Autores

Oliveira, D.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA) ; Souza, J.O.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)

Resumo

Este trabalho utiliza processos de mapeamento digital para melhorar o detalhamento do Mapa de solos da Embrapa de 1972 na bacia hidrográfica de São Sebastião do Umbuzeiro situada no município de mesmo nome, no semiárido paraibano. Baseado em métodos de mapeamento digital pedogeomorfológico, com intuito de diminuir os trabalhos de campo e custos. Para tal, foi utilizado um modelo digital de elevação, combinados com informações obtidas dos levantamentos de solos da área levando em consideração a relação solo/relevo para obter um maior detalhamento dos mapas já existentes. A partir da metodologia os resultados foram: menor representação dos luvissolos crômico com 62,4% no detalhamento de 1972 para 50,6% no mapeamento digital. Uma maior representação para o neossolo litólico saindo de 19,1% para 28,2%, adição de novas classes como e rocha ou afloramentos de rochoso com 2,8%.

Palavras chaves

mapeamento digital de solo; relações geomorfopedológicas; solos

Introdução

Este trabalho busca melhorar o detalhamento do mapeamento das classes de solos em São Sebastião do Umbuzeiro, município do estado da Paraíba (mapa 1). Situado no Bioma Caatinga, aonde não existe um detalhamento em uma escala maior que a fornecida pela Embrapa na escala de 1:250000. Fazendo- se necessário para um melhor planejamento do uso e ocupação dessa área o aumento da escala e, consequentemente, a precisão por meio do mapeamento digital. Com a crescente necessidade de um maior detalhamento do mapeamento das classes dos solos, faz-se necessário também melhorar a capacidade de estruturação da obtenção dos dados para concretizá-lo de forma mais rápida e menos custosa do que o mapeamento tradicional. Utilizar-se-á de alguns modelos de mapeamento digital para isso. “O levantamento pedológico tradicional é baseado no modelo discreto e descreve características dos solos de uma determinada área, classifica-os de acordo com um sistema taxonômico vigente, estabelece limites entre classes definidas no mapa e permite fazer inferências sobre o comportamento dos solos quanto ao uso e ao manejo” (EMBRAPA, 2003, pg 9). Todavia, por necessitar de análise laboratorial e de campo acaba tornando o método tradicional muito custoso (McBratney ET AL.. 2003). Por esse motivo, para uma primeira análise neste trabalho, utilizar-se-á do mapeamento digital para baratear os custos com o trabalho de campo e processamento de dados. Para falar do levantamento e mapeamento de solos, é preciso analisar duas abordagens, a tradicional chamada de “Clorpt” firmada por Dokuchaev no principio da ciência dos solos que diz que:“...estabelece que o solo é o resultado da interação entre cinco fatores: Clima (Climate – Cl), organismos (Organisms – O), relevo (relief – R), material de origem (Parent material – P) e tempo (Time – T)” (EMBRAPA 2003, pg 8). Jenny (1941), estabelece a uma equação com intuito de descrever o processo de formação do solo: S = f (CLORPT). Considerando o tempo como uma variável independente, já as outras como variáveis dependentes; os solos tendem a ser iguais onde os fatores de formação de pedogênese forem semelhantes, ou seja, onde as condições de clima, material de origem, relevo, biota e tempo forem parecidas em ambientes diferentes, os solos normalmente são os mesmos (EMBRAPA 2013). Um dos fatores principais na distribuição de solos é a influência do relevo, a qual controla a distribuição da água e de sedimentos e, consequentemente, na distribuição dos elementos químicos e os horizontes dos solos, sendo, assim, o fator controlador da distribuição local de solos. Ao mesmo tempo é necessário levar em consideração como a relação relevo e solos se comporta para as catenas do semiárido; tendo como classes de solos básicas:: neossolos(litólicos, flúvicos e regolíticos), luvissolos, planossolos e vertissos ainda podendo encontrar os latossolos e argissolos, esses dois últimos não estão diretamente relacionado ao clima vigente na área. (CORRÊA, SOUZA e CAVALCANTI, 2014).

