Autores

Avelar, A. (IGEO-UFRJ) ; Barbosa, L. (IGEO-UFRJ) ; Miranda, F.S. (IGEO-UFRJ) ; Morais, N.B. (IGEO-UFRJ)

Resumo

Pesquisas geomorfológicas em bacias hidrográficas da Mata Atlântica necessitam de topografias detalhadas, em especial análises de fluxos de água, erosão e movimentos de massa, que precisam de escalas 1:10.000 ou maiores. A vegetação densa dificulta obter tais topografias, mas imagens LiDAR (Light Detection And Ranging) permitem superar isto. Este trabalho usou o Lidar da Bacia do rio Cachoeira (8 km²), Maciço da Tijuca (RJ), por meio de 12 MDTs de pontos ground em relevo montanhoso com densa cobertura florestal, fragmentos urbanos, vegetação arbustiva e gramínea. Os modelos foram gerados em ArcGis 10-1 nas escalas 1:2.000, 1:10.000 e 1:50.000, com curvas de nível equidistantes em 1, 5 e 20 m respectivamente. Além disso, foram analisadas as declividade de encostas (0-10º, 10-20, 20-35º, >35º); TPI (Topographic Position Index ) para classificar áreas de fundo de vale, baixa, média e alta encosta e divisores; e rede hidrográfica extraída de forma automática por ArcHydro 10-1.

Palavras chaves

hidrologia florestal; morfometria de encostas; movimentos de massa

Introdução

Os MDTs e MDSs derivados de dados LiDAR apresentam elevada precisão e expressiva qualidade de detalhamento devido à grande densidade de pontos georreferenciados com coordenadas x, y e z e sua posterior classificação conforme à intensidade do retorno dos pulsos laser. O uso dessa tecnologia em áreas florestadas com densa cobertura vegetal vem aumentando significativamente, porém, inúmeros erros de precisão com relação aos pontos relativos ao solo são observados e estudos da quantificação desses erros ainda necessitam ser realizados para permitirem o uso com mais confiabilidade dessa técnica (Reutebuch et al. 2003). O docel das árvores pode causar interferência e dificultar a maioria dos pulsos laser chegarem ao solo e, com isso têm-se intensificado os trabalhos que pretendem melhorar a classificação dos pontos, quantificar o erro da classificação e avaliar a acurácia dos MDTs gerados em áreas florestadas (Gonçalves-Seco et al. 2006; Tang et al. 2008; Wang & Glenn 2009).Recentemente foi realizado o aerolevantamento a laser (LiDAR) do Maciço daTijuca pela empresa Hansa – Geofísica e Aerolevantamento Ltda. para GeoRio, cobrindo uma área de 155 km², que foi cedido para a UFRJ para fins de pesquisa. Deste modo, o Maciço da Tijuca torna-se importante nesse contexto tendo em vista aos processos históricos de adensamento da população em suas vertentes e áreas circundantes, que no caso das encostas apresentou um processo intenso de ocupação por comunidades mais pobres. Estas se instalam de modo informal e compõem as chamadas “favelas” instaladas principalmente devido à necessidade de moradia em proximidade dos locais de trabalho (Coelho Netto 2005) e também por dificuldade de acesso às edificações formais em áreas valorizadas. A autora ainda afirma que “sob tais circunstâncias a relação Homem-Natureza traduz-se numa forte competição pelo habitat, comum a grupos sociais heterogêneos e a biota da floresta remanescente e acentua a vulnerabilidade do geoecossistema frente aos problemas sócio-ambientais”. Os problemas sócio-ambientas causado pela a ocupação no Maciço da Tijuca é alvo de preocupação e de planejamento tanto da Prefeitura do Rio de Janeiro quanto da administração do Parque Nacional da Tijuca, com a intenção de preservar o remanescente de Floresta Atlântica responsável por diversos serviços ambientas à cidade e a delimitação de áreas de risco devido a movimentos de massa em eventos de chuva (Coelho Netto et al. 2007). As análises da topografia de alta resolução possibilitam avançar nos estudos sobre suscetibilidade e risco a movimentos, modelagem hidrológica, processos erosivos, planejamento urbano e nas mais diversas temáticas envolvidas no entendimento dos processos geoecológicos dos relevos montanhosos florestais. Busca-se o avanço no entendimento dos processos presentes nas paisagens montanhosas que são viabilizados pelas novas tecnologias de topografias e parâmetros morfométricos detalhados. Por isso a motivação de analisar a qualidade, as possibilidades e limitações do levantamento LiDAR disponibilizado para a geração de MDT em áreas com relevos acentuados e densa cobertura florestal.

