Autores

Avelino, E. (IFMT) ; Santos, A. (IFBA)

Resumo

O estudo tem o objetivo de mapear as unidades de relevo no contexto do município baiano de Catu, identificando a influência do relevo na ocupação do uso da terra. A metodologia considerou as concepções de Valeriano (2004); Ross (1992) e o Projeto RADAMBRASIL (1981). Os resultados do estudo identificaram três unidades de relevo, denominadas de: (i) PLANÍCIE FLUVIAL – com predominância de atividades agropecuárias;(ii) RAMPAS DE COLÚVIO – vertentes sem cobertura vegetal e sujeita a processos erosivo; e (iii) TABULEIROS DO RECÔNCAVO – topos de morros com remanescentes de Floresta Ombrófila. O estudo legitimou a importância do mapeamento do relevo, bem como a sua importância para a identificação dos padrões de ocupação e uso da terra.

Palavras chaves

GEOMORFOLOGIA ; MAPEAMENTO; USO DA TERRA

Introdução

Nos últimos anos, as transformações territoriais causadas pela ação do homem geraram a necessidade de produção e o gerenciamento de dados espaciais, reforçando a importância do sensoriamento remoto na elaboração de mapas temáticos, especialmente na confecção de mapas geomorfológicos. Segundo Argento (2015), os mapas geomorfológicos ajudam na compreensão das formas espaciais, não só em relação aos aspectos físicos dos fenômenos, mas revelam a natureza socioeconômica da ação do homem impressa no espaço. A Geografia possui tradição na elaboração de mapas geomorfológicos. Por conta disso, ao longo dos anos, os geógrafos elaboraram diferentes metodologias direcionadas para o mapeamento do relevo, como é o caso, por exemplo, da proposta de Tricart (1965); de Verstappen & Zuidam (1975) e a de Ross (1992). Esta última merece atenção especial, porque, reconhece a relação entre estrutura rochosa e ação do clima como elemento central na identificação da fisionomia do relevo e no seu mapeamento em diferentes escalas. A proposição de Ross (1992) favorece a utilização de geotecnologias, entre as quais, a aplicação de imagens do satélite ASTER GDEM (Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer of Global Digital Elevation Model) na identificação das formas, na classificação e mapeamento do relevo. Quanto ao satélite ASTER GDEM, cada imagem registra dados feitos sobre uma área com 60 por 60 km; possui resolução vertical de 10m; resolução horizontal de 30m. Diante do que foi exposto, o presente estudo tem o objetivo de mapear as unidades de relevo do município de Catu, Bahia, relacionado o relevo com os padrões de ocupação e uso da terra. O município de Catu possui 51.077 habitantes (IBGE, 2010) e encontra-se a 82 km de distância da cidade do Salvador, a capital do Estado da Bahia (BAHIA, 2012). Neste estudo optou-se por elaborar o mapa das unidades de relevo na escala de 1:100.000, em função do acesso e da acurácia dos dados da carta topográfica elaborada pela Diretoria de Serviço Geográfico – DSG do Exército. Quanto à área de estudo, a escolha considerou a escassez de informações sobre a fisionomia do relevo, bem como importância do mapeamento das unidades de relevo para a compreensão e o gerenciamento do espaço, no âmbito da gestão pública municipal.

