Autores
Rademann, L. (UFSM) ; Trentin, R. (UFSM) ; Robaina, L.E.S. (UFSM)
Resumo
O relevo é moldado pode assumir diversas formas, contudo cada uma delas proporcionam limitações e aptidões para o uso do terreno, sendo assim, o trabalho tem como objetivo espacializar as formas de relevo e os usos do solo do município de Cacequi e relacionar as duas variáveis. Para a elaboração do mapa de formas de relevo no software ArcGIS 10.1 foram classificadas 4 classes: colinas, colinas suaves, morrotes e planícies. Na elaboração do mapa de uso do solo foi utilizado imagens do LANDSAT 8 e coletadas amostras no software ENVI Classic, discriminando sete classes. Observou-se que há um predomínio de lavouras nas áreas de planície devido ao grande cultivo de arroz e também grande quantidade de campos nas colinas, sendo bastante utilizada para a pecuária. As ferramentas de geoprocessamento se mostraram eficientes para o estudo dos aspectos do relevo e de uso do solo e sua relação, sendo assim uma importante ferramenta para gestão do município e também subsídio para novos estudos.
Palavras chaves
Formas de Relevo; Uso do Solo; Cacequi-RS
Introdução
O relevo é moldado por diversos processos naturais e antrópicos, e de acordo com estes processos, vai tomando diversas formas, contudo cada uma delas tem suas características e proporcionam limitações e aptidões para o uso do terreno. Menezes et al (2013) destacam que, o estudo das formas de relevo se apresenta como objeto fundamental da Geomorfologia, tanto nos aspectos de gênese como evolução destas formas. Embora o relevo, numa rápida observação, pareça ser um componente estático do meio, está em constante processo de evolução, com velocidades variadas, interagindo, a todo instante, com os demais componentes da paisagem. Observa-se então uma estrita ligação entre as formas de relevo e o uso do solo, mostrando-se importante o estudo das suas relações, destaca Silva et al (2013) que para orientar o processo de ocupação o estudo da geomorfologia é fundamental, pois assegura uma melhor avaliação das áreas de riscos ambientais e da adequabilidade de determinado local as atividades desenvolvidas pela população. Ainda Souza e Reis (2011) destacam que “o mapeamento do uso dos solos em uma determinada região é importante pela necessidade de compreender a organização do espaço e suas mudanças, uma vez que o meio ambiente sofre transformações causadas pelos processos naturais e, sobretudo pelas ações antrópicas.”. O presente trabalho tem como objetivo espacializar as formas de relevo e os usos do solo do município e identificar as relação entre as duas variáveis.
Material e métodos
Para a elaboração dos mapas presentes no trabalho foi utilizado o SIG ArcGIS 10.1 produzido pela ESRI. Foi tomado como base cartográfica para os estudos do relevo as cartas topográficas do exército na escala 1:50.000 através da digitalização das curvas de nível, pontos cotados e hidrografia. Para a definição do limite do município de Cacequi foi utilizado o banco de dados do IBGE na sua malha digital do ano de 2010 e então, através do SIG e da base cartográfica das cartas topográficas em escala 1:50.000, foi melhorado o limite municipal, seguindo as feições estabelecidas na lei municipal que estabelece as linhas limítrofes do município (drenagens, estradas). As formas de relevo do município de Cacequi foram classificadas de acordo com a amplitude altimétrica do terreno e a sua declividade utilizando-se da metodologia proposta pelo IPT (1981 apud MOREIRA & PIRES NETO, 1998). Foram classificadas em morrotes, com declividades superiores a 15% e amplitude altimétrica menor que 100 metros, colinas, que possuem declividades entre 5 e 15% e amplitude altimétrica inferior a 100 metros, colinas suaves, que são formas de relevo com declividades variando de 2 á 5% e amplitude altimétrica menor que 100 metros e também planícies que possuem amplitude altimétrica menor do que 100 metros e declividades inferiores a 2%. O mapa de uso e ocupação foi elaborado através de imagens de satélite com o Sensor OLI do LANDSAT 8. As imagens foram