Material e métodos

Foi realizada uma análise do levantamento LiDAR baseado na distribuição e quantidade de pontos referentes ao solo (ground points), utilizados para a geração de Modelos Digital de Terreno e a extração de parâmetros morfométricos em uma área de relevo montanhoso e com densa cobertura vegetal. Neste estudo os MDTs criados a partir do LiDAR foram tratados para as escalas cartográficas 1:2.000, 1:10.000 e 1:50.000 com o tamanho da pixel respeitando a acuidade visual de 0,2mm na representação. Deste modo, foram gerados MDTs no formato raster com 0,4; 2 e 10 metros de célula. Somente os pontos classificados como ground foram interpolados. É importante ressaltar que foi utilizado o modelo de grade regular retangular (grid), pois a interpolação por TIN força a geração de feições triangulares no terreno onde há uma densidade menor de dados e pode criar topologias mal definidas. Os MDTs em formato raster foram gerados através da ferramenta LAS Dataset to Raster, utilizando somente os valores de altimetria de cada ponto LiDAR. O método utilizado para geração do grid foi o Binning, que define o valor da célula como sendo o valor de altimetria do ponto amostral inserido na célula. Porém, devido à alta densidade de pontos, é comum dentro de uma mesma célula conter 2 ou mais pontos e o valor estipulado para a célula depende do critério de Cell Assignment Type utilizado. A declividade foi gerada pela ferramenta Slope resultuando em um arquivo raster. Após a declividade gerada foi utilizada a ferramenta Reclassify para as classificação segundo o proposto por Coelho Netto et al. (2007) em quatro classes (0o–10o, 10o-20o, 20o-35o e >35o). Seguinte à reclassificação, o raster foi vetorizado para polígono com a ferramenta Raster to Polygon, o que criou inúmeros polígonos com áreas desprezíveis, sendo utilizado, por fim, a ferramenta Eliminate para juntar os polígonos menores que 50m² ao polígono vizinho com maior contato. A classificação da posição da encosta foi realizada através da extensão Land Facet Corridor com a ferramenta Topographic Position Index (TPI) elaborado por Janness (2006) com base no trabalho de Weiss (2001). Esta ferramenta utiliza um algoritmo em no qual a diferença do valor de altitude da célula é subtraída pela média dos valores vizinhos, definido previamente por um raio em metros ou células. Valores positivos significam que a célula tem altitude maior do que os vizinhos com comportamento divergente de fluxos (convexidade); valores negativos demonstram que a célula tem valor menor do que os vizinhos com comportamento convergente de fluxos (concavidades); e os valores nulos (ou próximos de zero) demonstram área planas, de transferência de fluxos. O estudo de Coutinho et el. (2014) utilizou a combinação de mais de um raio, tendo em vista que raios menores tendem a recortar mais o terreno e raios grande tendem a generalizar a informação, as somas dos raios promoveram um melhor resultado para esse problema, apresentando topos e vales mais contínuos. As diversas combinações de raios para uma área de relevo montanhoso apresentou bom resultado na elaboração do TPI values com os raios de 50, 70, 80 e 100 metros, e sua posterior soma. A rede hidrográfica foi extraída de forma automática através das ferramentas da extensão ArcHydro10.1: Direção de Fluxos (flow direction). A partir do MDT, esta ferramenta produz um raster onde cada célula contém o valor indicativo da direção que o fluxo de água segue, ou seja, a direção para a célula adjacente menos íngreme. Como demonstrado na figura 33 o valor a ser incorporado à célula é referente à qual direção o fluxo irá tomar a partir dela, sendo 1 escoando para o leste, 2 sudeste, 4 sul e assim por diante.

