Autores
Fujita, R.H. (UNIOESTE/FB) ; Paisani, J.C. (UNIOESTE/FB) ; Pontelli, M.E. (UNIOESTE/FB)
Resumo
Este estudo teve como intuito identificar desajustes fluviais e zonas anômalas ao longo do perfil longitudinal do rio Chapecozinho, localizado no Planalto das Araucárias, no sul do Brasil, por meio de análises fluviomorfométricas. O rio Chapecozinho possui uma extensão de aproximadamente 194 km, suas altitudes variam de 1250 a 350 m, o que representa uma amplitude de relevo de 900 m. Encontra-se em desajuste fluvial e apresenta várias rupturas ao longo do perfil longitudinal. Ao analisar a distribuição dos índices de RDE, observam-se concentrações de altos valores no médio e baixo curso, enquantono alto curso foram identificados menores valores de RDE. Os desajustes fluviais, bem como as anomalias de 2ª ordem estão associados à confluência de canais e ao controle estrutural, este também responsável pela distribuição das anomalias de 1ª ordem.A aplicação do perfil longitudinal e índice de gradiente (RDE) mostra que ambos os métodos são de grande eficácia e válidos para detectar zonas co
Palavras chaves
análise fluviomorfométrica; Brasil; anomalias de drenagem
Introdução
Os canais fluviais são de grande importância para as análises de cunho tectônico por serem elementos sensíveis a modificações crustais, respondendo de imediato aos processos deformativos (Etchebehere, 2000). Uma das técnicas adotadas para a identificação de áreas influenciadas pela neotectônica são os índices morfométricos e os padrões de drenagem. A análise morfométrica da rede de drenagem por meio de sua representação longitudinal pode ser uma ferramenta muito importante quando aliada a estudos geomorfológicos por atentar à compreensão dos condicionantes que equilibram ou desequilibram o sistema fluvial, bem como auxilia no entendimento da evolução geomorfológica de uma região (Fujita, 2014). De acordo com Knighton (1998) o perfil longitudinal é um elemento importante para o entendimento dos processos geomorfológicos que ocorrem na paisagem. O perfil longitudinal consiste num método simples e eficaz, que basicamente utilizadados de altitude e extensão do canal, para a geração de uma curva de ajustamento logarítmico côncavo ascendente, onde se verificam maiores declividades nas nascentes e menores em direção à foz, sendo a representação gráfica característica de rios em estado de equilíbrio (Fujita, 2009). Um dos índices morfométricos utilizados para detectar áreas influenciadas por atividades tectônicas, é o índice de Hack. Em 1973, Hack propôs o índice de gradiente RDE (gradient index) para a determinação de “anomalias” significativas na concavidade natural do perfil longitudinal, o que também permitiu a normalização dos dados que facilitou a comparação de canais fluviais de diferentes magnitudes. Este estudo teve como intuito identificar possíveis desajustes fluviais e zonas anômalas ao longo do perfil longitudinal do rio Chapecozinho, localizado no Planalto das Araucárias, no sul do Brasil.
Material e métodos
Para o estudo foram utilizadas cartas topográficas do IBGE nas escalas de 1:100.000 e 1:50.000 e curvímetro analógico, além de dados SRTM (Shutter Radar Topographic Misson 4) para a extração de dados morfométricos, para a construção do perfil longitudinal do rio Chapecozinho. Para análise do perfil longitudinal foi utilizada a metodologia sugerida por McKeown et al. (1988) a qual leva em consideração que todo curso fluvial procura o seu equilíbrio, sofrendo para isso erosão ou agradação ao longo do seu leito. Assim,buscou-se determinar uma equação e uma linha de melhor ajuste ao perfil, tendo sido considerados desajustes os afastamentos superiores a 10 metros dessa linha.Trechos acima da linha de melhor ajuste foram considerados áreas ascendentes e abaixo desta, áreas subsidentes. Na determinação de zonas anômalas foram empregadas as metodologias sugeridas por Hack (1973)e Etchebehere (2000). Os resultados foram distribuídos em planta e analisados fazendo a interação com os dados geológicos.
Resultado e discussão
A bacia hidrográfica do rio Chapecozinho encontra-se localizada no sul do
Brasil, no Planalto das Araucárias, ao norte do Estado de Santa Catarina, em
zona subtropical. Compreende uma área de aproximadamente 1661km², um perímetro
de 294km e altitudes que variam de 1350 a 350 m. Ao longo de seu percurso, o rio
Chapecozinho drena litologias do Grupo São Bento e algumas das superfícies
incompletamente aplainadas, descritas por Paisani et al. (2008).
