Autores

Carvalho, A.C.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE) ; Cavalcante, A.R.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE) ; Vasconcelos, F.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE)

Resumo

O trabalho aborda o processo de recuperação da Praia de Icaraí Amontada localizado em Amontada / CE. A praia está localizada no litoral oeste do Ceará a 189 km da capital Fortaleza, com cerca de 24 km de costa. A metodologia baseou-se nas formas de recuperação natural da praia, tentando não usar métodos artificiais ou deposição de sedimentos por terraplanagem, revisão bibliográfica, coleta de dados e realização de perfis topográficos usando teodolito CST / Berger com a ajuda de uma régua métrica 4 metros. Houve também coleta para análise granulométrica dos sedimentos. A pesquisa teve como objetivo recuperar a faixa perdida de praia pela erosão costeira causada pelo avanço do mar. Os resultados mostraram que, na praia com tendências erosivas, a acumulação de sedimentos na área do berma, que contêm métodos para contenção é maior do que na parte que corresponde à estirâncio.

Palavras chaves

Icaraí de Amontada; Erosão; Recuperação Natural

Introdução

O Distrito de Icaraí de Amontada está localizado no litoral oeste do estado do Ceará, a 189 km da capital Fortaleza com aproximadamente 24 km de linha de costa e uma população de 3.677 habitantes (IBGE, 2010). No século XX as regiões costeiras se tornam o lugar de preferência para a moradia. Atualmente, a maior parte da população mundial reside em áreas litorâneas. Por volta de 2020, mais de 60% da população deverá residir a menos de 60 km da costa (UNCED, 1992). A ocupação desordenada e intensa dessas regiões acaba trazendo sérios prejuízos ao equilíbrio natural e consequências negativas ao litoral. Figura 1 – Caracterização da Área de Estudo. Por se tratar de um dos ecossistemas mais frágeis na atualidade, e receber influencia dos sistemas atmosfera, litosfera e hidrosfera, os litorais sofrem diariamente com essa fragilidade, tornando-se mais suscetíveis à degradação. A partir do século XX, a região costeira torna-se o lugar de preferência do homem como lugar de moradia. Hoje a maioria da população humana vive no litoral. (VASCONCELOS, 2005) A erosão gradual do litoral associada às atividades realizadas para o turismo e as formas utilizadas muitas vezes para impedir que a erosão destrua infraestruturas turísticas na maioria dos casos acabam por destruir o ambiente da praia. Os sedimentos que são perdidos geralmente são repostos por meios de engordamentos artificiais de praia, o que não garante a solução do problema e ainda causa perca a fauna e flora do local. Por se tratar de um espaço concorrido onde se realizam muitas atividades ao mesmo tempo, esse espaço se torna mais frágil e vulnerável a degradação. Objetiva-se através desse trabalho, a realização da recuperação da faixa de praia de Icaraí de Amontada/CE que esta passando por um processo de erosão no que tange o avanço de praia. Caracteriza-se por uma praia que tem uma área de ante-praia menor do que o necessário para a contenção das ondas, agravando assim o processo erosivo.

Material e métodos

O presente trabalho visou a recuperação de parte da faixa de praia de Icaraí de Amontada. A recuperação feita de forma natural é importante, dada a crescente utilização do lugar para a construção de empreendimentos imobiliários, alguns construídos desrespeitando o limite para construção em áreas de litoral, que com a erosão iminente, acabam por se utilizar de métodos artificiais como máquinas de terraplanagem que prejudicam o litoral. O trabalho foi desenvolvido em quatro etapas principais. A primeira foi o trabalho de gabinete, com levantamento bibliográfico sobre o local, assim como também analise de imagens de satélites e fotografias antigas, para se ter um melhor conhecimento sobre a antiga condição da praia. A segunda foi à atividade de campo, realizado para conhecimento da morfologia praial, onde foram feito o levantamento de 5 perfis topográficos com a utilização do Teodolito CST/Berger e régua métrica. Juntamente com os perfis foram colocados no local, materiais que poderiam conter os sedimentos junto ao berma da praia, tais como palhas-de-coqueiro no ponto 1 ao 2 e a formação de uma barreira com sacos contendo sedimentos do próprio local entre os pontos 2 e 4, finalizando a etapa 3. Materiais esses escolhidos de forma que não agridem o meio ambiente e podem nos dar o resultado desejado. A última etapa constou com a análise granulométrica dos sedimentos de berma e estirâncio, nos dando assim um conhecimento sobre o tipo de sedimento do local e seu poder erosivo. A pesquisa teve duração de 1 ano e 1 mês, com início em setembro de 2014 e fim em outubro de 2015. Nos 6 primeiros meses de pesquisa, houve manutenção mensal na colocação dos materiais de retenção, a partir de fevereiro de 2015 houve pausa na manutenção, e as amostras passaram a ser de 2 em 2 meses. Apenas serão apresentados aqui os perfis dos meses de outubro/14, fevereiro/15 e agosto/15 representados no inicio, no meio e no fim do tempo de análise, para deixar a apresentação do trabalho mais sucinta e objetiva.

