Autores

Bezerra Lima, D. (UEMG)

Resumo

A geomorfologia é a ciência que se ocupa do estudo das formas do relevo e se mostra um importante instrumento à resolução e prevenção de muitos problemas ambientais.A bacia hidrográfica do Cabeceira do Lucas, alvo da pesquisa do presente trabalho, localiza-se na cidade de Frutal-MG, mas precisamente ao centro-norte do município. O intuito desse trabalho consistiu na análise morfométrica e geomorfológica da bacia supramencionada. Para tanto, foi utilizada a abordagem sistêmica como método de pesquisa, assim como, o Sistema de Informação Geográfica e o Software AutoCad para produzir as cartas necessárias à análise. Foi constatado que a bacia é caracterizada por vertentes convexas e extensas, onde as maiores declividades estão compreendidas em pontos de rupturas topográficas, nas áreas que margeiam o rio principal e em seus afluentes, deduziu-se que a bacia é marcada por topos mais suaves devido à baixa declividade.

Palavras chaves

Morfometria; Geomorfologia; Cabeceira do Lucas

Introdução

A Geomorfologia, ciência que tem por finalidade o estudo do relevo, tem se mostrado um importante conhecimento a ser explorado nos dias atuais, isso se deve, não só, mas principalmente aos grandes problemas ambientais que a sociedade vem enfrentando, tais como: deslizamentos, enchentes, erosão, assoreamento de canais fluviais entre outros impactos. Assim, o conhecimento sobre os processos geomorfológicos podem atuar de maneira a minimizar esses impactos. Nesse ínterim, o presente trabalho consistiu na análise morfométrica e geomorfológica da bacia hidrográfica do córrego do Cabeceira Lucas, sub- bacia do córrego do Bebedouro, que por sua vez é considerado no município, o manancial que possivelmente abastecerá a cidade futuramente, ambas localizadas no estado de Minas Gerais, Triângulo Mineiro, no município de Frutal-MG. Diante da crise hídrica que se instalou em grande parte do Brasil em meados de 2014, sobretudo, na região sudeste, onde as bacias hidrográficas estão altamente urbanizadas, os conhecimentos geomorfológicos podem contribuir para evitar o manejo danoso ao sistema já que, o abastecimento dos reservatórios está atrelado à condição em que as bacias hidrográficas se encontram, ou seja, é necessário um profundo conhecimento sobre as mesmas como também da dinâmica dos processos naturais, de modo a não interferir na complexa estabilidade a qual necessita para o seu pleno funcionamento. Desse modo, o objetivo geral do presente trabalho consistiu na análise morfométrica da bacia hidrográfica do córrego do Cabeceira do Lucas, assim como, a descrição dos aspectos geomorfológicos da bacia trabalhada. Os objetivos específicos, por sua vez correspondem à confecção da carta de dissecação horizontal do relevo, carta clinográfica, carta hipsométrica, assim como, da carta geomorfológica. Tal análise, da forma como feita, necessitou do intermédio do Sistema de Informação Geográfica – SIG –, do auxilio do geoprocessamento, além do Software AutoCad para produção das cartas, necessárias ao desenvolvimento do trabalho. Sendo assim, o trabalho desenvolvido se insere numa conjunta de grande valor ambiental, na qual, o maior interesse consiste na contribuição de conhecimentos sobre determinados sistemas ambientais visando auxiliar no que se refere a ocupação humana do relevo e manejo adequado dessas áreas. A pesquisa foi estruturada em três capítulos, sendo o primeiro denominado “a bacia hidrográfica como unidade de análise da geomorfologia”, cujo conteúdo se refere a uma revisão de alguns dos conceitos geomorfológicos, necessário à análise dos processos atuantes na bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas. O segundo capítulo expõe a contribuição do Sistema de Informação Geográfica à análise morfométrica e geomorfológica, de modo a evidenciar sua atuação frente aos estudos ambientais de modo geral. O terceiro e capítulo aborda os resultados, ou seja, uma análise elabora a partir da descrição e compreensão dos processos que atuam na bacia em questão.

