Autores

Sangoi Bolzan, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Guareschi Duarte, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Nummer Valli, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA)

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo conhecer a percepção ambiental dos militares que utilizam o Campo de Instrução de Santa Maria – CISM. Para isso, foi adotada uma proposta de elaboração de Mapas Mentais, em que os militares deveriam indicar os locais que julgassem apresentar problemas ambientais, bem como os locais que se apresentavam bem conservados. Essas informações serão utilizadas para o fornecimento de dados que auxiliarão em um planejamento ambiental adequado do Campo de Instrução, subsidiando deliberações a respeito das formas de uso daquela área buscando sua preservação ou recuperação quando necessário, visando o uso sustentável.

Palavras chaves

Mapas Mentais; percepção ambiental; Campo de Instrução

Introdução

Os mapas mentais aparecem como uma representação da superfície, mas que está no campo da percepção, da imaginação de cada ser humano. Assim, os mapas mentais constituem uma ferramenta para se trabalhar. (ROHDE, 2012). Segundo, Niemeyer (1994 p.6), estes “[...] sempre transmitem a percepção que um determinado sujeito tem, em uma ocasião particular, sobre o meio ambiente”. O Campo de Instrução de Santa Maria (CISM), é uma das poucas Organizações Militares (OM) destinada a treinamento de militares com blindados no Brasil. Por esse motivo, OM’s e militares do Brasil inteiro e algumas vezes do exterior utilizam essa área para esse tipo de exercício. É sabido, que o CISM é uma área militar da qual integra os casos excepcionais de acordo com a Resolução 369 do CONAMA (2006) art.4º $ 3º, e tem amparo legal quanto às questões ambientais principalmente relacionadas ao uso de Áreas de Preservação Permanentes (APP’s) e independe de prévia autorização do órgão ambiental competente, contudo necessita de um planejamento ambiental adequado para o seu manejo, afim de prevenir e solucionar problemas ambientais que decorrem a partir dos exercícios militares. Segundo Santos (2004, p.24), [...] a ênfase do planejamento está na tomada de decisões, subsidiadas num diagnóstico que, ao menos, identifique e defina o melhor uso possível dos recursos do meio planejado. O presente artigo deriva do projeto “Discussões e Elaboração do Zoneamento Ambiental do Campo de Instrução de Santa Maria, como subsídio para seu plano de manejo – Etapa II”, o qual faz parte de um convênio que a Universidade Federal de Santa Maria tem em conjunto ao Exército Brasileiro que visa á elaboração de métodos para minimizar os impactos ambientais no Campo de Instrução de Santa Maria-CISM, além de buscar alternativas para o seu plano de manejo. O objetivo do trabalho é conhecer a percepção dos militares sobre os impactos ambientais que ocorrem no CISM,decorrente dos treinamentos militares, como destruição da cobertura vegetal, compactação do solo e erosão, formando campos de areias, ravinas e voçorocas, tendo como consequência o assoreamento dos cursos d’água, problemas com alagamentos, atoleiros e transportes de lixos pelas enxurradas.

