Autores

Albuquerque, E.L.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI) ; Lima, I.M.M.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI)

Resumo

Este trabalho objetiva identificar os sistemas ambientais no alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti, estado do Ceará, na perspectiva de subsidiar o planejamento territorial. Os pressupostos teóricos e metodológicos utilizados na pesquisa partem dos princípios da abordagem sistêmica, operacionalizado pelo Sistema de Informação Geográfica. Neste contexto, o sistema ambiental possibilita o enfoque do inter-relacionamento existente entre os diferentes elementos integrantes do meio físico. Com base neste princípio, os setores ambientais foram compartimentados da seguinte forma: Planície Ribeirinha; Planalto Cuestiforme da Ibiapada; Sertões Ocidentais e dos Pés-de-Serra do Planalto da Ibiapaba; Sertões do Sul; Serras, Morros e Cristas Residuais. Conclui-se que a compartimentação dos sistemas ambientais ao nível da bacia hidrográfica é de fundamental importância, visto que o processo de uso e ocupação da terra se dá em consonância com a disponibilidade de recursos naturais.

Palavras chaves

Geossistema; Ecodinâmica; Geoambiental

Introdução

Desde a última década do século XX, o campo de ação da pesquisa geográfica vem sendo influenciado por novos paradigmas do mundo moderno, sobretudo, quando atrelado aos estudos que visam subsidiar o planejamento territorial na contemporaneidade. Dessa forma, os estudos dos sistemas ambientais vêm desvendando, de forma marcante, as reais potencialidades de compreender a análise integrada que se materializa na paisagem. Nesse sentido, a ciência geográfica (Geografia) propõe-se estudar a relação sociedade/natureza a partir das transformações que ocorrem no território como resultado dessas inter-relações complexas e/ou contraditórias e, assim, contribuir na elaboração de práticas e instrumentos que auxiliem na busca de um modelo de desenvolvimento que agregue condições de sustentabilidade e/ou que se aproxime deste (ALBUQUERQUE & SOUZA, 2011). Ao adotar a bacia hidrográfica como uma unidade territorial de análise de sistemas ambientais, mesmo setorizando-a em alto, médio e baixo curso fluvial, tem-se como viés delineador a concepção de que essa entidade geográfica é a mais adequada para se trabalhar com a proposta sistêmica, partindo da perspectiva do tripé formado pela dimensão ambiental, social e econômica, tendo em vista que em sua morfologia é agregada, sistematicamente, ações da natureza e da sociedade. Zanella et al. (2013), comentam que as bacias hidrográficas compõem um sistema, no qual a relação entre os diferentes componentes formam uma paisagem peculiar, marcada por uma dinâmica específica, em que os seus componentes não se limitam aos elementos naturais, mas envolvem também a sociedade. O estudo dos sistemas ambientais se fundamenta na compreensão dos modos de organização dos elementos físicos e biogeográficos, a partir de um ponto de vista que agrega o espaço e o tempo. Desse modo, tal procedimento deve ser pautado pelo discernimento dos constituintes do sistema, presente nos fluxos de matéria e energia e na definição das variáveis mais relevantes (MAIA JÚNIOR, 2011). A esse respeito, Souza et al. (2009) afirmam que os sistemas ambientais tendem a representar um arranjo espacial decorrente da similaridade de relações entre os componentes naturais – de natureza geológica, geomorfológica, hidroclimática, pedológica e fitoecológica – materializando- se nos diferentes sistemas ambientais e padrões de paisagem. Portanto, os sistemas ambientais tendem a ser determinados de acordo com a origem, evolução e inter-relação dos elementos físico-naturais. Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo identificar os sistemas ambientais presente no alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti, estado do Ceará, na perspectiva de subsidiar o planejamento territorial diante de suas potencialidades e limitações ambientais, considerando a bacia hidrográfica como um todo integrado. Salienta-se que o estudo em epígrafe compreende uma etapa embrionária do projeto de pesquisa intitulado – Análise geoambiental e mapeamento das áreas degradadas no alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti: geoprocessamento aplicado ao manejo e conservação dos recursos naturais, projeto este em desenvolvimento na Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio da Coordenação do Curso de Geografia e do Laboratório de Geografia e Estudos Ambientais (Geoambiente), que visa à compreensão e análise integrada de toda a bacia hidrográfica do Rio Poti (Ceará/Piauí).