Material e métodos

Para que fosse possível a análise morfométrica e geomorfológica da bacia hidrográfica do Cabeceira do Lucas, se fez necessário a elaboração da base cartográfica e posteriormente a geração das demais cartas, dissecação horizontal, clinográfica, hipsométrica, e geomorfológica, assim, foi necessário utilizar diferentes programas para a execução desse mapeamento, a saber: Software AutoCad, ArcGis, SPRING, Sketchup e Google Hearth. A criação da base cartográfica se deu por meio da utilização de quatro programas, respectivamente, Google Earth, Sketchup, AutoCad e SPRING. Esta carta foi elabora a partir da exportação das imagens do Google Earth para o programa Sketchup, foram exportadas para o software AutoCad, para transformação das curvas em polyline, delimitação e georreferenciamento da bacia hidrográfica estudada e suavizada no SPRING. O carta Hipsométrica foi elaborado por meio do software AutoCad. Assim, para a bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas foram utilizadas as classes de altitude conforme apresenta a tabela 01. Tabela 01 – Classes de altimetria da bacia hidrográfica do córrego do Cabeceira do Lucas Classes temáticas de altimetria 500 > 500 ------------- 520 540 ------------- 560 560 ------------- 580 600 < Fonte: Dayane Bezerra Lima (2015). Por meio dessa carta será possível estabelecer em qual altitude ocorrem os principais processos atuantes, como velocidade de escoamento e depósito de material arrolado da superfície para o leito do rio. A carta de Dissecação Horizontal foi elaborada a partir da proposta de Spiridonov (1981) citado por Silva e Cunha (2008). O processo de construção da referida carta foi realizada no Software AutoCad. A primeira etapa consistiu na divisão das classes, as quais seriam utilizadas para a delimitação das áreas da bacia. O segundo passo foi a identificação das áreas dissecadas horizontalmente a partir das classes estabelecidas, esse procedimento foi realizado por meio da utilização de um ábaco digital redondo, proposto por Simon e Cunha (2009) citado por Sato (2012), no qual as circunferências mediam o valor das classes utilizadas, com o intuito de medir a distância entre os interflúvios. Tabela 02 – Classes de dissecação horizontal da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas. Classes temáticas de dissecação horizontal 100 > 100 │------------- 200 200 │------------- 400 400 │------------- 800 800 < Fonte: Dayane Bezerra Lima (2015). A partir da análise da carta de dissecação horizontal é possível determinar as áreas de fragilidades do terreno em relação à atuação dos processos morfogenéticos , sendo possível identificar nos setores de menor distância entre os interflúvios a susceptibilidade de tais processos (BOIN et al. 2014). Para confeccionar a carta clinográfica da bacia do Cabeceira do Lucas foram utilizadas as técnicas propostas por De Biasi (1970) citado por Silva e Cunha (2008) que consiste na aplicação de procedimentos matemáticos para a identificação do espaçamento entre as curvas de nível, revelando assim, a declividade do terreno. Assim, para quantificar a declividade na área da bacia do Cabeceira do Lucas, foi utilizado o um banco de dados (SIG) no programa SPRING no qual a carta foi gerada a partir da grade triangular (TIN) e uma retangulaR, foram estabelecidas seis classes de declividade, em porcentagem, contidas na Tabela 03. Tabela 03 – Classes de declividade da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas Classes temáticas de declividade 0,2% > 0,2%------------- 5% 5% ------------- 10% 10% ------------- 20% 20%< Fonte: Dayane Bezerra Lima (2015). A construção da carta geomorfológica da área de estudo, foi feita inteiramente no software AutoCad e interpretada a parti das informações das outras cartas (clinográfica, hipsométrica e dissecação horizontal) e visitas feitas ao campo. Toda simbologia utilizada na representação do elementos geomorfológicos foram propostas por Tricart(1965) citado por Pinheiro (2006).