Resultado e discussão

Os dados levantados sobre a linha de costa estão ilustrados nos gráficos a seguir, onde temos o perfil topográfico da praia e sua evolução quanto a retenção dos sedimentos. Os gráficos a seguir são dos cinco pontos específicos: o primeiro ponto localizado a oeste da praia, o segundo ponto distando 100 metros do primeiro, o terceiro no centro da praia, o quarto e o quinto ponto, o ultimo e localizado a leste da praia. Figura 2: Perfis 01, 02, 03, 04, 05 É possível perceber que no mês de outubro, o primeiro mês de trabalho, que a retenção dos sedimentos se mostra eficaz, principalmente até os 10 metros iniciais de cada perfil, local onde se colocaram os sacos plásticos e as palhas. Nesse mês, a maré estava em 0.0 (DNH, 2014) em ponto estável e sem alterações. Uma vez que na maré alta as ondas chegam nessa faixa da praia, o que deveria romper a área do berma, acaba por ‘’quebrando’’ nos materiais e os sedimentos ficam retidos entre eles. Já no mês de fevereiro, a linha do gráfico revela em alguns pontos, picos de queda. Isso porque a praia recebeu as ondas de swell, que se originam no Atlântico Norte e se propagam até o Atlântico Sul e se caracterizam por ressacas fortes e ondas de até 1,6 metros (LABOMAR, 2013). O perfil 05, de todos é o que apresenta mais queda em todos os meses se comparado aos outros perfis, isso porque nesse ponto, nenhum material foi colocado e é o que mais dista dos demais pontos de acumulação. No mês de agosto, quando já não se havia mais manutenção dos materiais, é possível perceber a queda de retenção, e um desvio considerável no metro 10 do perfil 1. Isso foi devido a uma grande erosão no local, com até 73cm de acordo com as leituras topográficas. Mesmo após as ondas de swell e com pouco material de retenção, a acumulação de sedimentos se mostrou satisfatória, o que pode ser um indicador de que o método utilizado funciona e que a longo prazo, poderia chegar a normalizar a situação da praia. Figura 3: Barreira construída para conter sedimentos. Fonte: CARVALHO (2015)

Figura 1 – Área de estudo e localização dos perfis na praia de Icaraí

Recorte da área de estudo.

Figura 2: Perfis 01, 02, 03, 04, 05

Grafico dos dados que atestam os resultados.

Barreira para contenção de sedimentos

Sacos colocados formando uma parede para a retenção dos sedimentos entre os mesmos.

Considerações Finais

O trabalho de recuperação tem um papel bastante importante e relevante para amenizar tais efeitos erosivos, no entanto faz-se necessário a participação conjunta de vários autores (social, científico (universidades) e governamental.) Faz-se necessário também o real cumprimento das leis de proteção dessas áreas que estão cada vez mais sendo impactadas tendo a sua dinâmica natural modificada. As atividades realizadas na linha de costa têm acarretado os processos erosivos na praia de Icaraí de Amontada. Os dados obtidos através dos levantamentos topográficos mostram os efeitos ocasionados no local com a influencia dos eventos naturais como as marés e o transporte eólico de sedimentos. É necessário que as ações tomadas até agora para a recuperação do local permaneçam em ação para que o resultado seja satisfatório e impeça a perda da área de litoral. E que essas ações sejam realizadas de forma a não prejudicar o meio ambiente costeiro e marinho, preservando assim o ecossistema do local.

Agradecimentos

Ao meu orientador Profº Dr. Fábio Perdigão Vasconcelos, pela ajuda e orientação durante toda a execução do trabalho. Ao meu companheiro Alan Robson Oliveira Cavalcante, pela ajuda e convivência diária. A CNPq pelo auxilio financeiro.

Referências

Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil – DHN.
FARIAS, E. G. G. de; MAIA, L. P. 2010. Uso de técnicas de geoprocessamento para a análise da evolução da linha de costa em ambientes litorâneos do estado do Ceará, Brasil. Revista da Gestão Costeira Integrada, v. 10, p. 521-544, 2010.
GUERRA, A. J. T; JORGE, M. C. O. 2013. Processos Erosivos e recuperação de áreas degradadas. Editora: Oficina de Textos, São Paulo, 2013, 192p.
NORDSTROM, K. F.Recuperação de Praias e Dunas.Editora: Oficina de Textos, São Paulo, 2010, 263p.
UNCED (1992). Protection of oceans, all kinds of seas, including enclosed and semi-enclosed seas, and coastal areas and the protection, rational use and development of their living resources, Ch. 17, Agenda 21, United Nations Conference on Environment and Development.
VASCONCELOS, F. P. Gestão Integrada da Zona Costeira: Ocupação antrópica desordenada, erosão, assoreamento e poluição ambiental do litoral. Editora: Premius Editora, Fortaleza, 2005, 87p.