Autores
Lira, D.R. (UFS) ; Cabral, C.J. (UFPE) ; Tavares, B.A.C. (UFRB) ; Silva, D.N.F. (UFPE) ; Corrêa, A.C.B. (UFPE)
Resumo
A região do Médio São Francisco, compreende hoje área de grande interesse para estudos ambientais, correspondendo a uma área de execução de grandes projetos de integração nacional. Para melhor compreender essa região, bem como suas nuances ambientais, fez-se necessário realização de mapeamentos temáticos, como o mapeamento geomorfológico em escala de semi-detalhe. Para a diferenciação dos compartimentos do relevo foi utilizado um conjunto de atributos da paisagem, e sua delimitação espacial foi feita à medida que estes atributos se diferenciam do entorno e passam a constituir uma categoria de relevo discreta. Desta forma a construção do mapa é feita através de uma constante reavaliação dos limites e propriedades dos compartimentos até se obter o mapa final. Este é um procedimento hipotético indutivo que se baseia nas informações obtidas através da literatura, da modelagem numérica do terreno e das visitas de campo, permitindo identificar 11 unidades na área delimitada para o estudo.
Palavras chaves
unidades de relevo; geomorfologia do semiárido; morfogênese
Introdução
O conhecimento da dinâmica temporal dos acontecimentos geomorfológicos faz se necessário para compreensão da história recente da paisagem. Através da análise dos depósitos superficiais (colúvio/leque aluvial/depósito aluvial/elúvio) é possível interpretar a história da sedimentação, pedogênese e recompor o ambiente deposicional. Ainda que os limites das formações superficiais possam ser plenamente elucidados através de técnicas de mapeamento de detalhe que associem procedimentos de mapeamento morfológico tradicional (DEMEK e EMBLETON, 1972). Desta forma, a diferenciação dos tipos de depósitos e o mapeamento de unidades geomorfológicas além de ajudar a elucidar a gênese dos eventos geradores, possibilita criar hipóteses mais fidedignas sobre a evolução geral da paisagem. Para a diferenciação dos compartimentos do relevo foi utilizado um conjunto de atributos da paisagem (litologia, solo, declividade, etc.), e sua delimitação espacial foi feita à medida que estes atributos se diferenciam do entorno e passam a constituir uma categoria de relevo discreta. Desta forma a construção do mapa é feita através de uma constante reavaliação dos limites e propriedades dos compartimentos até se obter o mapa final. Este é um procedimento hipotético indutivo que se baseia nas informações obtidas através da literatura, da modelagem numérica do terreno e das visitas de campo. Foram também utilizadas informações da literatura referentes aos compartimentos geomorfológicos e morfoestruturais já reconhecidos para a região com base nos trabalhos de Corrêa et al (2010) Arruda e Barreto (2012) e Melo et. al. (2012). Esses nortearam o mapeamento morfoestrutural realizado no presente trabalho, no qual foram identificadas duas unidades (Figura 1A). A Depressão Sertaneja compreende uma extensa área rebaixada e predominantemente aplainada (Figura 1B), constituindo superfície de erosão que secciona uma grande diversidade de litologias e arranjos estruturais. Esta superfície apresenta inúmeros trechos com ocorrência de relevos residuais constituindo inselbergs, como também relevos estruturais associados a lineamentos e quase sempre associados às litologias do cristalino. E as Planícies Poligenéticas, abrangendo a extensão do terreno mais ou menos plano, onde predomina o processo de agradação, a topografia é caracterizada por apresentar superfícies pouco acidentadas, sem grandes desnivelamentos relativos, essa característica por vezes pode fazer com que a unidade seja confundida com áreas pedimentadas. Essa estrutura foi exposta a diversas gerações de eventos formativos, sobre influência fluvial, lacustre, eólica. Cabendo assim ser chamada de planícies poligenéticas. Para o Radam Brasil (1970) na área estudada encontram-se depósitos sedimentares na Planície do Rio São Francisco com várzeas e terraços fluviais, remanescentes das raízes de dobramentos nos baixos planaltos sertanejos sendo estes patamares periféricos à chapada do Araripe e remanescentes do escudo exposto nas depressões interplanálticas do pediplano sertanejo.