escolhidas de acordo com a cobertura de nuvens do local e são datadas de 04/12/2014 considerando que a orbita do satélite que cobre o município é a 223 e o ponto é 81. As imagens do LANDSAT foram retiradas do site glovis.usgs.gov. Foram utilizadas sete classes para a elaboração do mapa de uso do solo que são: água que é constituída pelos reservatórios de água do município e as principais drenagens; área urbana que é a sede do município de Cacequi; depósitos arenosos, que são áreas grandes com solo exposto e sem vegetação, com o processo de erosão acelerado; campo, que é constituído de vegetação rasteira típica do Oeste do Rio Grande do Sul; lavoura que são as plantações e cultivos agrícolas em estágio avançado presentes no município; mata, que é constituída de capões e matas ciliares ao longo do município; e também silvicultura que é a plantação de árvores destinadas à produção de madeira, carvão vegetal e celulose. No software ENVI Classic foram coletadas amostras conhecidas de cada classe e foram classificadas de forma supervisionada no mesmo software de acordo com seu espectro de reflectância igual ou semelhante individualizando os pixels da imagem. Após foram classificados e unidos os espectros de reflectância semelhantes ou iguais em polígonos gerando assim uma base de dados que foi exportado para o SIG ArcGIS 10.1 e neste foi feita a edição final do mapa. Depois de elaborados os mapas de formas de relevo e de uso do solo foi feito um cruzamento desses mapas para identificar os usos predominantes nas diferentes formas de relevo, e através deste cruzamento foram gerados dados através da análise espacial do ArcGIS que foram trabalhados em gráficos e tabelas para a análise da relação entre os usos do solo e as formas de relevo. Os gráficos e tabelas presentes no estudo realizado foram elaborados através do Excel 2010, tendo como base os dados gerados no programa ArcGis 10.1. Após o levantamento de dados foi feita a análise descritiva através de um texto explicativo, relacionando os dados das formas de relevo e uso do solo, estabelecendo assim relação entre as formas de relevo e as características de uso do solo no município de Cacequi.
Resultado e discussão
O município de Cacequi está situado no compartimento geomorfológico chamado
de Depressão Periférica do Rio Grande do Sul localizado na região central do
estado do Rio Grande do Sul fazendo limite com os municípios de Alegrete,
São Vicente do Sul, São Pedro do Sul, Dilermando de Aguiar e Rosário do Sul
(Figura 1), que é uma região sedimentar da bacia do Paraná onde os processos
de erosão e arenização são significativos.
Cacequi possui 2338 km² e um terreno bastante plano, com predomínio de
declividades suaves, menores que 2%, e também grande parte do terreno em
baixas altitudes de cerca de 110 á 140 metros, sendo assim, possui um relevo
bastante homogêneo com presença das formas de relevo de planícies, colinas,
colinas suaves e morrotes conforme apresenta o mapa a seguir (Figura 2).
O município de Cacequi possui as formas de colinas presentes em áreas de
declividades de 5 à 15% em sua maioria, e altitude de 110 à 170 metros. As
colinas representam principalmente áreas de cabeceiras de drenagens e áreas
drenadas por rios intermitentes.
A segunda forma de relevo que mais se apresenta no município são as
planícies que são as áreas com baixas declividades, inferiores á 2%, e
altitudes menores que 100 metros. As planícies em Cacequi são caracterizadas
por estarem próximas aos principais rios que drenam o município como o
Cacequi, Ibicuí e Santa Maria.
Em cerca de 5% da área de estudo predominam as formas de colinas
suaves, que são áreas com declividades baixas, de 2 à 5% e altitudes de 110
à 140 metros. Estas áreas de colinas suaves representam o divisor de águas
das principais drenagens do município que são os rios Cacequi e Santa Maria,
na região central de Cacequi.
Ainda em pequena quantidade, o relevo de Cacequi apresenta formas de
morrotes que são áreas isoladas que possuem declividades acentuadas, acima
de 15% e altimetria maior ou próxima de 170 metros.
