Autores
Marques Santos, N. (UFRN) ; Oliveira Rabelo, T. (UFRN) ; Denache Vieira Souza, U. (COLUN-UFMA)
Resumo
A geomorfologia de uma área pode influenciar as ações antrópicas sobre o ambiente e a dispersão de outros componentes físicos, como a vegetação. No Estado do Maranhão, na área de entorno da Lagoa do Bacuri, a geomorfologia exerce influência sobre as alterações da cobertura vegetal local. O objetivo desta proposta é correlacionar as características geomorfológicas com as alterações na cobertura vegetal através da aplicação de Índice de Vegetação. Utilizando de técnicas de Sensoriamento Remoto, levantamento bibliográfico e trabalhos de campo para alcance do objetivo. A partir da classificação de 1994 e 2013, foi possível representar cartograficamente as alterações ocorridas na cobertura vegetal e relacionar com as características geomorfológicas. Nas áreas de relevo tabular a vegetação é predominantemente de cerrado com a presença de formações arbustivas, nas regiões mais baixas e próximas ao corpo hídrico apresentam fisionomia mais arbórea, com presença de palmáceas.
Palavras chaves
Índice de Vegetação; Geomorfologia; Lagoa do Bacuri
Introdução
A geomorfologia corresponde ao estudo das formas de relevo da superfície terrestre, identificando, classificando caracterizando e relacionando a sua estrutura a processos endógenos e exógenos e sua interação com os componentes abióticos e bióticos da Terra. As características geomorfológicas de uma área pode influenciar tanto em ações antrópicas sobre o ambiente como na dispersão de outros componentes físicos da superfície terrestre, a exemplo da dinâmica da cobertura vegetal em ambientes lacustres. A utilização das geotecnologias nas últimas décadas tem sido importante ferramenta nas análises ambientais, inclusive na detecção de alterações na cobertura vegetal, sendo um dos meios mais eficientes para a realização do monitoramento de grandes extensões da superfície terrestre. As técnicas de Sensoriamento Remoto e suas ferramentas possibilitam o estudo dos dosséis, observando parâmetros espectrais da vegetação e parâmetros biofísicos da paisagem através de mudanças na reflectância, bem como nos Índices de Vegetação. Neste contexto, no Estado do Maranhão, nos municípios de São Bernardo e Magalhães de Almeida está localizada a Lagoa do Bacuri, importante corpo hídrico da mesorregião do leste maranhense. A Lagoa do Bacuri é fundamental na dinâmica homem ambiente na região, por fornecer subsídios para o sustento do ecossistema na área e ser fonte de subsistência para as 31 comunidades residentes no entorno. Inserida no bioma Cerrado, a área é caracterizada pela presença de formações arbóreas e arbustivas, com a ocorrência de carnaúba (Copernicia prunifera, Mart), buriti (Mauritia flexuosa, L.) e Unha de Gato (Uncaria Tomentosa W.) por exemplo. A geomorfologia da região influencia na ocorrência das formas vegetacionais de acordo com o relevo, assim como nas atividades socioeconômicas realizadas na área que influenciam nas alterações da cobertura vegetal da área. A presente proposta tem como objetivo correlacionar as características geomorfológicas da área de entorno da Lagoa do Bacuri com as alterações na cobertura vegetal a partir da aplicação de Índices de Vegetação.
