Autores
Santos, J.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Santos, R.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Lira, D.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Santos, C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo realizar o mapeamento geomorfológico do Centro-sul do estado de Sergipe, que corresponde aos municípios de Lagarto, Poço Verde, Riachão do Dantas, Simão Dias e Tobias Barreto, área escolhida por não haverem estudos sobre mapeamento geomorfológico. A caracterização e mapeamento seguiram procedimentos metodológicos taxonômicos segundo Ross. A metodologia utilizou-se de dados de imagens de radar interferométrico SRTM (2000) (Shuttle Radar Topography Mission), visualizando o relevo sombreado, mapa hipsométrico e sobreposto com dados geológicos, facilitando a classificação das unidades mapeadas em ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica), o método de classificação utilizado; Máxima Verossimilhança, com as informações obtidas, foi então possível identificar as unidades geomorfológicas, morfoestruturais e de esculturação da paisagem. O mapeamento mostrou-se eficaz na identificação geomorfológica, tornando possível a elaboração de mapa.
Palavras chaves
Geoprocessamento; Mapeamento; Geomorfologia
Introdução
Considerando os fundamentos e princípios da representação cartográfica, em conformidade com a União Internacional de Geomorfologia (UIG), “...mapas são uma das maneiras mais apropriadas e sintéticas de mostrar a distribuição das formas de relevo, os depósitos da superfície e sub-superfície, os processos que atuam na paisagem e o período de tempo dessa ação”, Demek et. al. (1972). Os mapeamentos geomorfológicos modificam-se em função do que se pretende representar e escala de detalhamento. O mapeamento realizado a partir do uso das geotecnologias têm apresentado grandes contribuições para a área de estudos geomorfológicos, pois este permite, realizar o levantamento de dados para a análise, estudos e confecção de mapas temáticos direcionados para suprir a grande lacuna de ausência de estudos deste tipo. A utilização do Processamento Digital de Imagens - PDI é uma tendência crescente nas Geociências, na Geomorfologia, nas análises de Geografia Física Aplicada e consequentemente é uma maneira eficiente de realizar diversas pesquisas, para os estudos geomorfológicos estas tecnologias possibilitam e auxiliam no melhoramento da precisão das análises das áreas e incrementam na capacidade de processamento de dados (IBGE, 2009). Através de estudos geomorfológicos é possível compreender as dinâmicas naturais que envolvem determinadas áreas, suas condições ambientais, fazendo então uso destes para que seja dado um suporte para o planejamento e uso ocupacional destas mesmas áreas, tão logo os mapas geomorfológicos, representam as formas do relevo tendo por finalidade compreender e destacar os diferentes arranjos espaciais e as relações entre diferentes sistemas. O objetivo do trabalho foi construir o mapa geomorfológico do Centro-sul do estado de Sergipe, destacando as morfoestruturas e as morfoesculturas a partir do processamento da imagem SRTM (imagem de 2000), assim como de informações adquiridas previamente por meio do Mapa Geológico de Sergipe disponível no site da CPRM, e do conhecimento prévio dos pesquisadores a respeito da área estudada.
Material e métodos
A caracterização e mapeamento seguiram os pressupostos metodológicos da taxonomia de Ross (1992) e IBGE (2009). Para o processamento dos dados deste trabalho, foi utilizado o pacote de software ArcGis, com uso de licença free trial, obtida pelo site da ESRI: <http://www.esri.com/>, que disponibiliza o uso do programa por um período de 60 dias, com acesso ao ArcMap e suas ferramentas. Para a realização dos objetivos do trabalho se fez necessário, inicialmente, a realização de um inventário de dados da região escolhida. Os dados devidamente georreferenciados adquiridos a partir do Mapa Geológico do estado de Sergipe, disponível no site do Serviço Geológico do Brasil - CPRM: <http://geobank.cprm.gov.br/>, forneceram informações a respeito das subclasses das rochas que possibilitaram uma melhor análise da área estudada, contribuindo para a definição das morfoestruturas e a consequente elaboração do mapa. As imagens SRTM foram obtidas através do Serviço Geológico dos Estados Unidos - USGS <http://earthexplorer.usgs.gov/>, utilizando o recorte do centro-sul do estado de Sergipe, na qual a área correspondente aos municípios de Lagarto, Poço Verde, Riachão do Dantas, Simão Dias e Tobias Barreto, foi posteriormente recortado, viabilizando a construção de um Modelo digital do terreno e a partir deste, sendo possível extrair curvas de níveis em diversas cotas e a elaboração de mapas temáticos (shaded relie e hipsométrico), que deram suporte na elaboração dos mapas finais.
