Autores

Silveira dos Santos, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Flores Dias, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; da Silva Knierin, I. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Trentin, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA)

Resumo

O presente trabalho traz como objetivo realizar a caracterização das Unidades de Relevo, a partir da interpolação de dados altimétricos e da análise da declividade, na Bacia Hidrográfica do Rio Jaguari (BHRJ), estando a mesma situada na região oeste do Estado do Rio Grande do Sul. O espaço geográfico está em constante transformação, e necessita-se de estudos que possam entender as mudanças que ocorrem na paisagem, a partir elementos físicos que compõe e alteram as formas do relevo. Usando as ferramentas de SIG, pôde-se levantar dados que caracterizam as formas do relevo, como a hipsometria e a declividade, que estão diretamente ligados as características físicas da paisagem, e a intensidade dos processos modeladores atuantes. Sendo assim, a partir da análise dos dados altimétricos, foram definidas as Unidades de Relevo na BHRJ, sendo caracterizado no decorrer da pesquisa, suas características gerais e influencia na ocupação do espaço geográfico.

Palavras chaves

Relevo; BACIA HIDROGRÁFICA; RIO JAGUARI

Introdução

O espaço geográfico está em constante transformação, sendo estas transformações de origem natural (terremotos, vulcões, erosão) ou de origem antrópica, tendo o homem o papel de principal acelerador dos processos alteradores do espaço geográfico. Ao longo dos últimos anos, a natureza vem sendo transformada pelo trabalho do homem, que passou a produzir um espaço com o objetivo de garantir sua subsistência. Dias (2014) destaca que as mudanças ambientais além de terem sua origem natural e que, além disso, também são influenciadas pela ação antrópica é um fato muito importante para a análise dos elementos que compõem a paisagem. A exploração acentuada dos recursos naturais, originam a degradação e alteração das formas naturais da paisagem, influenciando de maneira rápida na ocorrência de possíveis futuros desastres ambientais. Para Ross (1994) a fragilidade dos ambientes naturais frente às intervenções humanas é maior ou menor em função de suas características genéticas. Os ambientes naturais se mostravam em um estado de equilíbrio dinâmico até o momento em que as intervenções humanas passaram progressivamente a intervir cada vez mais intensamente na exploração dos recursos naturais. O relevo, superfície em que ocorre a interação entre o homem e a natureza, apresenta-se como temática fundamental para estudos ambientais, sendo o elemento caracterizador da paisagem. O relevo apresenta diferentes formas, resultante da influência dos agentes endógenos (processos naturais a partir do interior do planeta, manifestado pela dinâmica ou tectônica das placas) e pelos agentes exógenos (processos naturais atuantes sobre a superfície, como as chuvas e ventos). Para análise do relevo, levam-se em consideração alguns parâmetros básicos definidos pela altimetria e pela análise das vertentes caracterizadas pelo comprimento, declividade e amplitude, determinando as formas do relevo (TRENTIN e ROBAINA, 2005). Christofoletti (1980) indica que os estudos das vertentes, representa um dos mais importantes setores da geomorfologia, englobando a análise de processos e formas. A declividade torna-se fundamental na movimentação e transformação do relevo, levando-se em consideração os ângulos de declives. Nesses processos de transformação, o sistema natural pode ser caracterizado por vários fatores que desencadeiam os processos que agem na modificação do relevo. Estes elementos desenvolvem a esculturação e modelagem do relevo, que constantemente é modificado, marcando um processo de retroalimentação, característico de um sistema aberto onde há entrada e saída de energia. Botelho (1999), trata a bacia hidrográfica como unidade natural de estudo e análise da superfície terrestre, sendo unidade ideal para o planejamento de uso das terras, onde é possível reconhecer e estudar as inter-relações existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos que atuam na sua esculturação. Sendo assim, o presente trabalho traz como proposta a definição das Unidades de Relevo da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguari (BHRJ), a partir do cruzamento dos dados extraídos da análise hipsométrica e de declividade, usando o software ArcGiz 10.0, para a manipulação do banco de dados georreferenciado. A BHRJ localiza-se na região oeste do Estado do Rio Grande do Sul, tendo sua extensão distribuída por 11 (onze) municípios: Jaguari, Jari, Jóia, Mata, Nova Esperança do Sul, Santiago, São Francisco de Assis, São Miguel das Missões, São Vicente do Sul, Toropi e Tupanciretã.O trabalho busca contribuir com os estudos já realizados na região oeste do Estado gaúcho, sendo esta, alvo de pesquisa do Laboratório de Geologia Ambiental (LAGEOLAM), nos estudos geoambientais.