Material e métodos

A Cidade de São Sebastião do Umbuzeiro está localizada na microrregião de São João do Tigre e na mesorregião da Borborema do estado da Paraíba, com 243,5 km de distância da capital. Tem área de 816 km² e fica a 557 metros de altitude em sua sede (CPRM 2005). Está predominantemente na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, com parte de sua área ao sul, no Planalto da Borborema (CPRM 2005). Sua vegetação tem predominância pela Caatinga Hiperxerófila, com clima Tropical semiárido com chuvas de verão e precipitação media anual de 431,8mm (CPRM 2005). “Com respeito aos solos, nos Patamares Comprimidos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado ocorrem os Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e Altas Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e as Elevações Residuais com solos Litólicos, rasos, pedregoso e fertilidade natural média” (CPRM 2005, pg 4 ). A identificação dos solos para um maior detalhamento do mapa sobre a escala 1:250000 fornecido pela EMBRAPA em 1972 se faz necessária para melhorar o planejamento de uso e ocupação da terra, por meio de uma análise sistêmica, buscando compreender a funcionalidade dos geossistemas da área. Os solos são os mesmos onde os fatores de formações e processos pedogenéticos sejam iguais (EMBRAPA 2013). Tendo como influência na formação do solo o relevo, condições climáticas, material de origem, biota e o tempo. Na escala local, o relevo se apresenta como elemento controlador das variações de solo em uma mesma encosta, sendo o foco do presente trabalho analisar essa relação. A análise da relação entre solo/relevo será baseada em catenas construídas para ambientes semiáridos do nordeste brasileiro (CORRÊA, SOUZA e CAVALCANTI, 2014), as quais levam em conta as associações de relevo e de litologia para discutir a distribuição dos solos na região. Buscando detalhar a distribuição dos solos, tendo como base as associações que são representadas no mapa de solos, a partir das Unidades de Solo. Para isso, utilizar-se-á técnicas de mapeamento digital que levaram em consideração fatores importantes para o detalhamento da distribuição dos solos: os atributos topográficos sendo eles a declividade, elevação e a distância da rede de drenagem (SOUZA 2013). Para tal pode-se utilizar os modelos digitais de elevação, combinar com informações obtidas dos levantamentos de solos da área, levando em consideração a relação solo/relevo para obter um maior detalhamento dos mapas já existentes. O método a ser aplicado no processamento de dados para o mapeamento digital usou de dados do projeto ASTER-GDEM 2, obtidos gratuitamente e com precisão de 30m. O processamento feito a partir do Spatial Analyst Tools do ArcGis 10.1 disponível na Universidade Federal da Paraíba Campus I- João Pessoa, começa no módulo Hidrology para observar a influência da distância do canal e da água na formação dos solos, partindo para o módulo Surface para análise da declividade (mapa 2) de cada ponto pela remoção e remobilização do solo.