Material e métodos
Um SIG – Sistema de Informações Geográficas, foi elaborado utilizando dados do Modelo Digital de Elevação (MDE) e suas derivações locais básicas do projeto TOPODATA – Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil, com resolução espacialde 30m, elaborados a partir dos dados de radar da missão Shuttle Radar Topography Mission – SRTM A análise morfoestrutural foi baseada em imagens SRTM e cartas topográficas, de acordo com a proposta de Liu (1994), para posterior caracterização e mapeamento morfoestrutural e geomorfológico em escala de detalhe (DEMEK e ENBLETON, 1972), e a do manual técnico de Geomorfologia (NUNES, 1995 e 2009). Os cartogramas e modelos evolutivos do relevo finais foram enriquecidos pela modelagem tridimensional. Para tanto foram também utilizados os programas Surfer 8, ArcGis 9.3,MicroDem 10.1 do Laboratório de Geomorfologia do Quaternário da UFPE. Estas metodologias favorecem o uso de quatro elementos para o entendimento das peculiaridades geomórficas da área: morfometria, morfologia, gênese e cronologia relativa. O detalhamento do mapeamento geomorfológico permite uma visualização individual das morfologias denudacionais e seus respectivos condicionantes morfoestruturais. Demek (1972), no entanto, alerta que não se deve tomar o mapeamento como um documento isento de falhas, isto seria desconsiderar os limites do próprio método de aquisição de dados em campo e gabinete. Procura-se, no entanto, elaborar uma representação que aponte em linhas gerais as subordinações entre a forma, suas dimensões, materiais formadores e processos vigentes e pretéritos.
Resultado e discussão
Foram identificadas 11 unidades de relevo (Figura 2) sendo 6 unidades referentes a
morfoestrutura da Depressão Sertaneja (Maciços Residuais; Maciços Estruturais
Conservados em Crista; Maciços Estruturais Dissecados a 500 e 450m; Pedimentos
Dissecados e Pedimentos com Cobertura Detrítica Delgada) e 5 unidades inseridas na
Planície Poligenética (Planície Flúvio-Lacustre; Planície Fluvial; Planície com
Dunas e Mantos de Areia; Planície de Deflação e Terraço Fluvial).
Maciços Residuais/Inselbergs - São corpos intrusivos isolados na paisagem por
processos de dissecação dos Maciços Estruturais, são delimitados por encostas
íngremes sob a influência, sobretudo, do intemperismo físico. Em virtude do
gradiente de suas encostas, encontram-se sujeitos a processos gravitacionais com
presença, por vezes, de depósitos de talús em sua base. Os inselbergs (Figura 3A)
ocorrem por toda parte na área de estudo, elevando-se sobre quase todas as
superfícies.
Maciços Estruturais Conservados em Crista a 600m – Corresponde aos níveis mais
elevados área de estudo, podendo ser chamadas também de unidades de cimeira,
ocorrendo em cotas acima de 600 metros, exibindo uma feição de topo em cristas
(Figura 3B), se encontram alinhadas de acordo com a tendência regional do
direcionamento das falhas e juntas. São as áreas das nascentes dos principais rios
da bacia responsáveis pela dissecação do relevo.
Maciços Estruturais Dissecados a 500 e 450m – Correspondem a níveis escalonados de
dissecação da unidade dos Maciços Estruturais Conservados em Crista
Pedimentos Dissecados a 430m - São áreas moderadamente planas com declividade
inferior a 7% restringidas por maciços residuais formando áreas de retirada de
sedimentos, estruturados pelo embasamento cristalino apresentando um caráter rochoso
e marcado por níveis pedimentares pouco dissecados, sem cobertura sedimentar que
transitam para os maciços estruturais.