Material e métodos
Para alcance dos objetivos da pesquisa, foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: -Levantamento e análise do material bibliográfico sobre alterações na cobertura vegetal, relação entre geomorfologia e vegetação, Sensoriamento Remoto no estudo da vegetação, desenvolvidos por Ponzoni, Shimabukuro e Kuplich (2012) e estudos sobre a Lagoa do Bacuri desenvolvidos por Santos (2014); Santos (2015) e Rabelo (2015); -Levantamento do material Cartográfico e de Sensoriamento Remoto, para delimitação da área de entorno da Lagoa do Bacuri e na identificação de sua situação geográfica em relação aos municípios de São Bernardo e Magalhães de Almeida; -Aquisição, processamento e análise de imagens de satélites Landsat 5, Sensor TM e 8, Sensor OLI disponibilizadas pelo INPE, dos anos de 1994 e 2013 do mês de Junho, por apresentarem menor quantidade de nuvens na cena para análise das variações na cobertura vegetal; -Cálculo do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), que é obtido pela razão da diferença da banda do infravermelho próximo com a banda do vermelho pela soma das mesmas bandas, segundo Rouse et al., (1973) apud Ponzoni, Shimabukuro e Kuplich (2012): NDVI=(PIV – PV)/( PIV + PV) -Elaboração dos mapas multitemporais a partir do NDVI, referentes à cobertura vegetal dos anos de 1994 e 2013, identificando as alterações na cobertura vegetal da área de abrangência da Lagoa do Bacuri; -Interpretação e análise dos dados obtidos através do processamento das imagens e das informações adquiridas nos trabalhos de campo;
Resultado e discussão
A Lagoa do Bacuri é a maior lagoa marginal do rio Parnaíba, constitui um
ambiente perene e é um dos ecossistemas mais representativos do Baixo
Parnaíba, juntamente com a região do Delta (Mapa 01). A lagoa do Bacuri dá
suporte para o sustento de um diversificado ecossistema que é a base
fundamental para a alimentação, ocupação, geração de renda e fonte de lazer
de 31 comunidades em seu entorno e até de outras localidades (SANTOS, 2015).
A lagoa tem 23,6 km de extensão e compreende uma área de 26,1 km² dos quais
85 % pertencem ao município de Magalhães de Almeida 15 % ao município de São
Bernardo do Maranhão (SANTOS, 2014).
Segundo Feitosa e Trovão (2006) o relevo dissecado do Parnaíba é uma região
que expressa a transição entre planície e planalto e em relação aos
tabuleiros estes possuem formas tabulares e subtabulares que ocorrem na área
emersa, adjacente a região litorânea. A área da lagoa do Bacuri participa de
três unidades geoambientais: planície fluvial, relevo dissecado e
tabuleiros; a planície fluvial é uma região específica localizada no vale
inferior do Rio Parnaíba (ALMEIDA JÚNIOR, 2012).
Santos (2014) afirma que é possível identificar o domínio de rochas
sedimentares areníticas e sílticas, porosas e permeáveis, constituindo
relevos tabulares ou pouco dissecados em platôs, chapadas e serras, com
condições naturais que propiciam altas taxas de infiltração, tais condições
levaram a formação de morfoestruturas em superfícies dominadas por relevo
tabulares, com altitude variada, chegando a 100 m no topo das chapadas.
Pode se descrever a vegetação da área da Lagoa em formações arbustivas-
arbóreas. As margens da Lagoa do Bacuri é marcante a presença de carnaúbas
utilizadas pela comunidade em atividades ligadas ao extrativismo vegetal,
para cobertura de casas, cercas, postes, pilares, produção de cera,
artesanato, carvão e outros
Santos (2014) ressalta que o entorno da lagoa do Bacuri é marcado pela
presença de várias espécies de palmáceas, nas áreas mais próximas aos corpos
hídricos e vegetação típica de cerrado nas encostas dos tabuleiros, dentre
as palmáceas encontradas na região, destacam-se a carnaúba (Copernicia
prunifera, Mart) (Foto 03), o Buriti (Mauritia flexuosa, L.) e o Tucum
(Astrocaryum vulgare, Mart.).
Ainda na região de entorno da lagoa do Bacuri é possível identificar manchas
de caatinga, a exemplo da Unha de Gato (Uncaria Tomentosa W.), que aparecem
nas encostas e nos topos dos tabuleiros e nas proximidades do limite com o
estado do Piauí, estas formações vegetais se diferenciam das demais pelas
características fisionômicas: plantas galhosas, com coloração acinzentada,
sem folhas no período de estiagem (Santos, 2014).
Após o cálculo foi realizada uma classificação supervisionada sobre a imagem
gerada, identificando 6 classes e por meio dos mapas de cobertura vegetal
dos anos de 1994 e 2013 (Mapa 02 e 03) é possível analisar as alterações na
vegetação em decorrência da dinâmica socioeconômica da área e a influência
da geomorfologia neste processo.
