Autores
Melo, G. (UEM) ; Rubira, F.G. (UNICAMP)
Resumo
A área de pesquisa encontra-se localizada junto à borda planáltica, denominada regionalmente de Serra Geral. A pesquisa visa identificar áreas propensas à erosão a partir de uma análise da resistência relativa dos corpos rochosos e suas relações morfodinâmicas e pedogenéticas. Serão mapeadas e analisadas as formas do relevo, com base nos elementos fisiográficos da paisagem, tais como: rede de drenagem, embasamento geológico, coberturas superficiais e uso e ocupação do solo. Os resultados obtidos proporcionaram a confecção do mapa da compartimentação das unidades geomorfológicas e do quadro comparativo referente a elas, que indica o uso correto do solo, tendo como base as características geológicas, hidrográficas pedológicas/grau de fragilidade e aptidão do solo, presentes em cada unidade da folha SG.22-V-B-VI-3, denominada de Faxinal da Boa Vista.
Palavras chaves
Compartimentação Geomorfológica; Fragilidade ambiental; Processos erosivos
Introdução
Atualmente o meio ambiente é uma das preocupações mais relevantes da humanidade, na busca por melhorias na qualidade de vida e na tentativa de preservar o que a natureza produziu. A necessidade de compreender as interações complexas entre a sociedade e natureza e as modificações na paisagem resultantes delas, originam novas visões sistêmicas e temas de pesquisas ambientais. O avanço da exploração dos recursos naturais está decisivamente associado ao desenvolvimento científico, tecnológico e econômico da humanidade, contribuindo para sua degradação. Essa realidade tem trazido à urgência do planejamento físico territorial, enfocando não só a gestão socioeconômica, mas também a questão ambiental, considerando em especial a fragilidade do meio através de intervenções antrópicas (DONHA et al., 2006). A identificação dos ambientes naturais e suas fragilidades potenciais e emergentes proporcionam melhor definição das diretrizes e ações a serem implementadas no espaço físico-territorial, servindo como base para o zoneamento ambiental e fornecendo simultaneamente subsídios à gestão do território. A erodibilidade do solo, vista pela sua fragilidade, é explicada pelas diferenças nos atributos físicos e químicos dos mesmos, é possível que alguns tipos de solos sejam mais suscetíveis a processos de degradação do que outros, mesmo estando em condições ambientais semelhantes. (KAWAKUBO et al., 2005). Sabe-se que a falta de planejamento com ênfase nos atributos naturais pode ocasionar problemas ambientais que, consequentemente, originarão transtornos de ordem social. Segundo Santos (2004), o planejamento ambiental pode ser definido como o planejamento de uma região, visando integrar informações, diagnosticar ambientes, prever ações e normatizar seu uso através de uma linha ética de desenvolvimento. A área de estudo está localizada no contexto geotectônico da Bacia Sedimentar do Paraná, que se encontra dividida em 4 compartimentos propostos por Maack (2002), de leste para oeste: a Zona Litorânea, a Serra do Mar, o Primeiro, Segundo e Terceiro Planaltos. Esta pesquisa, por meio da elaboração de um banco de dados referente aos atributos do meio físico permitirá que se realize uma análise geoambiental, destacando as zonas de fragilidade e ao mesmo tempo indicando o uso correto do solo. Para isso, a metodologia utilizada se baseará na proposta metodológica elaborada por Ross (1994). Para analisar melhor a fragilidade ambiental da área de estudo, mostrou-se necessário compartimentar a folha SG.22-V-B-VI-3 em 3 unidades. Cada compartimentação apresentará aspectos físicos favoráveis para agricultura ou pastagem e restrição de uso em algumas áreas. Este trabalho tem como objetivo auxiliar na identificação de áreas propensas à erosão a partir de uma análise da resistência relativa dos corpos rochosos e suas relações morfodinâmicas e pedogenéticas, por meio da análise de fragilidade e simultaneamente auxiliar adoções de medidas de conservação. A pesquisa justifica-se então, pois, espera-se que por meio dos resultados obtidos a mesma se torne útil aos agricultores da área de estudo que dependem desse tipo de atividade econômica para sobreviver. O zoneamento ambiental nessas áreas, onde a economia advém da agricultura, deve fazer parte do planejamento e gestão do território.