Resultado e discussão
A partir da análise do Mapa Geológico de Sergipe que forneceu informação a
respeito da litologia, das falhas e fraturas, da imagem SRTM, assim como do
conhecimento prévio dos pesquisadores sobre a área de estudo, foi possível
estabelecer as unidades morfoestruturais que podem ser conferidas no mapa
(Figura 2). Com a classificação das unidades morfoestruturais acima descrita
no mapa, cabe então uma caracterização de cada unidade morfoestrutural a
começar pela unidade denominada como, Domo de Simão Dias está
morfoestrutura é composta pela Formação Jacaré e Frei Paulo, nas quais as
litologias dominantes são compostas por ortognaisses miloníticos bandados,
de composição granítica a granodiorítica, com intercalações boudinadas de
anfibolitos e garbos, enquanto que a classe dos Terrenos do complexo
Itabaiana - Simão Dias são formados basicamente por litologias do tipo
de ortognaisses e gnaisses bandados granítico-granodioríticos, migmatitos e
anfibolitos e gabros, que foram retrabalhados no neoproterozóico. Já a
Bacia de Sergipe está situada na região nordeste do Brasil na margem
continental e possui 350 km de extensão, limitando-se ao norte pelo Rio São
Francisco e ao sul com a Bacia de Jacuípe, é constituída por uma parte pela
Formação Barreiras formada por areias finas e grossas com níveis argilosos e
conglomeráticos, as rochas presentes na Bacia de Sergipe foram depositadas
tanto nas fases iniciais como durante os eventos relacionados a separação
entre as porções da América do Sul e a África no final do cretáceo (no
Mesozóico) início do paleógeno (na Fanerozoica). No tocante as unidades
morfoestruturais, foi possível elaborar um mapa, utilizando a imagem SRTM,
por meio da classificação por máxima verossimilhança onde os dados da imagem
SRTM foram cruzados com as curvas de níveis, permitindo a identificação das
unidades morfoesculturais (Figura 3). As unidades morfoesculturais
identificadas na área de estudo correspondem respectivamente aos Terraços
Flúvio-marinhos nos quais tratam-se de uma unidade correspondente às
formações superficiais quaternárias durante o pleistoceno superior e o
holoceno apresentado também um padrão no relevo sendo este, planícies
marinhas. Seguindo com a caraterização temos os Tabuleiros
Dissecados, possuindo uma superfície tabular dissecada por vales
fluviais normalmente apresentam topografia plana formada por sedimentos que
uma vez transportados dos tabuleiros se depositam nos terraços colúvio-
aluvionares. Outra morfoescultura presente no centro-sul do estado de
Sergipe identificada através do mapeamento são os Tabuleiros Dissecados
em Colinas estes por sua fez apresentam colinas tabulares de topos
planos e levemente arredondadas, normalmente com a presença de sulcos
(pequenas incisões) provenientes de uma densa rede de pequenos canais,
apresentando vales encaixados de pequeno aprofundamento, cabendo destacar a
presença de extensas manchas de solos podzóis (solos com a presença de
areias ou arenitos consolidados ou pouco consolidados), logo o grau de
vulnerabilidade à erosão é considerado moderado, costuma também a apresentar
solo em geral com textura argilosa (vertissol) sua distribuição está
intimamente relacionada a presença de material de origem derivada do
calcário e sedimentos argilosos, ricos em cálcio e magnésio, da bacia
sedimentar. A última unidade, os Maciços estruturais estes
correspondem aos relevos residuais, ou seja, presentes principalmente no
Domo de Simão Dias uma vez que o mesmo possui sua borda formada por um
conjunto de maciços cristalinos residuais sobre a estrutura geológica local,
tais maciços representam um relevo testemunho do antigo domo estrutural, que
foi erodido em sua porção central, acarretando em uma superfície plana
circundada pelos seus lados, ou seja, os maciços lembrando que essas
estruturas afloram em corpos tabulares que se apresentam intrudidos em
outras rochas do STOK, derivados do corpo maior (o batólito) proveniente do
embasamento, constituídos de rochas que correspondem aos terrenos mais
antigos.
Fonte: Elaboração dos autores.
Fonte: Elaboração dos autores.
Fonte: Elaboração dos autores.
Considerações Finais
O mapeamento realizado a partir das aplicações geotecnológicas mostrou-se de grande eficácia para os estudos geomorfológicos, permitindo não só o levantamento e análise dos dados, como também a elaboração dos mapas morfoestruturais e morfoesculturais da área estudada, que podem ser utilizados para estudos posteriores e mais aprofundados. Dessa forma, destaca-se a aplicabilidade dos mapas derivados do Modelo Digital de Terreno, conseguida devido ao procedimento geoestatístico por vetorização semiautomática. O mapeamento das unidades geomorfológicas procurou sintetizar, através dos padrões de formas identificados e os mapas derivados e provenientes do MDE- SRTM, bem como a análise descritiva do relevo procedida. Este artigo constitui assim uma ferramenta base para outras análises e diagnósticos com objetivo de compreender a dinâmica da Paisagem de forma integrada.
Agradecimentos
Agradeço aos meus orientadores e colegas, ao Grupo de Pesquisa em Geomorfologia do Quaternário Continental e Modelagem Ambiental (QUACOMA), a Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe – FAPITEC/SE pelo apoio financeiro para realização do trabalho e a Prefeitura Municipal de Coronel João Sá/BA pelo incentivo.
Referências
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