Autores

Malaquias Otavio, J. (UFPE) ; Fernando de Holanda, T. (UFPE) ; Gregorio da Rocha Junior, L. (UFPE)

Resumo

Calhetas é uma pequena baia irregular com perímetro de aproximadamente 700 metros. Trata-se de uma orla com características bem singulares, pois é composta por um afloramento rochoso, e um seguimento de areia de 100 metros. A caracterização foi elaborado segundo o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima. Foi realizada uma visita técnica na área de estudo no dia 27 de dezembro de 2014. A visita consistiu na analise da morfologia e características costeiras local. A praia de Calhetas se encontra em um ambiente parcialmente protegido da ação direta das ondas, ventos e corrente, com baixíssima ocupação, paisagens com alto grau de originalidade natural e baixo potencial de poluição. O granito do Cabo é um promontório com altura máxima de 60m na costa sul do Estado de Pernambuco, entre as vilas de Gaibu e Suape. A diversidade de formas apresenta demonstram a diversidade que o litoral pernambucano possui, pois em apenas 700 metros de extensão observamos uma variedade de feições exibidas.

Palavras chaves

Granito do Cabo; Calhetas; Projeto Orla

Introdução

A orla costeira é a estreita faixa de contato da terra com o mar, na qual a ação dos processos costeiros se faz sentir de forma mais acentuada e potencialmente mais crítica a medida que efeitos erosivos ou construcionais podem alterar sensivelmente a configuração da linha de costa (Muehe, 2001). A Praia de Calhetas, está localizada no litoral sul do Estado de Pernambuco, no município do Cabo de Santo Agostinho, encontra-se encravada por entre rochas graníticas, formando uma orla semi-abrigada e está entre as praias de Gaibu e Santo Agostinho. A uma distância de aproximadamente 47 km do Recife. O afloramento onde a praia esta encaixada recebe a denominação de Granito do Cabo, esse corpo granítico é um promontório com altura máxima de 60m, está localizado na costa sul do Estado de Pernambuco, entre as vilas de Gaibu e Suape. A sua borda oeste é parcialmente coberta por rochas sedimentares das formações Algodoais e Barreiras, enquanto que as margens norte, leste e sul limitam-se com o Oceano Atlântico. O granito ocorre como um stock semicircular, com cerca de 4 km² de área aflorante (Nascimento, 2005). Calhetas é uma pequena baia irregular com perímetro de aproximadamente 700 metros. Trata-se de uma orla com características bem singulares, pois é composta por um afloramento rochoso, e um seguimento de areia de 100 metros, a sua configuração semi-abrigada, proporcionam as praticas de esportes náuticos, bem como um ancoradouro natural para diversos tipos de embarcações, principalmente de pescadores locais e praticantes da pesca submarina. A praia é cercada por um resquício de mata, enquanto a vegetação da baía é composta predominantemente por coqueirais. A ocupação do local pode ser caracterizada segundo o Projeto Orla (2006), como não urbanizada, visto o pouco processo de ocupação e urbanização do local. Em calhetas existem poucos moradores, nenhuma casa de veraneio e conta com o “Restaurante e Bar do Arthur” como ponto comercial e local de encontro dos turistas. Apesar de ser uma praia pequena Calhetas atrai uma grande quantidade de frequentadores por conta de sua beleza sem igual. O arcabouço para caracterização técnica da Praia de Calhetas foi elaborado segundo o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima – Projeto Ola. O Projeto Orla foi elaborado pelo governo federal e supervisionado pelo Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO) da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), tendo como coordenadores a Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos do Ministério do Meio Ambiente (SQA\MMA) e a Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SPU\MP), a fim de estabelecer parâmetros legais, para a utilização do espaço litorâneo com o intuito de descentralizar as políticas públicas e introduzir sistematicamente o planejamento de ações locais visando repassar atribuições da gestão desse espaço a esfera do município, incorporando normas ambientais na política de regulamentação dos usos dos terrenos e buscando aumentar a dinâmica de mobilização social nesse processo. Esse projeto é divido em duas partes: Fundamentos para gestão integrada e Manual de gestão. Fundamentos para gestão integrada apresenta uma estrutura conceitual e os arranjos políticos- institucionais, como base para orientar e avançar na descentralização da gestão da orla para a esfera municipal. O Manual de gestão orienta, por meio de linguagem técnica simplificada, o diagnostico, a classificação e a caracterização. Foi por meio a segunda parte do projeto que foi realizado a classificação da Praia de Calhetas apresentada no presente trabalho.