Material e métodos

A atividade metodológica do projeto tem como ideia principal a aplicação de mapas mentais, que segundo Lima e Kozel (2009) é uma ferramenta que proporciona uma expressão do sensível, carrega consigo a formalidade da expressão territorial, nele, a pessoa se põe como elemento simbólico, ou seja, expõe seus símbolos internalizados. A metodologia teve início com elaboração do Mapa de Localização do CISM, através de bases cartográficas cedidas pelo Exército Brasileiro e imagens de satélite retiradas do Google Earth. Através do Mapa de Localização da área, foi estabelecida a proposta de elaboração de Mapas Mentais, cujo objetivo é a busca da percepção dos envolvidos, neste caso os militares que estão ligados por diferentes funções e relacionados com o campo de instruções, pertencentes às principais Organizações Militares que utilizam o CISM. A seleção do público alvo, contou com as seguintes patentes e funções: um chefe de secção, um, comandante de esquadrão, dois comandantes de pelotão, três cabos motoristas e três soldados, com o intuito de investigar as diferentes percepções de acordo com as diferentes patentes e responsabilidades dos militares. Para isso, foram selecionadas as oito OM’s que mais utilizam o CISM na cidade,que são: o 29° Batalhão de Infantaria Blindada; o 4° Batalhão Logístico; o 3° GAC AP Regimento Mallet; os militares do próprio CISM; o Centro de Instrução de Blindados; a 6° Bateria Anti – Aérea; o 1° Regimento de Carros de Combate; e o 6° Esquadrão de Cavalaria Mecanizada. Posteriormente, iniciou-se o trabalho de pesquisa de campo que consistiu na distribuição dos Mapas de Localização do CISM aos militares selecionados previamente, para que marcassem, assinalassem ou circulassem com caneta vermelha no mapa as áreas com maior impacto ambiental, como compactação do solo, erosões no campo, assoreamento dos cursos d’água, problemas como alagamentos, entre outros danos advindas dos exercícios militares, e com caneta azul as áreas que acreditavam que estivessem mais preservadas em em relação aos impactos ambientais causados pelas atividades no campo. O resultado desta tarefa denominou-se de Mapa Mental, ou seja, um esboço da percepção de cada militar sobre as condições ambientais do campo de instrução. Atrás de cada mapa entregue aos militares, continha alguns campos para o preenchimento com informações necessárias dos militares para o futuro desenvolvimento da pesquisa, tais como nome, idade, patente, setor em que pertence, número de instruções a campo, escolaridade, também possui um espaço para justificar os motivos pelos quais o militar escolheu as áreas como sendo as que apresentam maior e menor impacto. Com os resultados obtidos, através dos Mapas Mentais, fez-se uma adição de todos os mapas e chegou-se ao Mapa de Percepção Ambiental, digitalizado através do software ArcGis 10.1. Com as informações cedidas pelos militares sobre sua patente, e o número de vezes em que o mesmo foi a campo, e o setor em que trabalham foi possível fazer uma comparação entre as diferentes percepções informadas nos Mapas Mentais, para saber se há uma diferença na percepção comparando a hierarquia militar dos envolvidos, suas funções exercidas nas respectivas OM’s. Através dessas de informações e dados coletados, é possível descobrir se há novos impactos em novas áreas, se os problemas já citados em outros trabalhos foram minimizados, ou até mesmo comparar os impactos com informações em pesquisas já feitas para saber se houve uma maximização de problemas já encontrados em decorrência do tempo ou não. De acordo com essas informações, pretende-se elaborar uma carta de zoneamento ambiental do CISM, da qual tem o papel de auxiliar os militares responsáveis pelo Campo de Instrução na organização e planejamento da área, além de renovar e obter novas informações ambientais sobre a área pesquisada.