Pedimentos com Coberturas Detríticas Delgadas a 400m dominada Argissolos e
Latossolos, sobre os quais se formam pavimentos detríticos pela retirada das fáceis
mais finas devido a atuação da erosão laminar (Figura 3C), interpõem-se entre os
Pedimentos Dissecados e a Planície Flúvio-Lacustre da Unidade Morfoestrutural da
Planície Poligenética
Planície Flúvio – Lacustre - Corresponde às áreas de planície mais distante do Rio
São Francisco, quem em períodos de enchentes a força das águas romperiam o dique
marginal preenchendo áreas deprimidas formando lagos onde eram depositados
sedimentos finos bem selecionados, devido a grande quantidade de sedimentos arenosos
essas áreas servem também como fonte de água, onde por vezes aflora o lençol
freático (Figura 3D). Nota-se a presença de mosqueamento, possível indicador de
flutuação do lençol freático que devido à permeabilidade do material, acelera os
processos pedogenéticos, tornando impossível a visualização de estratificações.
Outro sim devido a competência do canal é possível encontrar clastos flutuantes
suportados pelos sedimentos (Figura 3E).
Planície Fluvial - Corresponde às áreas baixas e planas ao longo Rio São Francisco.
O relevo apresenta-se bastante suave que sugere a predominância de sedimentos
arenosos depositados pelo próprio rio. Foram identificadas nesta unidade
cascalheiras clastos suportados o que pode indicar a presença de um antigo sistema
anastomosado de canais de drenagem (Figura 3F).
Planície com Dunas - Essa área da Planície apresenta dunas ativas próximas as
margens do Rio São Francisco sobrepondo os terraços fluviais (Figura 4A), dunas do
tipo Parabólicas; Nebkas e estruturas de dissipação do tipo Blowout (Figura 4B).
Planície com Manto de Areias - Esta unidade ocorre posterior às áreas das dunas
ativas, constituídas por depósitos eólicos menos desenvolvidos. As formas referentes
à ação eólicas nesta área apresentam-se incipientes, destituídas de face de
deslizamento, com cobertura vegetal rarefeita e pequena estabelecida (Figura 4C)
provavelmente por uma melhoria climática natural. Por se tratar de uma área mais
plana, esta é também ocupada de forma indevida pela população (Figura 4D).
Terraço Fluvial - Compreende uma estreita faixa que margeia o canal fluvial, esta
unidade é resultado direto do processo erosivo de aprofundamento do leito do rio,
apresentando uma borda escarpada na direção do canal fluvial, em algumas áreas essa
unidade encontra-se recoberta por sedimentos eólicos.
Considerações Finais
o mapeamento das unidades de relevo, possibilitou identificar antigos terraços fluviais assimilados pela paisagem e retrabalhados como pedimento. O material encontrado sobre esses terraços tem uma característica deposicional de extrapolação do leito fluvial, granulometria fina sem estrutura, típica de lagoas marginais (depósito de cheia, sem estruturas de transporte fluvial),possivelmente relacionados a episódios torrenciais do final do Pleistoceno.
Agradecimentos
PPGEO - UFPE FACEPE-Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia de Pernambuco
Referências
BARRETO, A. M. F & SUGUIO, K. & DE OLIVEIRA, P.E & TATUMI, S.H. Campo
de Dunas Inativas do Médio Rio São Francisco, BA - Marcante registro de
ambiente desértico do Quaternário brasileiro. in Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil – SIGP 56, 2007.
CORRÊA, A. C. B.; SILVA, D. G. da.; MELO, J. S.. Utilização dos depósitos de
encostas dos brejos pernambucanos como marcadores paleoclimáticos do quaternário tardio no semi-árido nordestino. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 07, n.14: 99–125, 2008.
DEMEK, J.; EMBLETON, C.. Guide to medium-scale geomorphological mapping.
International Geographical Union, Commission on Geomorphological Survey and
Mapping. Stuttgart: 1978. 348p.
LIU, C. C. Análise estrutural de lineamentos em imagens de Sensoriamento
Remoto: aplicação do Estado do Rio de Janeiro. 1984. 175f. Tese (Doutorado em Geologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1984.
NUNES, B. E.; RIBEIRO, M. I. C.; ALMEIDA, V. J. ; NATALI-FILHO, T.. Manual
Técnico de Geomorfologia. IBGE. Rio de Janeiro. Manuais técnicos em Geociências n.5, 2ª Ed. 2009. 111p.