Autores

Souza, B.M.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Machado, C.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Santos, R.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Santos, C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Lira, D.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo a realização do mapeamento geomorfológico da microrregião do sul do estado de Sergipe, na escala 1:100.00. A caracterização e mapeamento seguiram os pressupostos metodológicos de taxonomia lastreados na integração de dados aplicados na Geografia Física. A metodologia aplicada no trabalho foi inicialmente a realização de um inventario da área e na utilização e dados de radar interferométrico, possibilitando extrair curvas de nível em diversas altitudes, relevo sombreado, além do mapa Hipsométrico que sobrepondo ao mapa geológico possibilitou identificar as unidades mapeadas em ambiente SIG. Esses dados foram analisados, por meio da classificação por máxima verossimilhança, possibilitando a identificação de nove unidades geomorfológicas em caráter morfoescultural. O mapeamento realizado a partir das aplicações geotecnologias mostrou-se bastante eficaz para os estudos prévios de reconhecimento e principalmente ligados a geomorfologia.

Palavras chaves

Unidades de relevo; análise orientada ao objeto; nordeste brasileiro

Introdução

A geomorfologia tem um papel fundamental na representação cartográfica, tendo como objetivo identificar, localizar e descrever as formas de relevo e os processos recorrentes buscando informações precisas com o intuito de alicerçar a compreensão da evolução e dinâmica do relevo. O uso da geotecnologia para a realização de mapeamentos tem contribuído para os estudos geomorfológicos de maneira eficiente e eficaz. A utilização do Processamento Digital de Imagens - PDI é uma tendência das Geociências, e representa uma maneira eficiente de executar diversas pesquisas. Para os estudos geomorfológicos estas tecnologias possibilitam melhorar a precisão das análises e incrementam a capacidade de processamento de dados (IBGE, 2009). Como toda representação cartográfica, mapeamentos geomorfológicos modificam-se dependendo da escala que você irá utilizar. Como ferramenta de representação da realidade, a escala, através de mapas de variados tipos e tamanhos, tem um papel fundamental no andamento da pesquisa. “Se não recorrêssemos à noção de escala, seríamos pura e simplesmente afogados pela corrente de percepções que nos assaltam ininterruptamente” (RACINE et al, 1983, p. 127). Ao realizar os estudos geomorfológicos, deve-se levar em consideração os três níveis de abordagem apresentado por Ab'Sáber (1969), a compartimentação morfológica, o levantamento da estrutura superficial e o estudo da fisiologia da paisagem. Logo os mapas geomorfológicos, representam as formas do relevo a fim de compreender os diferentes arranjos espaciais, suas constituições, e as relações entre diferentes sistemas. Este trabalho é parte integrante de um projeto maior de identificação de unidades de relevo para o estado de Sergipe na escala de 1:100.00, para fins de reconhecimento prévio por meio de geotecnologias e análise orientada ao objeto, para facilitar trabalhos expeditos de identificação das unidades de relevo em campo. O objetivo deste trabalho foi construir um mapa geomorfológico da região sul do estado de Sergipe que compreende os municípios de Salgado, Boquim, Pedrinhas, Itabaianinha, Tomar do Geru, Cristinápolis, Umbaúba, Indiaroba, Santa Luzia do Itanhy, Arauá e Estância, destacando as principais unidades morfogenéticas do relevo a partir do processamento de imagem de SRTM, assim como informações adquiridas por meio do mapa geológico, e do conhecimento técnico adquirido pelos pesquisadores a respeito da área.