Resultado e discussão

As manobras e exercícios militares, no CISM, contam com um número expressivo de carros de blindados para efetuar os treinamentos, são em torno de 140 chegando a pesar cada um cerca de 48 toneladas, além dos blindados, outros carros relativamente pesados percorrem a área do Campo de Instrução, como as viaturas sobre rodas que são utilizadas para o transporte de militares além de caminhões e jipes que pesam cerca de 3 toneladas. Esses exercícios trazem como consequência diversos impactos ambientais no meio físico, dentre eles a destruição da cobertura vegetal, destruição e abandono de estradas, compactação do solo, erosão formando campos de areias, sulcos e ravinas, tendo como consequência o assoreamento dos cursos de água. Estes problemas ambientais já foram diagnosticados em outros trabalhos feitos no CISM, segundo Sant’Ana (2012), a forma como a área é utilizada contribui para a ocorrência de processos erosivos visto que, por si só, ela é naturalmente frágil. As ações de treinamento, nas quais são utilizados carros blindados e viaturas sobre rodas, aceleram o processo erosivo principalmente, nos leitos das estradas e nas margens dos cursos d’água quando da transposição de uma margem à outra, por viaturas de grande porte. Como consequência deste processo ocorre o assoreamento dos arroios e barragens próximas. A forma inadequada de manutenção das estradas não pavimentadas e seu abandono por um longo período de tempo trazem como consequência, um leito estradal muitas vezes intrafegável além de provocar sérios problemas ambientais, como o assoreamento de corpos d’água e o lançamento sobre áreas agricultáveis, de sedimentos provenientes de material carreado pelas águas das chuvas (Santos et al., 1988). Segundo a percepção dos militares em geral, representando todas as OM’s, ás áreas do CISM que mais marcaram quando estavam na praticando os exercícios, foram ás regiões de Araras, Nelson Barros, Gravatás I, Gravatás II, Gravatás III, Pista MMM, Martelo, Coxilha do Jacaré, PO do General, Maximiliano, Alvo Móvel, Capão do Chico, Posição de Tiro Artilharia, Bosque das Com, Bosque dos Pínus, Estande de Tiro, PO da Artilharia, Arroio Taquarichim e Arroio Cadena apresentam sérios problemas de degradação ambiental, como compactação do solo, erosões, ravinamentos, destruição de estradas, destruição das margens de córregos, assoreamento dos cursos d’água, problemas com alagamentos, atoleiros, transportes de lixos pelas enxurradas, e pequenos focos de incêndio. Para os militares que exercem as patentes de oficiais que se submeteram a pesquisa, Major, Capitães, Tenentes e Sub - Tenentes, os quais obtém maiores níveis de instrução militar, são responsáveis pelas práticas dos exercícios militares de suas OM’s, e abrangem um nível de escolaridade superior aos outros militares apontaram que as áreas que apresentam maiores problemas ambientais foram, Araras, Gravatás I, Gravatás II , Gravatás III, Posição de Tiro Artilharia, Estande de Tiro, Capão do Chico, PO Artilharia, PO General, Maximiliano, 1A Manga de Segurança, Pista MMM,1B Manga de Segurança, Martelo, Bosque dos Pínus. Fora lembrado pelos oficiais que nas áreas de rotas de acesso ao CISM pelos blindados, que são próximas aos quartéis que fazem divisas com o campo, neste caso, CBLIND (Centro de Instruções de Blindados) e ao 29° BIB (29° Batalhão de Infantaria Blindada), há um grau de erosão acentuada devido ao fluxo de carros de combate. Segundo Sant’Ana (2012), na estrada paralela ao limite do Campo com o CIBLD ocorre um processo bastante acelerado de erosão em ravinas originada pelo fluxo d’água superficial que provém de uma outra estrada que encontra-se com esta. Na estrada principal encontra-se material laterítico, bastante resistente, porém, o fluxo de água que chega neste local forma alcovas de regressão que erodem as camadas inferiores deixando as camadas lateríticas “em balanço” que posteriormente se rompem. Outras áreas também citadas como Estande de Tiro, PO da Artilharia, Pista MMM, Martelo e Gravatás I, Gravatás II e Gravatás III, Pista de Cordas, Bosque das Com, Bosque dos Pínus, Araras e Açude General Décio também são áreas que possuem processos erosivos significativos nas estradas em decorrência ao transito dos blindados e viaturas, na região de Araras próximo ao Açude General Décio os processos erosivos ocorrem devido aos exercícios obrigatórios de transposição de curso d’água feito pelos blindados. Para os militares que são denominados praças segundo a hierarquia militar, Sargentos, Cabos e Soldados, são atribuídas responsabilidades de menor intensidade perante a tropa no decorrer dos exercícios militares, porém são os militares mais escalados a instruções no CISM, por serem motoristas de viaturas sobre rodas e lagartas, esses militares apontaram as áreas Araras, Gravatás I, Gravatás II, Gravatás III, Posição de Tiro Artilharia, Estande de Tiro, Capão do Chico, PO General, Maximiliano, 1A Manga de Segurança, Pista MMM,1B Manga de Segurança, Martelo, Bosque das Com, Capão do Piquenique, Coxilha do Jacaré, Arroio Taquarichim e Arroio Cadena. Os problemas ambientais por estes percebidos no campo e informados constam erosão de estradas pelas quais os blindados percorrem, deixando o solo frágil e compactado, além da destruição da cobertura vegetal. Nas estradas próximas a lagos, açudes e arroios, ocorre á erosão das margens devido á procura por uma rota mais acessível pelos motoristas dos blindados, nestas áreas quando acontece precipitação acaba se tornando intransponível à viaturas sobre rodas devido a formação de atoleiros. Muitas vezes, é necessário fazer novas estradas devido ao fluxo de blindados que acabam danificando demais as estradas, o que torna muito difícil outras viaturas sobre rodas conseguirem trafegar nestas estradas devido ao alto nível de degradação das mesmas. Nos trechos que margeiam os arroios Taquarichim e Cadena, ocorre um grande acúmulo de lixos e sedimentos, os quais acabam desencadeando enchentes e alagamentos fazendo com que o nível da água suba até as estradas, danificando as mesmas causando erosão e o transporte dos sedimentos até os canais, além da mudança das rotas dos blindados que por sua vez passam próximo ás margens danificando as mesmas, e que possivelmente desencadeará o assoreamento dos cursos d’água devido a quantidade de sedimento transportado para o leito dos cursos d’água. Para Sant’Ana (2012), um dos maiores problemas ambientais e que causa uma grande desagregação do solo está relacionado à passagem dos blindados pelos cursos d’água (chamados de vaus). Quando a passagem se torna impossível devido à grande desagregação, os blindados procuram locais alternativos, laterais aos anteriores o que aumenta a área impactada. O material desagregado é transportado para os cursos d’ água que ficam assoreados. Nas áreas próximas ao arroio Taquarichim e a Fazenda Bela Vista, Gravatás I,II,III, Estande de Tiro, Posição de Tiro de Artilharia, e Araras apresentam processos erosivos significativos como sulcos, ravinas, e alcovas de regressão. Em Gravatás I, II, III, 1A Manga de Segurança, 1B Manga de Segurança, é comum a incidência de incêndios, devido aos treinamentos com tiros reais de morteiros e blindados.