Resultado e discussão

O mapa de solos com base no levantamento de solos pela EMBRAPA em 1972, mostra quatro classes de solos diferentes, sendo eles: luvissolo crômico, neossolos litólico, neossolo flúvico e neossolo regolítico. Apresentando associações de solos correspondentes as catenas de pedimento e pedimento e inselbergs. Como demonstra o Mapa 3. Dentro dessa perspectiva, pode-se classificar os solos por suas catenas típicas do semiárido brasileiros. Nesse caso foram encontrados solos poucos espessos ,resultado de um saldo denundacional que favorece a erosão sobre a pedogênese; pela influência da baixa média pluviométrica, estação chuvosa concentrada e elevada temperatura durante o ano. Sendo os conjuntos pedológicos da região considerados ‘constantes’, com fatores exógenos sendo agentes da pedogênese, apresentando pouca variação nos parâmetros de operação. Assim, sobre o arcabouço rochoso da região é predominante o neossolos(litólico e regolíticos), ou perfis mais desenvolvidos como: luvissolos e planossolos que tem sua formação pela estagnação ou baixa circulação da água decorrente dos largos interflúvios, ocorrendo principalmente em áreas de depressões(CORRÊA, SOUZA e CAVALCANTI, 2014). A partir disso, podemos identificar duas catenas predominantes no ambiente semiárido, sendo elas: catenas com inselbergs, comuns em terrenos cristalinos e granitóides com ângulos de até 10 graus de encosta controlados pela superfície basal de intemperismo, normalmente encontrado entre o pedimento e maciços residuais; e catenas com inselbergs e pedimentos que ocorrem onde os maciços residuais não são comuns, em relevo suavemente ondulado, nas áreas com drenagem deficiente habitual no regime semiárido, dando origem normalmente a planossolos e luvissolos. Nesse decorrente trabalho foi identificado treze unidades de solos, sendo elas: Ae3 Neossolo Flúvico relevo plano; Re39 Associação de Neossolo Litólico com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa e rochosa relevo forte ondulado e montanhoso substrato gnaisse e granito + ROCHA; NC25 Associação de Luvissolo Crômico com A fraco textura argilosa fase pedregosa relevo suave ondulado + Neossolo Litólio com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa rochosa; NC55 Associação de Luvissolo Crômico com A fraco textura argilosa fase pedregosa relevo suave ondulado e Neossolo Litólico com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa e rochosa; Re25 Associação de Neossolo Litólico com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa e rochosa relevo suave ondulado e ondulado substrato gnaisse e granito e Luvissolo Crômico com A fraco textura média ; Re32 Associação de Neossolo Litólico com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa e rochosa relevo ondulado e forte ondulado substrato gnaisse e granito + AFLORAMENTOS DE ROCHA; NC43 Associação de Luvissolo Crômico com A fraco textura média fase pedregosa relevo suave ondulado e Neossolo Litólico com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa e rochosa relevo suave; NC57 Associação de Luvissolo Crômico com A fraco textura média fase pedregosa, relevo suave ondulado, Neossolo Litólico com A fraco textura arenosa e/ou média fase pedregosa e rochosa ; NC52 Associação de Luvissolo Crômico com A fraco textura argilosa fase pedregosa, relevo suave ondulado, Planossolo Nátrico com A fraco textura média relevo plano e Neossolo Litólico; NC38 Luvissolo Crômico; Re23 Neossolo Litólico; Re66 Neossolo Litólico; REe15 Neossolo Regolítico. Assim as unidades Ae3, NC25, NC38, NC43, NC52, NC55, NC57 se enquadram na catena de pedimento por se encontrarem na parte mais suave do relevo sem regular presença de maciços residuais e com drenagem deficiente comum no semi árido(c) e as restantes: Re23, Re25, Re32, Re39, Re66 e REe15 na catena de pedimento e inselbergs encontrados em ângulos de encosta, sobre terrenos cristalinos e granitóides. Com cálculos da área representada no levantamento de solos da EMBRAPA de 1972 e dos mapas advindos do mapeamento digital deste recorrente trabalho, que se dedicou a detalhamento do levantamento de 1972 da EMBRAPA, que teve como resultados: uma menor representação dos luvissolos crômico com 62,4% no detalhamento de 1972 partindo para 50,6% no mapeamento digital e neossolos flúvico com: 8,8% para 8,7% no mapeamento digital. Uma maior representação para o neossolo litólico saindo de 19,1% para 28,2%, já o neossolo regolítico mantém a mesma porcentagem: 9,7%. O mapeamento digital proporcionou também a adição de novas classes como planossolo nátrico cobrindo 0,0047% e rocha ou afloramentos de rochoso com 2,8%.

Mapa 1

Mapa de Localização da bacia hidrográfica São Sebastião do Umbuzeiro

Mapa 2

Mapa de declividade em porcentagem da bacia hidrográfica São Sebastião do Umbuzeiro

Mapa 3

Mapa de classes de solos da bacia hidrográfica São Sebastião do Umbuzeiro

Mapa 4

Mapa detalhado das classes de solos da bacia hidrográfica São Sebastião do Umbuzeiro

Considerações Finais

Este trabalho teve um resultado positivo no detalhamento do levantamento de solos, com aumento das classes de solos: planossolo nátrico e a adição das rochas/afloramento, adequando-se as catenas típicas do semi árido: catenas de pedimento que se encontram na área do relevo mais suavizado sem a presença de maciços residuais (habitualmente) e catenas de pedimento e inselbergs situada nas áreas de ângulo de encostas com a presença de afloramentos e/ou rocha por seu desenvolvimento sobre cristalinos ou granitóides. Com um aumento significativo de representação de luvissolos crômico e neossolo litólico, sendo que,este último, teve seu resultado alterado pela classificação da sua associação com afloramentos. Por não ter acesso ao relatório íntegro do levantamento exploratório dos solos da Paraíba, parte da descrição de algumas associações de solos não foram encontradas, prejudicando,assim, parte do detalhamento, mas a maior parte da bacia pode ser detalhada. Concretizando os objetivos firmados e abrindo oportunidades de melhoramento do mesmo trabalho posteriormente.

Agradecimentos

Referências

CORRÊA, SOUZA e CAVALCANTI, 2014 In: Degradação dos solos no Brasil / organização Antonio José Teixeira Guerra, Maria do Carmo Oliveira Jorge. – 1.Ed. Cap.4 – Pags 127-170 – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
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Sebastião do Umbuzeiro, estado da Paraíba/ Organizado [por] João Castro Macarenhas, Breno Augusto Beltrão, Luiza Carlos de Souza Junior, Franklin de Morais, Vanildo Almeida Mendes, Jorge Luiz Fortunado de Miranda. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.

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