Material e métodos

As análises dos elementos fisiográficos do relevo, deram-se em procedimentos de manipulação dos dados, a partir das informações altimétricas obtidas na imagem SRTM. A utilização dessas informações para a análise do ambiente, oferecem subsídios para a análise espacial, através de ferramentas oferecidas pelos SIG’s, facilitando a tarefa de integração das informações topográficas. Os mapas de relevo (hipsometria e declividade) são produtos gerados a partir de Modelos Numéricos do Terreno (MNT), que representam uma grandeza que varia continuadamente no espaço. Esse modelo, é criado no software ArcGis 10.0, através de suas interfaces. O mapa hipsométrico foi gerado a partir da ferramenta ArcToolbox “topo to raster”, onde são interpoladas as informações relacionadas aos parâmetros altimétricos. As classes foram definidas através de quebras no relevo e arredondadas a partir de procedimentos matemáticos: São elas: <100m; 100-200m; 200-300m; 400-500m; >500m. O mapa de declividade foi elaborado utilizando as classes proposta pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), sendo: <2%; 2-5%; 5-15%; e >15%, através da ferramenta ArcToolbox “slope”. O limite de 2% marca áreas planas em geral associadas às drenagens e sujeitas a ocorrência de inundações e os principais processos estão ligados a deposição de sedimentos; 5% representa áreas com baixa declividade, porém alguns processos erosivos se tornam significativos; 15% marca a faixa que define o limite máximo para o emprego da mecanização da agricultura, e também delimita áreas propicias a ocorrência de processos de movimento de massa e escorregamentos. Para a definição das unidades de relevo, foi utilizada a metodologia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas IPT (1981). As classes definidas são: Morros Isolados, com elevações com amplitude altimétrica superior a 100 metros e declividade de encostas superior a 15%; Colinas Fortemente Onduladas, com áreas que representam declividade entre 5 e 15% e amplitude altimétrica inferior a 100 metros; Colinas Suavemente Onduladas, com áreas com declividade entre 2 e 5% e amplitude inferior a 100 metros; Associação de Colinas, Morros e Morrotes – com áreas onde é possível observar colinas com declividades que variam entre 2 e 15% com amplitude altimétrica inferior a 100 metros associadas a morros e morrotes; Áreas Planas, com declividades menores que 2%. A elaboração do mapa de unidades de relevo integra a avaliação da hipsometria, amplitude, declividade e da rede de drenagem. Através da vetorização no ambiente SIG, foram definidas tais unidades.