Resultado e discussão

Na área contemplada pela presente pesquisa, há marcadamente a atuação do homem, sobretudo, no que se refere ao uso e ocupação da terra. A partir das observações feitas previamente no campo essa conjuntura já pôde ser constatada, desse modo o mapeamento geomorfológico permite a correlação com os dados morfométricos. A partir da carta clinográfica (Figura 07) é possível afirmar que há, nas áreas de cabeceira, pouquíssima declividade predominante de 02 a 5% o que possibilita maior infiltração em detrimento do escoamento superficial. Mesmo a infiltração sendo predominante nos topos, em períodos de grande volume de precipitação o escoamento pode ser muito atuante e desencadear processos erosivos, sobretudo, do lado direito da bacia onde não há o trabalho dos canais fluviais. Devido a extensão das vertentes e ao grande volume de águas, os solos podem ficar encharcados e incapazes de absorver esse fluxo de água, possibilitando o escoamento superficial. Este atingirá grande turbulência nas áreas próximas ao rio, além de carrear material detrítico rumo ao leito do córrego. Nas áreas que mais se aproximam das nascentes do córrego, há declives que correspondem de 5% a 10% e 10% a 20%, sendo assim, mais susceptíveis aos processos denundacionais. Em visita ao campo, nas duas nascentes foram observados sulcos e o processo de ravinamento, um tipo de erosão, sendo este último constatado no médio leito do rio. Assim, o processo denudacional é alterado, ocorrendo a erosão acelerada pelo homem. Podemos determinar, por meio do auxilio da carta de dissecação horizontal (Figura 08), que esta é uma bacia de vertentes predominantemente extensas, onde são mais notáveis classes de dissecação variando entre 400 m a 800 m e acima de 800 m. Levando em consideração o fator declividade, verifica-se que nessas áreas não ocorrem grandes declives, o que nos faz deduzir que há uma maior infiltração superficial, podendo condicionar topos relativamente suaves. As áreas que apresentam maior dissecação horizontal compreendem-se nos interflúvios localizados a Noroeste da bacia; a Oeste, entre o médio leito e o limite da bacia; a Leste, entre o médio leito e o limite da bacia e a Sudeste da Nascente. Todas as áreas dissecadas horizontalmente equivalentes a 800 m ou superiores a isso se localizam, acima de 500 m altitude. Por outro lado as áreas que apresentam menor dissecação horizontal, equivalente a 100 m e 200 m, situam-se principalmente nas áreas de menores altitudes da bacia respectivamente as que estão compreendidas em altitudes menores que 500 m e superiores a 520 m, assim como mostra a carta hipsométrica (Figura 09). Dessa forma, estabelecemos que as áreas de maior dissecação horizontal estão compreendidas na alta bacia, enquanto as áreas de menor dissecação horizontal compreendem-se nas áreas da baixa bacia. Outra característica dessas áreas com dissecações é representada pelos declives mais acentuados nas áreas de vertentes menos extensas, ou seja, na baixa bacia. Já os declives menos acentuados apresentam-se nas vertentes mais extensas, compreendidas na alta bacia. No que se refere a rede de drenagem, os canais fluviais tributários estão todos localizados à margem esquerda do córrego, onde há uma predominância de vertentes convexas em detrimento das côncavas, dessa forma, as áreas que acompanham o leito do rio estão compreendidas em altitudes que variam de 500m a 580m e, representam as áreas que abrigam as maiores declividades, respectivamente, entre 5% e 10% e 10% a 20%, essa condição se estende por todo o comprimento dos afluentes do rio principal. As áreas onde são cultivadas a cana-de-açúcar ocupam quase todo o lado direito da bacia hidrográfica, esse setor é bem dividido entre vertentes côncavas e convexas, sendo esses dois tipos de vertentes muito extensas, além de raríssimas vertentes retilíneas. Assim, o escoamento superficial pluvial é o que prevalece a leste do córrego, ocasionando o escoamento difuso, apontado por Christofoletti (1980). Do lado esquerdo, onde se localizam os canais fluviais, há ocupadas por pastagem e cultivo de cana-de- açúcar, além de uma incipiente atividade de construção civil. Ao norte da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas é possível observar um amplo anfiteatro que abarca toda a cabeceira do córrego e parte da área que margeia o córrego do lado direito da bacia, caracterizando uma nítida vertente côncava, observada na carta geomorfológica. Por intermédio da carta geomorfológica (Figura 10) foi possível avaliar quais os tipos de vertentes mais ocorrentes, assim como, os pontos de rupturas topográficas presentes na bacia, desse modo as áreas onde foram constatadas as rupturas topográficas são também as que apresentam as maiores declividades, ocorrendo mais comumente, próximo as confluências, assim como, próximo ao leito do rio. As rupturas se dão principalmente em função do tipo de material geológico, nessas áreas, como dito acima, há maiores declividade, o que implica um fluxo de água mais turbulento, ou seja, mais veloz que podem transportar carga de material detrítico que será depositado no leito do córrego, essa deposição, segundo Christofoletti, (1980) ocorre em função da diminuição da competência fluvial, ou seja, quando há diminuição da declividade ou aumento da carga detrítica.Assim sendo, quando o processo supramencionado ocorre, cria-se o espaço onde pode ocorrer a formação de planícies de inundações, que conforme Christofoletti (1980) é formada por aluviões, como também por materiais diversos que foram depositados no canal fluvial ou fora dele. Dessa forma, como constatado através do mapa geomorfológico, no córrego Cabeceira do Lucas há formação de planícies na média e baixa bacia, onde foram identificadas as rupturas topográficas. Duas, das três pequenas planícies identificadas na bacia, estão situadas em áreas onde predomina vertentes mais extensas, assim, de um lado (direito) as planícies margeiam vertentes superior a 400 m. Do outro lado (esquerdo) as vertentes predominantes são menos extensas variando de 100 m a 400 m. Como há proximidade entre as planícies e as rupturas deduz-se que o escoamento turbulento seja mais frequente em determinados pontos, sobretudo onde o escoamento superficial pluvial é classificado como difuso (lado direito). Do outro lado, esquerdo, onde estão localizados os quatro afluentes fluviais que constituem a bacia, o curso d’água é influenciado pelas declividades mais elevadas em detrimentos das demais áreas, sendo constados declives entre 5% à 10% e entre 10% à 20%. Essas duas planícies estão localizadas entre as classes de altimetria que variam de 500 a 520 e 520 a 540, sendo assim, compreendem-se na média bacia. Diferente das outras duas planícies, a que se localiza ao extremo sul da bacia, próxima a foz, estão margeadas pelas vertentes menos extensas da bacia, que variam de 100 m a 200 m e 200 m a 400 m, está também situada nas partes mais baixas da bacia, compreendida na classe de altimetria inferior a 500 m.