Figura 1 - Processos erosivos em estradas.

Ocorrência de processos erosão em estradas por ravinamento devido ao fluxo dos blindados.

Figura 2 - Mapa de Percepção Ambiental dos militares.

Com os resultados obtidos, através dos Mapas Mentais, fez-se uma adição de todos os mapas e chegou-se ao Mapa de Percepção Ambiental.

Considerações Finais

Foi possível perceber através dos Mapas Mentais e de Percepção Ambiental do CISM, que o campo segue sofrendo impactos ambientais devido aos treinamentos. Percebe-se também, que os militares denominados oficiais tem pouco conhecimento sobre problemas encontrados no campo, pelo fato de exercerem funções que não exigem uma circulação intensa pelo terreno, ou ao pouco número de idas a campo, como consequência, citaram poucas áreas que ocorrem impactos ambientais e com poucas informações. Mencionaram impactos ambientais encontrados nas rotas dos blindados, nas entradas do CISM, e também processos erosivos encontrados ao longo do campo.Os militares denominado praças, possuem um conhecimento mais detalhado sobre as causas e os problemas ambientais originados pelos treinamentos, especialmente os que possuem maior número de treinamentos a campo, ou são motoristas de viaturas e blindados.Esses militares em suas justificativas conseguiram citar mais pontos que possuem problemas ambientais, e detalhar em suas justificativas problemas como erosão, compactação do solo, atoleiros, destruição de estradas, destruição das margens de cursos d’água, assoreamento dos córregos,condizendo com pesquisas e trabalhos já desenvolvidos no CISM. Através destas informações, será elaborado uma carta de zoneamento ambiental, contendo dados sobre as áreas impactadas do Mapa de Percepção Ambiental, auxiliando no desvio de rotas dos blindados, favorecendo o pousio e o tempo de retorno ambiental dessas áreas.

Agradecimentos

Referências

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