O rio Chapecozinho possui uma extensão de aproximadamente 194 km, de sua
nascente até a sua foz junto ao rio Chapecó. As altitudes variam de 1250 a 350
m, o que representa uma amplitude de relevo de 900 m. Ao analisar o rio
Chapecozinho, sob a ótica do equilíbrio dinâmico, verificamos desajustes
fluviais convexos (ascensão) e côncavos (subsidência) de nascente a foz, bem
como a presença de várias rupturas ao longo do perfil longitudinal (Figura 1).
Ao longo do seu perfil longitudinal, por meio da linha de melhor ajuste (perfil
de equilíbrio), é possível diagnosticar trechos em equilíbrio e em desajustes
fluviais, sejam eles considerados em ascensão (convexo) ousubsidência (côncavo).
O trecho em equilíbrio é observado entre as cotas 580 a 500m, correspondendo a
aproximadamente 14km do curso fluvial. O único trecho em ascensão é
diagnosticado entre as cotas 1200 a 580m de altitude, correspondendo a uma
extensão de aproximadamente 145km. Por sua vez, os segmentos em subsidência
observam-se entre as altitudes 1350 a 1200m (15km) e 580 a 350m (34km). O trecho
em equilíbrio corresponde as áreas superfícies em elaboração, na forma de
ombreiras de fundo de vale (superfícies que estão sendo atualmente dissecadas
pelos rios dos sistemas hidrográficos Iguaçu e Uruguai), como descritas por
Paisaniet al. (2008).
O rio Chapecozinho possui uma predominância de segmentos anômalos identificados
pelo índice de Hack (Figura 2). Dos 35 trechos mensurados, 15 apresentaram
anomalias de 2ªordem e 14 anomalias de 1ªordem. Ao analisar a distribuição dos
índices de RDE, observa-se um gradiente nas concentrações de altos valores no
médio e baixo curso, enquanto no alto curso foram identificados menores valores
de RDE.
De acordo com Etchebehere (2000), AclasJret al. (2003), Guedeset al.
(2006) e Guedes (2008), Fujitaet al. (2011), Fujita (2014), os desajustes
fluviais e anomalias de 2ª ordem ocorrem associados a áreas marcadas por
mudanças litológicas, controle estrutural, encontro de canais fluviais. Na área
estudada, as anomalias de 2ª ordem e as mudanças no perfil longitudinal estão
associadas a um controle estrutural, como é possível verificar na Figura 3,
marcado por falhas/fraturas e a influencia do astroblema de Vargeão, e com a
confluência de canais, o que permite a modificação da vazão, nas texturas
granulométricas do rio estudado.
As anomalias de 1ªordem podem ter sido originadas a partir de diversas causas,
dentre elas a proximidade do Astroblema de Vargeão. O controle estrutural
presente na área de estudo se observa principalmente pela disposição da drenagem
que acompanha a circularidade do astroblema a jusante, uma vez que as anomalias
de 1ª ordem iniciam-se após sua ocorrência. Essas anomalias são marcadas pela
presença de cachoeiras e quedas d'água, que para autores como Etchebehere (2000)
e Fujitaet al. (2011) identificam a presença dessas feições como indicadores de
áreas influenciadas pela neotectônica.
Perfil longitudinal do rio Chapecozinho
Tabela resumo das variáveis morfométricas do Rio Chapecozinho. Onde: RDETotal 73, 929
Mapa geológico da área de estudo e a distribuição das anomalias de drenagem.
Considerações Finais
Os resultados deste estudo foram obtidos a partir da sistematização dos resultados da aplicação de alguns estudos morfométricos, delineados no perfil longitudinal e aplicação do Índice de Hack, para o curso fluvial Chapecozinho, localizado no Panalto das Araucárias, no sul do Brasil. Diante dos resultados apresentados ao longo deste trabalho concluímos o seguinte: • O canal fluvial estudado apresenta desequilíbrios fluviais, somente entre as cotas 580 a 500 m e o rio Chapecozinho apresenta segmento em equilíbrio. Os desequilíbrios fluviais podem ser justificados pelo encontro de afluentes de maior porte, bem como a influencia estrutural regional, marcado pelas falhas e fraturas e as diferenças da resistência das rochas; • As anomalias de 2ª ordem identificadas estão associadas a uma forte influência estrutural regional e também ao encontro de canais fluviais de maior porte. Já as anomalias de 1ª ordem estão relacionadas a influência estrutural do astroblema de Vargeão, o que condiciona a formação de uma sequência de cachoeiras e quedas d'água presentes na área de estudo, o que indica a influência neotectônica para a bacia estudada. • Os estudos de perfil longitudinal e metodologias utilizadas são de grande relevância aos nos estudos dos cursos fluviais, apesar de antigas e desenvolvidas para áreas tectonicamente ativas, vêm sendo empregadas no Brasil, localizado em uma área ectonicamente estável, em diversos estudos geomorfológicos com grande eficácia
Agradecimentos
A Capes pela concessão do Projeto PVE n°144/2012 e bolsa de pós-doutoramento;
Referências
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