Assim, podemos considerar que o relevo de Cacequi é marcado pelo
predomínio de colinas e planícies, sendo um município com feições do relevo
propícias para a agricultura em quase toda a sua área, sendo que as colinas
e colinas suaves permitem o uso de maquinário agrícola devido a declividade
e as planícies associadas a grandes volumes de água, propiciam o plantio de
arroz irrigado.
Análise do Uso do Solo
A área do município de Cacequi tem sido usada para diversos fins e com
diversas ocupações do terreno. Assim, observa-se que o solo de Cacequi é
usado ou ocupado por Campos, Silvicultura, Mata, Lavouras, Área Urbana,
Depósitos Arenosos e Água, conforme mostra a Figura 3:
O uso predominante no município é de lavouras, aproximadamente 44% da área
do município, que segundo o censo agropecuário do IBGE do ano de 2006 é
destinado para os cultivares de arroz, soja e trigo.
As lavouras estão espalhadas por todo o município, tendo sua maior
ocorrência junto às áreas de colinas e nas planícies (Figura 4), porém
ocorrem ainda nas colinas suaves e observa-se registros de ocorrência de
lavouras junto aos morrotes.
O uso das planícies para lavouras se justifica pela grande disponibilidade
de água nestes locais e ainda a facilidade do uso de maquinários agrícolas.
Na região Oeste do estado do Rio Grande do Sul é comum o cultivo do arroz
irrigado, que é de fácil cultivo nas regiões de planícies, porém vem
perdendo espaço para o cultivo de soja e milho que é feito nas colinas do
município, representando assim, maior área de lavouras nas áreas de colinas.
Apesar da grande disponibilidade de áreas aptas ao desenvolvimento
de lavouras, no município de Cacequi, devido às características de relevo,
observa-se que por vezes ocorrem associadas às áreas de proteção permanente,
ocasionando áreas de fragilidade ambiental, ora pela supressão da mata
ciliar associada aos cursos de água, ora associada às áreas íngremes dos
morrotes.
Como segunda maior classe de uso do solo de Cacequi os campos possuem uma
área de 954,18 km², o que representa 41% da área total do município. Estas
são áreas características de criação de gado, onde há uma vegetação rasteira
e de constante alimento para o animal, o que caracteriza o bioma pampa,
descrito por Alves (2008) como “predominantemente constituída por gramíneas
e outras plantas herbáceas”.
Os campos no município de Cacequi estão situados por toda sua
extensão territorial, com predomínio nas áreas de colinas (45%). São áreas
onde há abundância de gramíneas, sendo assim propício para a atividade
pecuária, se destacando segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2006) as
pecuárias bovina e ovina.
Cabe salientar também que os campos recobrem quase toda a extensão
de morrotes do município, pois por serem áreas mais altas e com declividades
mais acentuadas é de difícil manejo das lavouras, conservando assim a
vegetação nativa.
Os campos na região do Bioma Pampa apresenta como característica
natural a presença de gramíneas utilizadas para o pastoreio do gado e, desta
forma, constitui-se nas áreas de menor degradação ambiental do município,
salvo determinadas áreas que apresentam um pastoreio excessivo, onde a
redução da vegetação acaba expondo o substrato arenoso e pode ocasionar
processos de dinâmica superficial como ravinamentos voçorocas e formação de
areais.
Ainda podemos encontrar no município de Cacequi uma significativa
porção, cerca de 9% do território, de matas. Estas são caracterizadas
principalmente matas ciliares, sendo que a vegetação da região não é de
características de árvores de grande porte e florestas. Observa-se que a
grande maioria das matas estão localizadas nas planícies do município sendo
que são matas ciliares próximas aos principais rios do local, dentre eles os
rios Cacequi, Ibicuí e Santa Maria.
A silvicultura é uma atividade que também vem crescendo nas últimas
décadas no Oeste do estado do Rio Grande do Sul e no município de Cacequi
não tem sido diferente, hoje a silvicultura ocupa em torno de 101,53 km² do
território municipal, com o principal objetivo de extração de celulose,
estando bastante concentrada nas colinas do município.