Material e métodos

A caracterização e mapeamento seguiram os pressupostos metodológicos da taxonomia de Ross (1992) e IBGE (2009). Para o processamento dos dados deste trabalho, foi utilizado o pacote de software ArcGis, a partir da licença free trial, obtida pelo site da ESRI: <http://www.esri.com/>, que disponibiliza o uso do programa por um período de 60 dias, com acesso ao ArcMap e suas ferramentas. Para a realização do trabalho foi necessário a realização de um levantamento de dados da área estudada. Os dados Georreferenciados foram adquiridos de forma gratuita a partir do mapa geológico estadual do estado de Sergipe, disponível no site Geológico do Brasil- CPRM: <http://geobank.cprm.gov.br/>, fornecendo informação importante a exemplo das subclasses das rochas que possibilitam ao pesquisador uma melhor análise na área estudada, contribuindo bastante para a definição da moforesculturas. As imagens SRTM foram obtidas por meio do site da EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, do projeto Brasil em Relevo: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/>, utilizando a região sul do estado de Sergipe, possibilitando a construção de um modelo digital de terreno e a partir deste, extrair curvas de níveis de diversas cotas, nesse objeto de estudo foi utilizado as curvas de níveis com equidistâncias de 10 e 50 metros, e na elaboração de mapas temáticos (shaded relief, declividade e hipsométrico), bem como cruzamento dos dados com a Geologia e Solos da área recortada e adjacências, dando suporte para a elaboração do resultado final da pesquisa.

Resultado e discussão

A área de estudo compreende a região sul do estado de Sergipe pertencente à região nordeste do Brasil. O Território Sul abrange uma área de 3.950,90 Km², composto por 12 municípios: Arauá, Boquim, Estância, Indiaroba, Itabaianinha, Itaporanga d`Ajuda, Pedrinhas, Salgado, Santa Luzia do Itanhy, Umbaúba, Cristinápolis e Tomar do Geru. Sergipano. O clima é tropical, mais úmido próximo ao litoral (pluviosidade média anual de 1600 mm, com maior intensidade de chuvas entre março e julho) e semiárido no sertão. Em algumas ocasiões, a seca no Oeste do estado pode se prolongar por quase um ano. As principais Bacias hidrográficas que compreende a região sul do estado de Sergipe são: A Bacia Hidrográfica do Rio Piauí e a Bacia Hidrográfica do Rio Real. A Bacia Hidrográfica do Rio Piauí possui uma área geográfica de 4.150 km², equivalentes a 19% do território limita-se ao norte com a bacia do rio Vaza Barris; a oeste com o estado da Bahia e com a bacia do rio Real; ao sul com a bacia do rio Real; e, a leste, com o Oceano Atlântico, onde tem a sua desembocadura em terras do município de Estância, no complexo hídrico denominado Barra da Estância. A Bacia Hidrográfica do Rio Real nasce no Estado da Bahia, mas percorre até sua foz oito municípios do Estado de Sergipe: Poço Verde, Tobias Barreto, Riachão do Dantas, Cristinapólis. Itabaianinha, Tomar do Geru, Umbaúba, Indiaroba, tendo uma área de 2.568 km2 que corresponde 11,6% do Estado, sua vazão média é de 20,46 m3/seg. Para a elaboração do Mapa Geomorfológico, foram utilizados dados SRTM de 30 metros de resolução, possibilitando a confecção de Modelos Numéricos de Terreno – MNT (Hipsometria, Relevo Sombreado, Curvas de nível, declividade) sobreposto a dados de solo e em um segundo momento foi realizado uma classificação semi-automatizada por máxima verossimilhança onde os dados foram sobrepostos permitindo a identificação das unidades de relevo. A partir do mapeamento geomorfológico foram identificadas nove unidades de relevo: Encostas coluviais; Encostas dissecadas; Planície flúvio-marinha; Planície flúvio marinha com influencia Éolica; Tabuleiros; Tabuleiros Dissecado; Tabuleiro dissecado em colinas; Vale Fluvial; Vale Fluvial Dissecado. Encostas coluviais: Compreende uma unidade composta de materiais inconsolidados recobrindo as feições geomórficas, produto da gravidade causando remobilização pelos setores de encosta até a base cuja sucessão de camadas apresenta características próprias dos processos geradores, tanto do transporte quanto da forma assumida pelos depósitos (MOURA e SILVA, 2006) diferenciando-se então das Encostas dissecadas que não apresentam coberturas coluviais - Planície flúvio-marinha: Para Guerra (2007) esta unidade é constituída por terrenos recentes (Quaternário), formada pela ação combinada de processos de acumulação (ventos, mar e rios), que irão influenciar as feições da planície. A Planície flúvio-marinha com influência Eólica apresenta feições morfológicas compostas pela faixa praial, campo de dunas móveis, fixas e paleodunas resultantes de processos de acumulação, condicionados por ações eólicas, marinhas e fluviais, isoladas ou em conjunto. Tabuleiros segundo Guerra (2007) são formas topográficas de terreno que se assemelham a planaltos, terminando geralmente de forma abrupta. No Nordeste brasileiro os tabuleiros aparecem de modo geral em toda Costa composta de uma paisagem de topografia plana, sedimentar e de baixa a média altitude. Tabuleiros dissecados: apresenta vestígios da forma tabular que sofrerá dissecação remontante, os Tabuleiro dissecado em colinas consistem de colinas de topos planos a levemente arredondados, freqüentemente sulcados por uma densa rede de pequenos canais, apresentando vales encaixados de pequeno aprofundamento, fruto da dissecação das unidades tabulares. Vale Fluvial é forma de relevo que o rio cria, normalmente em forma de “V”. Os Vale Fluvial Dissecado rebaixam os vales, aprofundando-os em relação aos divisores de água. Quanto mais dissecado é uma região, maior é a área ocupada pelas vertentes.