Material e métodos

Foi realizada uma visita técnica na área de estudo no dia 27 de dezembro de 2014. A visita consistiu na analise da morfologia e características costeiras local. Essa analise foi feita de acordo com a classificação do Projeto Orla Fundamentos para Gestão Integrada, do Ministério do Meio Ambiente. O espaço da orla marítima, assim como a zona costeira, possui uma porção aquática, uma porção em terra e uma faixa de contato e sobreposição entre estes meios (variável no tempo e no espaço, basicamente em função do mecanismo das marés). Assim, os limites genéricos estabelecidos para a orla marítima são os seguintes: Na zona marinha, a isóbata de 10 metros, profundidade na qual a ação das ondas passa a sofrer influência da variabilidade topográfica do fundo marinho, promovendo o transporte de sedimentos e na área terrestre que pode variar dependendo do grau de urbanização que a orla apresenta, se for muito urbanizada são contados 50 metros a partir da preamar, se não for urbanizada conta-se 200 metros pós- linha de preamar ou do limite final de ecossistemas, tais como as caracterizadas por feições de praias, dunas, áreas de escarpas, falésias, costões rochosos, restingas, manguezais, marismas, lagunas, estuários, canais ou braços de mar, quando existentes, onde estão situados os terrenos de marinha e seus acrescidos A avaliação de características fisiográficas (geografia física) que indicam o nível de vulnerabilidade da orla em face de processos naturais e antrópicos. A adoção desses critérios levou a estabelecer duas tipologias de caracterização, enfocando: A forma da orla, sua posição e suas características físicas; (Orla Abriga; Orla Exposta; Orla Semi-abrigada). E os níveis de ocupação e de adensamento populacional na orla (Orla Não-urbanizada; Orla em Processo de Urbanização; Orla com Urbanização Consolidada). Foram realizadas medições da faixa de areia com o auxilio de trema, para se tirar sua extensão com relação a mare cheia e baixa. Foram feitos levantamentos com locais para saber quais procedimentos eles utilizam com relação ao saneamento básico e abastecimento de água, visto a preservação local e a falta de infraestrutura oferecida pelo Estado. A praia de Calhetas foi escolhida para analise devido a sua preservação mediante a ação antrópica, visto esta localizada em uma área turística, porem sofrendo menos ação do homem por ter uma curta faixa de areia e o relevo costeiro que a antecede ser íngreme o que acaba não propiciando uma ocupação desordenada da população, o que difere da praia de Gaibu, onde possui uma grande extensão e por conta disso sofre com o processo de urbanização descontrolado.

