o patrimônio genético e ambiental, que são destruídos
pelo pisoteio do animal, ocasionando o consumo seletivo dos vegetais. O
pisoteio, também, compacta o solo, diminui a capacidade de infiltração das
águas e acelera o escoamento superficial.
A segunda dinâmica é composta pelos pequenos proprietários, estes por não
possuir tecnologias abrem novos espaços para o aumento de rebanho, desta
forma, são punidos, por meio de multas, pelo ICMBIO. Além disso, o abate dos
animais é realizado as margens do rio Branco. O mercado local é o destino
desta segunda dinâmica.
O fato é que há na história humana uma relação de degradação e de uso
adequado que afeta primeiramente a vegetação e os solos.
Considerações Finais
Do ponto de vista social, esta atividade apresenta duas dinâmicas: a primeira dominado pelos médios e grandes pecuaristas, estes são proprietários de extensas terras, mas, para a expansão de sua produção são o que menos desmatam, devido, a inspeção do ICMBIO, e pelo avanço das tecnologias, onde possibilita o aumento da produtividade, sem a abertura de novos espaços, o destino do seu principal produto, a carne bovina é destinada a Manaus .As cadeias de produção, em suas etapas, apresentam novos sujeitos e formas, as paisagens naturais herdadas são remodeladas ou novas paisagens são (re) produzidas, como forma de atender as necessidades sociais. A produção, circulação, distribuição e consumo apresentam características específicas na produção e organização do espaço, seguindo exigências do modo de produção capitalista, onde a relação com o meio é baseado na reserva de recursos.
Agradecimentos
Referências
AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editoral, 2003.
ARIMA, Eugênio; BARRETO, Paulo; BRITO, Marky. Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental. Belém: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, 2005
BILLACRÊS, Máximo Alfonso Rodrigues. Circuito espacial de produção de carne bovina no estado do Amazonas. Dissertação (Mestrado em Geografia) –– Universidade Federal do Amazonas, 2013.
BAVOUX, Jean- Jacque (org). Introduction à l’analysespatiale.Armand Colin, Paris, 2005.
LEFEVBRE. Henri.Espaçoepolítica.BeloHorizonte:EditoraUFMG,2008
MICHELS, Ido Luiz Michels. A bovinocultura de corte brasileira e o mercado externo: regiões sanitárias e a cadeia produtiva de carne bovina de Mato Grosso do Sul.Tese de Doutorado (em Geografia). Universidade de São Paulo.São Paulo, 2000.
RODRIGUE, J-P. Et allThe Geography of Transport Systems. Second Edition, New York: Routledge. 2009
ROSS,J.L.S Ecogeografia no planejamento ambiental territorial. Natal-RN. Volume 20. Numero 1. 2008
ROSS,J.L.S.Geomorfologia e Meio Ambiente. Organizadores: Antonio Jose Teixeira Guerra e Sandra Baptista da Cunha. Editora: Bertrand Brasil-São Paulo.
ROSS,J.L.S.Geografia, tradições e perspectivas: interdisciplinaridade, meio ambiente e representações. Geografia e as Transformações da natureza: Relação sociedade-Natureza. Volume 2. Editora Expressão Popular- São Paulo. 2009.
SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2º Edição. São Paulo: Hucitec, l997.
TRICART, J. Ecodinamica.Rio de Janeiro:IBGE-SUPREM.(Recursos Naturais e Meio Ambiente). 1977. 91 p.