Material e métodos

Os pressupostos teóricos e metodológicos utilizados nesse estudo partem dos princípios da abordagem sistêmica. Neste contexto, o conceito de sistema ambiental ou geossistema possibilita o enfoque do inter-relacionamento existente entre os diferentes elementos integrantes do meio físico. Dessa forma, a concepção geossistêmica leva em consideração o potencial ecológico, a exploração biológica e as ações antrópicas, possibilitando o estudo integrado da paisagem. Para tanto, a pesquisa é regida e embasada, fundamentalmente, nos trabalhos de Bertrand (1972), Tricart (1977) e Souza (2000). De posse do embasamento teórico, corrobora-se que o viés geossistêmico hierarquiza os sistemas ambientais, tendo como base as múltiplas relações presente na natureza. Nesse sentido, utilizou-se como base cartográfica guia a compartimentação geoambiental realizada por Souza (2000) e Funceme (2009) para o estado do Ceará. Na perspectiva de avaliar a dinâmica ambiental e o estado de evolução dos sistemas naturais presentes na complexidade do meio ambiente geográfico, representado pelos geossistemas, torna-se de suma importância a necessidade de se apoderar do conceito ecodinâmico e aplicá-lo na compreensão do espaço geográfico, sobretudo quando abordado sob a ótica da diversidade e da interatividade das áreas ambientalmente mais vulneráveis. Dessa forma, ao tratar dos sistemas ambientais sob o ponto de vista metodológico, Tricart (1977) propôs a Ecodinâmica para determinar as condições de estabilidade e instabilidade do ambiente, considerando os componentes morfopedogênicos e estabelecendo, em função desses componentes, a classificação dos meios ecodinâmicos (meios estáveis, meios intergrades ou de transição, e meios fortemente instáveis), a partir do dinamismo presente no ambiente. Por meio do cruzamento de informações, a análise dos sistemas ambientais possibilita a geração de informações pertinentes a respeito das potencialidades e limitações dos geoambientes presente no alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti. Com o intuito de alcançar o objetivo proposto no estudo em pauta, fez-se necessário o cumprimento de algumas etapas, tais como: i) revisão bibliográfica; ii) levantamento geocartográfico; iii) interpretação e tabulação dos dados (texto, dados vetorais e matriciais); iv) esboço de mapeamento e; v) por fim, realizou-se a etapa de campo, na perspectiva de validar o produto gerado. A base de dados utilizada no estudo compreende a: carta SUDENE (1973) na escala de 1:100.000, associada a informações de outros mapas temáticos relativos à geologia, solos, vegetação, além dos mapas do Projeto RADAM BRASIL (1981) e da Compartimentação Geoambiental do Estado do Ceará (SOUZA, 2000; FUNCEME, 2009), associada as ortoimagens do Satellite Pour l’Observation de la Terre (Spot - 5), com resolução espacial de 2,5 metros, datadas dos anos de 2012 e 2013, disponibilizada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Vale salientar que o sistema de projeção cartográfica utilizado no estudo corresponde ao Universal Tranversal de Mercator (UTM), tendo como referencial geodésico o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), sendo este o datum oficial adotado no Brasil. Destaca-se que a área em estudo engloba, do ponto de vista da Geodésia, a Zona 24 Sul do sistema de projeção adotado. Após o levantamento e cruzamento de todas as variáveis disponíveis em ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG), procedeu-se ao mapeamento dos sistemas ambientais, na perspectiva de identificar as feições morfológicas e, consequentemente, as potencialidades e limitações de cada setor. Vale salientar que o critério mais importante nessa etapa foi o geomorfológico, tendo em vista que as formas de relevo condicionam diferentes condições climáticas e, por sua vez, influencia nas características dos recursos hídricos e dos solos, repercutindo de forma distinta em cada unidade ambiental.