Mapa de localização

O mapa que define a localização do objeto de estudo.

Mapa Morfoescultural

É o mapeamento geomorfológico da microrregião do sul do estado de Sergipe, que possibilitou a identificação de 9 unidades moforesculturais.

Considerações Finais

Os estudos geomorfológicos permitem o entendimento da dinâmica da paisagem contribuindo para o desenvolvimento de avaliações e interpretações das condições ambientais, tornando-se de grande relevância no âmbito da Geografia Física Aplicada. A partir dessa metodologia aplicada foi possivel classificar nove unidades morfoescuturais, que poderá ser utilizado em estudos posteriores, dessa forma, destaca-se a aplicabilidade dos mapas derivados do Modelo Digital de Terreno, conseguida devido ao procedimento geoestatístico por vetorização semi-automática. O Mapeamento das unidades geomorfológicas procurou através do auxílio da geotecnologia, em detalhar, através dos padrões de formas identificados e os mapas derivados do MDE-SRTM. O resultado do mapeamento geomorfológico mostrou-se satisfatório ao ser melhorado por meio do cruzamento das informações de Solos, Geologia e Declividade. As relações estabelecidas na área estudada podem ser extrapoladas para outras vizinhas, contribuindo dessa forma para futuros mapeamentos que possam vir a ser realizados nessa região.

Agradecimentos

Referências

AB´SÁBER, A. N. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o Quaternário. Geomorfologia. n. 18, IG-USP, S. Paulo, 1969.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Brasil em Relevo. Disponível em: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/>. Acesso em: 9.mar.2015.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de geomorfologia, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. – 2. ed. - Rio de Janeiro : IBGE, 2009. 182 p. – (Manuais técnicos em geociências, ISSN 0103-9598 ; n. 5).
Guerra, A T.; Guerra, A J. T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
MOURA, J. R. da S. e SILVA, T. M. da. Complexo de rampa de colúvio. In: Geomorfologia do Brasil. CUNHA, S. B. e GUERRA, A. J. T (Orgs). 4ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. P 143 – 180.
RACINE, J. B., RAFFESTIN, C., RUFFY, V. Escala e ação, contribuição para uma interpretação do mecanismo de escala na prática da Geografia. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, 45 (1): 123-135, jan/mar. 1983.
ROSS, Jurandir Luciano Sanches. Registro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia. 17-29 pp. São Paulo, IG-USP, 1992.
Serviço Geológico do Brasil - CPRM. Disponível em: <http://geobank.cprm.gov.br/>. Acesso em: 9.mar.2015.
http://www.redeacqua.com.br/2011/03/bacias-hidrograficas-do-estado-de-sergipe/
Grupo de pesquisa Acqua disponível em: <http://www.redeacqua.com.br/2011/03/bacias-hidrograficas-do-estado-de-sergipe/>. Acesso em 3 de fevereiro de 2016