Autores
Dal Pozzolo dos Santos, D. (UFSM) ; Sayão Penna e Souza, B. (UFSM)
Resumo
As Quebradas do Deserto de Atacama no Norte do Chile são vales amplos e profundos, formados principalmente pelo solapamento de água Subterrânea. Sua importância é significativa para o entendimento da neogênese tectônica Andina e como análogo planetário. Neste trabalho, utilizando dados topográficos ASTER GDEM foram gerados mapas altimétricos, clinográficos e perfis topográficos(confluência, curso médio)das Quebradas Camarones e Suca que formam uma bacia de 4703,12 km2. Quanto às características gerais da área de estudo, esta é uma área de grande energia de relevo devido à grande altitude e as declividades variam de média a Íngreme. Utilizando a matriz de Dissecação proposta por ROSS & FIERZ (2009), adaptada para a escala de 1:1000.000, a quebrada Camarones é a de maior índice de dissecação, com entalhamento muito forte e dimensão interfluvial média em seu curso médio. Os outros vales variam quanto ao grau de entalhamento de médio a forte e possuem uma dimensão interfluvial alta
Palavras chaves
Atacama; Quebradas; Índice de Dissecação
Introdução
O Deserto do Atacama, no norte do Chile, localizado entre a região central dos Andes apresenta várias características únicas, relacionados à topografia, circulação e correntes marítimas. De acordo com PINTO et al (2006, p.543). “o deserto deve a sua existência ao efeito combinado de sistemas estáveis de alta pressão no oeste do Oceano Pacífico, o efeito da corrente marítima fria de Humboldt e o efeito orográfico da cordilheira dos Andes que bloqueia os ventos de leste.”. RECH et al (2006,p,761) destacam o fato de que “o núcleo hiperárido do Atacama recebe em média < [menos de] 3 mm/ano de precipitação, não suportando plantas vasculares e contém no solo altas concentrações de sulfatos, cloretos e nitratos.” Reconhecer a importância do solapamento por água subterrânea, é de suma importância neste contexto de hiperaridez. O solapamento por água subterrânea é entendido por IRWIN et al (2014, p. 297) , como sendo “um termo que encapsula processos de intemperismo relacionados a infiltração e erosão dos fragmentos resultantes da descarga de uma fonte”.Ainda conforme IRWIN et al (2014, p. 297-298), este processo resulta no enfraquecimento e consequente colapso das cabeceiras e paredes laterais do vale, dando origem a vales encaixados com nascentes em forma de um amplo anfiteatro (Box Canyons) e paredes laterais extremamente íngremes com relativamente poucas ravinas.Os perfis dos vales apresentam um formato de V, particularmente nas regiões de maior declividade, porém são mais comuns secções em formato trapezoidal, com um fundo plano. Apresentam canais curtos, drenagens com ângulos extremamente agudos (menos de 30º), poucos tributários, baixa sinuosidade, forte controle estrutural, fluxo intermitente e parcialmente encobertos por areia e silte de origem eólica. Esses vales, conhecidos localmente como quebradas localizadas no Deserto de Atacama, na latitude entre 18º00’S e 19º30’S, apresentam Drenagem exorreica no sentido NE-SW. A importância cientifica das quebradas é considerada bastante alta por dois motivos: a neogênese tectônica e como análogo planetário. Segundo GARCIA & HERÁIL (2005) “o estudo das características geomorfológicas e seus interflúvios associados podem ser extremamente uteis na reconstrução da evolução tectônica e o soerguimento da área.”. A margem oeste dos Andes centrais, aonde as antigas características geomorfológicas estão bem preservadas e observáveis devido à hiperaridez do clima no norte do Deserto de Atacama, próximo ao Deserto de Atacama, próxima ao Golfo de Arica, onde o clima árido foi estabelecido na metade do Mioceno (10 Maa) e hiperárido pelo final do plioceno (3 Maa) sendo essa uma das regiões continuamente áridas mais antigas do mundo.