Às atividades de silvicultura associam a florestamentos de pinus sp.
e eucaliptos sp. que estendem-se por grandes áreas, produzindo uma alteração
brusca na paisagem e dinâmica do Bioma Pampa. Economicamente, tem gerado
para a região um forma de exploração econômica das áreas, porém apresenta
características de eliminação das demais espécies vegetais da área de
implantação, espécies por vezes endêmicas da área e, ainda a forma de manejo
das áreas de cultivo tende a deixar exposta e sem qualquer cobertura vegetal
grandes áreas o que tende a intensificar ainda mais a ocorrência dos
processos de dinâmica superficial encontradas nestas áreas.
Também há em cerca de 1% do terreno de Cacequi os depósitos
arenosos, que são depósitos associados às drenagens localizados
principalmente em áreas de planícies, pois são áreas de depósitos dos rios,
e antigos meandros que caracterizam áreas sem fins econômicos e de
degradação ambiental.
Ainda em pequenas porções do município há reservatórios de água,
destinados à irrigação de lavouras e também rios de grande porte,
totalizando 24,3 km². As maiores partes dos corpos d’água de Cacequi estão
localizadas nas planícies do município, porém também há grande presença nas
colinas devido ao seu uso de irrigação e também fonte de água para o gado.
A área urbana de Cacequi que possui 4,52km² está em quase toda a sua
totalidade sobre colinas, porém há uma pequena parcela localizada na
planície do rio Cacequi.
Mapa de Localização do Município de Cacequi, RS;
Mapa de Uso e Ocupação do Solo no Município de Cacequi – RS;
Distribuição das Lavouras no Relevo de Cacequi – RS;
Mapa de Formas de Relevo de Cacequi - RS
Considerações Finais
O trabalho se deu de forma eficiente visto que através da elaboração dos mapas, análise qualitativa e quantitativa dos dados foi possível estabelecer uma relação entre as formas de relevo e o uso do solo do município de Cacequi. Observa-se que Cacequi possui um relevo muito baixo e de baixas declividades, sendo muito propício para o uso do maquinário agrícola o que reflete na sua grande expressão de uso da terra voltado para a agricultura, ainda em grande quantidade há os campos sobre as colinas que são utilizados para o cultivo da pecuária, sendo assim o município de Cacequi possui sua maior parte do território voltado para a agropecuária, sendo uma característica econômica para o município. Este uso do solo predominantemente agropecuário pode vir a acentuar alguns processos erosivos que são característicos na região do Oeste do Rio Grande do Sul, então este estudo pode servir de base para novos estudos sobre seu impacto nos processos de voçorocamento e arenização no município. Assim concluímos que as ferramentas de geoprocessamento se mostraram eficientes para o estudo dos aspectos do relevo e de uso do solo e que os estudos desta relação são importantes para entender a ocupação antrópica e a sua apropriação da natureza. O estudo se mostra importante para novos estudos dos processos atuantes no município e também como importante ferramenta para a gestão do município de Cacequi.
Agradecimentos
Referências
ALVES F. S.; Estudos Fitogeográficos na Bacia Hidográfica do Arroio Lajeado Grande – Oeste do RS, 2008.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÌSTICA (IBGE).; Censo Agropecuário 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÌSTICA (IBGE); Malha municipal digital. Disponível em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/malhas_digitais/municipio_2010/.
MENEZES et al.; Mapeamento de uso da Terra do Munícipio de São Pedro do Sul – RS. XV Simpósio Brasileira de Geografia Física Aplicada, Vitória, ES, 2013.
MOREIRA, C. V. R. & PIRES NETO, A. G. Clima e Relevo. In: OLIVEIRA, A. M. S. & BRITO, S. N. A. Geologia de Engenharia. São Paulo: ABGE, 1998, p.68-86.
SILVA et al; Análise de Relevo e Uso do Solo no Município de Taperoá – PB Utilizando Técnicas de Geoprocessamento. XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Foz do Iguaçu, PR, 2013.
SOUZA, J. R.; REIS, L. N. G.; Mapeamento e Análise do Uso dos Solos no Município de Ibiá – MG Utilizando o Software SPRING 5.1.8: Análise da Dinâmica Agropecuária. OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.8, p.141-163, dez.2011.