Material e métodos

O estudo baseou-se nas contribuições de Valeriano (2004); Ross (1992) e na proposta metodológica de classificação do relevo segundo o Projeto RADAMBRASIL (1981). A operacionalização aconteceu por meio do uso da carta topográfica, em formato vetorial, da folha Alagoinhas (IBGE, 1967); da base cartográfica do município de Catu (IBGE, 2010); da cena S13W039 do satélite ASTER GDEM, resolução espacial de 30m, ano de 2009, cedidas pelo The Ministry of Economy, Trade and Industry of Japan (METI) e National Aeronautics and Space Administration (NASA). A primeira etapa do mapeamento do relevo consistiu na identificação da estrutura rochosa (morfoestrutura apud ROSS, 1992) da área de estudo, a partir da leitura e interpretação dos dados geológicos segundo o RADAMBRASIL (1981). Em seguida ocorreu o processamento da imagem ASTER GDEM, por meio da qual, extraíram-se os dados de: (i) hipsometria – identificar a variação das formas do relevo com base na altitude do terreno; (ii) declividade - identificar nas unidades de relevo as vertentes mais inclinadas e as mais suaves; (iii) relevo sombreado - visualizar a variação das formas de relevo no terreno e fazer relação com os padrões de drenagens. A partir da análise da estrutura rochosa da área de estudo (RADAMBRASIL, 1981) constatou-se que o município de Catu está inserido em duas unidades rochosas denominadas de: Estrutura Sedimentar da Formação São Sebastião e Depósitos Quaternários. Estes dados foram relacionados aos produtos extraídos da imagem de satélite ASTER GDEM (hipsometria, declividade e relevo sombreado). Dessa maneira, por meio do uso da técnica da sobreposição de Layer foi possível identificar três unidades de relevo no município de Catu, Bahia. Dessa maneira, faz-se importante destacar que a estrutura rochosa e os dados de hipsometria, declividade e relevo sombreado constituem os principais parâmetros utilizados nesse estudo para a identificação das unidades de relevo, na área de estudo. Após esta fase, foi criada a legenda do mapa, sendo atribuídas às unidades de relevo, as seguintes nomenclaturas: PLANÍCIE FLUVIAL, RAMPAS DE COLÚVIO e TABULEIROS DO RECÔNCAVO. A etapa seguinte foi delimitar as unidades de relevo na imagem de satélite ASTER GDEM, com base no método denominado de paralelepípedo, segundo as técnicas de classificação supervisionada de imagem de satélite (CROSTA, 1999). Por fim, o estudo fez uso da técnica de amostragem aleatória simples para estabelecer as áreas visitadas durante a atividade de campo, visando à legitimação das unidades de relevo mapeadas. Nessa fase do estudo, identificou-se as relações existentes entre as unidades de relevo mapeadas com o uso da terra, uma vez que constatou-se: (i) na Planície Fluvial o predomínio de atividades agrícolas ligadas à policultura comercial de subsistência; (ii) nas Rampas de Colúvio o destaque foi para a atividade da pastagem bovina; (iii) nos Tabuleiro do Recôncavo a ênfase do uso da terra foi para os remanescentes de Floresta Ombrófila, a atividade da silvicultura e em menor proporção a pastagem bovina.

Resultado e discussão

O processamento da imagem ASTER GDEM favoreceu a aquisição dos seguintes produtos: (i) HIPSOMETRIA - na área de estudo, os intervalos variaram de 30m até 240m, sendo que as áreas de planície estão situadas de 30-60m; o relevo das áreas intermediárias está a 90m de altitude; e a altitude das áreas de planalto varia de 120-240m. (ii) DECLIVIDADE - foram estabelecidas cinco classes de declividade, conforme a proposição de Ross (1990), por meio desses dados se constatou que na área de estudo predomina as áreas planas e com relevo pouco acidentado. (iii) RELEVO SOMBREADO - imagem sombreada ajudou na identificação dos aspectos texturais, de orientação da rede de drenagem e do relevo, por meio do qual, se conseguiu visualizar as áreas planas, os vales e as áreas mais elevadas. Os dados sobre as unidades rochosas (rochas sedimentares da Formação São Sebastião e Depósitos Quaternários) em conjunto com os dados de hipsometria, declividade e relevo sombreado permitiram a identificação e mapeamento das seguintes unidades de relevo: (i) PLANÍCIE FLUVIAL; (ii) RAMPAS DE COLÚVIO e (iii) TABULEIROS DO RECÔNCAVO (figura 1). i) PLANÍCIE FLUVIAL - Esta unidade de relevo está localizada no fundo de vale do rio Catu, do rio Pojuca e córregos situados na área de estudo. As planícies fluviais constituem áreas de acumulação de sedimentos do tipo arenoso e argiloarenosos, formadas em vales encaixados em “U” e susceptível a ocorrência de inundação, especialmente ao longo do curso do rio Pojuca e rio Catu. A planície fluvial ocupa as áreas mais baixas, com altitude mínima de 30m e máxima de 60m, ocupando 22,73% da área estudada. No mapa essa unidade é representada pelo padrão Af (BRASIL, 1981). As atividades de campo evidenciaram que nessa unidade de relevo se destaca a atividade da policultura comercial de subsistência (figura 2a), com destaque para o cultivo de mandioca, feijão, milho, verduras e legumes. ii) RAMPAS DE COLÚVIO – Constituem as áreas de vertentes, também chamadas de encosta. São formadas a partir da ação dos movimentos de massas (BIGARELLA & MOUSINHO, 1965) que desgastam as rochas sedimentares situadas nas áreas mais elevadas, favorecendo a formação de área de encosta, com marcas de erosão e fundo de vale entulhado de sedimentos. As Rampas de Colúvio são constituídas por depósitos de materiais do tipo arenoargiloso e argiloarenosos. Essa unidade se localiza de maneira embutida nos vale encaixado em “U”, com altitude de 61-90m. No caso da área de estudo, as Rampas de Colúvio evidenciam o processo de alargamento dos vales que margeiam o rio Pojuca, o rio Catu e outros rios com leito de pouca densidade. Essa unidade ocupa 22,66% da área de estudo, sendo representada no mapa pelo padrão Arc (BRASIL, 1981). As atividades de campos mostraram que nessa unidade de relevo predomina a atividade da pastagem bovina. Os caminhos feitos pelos animais no terreno associada à falta de formação florestal e a ação mecânica da água da chuva e dos ventos favorece o desenvolvimento de incisões (buracos) no solo que evoluem para a formação de ravinas (figura 2b). (iii) TABULEIROS DO RECÔNCAVO - Essa unidade está sustentada pelas rochas sedimentares da formação São Sebastião. Os morros sedimentares são formados por materiais porosos e permeáveis que facilitam a dissecação do modelado pelos processos climáticos e pela rede de drenagem. O relevo possui modelado de dissecação homogênea, os seus interflúvios correspondem aos outeiros e morros com vertentes convexas e convexo-côncava, com alguns topo abaulado (BRASIL, 1981). Nessa unidade, as altitudes variam de 91-240m e as paredes escarpadas dos tabuleiros são desgastadas pelos movimentos de massas, desencadeando o alargamento dos vales. Os tabuleiros ocupam 54,61% da área de estudo e está representado no mapa pelo padrão D (BRASIL, 1981). Por meio das atividades de campo constatou-se que nessa unidade de relevo prevalecem os remanescentes de Floresta Ombrófila, a atividade econômica da silvicultura e em menor proporção a pastagem bovina. Assim, nas áreas ocupadas pela formação florestal o relevo se mostra mais conservado; por outro lado, nas áreas ocupadas pela silvicultura e pela pastagem o relevo encontra-se mais descaracterizado, sendo frequente a ocorrência de processos erosivos ligados ao desenvolvimento de voçorocas (figura 2c).