Material e métodos
Como base cartográfica para este trabalho foi empregado o MDE ASTER GDEM 2 (Global Digital Elevation Model Version 2) obtido pelo sensor ASTER (Advanced Spaceborne Thermal emission Radiometer) instalado no Satélite Terra, Disponivel no website ERSDAC (Earth Remote Sensing Data and Analisys Center) no endereço <gdem.ersdac.jspacesystems.or.jp>. Conforme GAIDA et al (2014) um aspecto positivo deste modelo digital de elevação destaca-se a representação de quase toda a superfície terrestre, a cobertura de quase toda a superfície terrestre com um produto de resolução espacial de 30 m/pixel de forma direta, além da inexistência dos chamados “voids” (pontos com ausência de informações) devido no fato deste modelo ser obtido por processo estereoscópico. As Imagens estão na projeção UTM, fuso 19 S, tendo como Datum WGS-84. A classificação da variável declividade foi elaborada seguindo a classificação sugerida por Grannel-Pérez (2001), com 7 classes definidas de 0 -2º,2 - 5º, 5 - 15º, 15 - 25º, 25 - 35º, 35 - 45º, > 45º. A altimetria foi definida em 9 classes com intervalos de: < 500 m, 500 -– 1000 m, 1000 - 1500m, 1500 -– 2000 m, 2000 – 2500 m, 2500 -– 3000 m, 3000 – 350 0m, 3500 -– 4000 m, > 4000 m. Foram empregadas para a classificação a ferramenta Density Slice e para cada feição e o calculo de área em Km2 para cada classe através da ferramenta regiões de interesse (ROI- Regions of Interest). Utilizando as ferramentas de modelagem topográfica do software ENVI 5.1, permitindo gerar imagens de aspecto ( orientação de vertentes), inclinação, obliquidade, declividade, variações da curvatura do terreno dos dados topográficos, etc... Para elaboração de perfis topográficos dos vales principais foi empregado o programa Global Mapper 15. Estes dados permitem analisar dois fatores importantes para a compreensão do desenvolvimento de dos vales: a declividade e a dissecação. Em sua proposta de taxonomia de relevo ROSS & FIERZ (2009),p,73 utilizam-se de uma matriz, mostrada no Quadro 1 para o índice de dissecação do relevo , baseada nas relações entre a dimensão Inter fluvial média e o grau de entalhamento do vale, variando entre 11 ( muito fraco) e 55 (muito forte). Por exemplo, um vale com topos convexos e com índice de entalhamento forte ( classe 4, entre 400 a 800 m de profundidade) e uma dimensão Inter fluvial Baixa (classe 2, entre 7000 e 15000 m) apresentará um índice de dissecação de 42, sendo codificado em mapas geomorfológicos como Dc 42.
Resultado e discussão
GARCIA & HERÁIL (2005) compartimentaram a região em cinco unidades fisiografias, de oeste para leste: A) Cordilheira da Costa, B) Depressão Central, C) A Precordilheira, D) Depressão de Copaquilla e E) Cordilheira Ocidental.
possui menos de 20 km de largura, e menos de 1200 m de altitude. O relevo é essencialmente formado em rochas mesozoicas e compreende colinas suaves e vales rasos. A altitude da Cordilheira da Costa diminui progressivamente para leste onde está sobreposta por sequências terciárias da Depressão Central. Para oeste esta cordilheira é cortada por uma escarpa subvertical que chega a mais de 1000 m. Na área da cidade de Arica, ao norte, a cordilheira da costa está completamente erodida. Ao sul de Arica, a área é erodida pelas gargantas dos vales Vitor e Camarones.
possui de 40 a 55 km de largura. Os interflúvios, “Pampas”, correspondem a um platô com uma altitude variando de 500 a 1000m no oeste, chegando a 1900-2300m no leste, resultando numa declividade suave de 1,5 – 2º W. Os “Pampas” são separados por gargantas profundas (< 1000 m) dos rios Lluta, Azapa e Camarones, oriundos da Cordilheira Ocidental. Esta superfície tem sido associada à pedimentação regional do final do Mioceno sendo conhecido “Pedimento de múltiplos Estágios”.
Com 20-35 km de largura forma um “degrau” topográfico entre 1900 – 2300 m e 3200 – 3640 m de altitude. Abrange um platô alongado, que nas porções norte e central da área de estudo formam uma zona suavemente dobrada conhecida como flexão de Huaylilas e a anticlinal de Oxaya (AO). Para o sul, na Pampa Sucana, onde a anticlinal de Oxaya desaparece a superfície da Precordilheira e inclinada para oeste em 3º.O platô é cortado pelas gargantas de Lluta, Cardones e Azapa. A superfície da precordilheira é amplamente formada pela formação Oxaya (25-19 Maa) composta por grandes camadas de ignibritos rioliticos intercalados com sedimentos fluviais e lacustres.
É uma bacia intramontana bastante estreita a 3000- 3200m de altitude entre a Precordilheira e a Cordilheira Ocidental. As formações Oxaya e Zapahuira (Basalto/Andesito,12,7 Maa).São cobertas e sobrepostas descontinuamente pela formação Huaylas (formada por sedimentos fluviais,10,7 Maa).
