Autores

Wroblewski, C.A. (UFPR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Paula, E.V. (UFPR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)

Resumo

O presente estudo visa identificar as áreas fonte de sedimentos na área de abrangência da APA de Guaraqueçaba, bem como estimar as taxas de produção sedimentológica por unidade hidrográfica, ambos os produtos visando subsidiar o planejamento e a gestão ambiental. Para tanto, aplicou-se a metodologia utilizada por Paula (2010) para se chegar aos objetivos, assim como foram utilizados os pressupostos da Geopedologia. Portanto, a estimativa da produção de sedimentos indica que a área de abrangência da APA de Guaraqueçaba tem uma produção sedimentológica de 24,67 t.km-2.a-1, totalizando 59.317,71 toneladas/ano, da mesma forma que aponta a bacia do rio Tagaçaba como a unidade hidrográfica com maior disponibilização de sedimentos, contribuindo com 16,6% do volume total estimado.

Palavras chaves

Planejamento Ambiental; Suscetibilidade Geopedológica; Produção de Sedimentos.

Introdução

Atualmente, as ações antrópicas avançam sobre diversos ambientes, sem planejamento e avaliação dos impactos que podem causar. Tais problemas trazem prejuízos não só a fauna e flora local, mas também problemas sociais e de ordem econômica, tendo em vista que a recuperação de um ambiente degradado em geral envolve um montante razoável de recursos públicos. Assim sendo, do ponto de vista geopedológico, o principal problema a ser destacado é a acelerada perda de solos, que pode ser traduzido, segundo Guerra e Cunha (2008), sob a forma de desagregação, transporte e deposição de seus constituintes, ao passo que tais desequilíbrios evidenciam-se, segundo Guerra e Mendonça (2004) apud Paula (2010), no local aonde o fenômeno se processa (onsite), bem como em regiões afastadas (offsite). Os principais problemas offsite, relacionam-se à contaminação hídrica, enchentes e, de modo especial, ao assoreamento. Salienta-se que tais processos de transporte e deposição, são naturais, contudo, são potencializados pelas mudanças no uso e ocupação da terra, e obras de engenharia executadas sem o devido critério. A área de abrangência da APA de Guaraqueçaba, selecionada para o estudo, integra diversas Unidades de Conservação, com diferentes níveis de proteção, sendo que o recorte para o presente trabalho se deu pelos limites da APA de Guaraqueçaba e do Parque Nacional de Superagui. Além das mencionadas UC’s, há também no interior da área de estudo a Reserva Biológica Bom Jesus e a Estação Ecológica de Guaraqueçaba, geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de outras quatro RPPN’s, duas mantidas pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS, uma pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e, por fim, uma mantida por particular. Diante da significativa diversidade de ambientes abrangidos pela APA de Guaraqueçaba e demais áreas protegidas, faz-se necessário estudos que busquem compreender a origem dos sedimentos gerados nas bacias hidrográficas, bem como quantificar essa produção sedimentológica. Assim, o presente estudo visa à elaboração, em um primeiro momento, da carta de suscetibilidade geopedológica à produção de sedimentos, ao passo que na segunda etapa, busca a estimativa da produção de sedimentos, a partir da elaboração 3 de uma carta de potencial à produção de sedimentos na área de abrangência da APA de Guaraqueçaba. Portanto, o conhecimento das áreas suscetíveis à disponibilização de sedimentos e à inferência da produção sedimentológica, trazida pelo presente trabalho, apresenta elevado potencial a subsidiar decisões dos gestores sobre as áreas prioritárias à conservação e à recuperação ambiental nas Unidades de Conservação inseridas no território estudado. No âmbito do presente trabalho, optou-se pela utilização das proposições da Geopedologia para a integração dos fatores ambientais. Assim sendo, a Geopedologia pode ser compreendida como a combinação dos aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos, voltada à compreensão das potencialidades e fragilidades da dinâmica do ambiente (CURCIO et al., 2006).