Material e métodos
A partir da base cartográfica, serão elaborados os mapas de hipsometria, declividade, solo, fragilidade ambiental e aptidão da folha SG.22-V-B-VI-3 Faxinal da Boa Vista-PR. Através do site da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA- PR), (www.embrapa.gov.br) serão obtidas as imagens de radar (SRTM) e de satélite (LANDSAT 8) da área de estudo na escala de 1:100.000. A imagem de radar permitirá a observação e análise do relevo, por meio do padrão de textura, densidade de crênulas, altimetrias e estruturas. Com base nos dados supracitados, obtidos a partir da análise das imagens de radar e satélite, será elaborado o mapa das Unidades I II e III utilizando o software Quantum GIS 2.8, Surfer 10 e o Corel Draw X5. Neste, serão representadas a distribuição das unidades litoestratigráficas, bem como as principais feições do relevo e o tipo de solo de cada zoneamento ambiental. Por meio do mapa de solos foi possível adotar o uso da metodologia de análise da fragilidade ambiental proposta por Ross (1994), esses resultados foram cruzados com o mapa de aptidão de solo, considerando as classes de aptidão como aptos, inaptas e restritas. As unidades I, II e III foram definidas com base nos mapas temáticos confeccionados, posteriormente foi proposto um zoneamento a partir da análise das características individuais de cada um, resultando no quadro comparativo das unidades.
Resultado e discussão
Em relação à Geologia local (figura 1), a área de estudo apresenta 4
unidades distintas, a Formação Serra Geral, a Botucatu e a Piramboia
originadas no Mesozóico e o Rio do Rasto originado no Permiano-Devoniano. De
acordo com o mapa Geológico desenvolvido pela MINEROPAR (2006), na área de
estudo encontram-se as seguintes litologias: os basalto da Formação Serra
Geral, arenitos das Formações Botucatu e Piramboia e siltitos e argilitos da
Formação Rio do Rasto.
A distribuição das formações geológicas na área ocorre de maneira irregular,
as mais antigas (Rio do Rasto, Botucatu e Piramboia) ocupam espaços menores
da área e situam-se em relevos mais escarpados, sob maior influência de
ações morfogenéticas. A Formação Serra Geral se distribui de maneira mais
homogênea, ocupando os demais espaços, de norte a sul da folha.
As maiores altitudes encontram-se nas Formações Serra Geral, Botucatu e
Piramboia, variam aproximadamente de 700m a mais de 1100m. As menores
altitudes localizam-se na Formação Rio do Rasto, inserida no Segundo
Planalto. Suas altitudes variam de 400m à aproximadamente 700m. (Figura 1).
A composição basáltica do substrato nessa área do município permitiu o
desenvolvimento de formas de relevo suave ondulada e com declividades entre
3% a 12%. (Figura 1). As litologias basálticas associadas à forma de relevo
pouco dissecada favorece o desenvolvimento de mantos de alteração profundos,
representados por solos férteis, avermelhados, com predomínio de Latossolos
Vermelho.
Na área correspondente a Formação do Rio do Rasto, as altimetrias são
menores, não ultrapassam 650m, quando comparadas às altitudes das Formações
Serra Geral, Botucatu e Piramboia que atingem 1000m, como pode ser visto na
figura 1. Porém, o relevo da Formação Rio do Rasto também é suave ondulado.
Observa-se maior dissecação do terreno, originando escarpas com altas
declividades, superiores a 45%, nas Formações Piramboia e Botucatu.