Apresenta topografia irregular, com picos de até 6350 m com uma altitude média entre 3800 e 4500 m para oeste o relevo mais importante e a Cordilheira de Belén, de 15 – 25 km de largura enquanto que a leste, os picos são estratovulcões neogênicos. O complexo de metamórfico de Belén de idade precambriana ao inicio do paleozoico sobreposta por 2500m de lavas andesiticas da formação Lupica. Esta formação andesitica da formação Lupica. Esta formação fim do Oligoceno- inicio do mioceno (25-19 Maa) e altamente deformado ao longo da borda oeste da cordilheira ocidental aonde formam uma dobra estreita e um cinturão de falhas.
Como área de estudo foi selecionada a bacia formada pelas quebradas de Suca e Camarones, nas coordenadas geográficas 19º04’07,.12”S, 69º43’47,.00”W, na divisa entre as províncias de Tarapacá (Sul), e Arica (Norte), próximo a Cuesta de Chiza cortada pela Ruta 5 , que faz parte da Rodovia Panamericana.
A altimetria foi representada pelo mapa hipsométrico (Figura 1). A altitude varia entre 0 a 5569 m de altitude. A classe altimétrica com maior área ocupada é de 1000-1500 m correspondendo a 18,16% ou 854, 04 Km2.
Considerando as 4 classes altimétricas agrupadas entre com maior área ocupada de 52,07% ou 2449,1 Km2 entre 500 - 2500 m de altitude, ocupando a porção central da bacia. A região de maior altitude, acima de 4000 m, no extremo leste da bacia é de 601,13 Km2 ou 12,78%.
No estudo das declividades o através do mapa clinográfico. (Figura 2) verificou-se como classe predominante a classe entre 5º-15º, perfazendo 38,07% ou 1790,27 km2. As três principais classes de 5º-15º, 15º-25º e 25º-35º, somadas, respondem por 76,71% ou 3607,58km2 da área total da bacia. As maiores declividades (acima de 45º, chegando até 71º) são encontradas na Cordilheira da Costa e nas paredes dos vales principais especialmente nas nascentes, ocupando uma área de 0,45 % ou 21,25 km2.
O perfil topográfico transversal da dos vales Camarones e Suca segue o sentido NW-SE tendo como ponto inicial as coordenadas 379192.864mE, 7889061.270mN e como ponto final 381883.913mE, 7877683.324mN. A confluência dos dois vales principais ocorre na Depressão Central. A altitude da Cuesta Chiza corresponde à superfície do pedimento El Diablo, formando um interflúvio amplo e plano (tabular). A distância interfluvial entre os 2 vales é de 6.128m (média) e o entalhamento é de 770 m na Quebrada Camarones e 726 m (os dois são fortes) na Quebrada Suca, dando a ambos perfis o Índice de dissecação (ID) 43, .como se pode ver na (Figura 3).
Mais ao leste, em um setor médio da bacia(Figura 4), entre as coordenadas 424113.840, 7913488.179 e 436162321,7866666.113, a maior densidade de drenagem significa uma menor distância interfluvial. Os vales principais são Humayani, Camarones, Ullumani,Cutimaya,Miñimiñi, Latagualla, Guacaballa e Suca. A analise dos vales gerou os seguintes dados: Humayani DI:2.852m,E:290m, ID:34, Camarones DI:4.398 m,E:1066m, ID:53, Ullumani DI:1.733m,E:329 m, ID:34, Cutimaya DI:1.093 m,E:315m, ID:34, Miñimiñi DI:2.082m,E:387m ID 34, Latagualla, DI:1.014 m,E:486 m, ID:44 Guacaballa DI:1.786 m,E:464 m, ID:44 e Suca DI:2.266 m,E:670 m, ID:44
Fonte: ERSDAC (Earth Remote Sensing Data and Analisys Center) Org:SANTOS,D Dal P
Fonte: ERSDAC (Earth Remote Sensing Data and Analisys Center) Org:SANTOS,D Dal P.
Org:SANTOS,D Dal P
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Considerações Finais
Quanto às características gerais da área de estudo, esta é uma área de grande energia de relevo devido à grande altitude, com as declividades variando de média a íngreme. A combinação destes dois elementos permite os vales principais alcançarem o oceano Pacífico, o que não ocorre com os vales da Pampa de Tamarugal, localizados ao sul das Quebradas Camarones e Suca, cujos rios não conseguem descer a Depressão Central. A depressão central ocupa pouco mais que a metade da área total da bacia. No entanto as maiores declividades são encontradas nos vales e na faixa litorânea. Isto sugere que o nível de base anterior ao processo de soerguimento tectônico e a formação de um sistema de drenagem de front montanhosa era na Depressão Central, atualmente a aproximadamente 1000m acima do solo. A quebrada Camarones é a de maior índice de dissecação, com entalhamento muito forte e dimensão interfluvial média em seu curso médio . Os outros vales variam quanto ao grau de entalhamento de médio a forte e possuem uma dimensão interfluvial alta.
Agradecimentos
Referências
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