Resultado e discussão

A análise da hipsometria, leva em consideração as diferentes altitudes espacializadas na área de estudo, comparadas ao nível do mar. Para isso, é necessário realizar a interpolação de dados altimétricos, para visualização das regiões de baixa, média e de altas elevações. A BHRJ apresenta uma área de 5.149,73 km², sendo que o canal principal apresenta hierarquia máxima de 6ª ordem. O Rio Jaguari é um dos principais afluentes do Rio Ibicuí, sendo este tributário à margem esquerda do Rio Uruguai. A bacia hidrográfica do Rio Ibicuí, é alvo de estudos ambientais pelo Laboratório de Geologia Ambiental – LAGEOLAM (UFSM) o qual utiliza a mesma metodologia de análise, para seus canais tributários. As classes hipsométricas (Figura 01) na BHRJ, foram divididas no software ArcGis 10.0, sendo definidas à partir de arredondamentos matemáticos (Tabela 01): Desse modo, percebe-se que há a predominância da classe 300 – 400m, ocupando 40,64% da área total da bacia hidrográfica. Esta classe hipsométrica está ligada a região do Planalto Meridional e a região do Rebordo do Planalto, apresentando baixa variação altimétrica. A classe 200 – 300m, apresenta facilmente a região de Rebordo do Planalto, com declives acentuados, que acabam influenciando nas formas das vertentes. A classe 100 – 200m apresente baixas altitudes, caracterizando regiões planas refletindo no tipo do canal de drenagem, ou seja, nessa região o rio apresenta características de rio meândrico. A classe que representam altitudes maiores que 500m, são as que ocupam uma menor área na bacia hidrográfica, estando está situada no Planalto Meridional (ao norte da BHRJ). A BHRJ apresenta uma amplitude altimétrica de 468 metros, sendo a menor cota de 76 metros, localizada próxima à foz do rio, e a maior cota é de 544 metros, localizada ao norte da bacia hidrográfica. Na análise das Unidades de Relevo (Figura 02), a partir dos resultados obtidos sobre a hipsometria e declividade, visualizou-se a predominância da unidade Colina de Altitudes, na bacia hidrográfica. A Unidade Colina de Altitudes apresenta uma área de 2.416,76 km², representando 46,93% da área total da área de estudo. Esta unidade localiza-se com maior área ao Norte da bacia, além de estender-se na porção Oeste e Leste da área de estudo. A unidade Colina de altitudes está correlacionada às altitudes do Planalto Meridional, estando-se próximo ao rebordo do Planalto, com declividades entre 5 - 15% (Figura 02). Estas declividades são visualizadas no alto curso da bacia, condicionando a atividades agrícolas, por exemplo, muito intensa nas regiões do Planalto Meridional. A Unidade Associação de Morros e Morrotes apresentam-se como a segunda maior unidade de relevo na bacia hidrográfica. Com uma área de 1.506,81 km², a unidade representa 29,26% da área total. A unidade está associada ao rebordo do planalto, com declives maiores que 15%, sendo uma região de transição entre o Planalto Meridional e a Depressão Periférica. Em região com altitudes baixas, os Morrotes são visualizados facilmente. A Unidade Colinas Suaves, apresenta-se com uma área de 938,79 km², representando 18,23% da área total. A unidade está associada à declives entre 2 – 5%, próxima a foz do Rio Jaguari, estando situado na transição entre o rebordo do planalto e área planas. A Unidade Área Plana apresenta-se com uma área de 260,06 km², representando 5,05% da área total. A unidade está associada à declives menores que 2%, situada na região sul da bacia hidrográfica. Em regiões com essas características, propicia a deposição de sedimentos ao longo do canal fluvial e na redução do fluxo da água. A Unidade de Morros e Morrotes isolados apresenta uma área de 25,74 km², representando cerca de 0,5% dá área total da bacia hidrográfica. A unidade representa morros testemunhos isolados e morrotes, com declives maiores que 15% e com cotas altimétricas maiores que 100 metros.

Figura 01

Mapa Hipsométrico da BHRJ. Fonte: Os autores.

Tabela 01

Classes hipsométricas da BHRJ. Fonte: Os autores.

Figura 02

Mapa de Declividade da BHRJ. Fonte: Os autores

Figura 03

Mapa de Unidades de Relevo da BHRJ. Fonte: Os autores.

Considerações Finais

A análise e mapeamento das Unidades de Relevo na BHRJ, permite ao pesquisador entender a intensidade em que os fenômenos naturais ocorrem no espaço geográfico. A BHRJ distribui-se por vários municípios da região oeste, apresentando em diversas áreas, diferentes formas do relevo, que acabam influenciando no modo de uso e ocupação do solo. As Unidades de Relevo foram definidas em (5) cinco feições, a partir da análise da hipsometria e da análise da declividade, em consequência da análise dos dados em SIG. Sendo assim, o presente trabalho pretende contribuir à sociedade, com um conjunto de informações cientificas, auxiliando no entendimento e planejamento do espaço geográfico. Cada vez mais, é necessário estudos que possibilitem entender os mecanismos que ligam a interação homem/natureza, para que se possa obter uma relação harmônica e equilibrada.

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade Federal de Santa Maria pelo o incentivo nessa pesquisa.

Referências

BOTELHO, R. G. M. Planejamento Ambiental em Microbacia Hidrográfica. In: Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações/ Antônio José Teixeira Guerra, Antônio Soares da Silva, Rosângela Garrido Machado Botelho (organizadores) – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

DIAS. D.F. Proposta de Atlas Geoambiental para o município de Mata –RS. Trabalho de Graduação. Universidade Federal de Santa Maria, 2014. 131p.
ROSS, J.L.S. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n º 6, 1992. p. 17-29.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1980.

TRENTIN, R.; ROBAINA, L. E. S. Metodologia para Mapeamento Geoambiental no Oeste do Rio Grande do Sul. In: Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, 11, 2005. Anais... 2005.