Material e métodos

A área de abrangência da APA de Guaraqueçaba possui 2.818,85 km², contudo, a análise do presente estudo compreende a sua porção emersa, que soma 2.404, 20 km². O território escolhido se insere no contexto do Complexo Estuarino de Paranaguá, ambiente esse que apresenta uma série de problemas associados à deposição/erosão costeira (LAMOUR e SOARES, 2008), em especial o assoreamento. Para inferir as áreas naturalmente suscetíveis a processos erosivos e movimentos de massa, inicialmente efetuou-se um levantamento sobre os atributos físicos da área, quais sejam: geologia, pedologia e geomorfologia. Salienta-se que a análise geomorfológica levou em conta os parâmetros de declividade e forma das vertentes. Após o levantamento geopedológico, seguiu-se a ponderação dos elementos que compõem o meio físico. Assim, diversos autores vieram a contribuir com as inferências feitas, tais como os trabalhos desenvolvidos por Tricart (1977), Ross (1994), Crepani et al. (2001), Kouakou e Xavier (2004), Campagnoli (2005; 2006), Cunico (2007), Santos et al. (2007), Paula e Cunico (2008), Borges et al. (2009), Paula et al. (2010) e Wroblewski e Paula (2015) Tendo as variáveis geopedológicas hierarquizadas, partiu-se para a integração dessas informações em ambiente SIG. Sendo que, para tal fim, considerou-se a média aritmética dos elementos que compõem o meio físico, como demonstrado na equação 1.

Resultado e discussão

A análise da Carta de Suscetibilidade Geopedológica à Produção de Sedimentos (Figura 1), evidencia que a classe mediana predomina na área de abrangência da APA de Guaraqueçaba, recobrindo 74,45% da mesma. As classes baixa e alta tiveram valores próximos de ocorrência, sendo 11,59% e 12,29%, respectivamente, sendo que os dois extremos, muito baixa e muito alta, somaram apenas 1,63% de toda a área de estudo (Figura 2a) As áreas classificadas como medianas, compreendem porções da área de estudo onde a interface do meio físico abrange valores de alta e baixa suscetibilidade na mesma área. Como exemplo, tem-se locais que possuem geologia com alto grau de suscetibilidade, contudo a declividade possuí o valor mínimo. Outro exemplo são áreas que possuem geologia com baixo grau de suscetibilidade, contudo os solos apresentam um alto grau de suscetibilidade. Assim sendo, ao se realizar a álgebra de mapas, as classes encontradas situam-se em patamares intermediários. Ao se realizar a análise pormenorizada das bacias hidrográficas que compõem a área de abrangência da APA, percebe-se que as principais porções suscetíveis à produção de sedimentos encontram-se nas bacias dos rios Guaraqueçaba, Tagaçaba, Pacotuva e a Unidade Hidrográfica de Antonina (Figura 2b). Para aprofundar o conhecimento acerca da área de estudo, verificou-se a necessidade de se estimar a produção de sedimentos em cada unidade hidrográfica. Portanto, fez-se uso do mapeamento do Uso da Terra e Cobertura Vegetal correspondente ao ano de 2005 em consonância com a carta de suscetibilidade geopedológica (Figura 3a). A classe de Floresta em Estágio Médio/Avançado obteve a maior representatividade (71,29% da área), sendo que essa classe é a que promove o maior grau de proteção aos solos, tal como os manguezais (7,50% da área) que também se caracterizam pela pequena disponibilização de sedimentos, por situarem-se em regiões de deposição. As áreas classificadas como Floresta em Estágio Inicial (8,33% da área) referem-se a ambientes que já foram utilizados para outros fins (agricultura, criação de bubalinos, etc.) e que estão se regenerando, portanto também possuem um valor alto de proteção do solo. Áreas classificadas como restinga e faixa de praia (5,81% da área), e vegetação de várzea (1,47% da área), foram também consideradas áreas que não disponibilizam grande quantidade de sedimentos, tendo em vista a posição topográfica em que se encontram e as características de cada formação. Os ambientes de reflorestamento são pouco expressivos na área de estudo (0,003% da área) contudo, propiciam também um grau relativamente elevado de proteção ao solo. As áreas de pastagem, campos, agricultura e solo exposto (5,16% da área), foram classificadas como sendo de grau mediano, no que se refere a proteção do solo, tendo em vista que o pisoteio (especialmente de búfalos, cuja ocorrência é importante na região) promove a compactação do solo, intensificando o escoamento superficial das águas. As áreas de cultivo, especialmente de pupunha, não caracterizam-se por deixarem o solo por longos períodos exposto, ao passo que a rizicultura, também relevante na região, é praticada em ambientes hidromórficos, ou seja, de baixa energia devido a posição topográfica. As áreas urbanizadas (0,19% da área) possuem um baixo valor de proteção do solo, sendo áreas caracterizadas pela remobilização e compactação do solo, porém, compreendem a menor parcela da área de estudo. Por fim, tem-se que as estradas (0,24% da área) possuem o valor mais baixo de proteção do solo, já que todas são recobertas com saibro. Nota-se a alta mobilização de sedimentos nas estradas rurais, devendo-se salientar o fato de que periodicamente o DER/PR (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná) recupera as estradas de acesso na região, denotando assim a facilidade com que o material é carreado até os canais fluviais. Tendo como base tais considerações, estimou-se a produção de sedimentos da área de abrangência da APA de Guaraqueçaba em 59.317,71 toneladas ao ano, sendo que a média por quilômetro quadrado foi de 24,67 toneladas anuais. As áreas potencialmente produtoras de sedimentos podem ser vistas na Figura 3b; Para compreender melhor quais são as unidades hidrográficas que mais contribuem com a produção de sedimentos, foi inferido qual a contribuição de cada unidade hidrográfica para o total de sedimentos gerados por ano na APA. Tal inferência se fez, calculando, para cada unidade hidrográfica, suas classes de potencial à produção de sedimentos. (Figura 4). O maior percentual de contribuição de sedimentos à baía das Laranjeiras recaiu sobre a bacia do rio Tagaçaba. Essa bacia possui 290 km² de extensão, sendo menor que a do Serra Negra, e localiza-se integralmente dentro do município de Guaraqueçaba. Salienta-se que esta é a bacia mais antropizada da região, bem como apresenta condicionantes do meio físico, que favorecem a alta produção sedimentológica. Os demais valores encontrados no presente estudo apresentam coerência com os estimados por outros pesquisadores seguindo a mesma metodologia, porém, para outras áreas. A relação entre as estimativas pode ser vista com o trabalho de Paula (2010). Utilizando o recorte geográfico da área de drenagem da baía de Antonina, foi encontrado uma média por quilômetro quadrado de 40,4 toneladas de sedimentos ao ano, valor superior ao encontrado no presente trabalho. Entende-se que tal valor deve-se ao fato da área de estudo desse trabalho ser mais antropizada em comparação a área de abrangência da APA de Guaraqueçaba. Outro estudo que cabe ser citado para comparação de resultados, foi efetuado por Borges et al. (2009), no setor sul da alta bacia do rio Araguaia. Nessa pesquisa foi estimado para o ano de 1977 o valor de 26,6 t.km².a-¹, tendo sido considerado um percentual de vegetação nativa de 77%, muito próximo do valor encontrado na área de abrangência da APA, que foi de 71,3%.