A mudança mais significativa foi o avanço da vegetação arbustiva
(característica das áreas de Tabuleiros) sobre a vegetação arbórea e o
aumento das áreas de cultivo (caracterizada em sua maioria pela agricultura
mecanizada).
De acordo com Santos (2015), o aumento em quase 10% da vegetação arbustiva
na região, e redução de 17,75% da vegetação arbórea, com o processo
evolutivo de uso e ocupação nesse período, a demanda de áreas para cultivo
aumentou pela necessidade do plantio de produtos alimentícios básicos para
subsistência nas comunidades que foram instalando se nas planícies próxima
ao corpo hídrico, inferi se que houve aumento na aplicação das práticas
tradicionais de preparo da terra e a retirada das formações arbóreas nas
atividades extrativistas para diversas finalidades de uso.
A áreas de tabuleiro foram sendo ocupadas principalmente pela agricultura
mecanizada. A lagoa do Bacuri está inserida na área de Cerrado, mesmo com os
solos ricos em alumínio, o cultivo da soja na área tem se expandido devido
principalmente a fatores topográficos do terreno e a boa drenagem do solo. A
geomorfologia da área é um fator de grande influência para a dinâmica das
atividades humanas que foram estabelecidas na área e que consequentemente
provocaram alterações na cobertura vegetal do entorno da Lagoa do Bacuri.
Localização da área de estudo Fonte: Rabelo, 2015
Uso e Cobertura Vegetal, 1994. Fonte: Santos, 2015
Uso e Cobertura Vegetal, 2013. Fonte: Santos, 2015
Considerações Finais
A região é geomorfologicamente caracterizada pelo domínio de relevos tabulares chegando a 100 m no topo da chapada, onde a vegetação é predominantemente de cerrado com a presença principalmente de formações arbustivas, nas regiões mais baixas e próximas ao corpo hídrico apresentam fisionomia mais arbórea, com presença de palmáceas. A partir da classificação de 1994 e 2013, foi possível representar cartograficamente e qualificar as alterações ocorridas na cobertura vegetal, possibilitando melhor avaliação, análise e compreensão dos dados, relacionando as influências naturais e antrópicas existentes na área. A utilização do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada permitiu a identificação mais apurada das alterações na cobertura vegetal, assim como a imagem gerada permitiu a identificação mais apurada de estradas vicinais nas imagens classificadas, fato que pode favorecer a utilização do índice para identificar outras variáveis na imagem, relacionando a outros aspectos e gerando novas discussões. Contudo, são necessários estudos mais aprofundados no que se refere aos aspectos geológicos, pedológicos, climáticos e variáveis socioeconômicas, principalmente referente ao agronegócio para diversificar a discussão da dinâmica do uso e cobertura vegetal e sua relação com as características geomorfológicas, para que assim possam posteriormente serem elaboradas diretrizes para o planejamento ambiental na área da Lagoa do Bacuri.
Agradecimentos
Referências
ALMEIDA JÚNIOR, E. S. Lagoa do Bacuri, Magalhães de Almeida – MA: Inter-relações das comunidades do entorno com o ecossistema sob a ótica da sustentabilidade. Dissertação apresentada à coordenação do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas. São Luís, 2012.
FEITOSA, A. C.; TROVÃO, J. R. Atlas Escolar do Maranhão: Espaço Geo-histórico e Cultural. Editora Grafset, 2006
PONZONI, F. J; KUPLICH, T. M; SHIMABUKURO, Y. E. Sensoriamento Remoto da Vegetação. São Paulo: Oficina de Textos. 2 ed. 2002.
RABELO, T. O. O ÍNDICE DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL (IVA) COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL DA LAGOA DO BACURI - MA. Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão. São Luís, 2015.
SANTOS, B. A. M de O. A geoecologia da paisagem aplicada à sustentabilidade ambiental na área da Lagoa do Bacuri, Magalhães de Almeida – Maranhão. Dissertação apresentada à coordenação do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas. São Luís, 2014.
SANTOS, N. M. DINÂMICA DA PAISAGEM: o uso de Índices de Vegetação para indicar alterações na cobertura vegetal na área de entorno da Lagoa do Bacuri – Maranhão. Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão. São Luís, 2015.