Resultado e discussão

De acordo com o Projeto Orla (MMA, 2006), a praia de Calhetas pode ser classificada como: “semi-abrigada não urbanizada, ou seja, ambiente parcialmente protegido da ação direta das ondas, ventos e corrente, com baixíssima ocupação, paisagens com alto grau de originalidade natural e baixo potencial de poluição”. A orla de Calhetas, dentro do perímetro dos seus 700 metros é bastante diversificada, por encontrar-se encravada em cristalino, já faz com que costões rochosos de baixa altitude perfaçam o seu contorno, rente ao mar. Olhando-se do alto, dar-se a impressão de esta vendo o desenho de um coração. E ao centro da baia a pequena faixa de areia com uma extensão de 100 metros de comprimento, com a granulação dos sedimentos sendo grossa, de acordo com a classificação de Wentworth (1922), e em alguns pontos alternando superficialmente a sua coloração entre clara e escura. Essa diferenciação se da por conta do material orgânico que desce a encosta e encontra a orla como área de base. A zona costeira é também uma zona de transferência de material a partir da superfície da terra para o sistema mar, com sedimentos erodidos por rios, geleiras, sendo transferido para a praia e áreas próximas da costa e, finalmente, alguns para o fundo do oceano (VAVIDSON, ARNOT, 2010). Analisando o trecho emerso da orla, constatamos que o mesmo e constituído por sedimentos de granulação grosseira, com tom colorido meio alaranjado, por quase todo os seus 100 metros de extensão. Por conta da proximidade da faixa de areia com a encosta é encontrado em alguns pontos sedimentos com tonalidade mais escura, sendo um pouco mais finos e com uma certa liga. Em marés de lua cheia, o mar chega até a área da orla, o ponto de preamar de Calhetas chegou a 8m no dia 27/12/14, dependendo da oscilação da maré, a água pode alcança toda a faixa de areia. O normal para a oscilação da maré local é 3 metros na alta e 1,80 m quanto esta baixa. Quando a maré esta baixa a faixa de areia chega a ter 22 m. Nos 200 metros limítrofes que foram contados a partir da linha de preamar. É composta por uma declividade íngreme, coberta pelo manto do intemperismo, em consequências naturais do próprio ambiente, a mesma vai gradativamente elevando-se a medida em se se afasta da zona litorânea. Há presença de solo é constatado através do porte das vegetações nativas, como também as domesticadas existentes. Na sua crista, existem marcas de processos erosivos presente. A mesma possui poucas casas e todas são dos nativos, bem como um acesso rodoviário não pavimentado, que foi aberto pelos moradores e comerciante do local, caracterizando-se ai a instalação dos processos antrópicos. Uma vez que não é disponível por lá serviços de água e esgoto, o morado/comerciante com recursos próprio construiu uma cisterna de 70mt² para capitação das águas servidas. A mesma e esvaziada através de uma bomba de sucção que por sua vez levam os dejetos para um carro pipa. Em relação a água potável, os poucos moradores que lá residem fazem uso de um poço de água mineral aberto no fim de um canal de drenagem na base da encosta, segundo informações colhidas com moradores, que mesmo se estando a 15 metros do mar a água é potável. Em relação a cobertura vegetal do ambiente analisado, uma certa diversificação, de espécies variando de médio porte até gramíneas. Isso tudo em decorrência principalmente da espessura dos solos ali encontrados, ou seja, na parte central temos coqueirais, algumas árvores nativas e frutíferas, desde da orla emersa até meados da falésia rochosa, onde se encontra os solos mais profundos da localidade. Já partindo para as proximidades do oceano as gramíneas são predominantes apesar de ter também algumas árvores de pequeno porte e alguns cactáceos. A baia semi-abrigada que compõe a formação da praia de Calhetas esta encaixada em um corpo rochoso denominado como “Granito do Cabo”. Esse granito é um promontório com altura máxima de 60m na costa sul do Estado de Pernambuco, entre as vilas de Gaibu e Suape. A sua borda oeste é parcialmente coberta por rochas sedimentares das formações Algodoais e Barreiras, enquanto que as margens norte, leste e sul limitam-se com o Oceano Atlântico. O granito ocorre como um stock semicircular, com cerca de 4 km² de área aflorante (Nascimento, 2005). Segundo Nascimento (2005), o granito do Cabo pode ser descrito da seguinte maneira: As rochas do referido granito podem ser individualizadas em duas fácies principais. A principal, dominante no corpo, apresenta textura média a grossa, com cor cinza esbranquiçada a rósea. A segunda é formada por autólitos de microgranitos, de textura fina, cor cinza, formas irregulares ou ocasionalmente elípticas, principalmente nas bordas nordeste e leste. No extremo leste, ocorre um extenso cordão de brechas magmáticas, contendo fragmentos caóticos e blocos de granito equigranular com textura mais fina do que a rocha hospedeira. Em ambas as fácies, ocorrem cavidades miarolíticas de dimensão milimétrica a decimétrica, contendo cristais euédricos de quartzo bipiramidal e turmalina preta. Ainda segundo Nascimento (2003), a Província Magmática do Cabo foi formada há cerca de 102 milhões de anos, e nesse período ocorria em áreas próximas um importante vulcanismo ácido-básico intrusivo (diques e plugs riolíticos), extrusivo (riolitos, basaltos, traquitos) e mesmo explosivo (ignimbritos). Em relação a sua mineralogia, pode-se dizer que apresenta como os minerais felsicos essenciais: o k-feldspato, o plagioclásio e quartzo; quanto aos máficos o anfibólio, tendo ainda em sua composição como acessórios minerais como: fluorita, riebequita, alanita, apatita, zircão, e outros. Observa-se a presença marcante da termoclastia, fenômeno pelo o qual rochas são fragmentadas, em virtude de sua dilatação e contração, proveniente da variação constante do calor. Por conta desse fator a área apresenta muitas falhas (fraturas), no sentido NE – SW, principalmente em suas bordas costeiras, ocasionando a liberação de blocos, que devido a processo avançados de intemperismo, muitas vezes apresentam-se em formas arredondadas e processos de esfoliação esferoidal.

Maré baixa e maré alta

A figura mostra onde a água chega na maré alta e baixa. Fonte: Google (adaptada)

Tabua de maré

Figura mostra a maré no dia da visita técnica. Fonte: Marinha

Baia de Calhetas

Imagem do Google Maps, onde mostra toda a área da Baia que compõe a praia de Calhetas

Considerações Finais

A diversidade de formas, que a orla semi-abrigada de calhetas apresenta demonstra a diversidade que o litoral pernambucano possui, pois em apenas 700 metros de extensão observamos uma variedade de feições exibidas, e verificamos a importância da caracterização das orlas para que se possam tomar decisões mais adequadas no manejo dessas áreas, para que se tenham políticas de preservação e conservação, a fim de evitar e ou mitigar processos erosivos, de contaminação dos litorais, ocupação desordenada, entre outros. A interação das paisagens apresentadas a foram muito importantes para o aprendizado, uma vez que os fenômenos geográficos acontecem paralelamente aos históricos e as informações referentes a esses fenômenos nos deram uma visão mais ampla sobre a interpretação real de cada lugar, dentro de sua especificidade, pois a experiência e segurança nas informações confirmam que na geografia tudo é dinâmico, mas tem uma ordem cronológica e natural que devem ser respeitadas e analisadas.

Agradecimentos

Referências

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