Figura 1

Carta de Suscetibilidade Geopedológica à Produção de Sedimentos.

Figura 2

A - Valores de Suscetibilidade Geopedológica à Produção de Sedimentos e B – Valores de Suscetibilidade por Unidade Hidrográfica.

Figura 3

A - Definição das classes de Potencial à Produção de Sedimentos e B - Espacialização das áreas potenciais à produção de sedimentos.

Figura 4

Estimativa da produção de sedimentos por Unidade Hidrográfica.

Considerações Finais

Conclui-se que o presente trabalho atingiu os objetivos propostos, tendo por resultados principais a predominância, na área de estudo, da suscetibilidade mediana à produção de sedimentos, atingindo o valor de 74,45% do total. No que concerne à produção de sedimentos estimou-se que para a área de abrangência da APA de Guaraqueçaba tem-se o valor de 59.317 toneladas ao ano, o que se traduz na produção média de 24.67 t.km².a-¹. Verificou-se também que a bacia mais contribuinte com a produção de sedimentos é a do Tagaçaba, tendo uma produção anual de 9.850 toneladas, o que corresponde a mais de 16% do total anual para a área de estudo. Assim, pode-se dizer que o presente trabalho contribui com os procedimentos ligados ao planejamento do território. Salienta-se que o presente estudo foi enviado ao ICMBio, para auxiliar nas discussões dos Planos de Manejo das UC’s da região, tendo em vista que os mesmos estão em processo de elaboração. Como recomendação, sugere-se que o mapa de uso do solo seja atualizado, bem como as classes de solo exposto e agricultura sejam separadas das classes de campo e pastagem, tendo em vista que as duas primeiras disponibilizam maior montante de sedimentos que as outras duas. Por fim, através da espacialização das áreas mais críticas no que se refere ao potencial à produção de sedimentos, os gestores das Unidades de Conservação podem direcionar suas ações e seus esforços de monitoramento nas bacias que disponibilizam o maior montante de sedimentos.

Agradecimentos

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