Resultado e discussão

A bacia hidrográfica do Rio Poti apresenta uma área de aproximadamente 52.270 km², dos quais 38.797 km² encontram-se no estado do Piauí e 13.473 km² no estado do Ceará. O trecho que drena este último Estado corresponde ao seu alto curso fluvial, objeto em pauta no estudo (Figura 01). Salienta-se que o Rio Poti é um dos grandes afluentes do Rio Parnaíba, eixo principal da drenagem piauiense. Do ponto de vista territorial, o alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti engloba no todo ou em partes os municípios cearenses de: Crateús, Novo Oriente, Quiterianópolis, Independência, Tamboril, Ipaporanga, Ararendá, Ipueiras e Novas Russas, sendo que suas nascentes principais encontram-se na Depressão Periférica à Bacia Sedimentar do Parnaíba, no estado do Ceará, o qual corresponde às Depressões Sertanejas moldadas no embasamento cristalino. Como produto do fator geológico e climático, em associação aos outros fatores ambientais, a drenagem no alto curso fluvial do Poti se arranja numa densa rede de pequenos tributários que descem as encostas, apresentando pequenas amplitudes altimétricas em seus perfis longitudinais e em pequenas extensões alcançam o nível de base geral do amplo pediplano cristalino, abaixo de 300 metros de altitude, executando-se os cursos d’água que retalham o front da Ibiapaba e que são os responsáveis pelo retalhamento dessa escarpa (LIMA, 1982). Ao considerar os princípios da análise sistêmica, corrobora-se que os sistemas ambientais são integrados por vários elementos que mantêm relações mútuas entre si, e são continuamente submetidas aos fluxos de matéria e energia. Assim, a compartimentação em sistemas, de acordo com Souza (2000) é o produto de uma matriz de fatores e variáveis ambientais relativas ao suporte (condições geológicas e geomorfológicas), ao envoltório (condições hidrológicas e climáticas) e à cobertura (solos e cobertura vegetal) de uma determinada região. Destarte, os sistemas ambientais que compõem o alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti (estado do Ceará) foram delimitados considerando-se a inter-relação dos seus elementos no tocante a sua dimensão estrutural e escultural, bem como inserindo na análise as características de origem e evolução do modelado. Assim, os aspectos geomorfológicos são utilizados como um dos principais critérios para a delimitação dos sistemas ambientais, dadas as suas características de síntese dos processos ambientais (SOUZA, 2000). Neste interim, Ross (2009) afirma que os sistemas e os subsistemas ambientais constituem espaços territoriais que detêm certo grau de homogeneidade fisionômica, já que o ambiente natural reflete o jogo de forças antagônicas e ao mesmo tempo convergente. Como exemplo desta troca de matéria e energia que se materializa no ambiente, merece destaque o relevo e a vegetação, tendo em vista que esses elementos se mostram mais claramente na paisagem à visão humana. Com base nas características retromencionadas, os sistemas ambientais foram compartimentados da seguinte forma: 1) Planície Ribeirinha; 2) Planalto Cuestiforme da Ibiapada; 3) Sertões Ocidentais e dos Pés-de-Serra do Planalto da Ibiapaba; 4) Sertões do Sul; 5) Serras, Morros e Cristas Residuais, conforme pode ser visualizado na Figura 02. Ao considerar os setores naturais mencionados, apresenta-se no Quadro 01 a síntese da compartimentação dos sistemas ambientais no alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti, estado do Ceará, por meio dos domínios naturais, das características ambientais dominantes, da capacidade de suporte (potencialidades e limitações) e de sua ecodinâmica.

Figura 01 – Representação da Bacia Hidrográfica do Rio Poti (Ceará/Pia

Figura 01 – Representação da Bacia Hidrográfica do Rio Poti (Ceará/Piauí)

Figura 02 – Sistemas Ambientais no Alto Curso da Bacia Hidrográfica do

Figura 02 – Sistemas Ambientais no Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Poti, Ceará

Quadro 01: Caracterização dos sistemas ambientais no alto curso do Rio

Quadro 01: Caracterização dos sistemas ambientais no alto curso do Rio Poti, CE

Considerações Finais

Ao considerar o trabalho desenvolvido neste estudo, podem-se evidenciar as contribuições da análise imbricada do ambiente aos estudos geográficos, que tem possibilitado a realização de estudos ambientais de maneira integrada e fornecendo subsídios para o amplo conhecimento do meio natural, associando sempre os elementos do meio físico ao homem. Deste modo, a pesquisa buscou um maior conhecimento da área de estudo, na perspectiva de fornecer subsídios que podem delinear diretrizes que contribuam na formulação do planejamento governamental, bem como na definição de políticas públicas e nas ações de gestão dos recursos naturais, visto que, o processo de uso e ocupação da terra se dá em consonância com a disponibilidade de recursos naturais. Por fim, apresentam-se algumas ações orientativas que podem ser adotadas nos sistemas ambientais do alto curso da bacia hidrográfica do Rio Poti, estado do Ceará, tendo em vista que a bacia hidrográfica deve ser compreendida como um todo integrado, a saber: i) Reflorestamento das áreas de nascentes com espécies nativas, assim como nas áreas ripárias; ii) Controle ambiental dos efluentes que são lançados in natura e/ou pré-condicionados, na perspectiva de diminuir as cargas pontuais e difusas de poluição, sobretudo nas áreas urbanas e; iii) Recuperação e manutenção das planícies fluviais, evitando, sobretudo, o excesso de barramentos nos canais de drenagens.

Agradecimentos

Ao Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) pela disponibilização da base cartográfica do estado do Ceará e à Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio da Coordenação do Curso de Geografia, em possibilitar o desenvolvimento do Projeto de Pesquisa intitulado – Análise Geoambiental e Mapeamento das Áreas Degradadas no Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Poti: Geoprocessamento Aplicado ao Manejo e Conservação dos Recursos Naturais.

Referências

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