Figura 1

Figura 1: Unidades de relevo, município de Catu, BA. Elaboração: Avelino, 2016.

Figura 2

Figura 2: a) Policultura comercial na Planície Fluvial; b) Ravina na Rampa de Colúvio; c) Voçoroca no Tabuleiros do Recôncavo.

Considerações Finais

As concepções de Valeriano (2004); Ross (1992) e do Projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1981) permitiram mapear, com base na escala local, o relevo do município de Catu, Bahia. Os dados sobre as unidades rochosas, com base nas concepções de morfoestrutura e morfoescultura de Ross (1992), em conjunto com os dados de hipsometria, de relevo sombreado e declividade ajudaram a identificar e mapear três unidades de relevo, denominadas de: (i) Planície Fluvial; (ii) Rampas de Colúvio e (iii) Tabuleiros do Recôncavo. As atividades de campos permitiram estabelecer correlação entre as unidades de relevo mapeadas com o uso da terra. Sendo assim, na Planície Fluvial se destacam as atividades ligadas à policultura comercial de subsistência; Nas Rampas de Colúvio predomina a atividade da pastagem bovina; por fim, nos Tabuleiro do Recôncavo prevalecem os remanescentes de Floresta Ombrófila, a atividade da silvicultura e em menor proporção a pastagem bovina. Estas constatações legitimam a importância da imagem ASTER GDEM no mapeamento das unidades de relevo, este por sua vez, ajudou na compreensão do uso da terra, no município de Catu, Bahia.

Agradecimentos

Agradecemos aos IFMT Campus Avançado Diamantino e ao IFBA Campus Salvador por custear despesas que viabilizaram a participação no XI SINAGEO.

Referências

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BIGARELLA, J.J.; MOUSINHO, M.R. Considerações a respeito dos terraços fluviais, rampas de colúvio e várzeas. Boletim Paranaense de Geografia, 16/17, Curitiba, p. 153-197, 1965.
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CROSTA, A. P. Processamento digital de imagem se sensoriamento remoto. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1999.
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VERSTAPPEN, H.T.; ZUIDAM, R.A. VAN. ITC System of geomorphological survey. Netherlands, Manuel ITC Textbook, Vol. VII, Chapter VII. 3, 1975.