A área de estudo está no contexto hidrográfico de cinco bacias: Bacia do Rio
Piquiri, Bacia do Rio Bonito, Bacia do Rio Ivaí, Bacia do Rio Cachoeira e
Bacia do Rio das Marrecas. É possível observar através do mapa hidrográfico
a ocorrência de 3 tipos de padrões de drenagem, o subdendrítico e paralelo,
predominantes nas Formações Serra Geral, Botucatu e Piramboia e a drenagem
radial predominante na Formação Rio do Rasto (Figura 1).
A rede hidrográfica acompanha a inclinação da superfície geomorfológica,
para norte-nordeste, desenvolvendo padrões diferenciados conforme os tipos
litológico-estruturais e de porosidade dos solos e dos depósitos
quaternários.
Nas Formações Serra Geral, Botucatu e Piramboia, é possível observar a rede
de drenagem menos densa, se comparada a Formação Rio do Rasto, isso ocorre
porque os dois tipos de padrão de drenagem estão associados ao controle
litoestrutural local.
FIGURA1: Conjunto de mapas
De acordo com o Manual Técnico de Solos do IBGE (2007), o Latossolo Vermelho
possui quantidade significativa de óxido de ferro (entre 180 e 400 g.kg).
Tem alta fertilidade natural, é rico em micronutrientes. Este solo é fértil
e não precisa de correções químicas. Também se torna importante pelo seu
espesso manto profundo e por sua boa drenagem, o que dificulta a ocorrência
de erosões. O Latossolo foi encontrado na Formação Serra Geral, no topo da
vertente, onde a altitude é maior e a declividade é menor.
O Neossolo predomina nas Formações Botucatu e Piramboia, localizados na
transição do Terceiro para o Segundo Planalto Paranaense, onde a altitude da
área começa e diminuir e a declividade aumenta consideravelmente.
O Argissolo, segundo o IBGE (2007), possui profundidade variável, mas em
geral são pouco profundos, são solos mais susceptíveis a erosão, para a
agricultura devem ser menos utilizados, pois sua fertilidade é baixa, para
utilizar esse tipo de solo para cultivo é preciso investimento em correções
químicas, tornando seu uso mais caro.
O Cambissolo, de acordo com o IBGE (2007), caracteriza-se por possuir
variação em relação à profundidade, podem ser rasos e profundos Nas maiores
declividades da área de estudo presenciam-se solos mais rasos com fortes
limitações para o uso agrícola, relacionadas à mecanização e à alta
suscetibilidade aos processos erosivos.
As classes de aptidão do solo foram definidas levando em consideração o tipo
de formação geológica, a altitude, a declividade e principalmente o tipo de
solo predominante (figura 2). Senso assim foi possível elaborar os critérios
para definição das classes de aptidão quanto ao uso do solo como: restrito,
apto e inapto.
Uso do solo restrito: não é recomendado o uso do solo para a agricultura,
pois é maior a probabilidade de erosão, trata-se de um Argissolo Vermelho
com baixa fertilidade, o relevo possui grau de inclinação maior que 45% e
baixa altitude.
Uso do solo inapto: Está na transição entre um planalto e outro, tem
presença tanto do Neossolo como do Latossolo que possui alta fertilidade, a
declividade varia de 13 a 20%, o relevo é suave ondulado com altitudes acima
de 600m. Nessa área pode-se desenvolver a agricultura, porém, é preciso
investimento na correção do solo, como exemplo o terraceamento, é uma
técnica agrícola que visa à conservação do solo, essa técnica é útil para o
controle de erosões hídricas em terrenos íngremes.
Uso do solo apto: Possui predomínio do Latossolo Vermelho distroférrico,
ocorre em alta altitude e baixa declividade variando de 3 a 13%, o relevo é
plano a suave ondulado. Nesta área recomenda-se o uso da agricultura. pois o
solo é fértil e menos propenso a erosão, a baixa declividade também
contribui nesse aspecto.