Resultado e discussão

A fim de facilitar a discussão dos resultados obtidos serão apresentadas em maior atenção os resultados para a escala 1:2.000. figura 01 apresenta o percentual das classes de densidade de pontos, sendo contabilizado mais de 30% da área com menos de um ponto por 100 m², chegando a 80% da área com menos de um ponto por m² e pouco mais de 1% da área sem nenhum ponto em 100m². Estes resultados mostram média de 9,13 pts/m² levando em consideração todos os pontos levantados. O cruzamento da densidade de pontos com o uso e cobertura apontou a presença de mais de 90% de cobertura florestal nas classes mais baixas de densidade de pontos (até 0,5 pts/m²). As classes de densidade de pontos mais elevada demonstraram aumento em áreas de afloramento, solo exposto e edificações urbanas,onde os pulsos de laser não tiveram tanta interferência para chegar ao solo, propiciando uma melhor representação topográfica do terreno. Os valores de altimetrias do MDT 1:2.000 indicaram que apenas 63,65% dos pontos possuem erro menor do que 0,75 m, não atingindo a Classe C do PEC. A tabela 10 apresentada o número total de pontos frente a cada classe de uso e cobertura, concentrando o maior número de erros na cobertura florestal. O MDT para a área mapeada na escala de 1:2.000 não enquadrou-se no PEC Classe C, com os maiores erros concentrados na área com cobertura florestal elevando o erro total do mapeamento, indicando que as áreas com maior cobertura, logo menor densidade de pontos ground causaram grande interferência no mapeamento final. A figura 02 mostra o MDT que deu origem a topografia 1:2.000 e é possivel observar expressiva resolução topografica. A distribuição dos pontos cotados classificados quanto ao erro, é possível observar a maior distribuição de erro acima de 0,75 metros na área com densa cobertura florestal e os pontos dentro da Classe C concentrados nas áreas urbanas. O trabalho de Tang et al. (2008) em uma área com floresta de coníferas, no oeste de Washington (EUA) lassificou pontos ground através da diferença entre o primeiro retorno do laser e o último com base em limiares referente a estrutura da vegetação presente na área de estudo. Os resultados apontaram uma cobertura de 23% dos pontos como referente ao solo. Porém o resultado do MDT gerou erros devido a classificação dos pontos ter sido influenciados por espécies de vegetação de menor porte ou parte inferior das árvores, resultando em ruídos no MDT devido a incorporação de ponto referentes à vegetação. A declividade gerada na ferramenta Slope (figura 03) conseguiu representar os afloramentos de modo bem marcados, assim como as estradas. É possível observar que apenas as classes de 10 -20° e >35° obtiveram diferença significativa no mapeamento, quando comparado a um mapa topográfico 1:10.000 gerado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, conforme estudado por Martinez (2014). A rede hidrográfica 1:2.000 produzida através da extensão ArcHydro 10.1 a partir do MDT mostrou que a direção do fluxo em formato raster com o valor da célula indicando à qual direção o fluxo superficial é encaminhadda célula de maior altimetria à adjacente de menor altimetria, com muito bom resultado na geração dos canais de drenagem. Segundo Araujo (2013) a qualidade do mapa de direção de fluxos depende diretamente da qualidade do MDT, devido a isso, o MDT proveniente do levantamento LiDAR, pode possibilitar uma melhoria do mapeamento. As direções de fluxos são classificados quanto a direção como: Leste, Sudeste, Sul, Sudoeste, Oeste, Noroeste, Norte e Nordeste. Devido a isso, as áreas com terreno exposto ao feixe de laser (afloramentos, área urbana, solo exposto, etc.) tiveram uma densidade de pontos alta, resultando na geração de um MDT de grande qualidade e detalhamento. As áreas florestadas, no entanto, devido à interferência da cobertura vegetal, mostrou resultados inferiores, onde a maior parte da área florestada teve menos de 0,5 pts/m². Portanto, o LiDAR com finalidade de análise topográfica em áreas com densa vegetação florestal é prejudicado pela interferência do docel das árvores. Uma vez que a área estuda contém cerca de 90% de cobertura vegetal, e apenas 7% dos pontos foram classificados como ground neste domínio.

Figura 1

Classes de densidades de pontos (pts/m²) e sua área percentual na Bacia do Rio Cachoeira

Figura 02

Visualização 3D do MDT (Hillshade) 1:2.000 no software ArcScene 10.1.

Figura 03

Visualização 3D do mapeamento de declividade no software ArcScene 10.1.

Considerações Finais

O LiDAR permite grande densidade de pontos, 9 pts/m² como esperado para esse tipo de levantamento (Liu et al. 2007; Liu 2008) e para 1:2.000 há erros, mas servem para análise morfométrica, ainda que prejudicados por densa cobertura florestal e nas áreas urbanas, o levantamento melhora a qualidade da topografia. Na escala 1:10.000 há erros altimétricos próximos à classe C (85%)e erros horizontais na Classe A, pois tem uma qualidade maior devido sua elevada densidade de pontos do scaneamento. O MDT na Classe 1:50.000 obteve PEC na Classe A e demonstrando ter alta qualidade para essa escala. As topografias nestas três escalas e as declividades com maior detalhamento podem melhorar e avançar trabalhos como mapeamentos de suscetibilidade a movimentos de massa e geração de rede de canais (Coelho Netto et al. 2014, Araujo 2013). O TPI apresentou uma boa correlação com a drenagem extraído automaticamente pelo ArcHydro 10.1, onde 73% do comprimento total dos canais estão na classe mapeada como fundo de vale e não apresentou canais em áreas de divisores. O ArcGis 10.1 demonstrou ter uma boa capacidade de tratamento e análise dos dados para a geração de MDT e parâmetros morfométricos analisados neste estudo, auxiliando os trabalhos nas áreas de pesquisa e afins que necessitam como base dados topográficos.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos financiamentos e bolsas do CNPq, FAPERJ e INCT- REAGEO. Agradecem também a empresa HANSA LTDA e a Fundação GEO-RIO pela cessão das imagens Lidar.

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