Figura 06

Carta clinográfica da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas

Figura 07

Carta de dissecação horizontal da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas

Figura 08

Carta hipsométrica da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira do Lucas

Figura 9

Carta geomorfológica da bacia hidrográfica do córrego Cabeceira

Considerações Finais

A bacia hidrográfica do Cabeceira Lucas apresenta um panorama que requer ações ambientais pertinentes aos problemas que a assolam, tanto no que se refere ao seu sistema morfológico quanto seu sistema em sequência. Constatou-se ao longo do estudo que a área apresenta pontos de muita sensibilidade, suscitando assim, diversos sulcos e o ravinamento, sobretudo nas áreas de cabeceiras. O uso e ocupação da terra tem contribuído com os processos erosivos ali atuantes, pois tanto ravinamento quanto os sulcos são característicos de vertentes desnudas. Outro fator que pode contribuir com os processos erosivos está atrelado a extensão das vertentes, que como já apontado, podem ser superiores a 800 m. Em períodos de grande volume de precipitação o escoamento superficial pode ser predominante, atrelando a extensão da vertente podemos supor que a velocidade do fluxo de água escoada, pode atingir grande velocidade que culminará no desague, tornando assim, as áreas próximas às margens mais susceptíveis aos processos erosivos, como já pode ser observado na bacia. Desse modo, o comprimento das vertentes aliado, a declividade e às suas formas, tem influenciado diretamente o tipo de escoamento e os processos denundacionais atuantes próximos às margens do rio e na bacia de modo geral.

Agradecimentos

A Deus por me confortar em momentos difíceis. Ao meu esposo, João Marcos, pela dedicação, carinho e apoio em todos os momentos. Ao meu orientador, Leandro Pinheiro, pelo incentivo, paciência e orientação durante a elaboração desse trabalho. Aos meus amigos de curso, professores e colegas de faculdades pelo apoio em muitos momentos.

Referências

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo, Edgard Blucher, 2° edição, 1980. Disponível em: <http://www5.eesc.usp.br/sgs/sgs0302/Geomorf_Christofoletti.pdf> Acesso em 11 de Novembro de 2015.
PINHEIRO, L. S.; CUNHA, C. M. L. Extensão de Vertentes: contribuição à modelagem erosiva. Revista GEONORTE, edição especial 4, V. 10, N.1, p. 375-379, 2014. Disponível em: <http://www.revistageonorte> Acesso em: Agosto de 2015.
SILVA, D. L.; CUNHA, C. M. L. Análise Morfométrica da bacia do Córrego do Lajeado (SP). Caminhos da Geografia – Revista online. Instituo de Geografia – UFU, Programa de Pós-graduação em Geografia, 2008. Disponível em <www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html> Acesso em: 20 de Junho de 2015.
SATO, S. E. Zoneamento Geoambiental do município de Itanhaém – Baixada Santista (SP). Universidade Estadual Paulista Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro, 2012. Disponível em:<http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/104397/sato_se_dr_rcla.pdf?sequence=1> Acesso em: Dez. 2015.