Figura2: Fragilidade e aptidão do solo
Tendo como base os dados levantados foi possível confeccionar o zoneamento
ambiental em três unidades. A análise dos dados geológicos, geomorfológicos,
pedológicos e aptidão do solo foram importantes para definir as unidades
Geoambientais (I, II e III).
Figura 3: Delimitação das unidades
A unidade I compreende a Formação Serra Geral, resultando no Latossolo
Vermelho Distrófico, a fertilidade natural é alta e a probabilidade de
erosão baixa. Nessa unidade também há presença do Neossolo Litólico e
Cambissolo, em menor proporção, também são solos férteis, porém, não tanto
quanto o Latossolo Vermelho. A declividade é baixa, varia de 3 a 13%, o
relevo é plano a suave ondulado. Essa área é apta ao uso, principalmente
para agricultura e também pela baixa fragilidade ambiental.
Na transição do Terceiro para o Segundo Planalto está unidade II, e também é
área de transição quanto ao uso apto e inapto do solo. As formações
predominantes na unidade são a Formação Piramboia e Botucatu, o solo é o
Neossolo Litólico, caracteriza-se por ser solo pouco espesso e jovem, não
recomendado para o cultivo, pois pode resultar em erosões, talvez o ideal
fosse utiliza-lo para pastagem. Pode-se também utilizar o terraceamento para
desenvolver a agricultura.
A fragilidade ambiental nessa unidade é moderada, declividade varia de 13 a
45%, o relevo é suave a ondulado e a altitude está entre 700 a 900m. A
unidade é a transição de um planalto para outro, onde está localizada a
escarpa da BSP, por isso seu uso não é favorável à agricultura.
A unidade III é representada pela Formação Rio do Rasto, cuja decomposição
intempérica resulta em um solo arenoso, no caso dessa unidade, o Argissolo
Vermelho, com baixa fertilidade natural e propensa a erosão. A altitude é a
mais baixa, entre 400 a 600 metros, porém a declividade é a mais alta, acima
de 45%, ou seja, o relevo nessa área é íngreme, o que contribui para a
formação de processos erosivos devido ao rápido deflúvio.
Devido a esses fatores o uso para a agricultura é restrito, podendo ser
desenvolvido a agropecuária. Para cultivar nessa unidade seria preciso um
investimento no solo, com correções para torna-lo fértil, talvez não seja
rentável economicamente, e as chances de ter prejuízo econômico,
principalmente por conta das erosões, é considerável.
Figura4: Quadro comparativ
Considerações Finais
As causas analisadas nesse estudo estão relacionadas à intervenção do homem na natureza. Os solos por meio de atividades desenvolvidas diretamente sobre eles, seja com agricultura, que é o caso desse estudo, ou com atividades desenvolvidas em áreas urbanas, como industrialização, estão sempre ameaçados de degradação. Esta pesquisa contribui para o futuro planejamento de uso e ocupação do solo da área compreendida pela Folha SG-22-V-B-VI.3, as áreas podem ser exploradas de acordo com sua potencialidade, visando o menor impacto possível para as áreas ocupadas. Por meio da metodologia que evidencia a fragilidade ambiental foi possível propor um zoneamento ambiental em unidades e analisar as características que compõe cada uma e compará-las, o que resultou em uma proposta de exploração adequada das unidades de acordo com sua potencialidade, visando o menor impacto possível para as áreas ocupadas. A Unidade I é recomendada para agricultura, sem o uso de correções do solo, pois sua geologia, geomorfologia e solos contribuem para tal afirmação. A Unidade II por ser uma área de transição pode ser boa para a agricultura e para a pecuária, já que alguns locais mais íngremes tornam-se mais suscetíveis a erosões lineares. A Unidade III é completamente favorável à pecuária, sem riscos de prejuízos.
Agradecimentos
Referências
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