Autores
Soares, J.P.R. (UFPI) ; Aquino, C.M.S. (UFPI) ; Santos, F.A. (IFPI)
Resumo
O estudo em questão objetivou identificar, caracterizar e mapear as unidades geomorfológicas do município de Milton Brandão-PI. Para tal fim, foram realizados levantamentos bibliográficos, cartográficos, elaboração de mapas e interpretação visual dos mesmos aliados à visita de campo para aferição dos dados. Os mapas foram elaborados através do Sistema de Informação Geográfica ArcGIS versão 10.1. Nesse contexto, foi possível identificar as seguintes unidades geomorfológicas: Borda de Patamares Estruturais, Colinas, Chapadas, Morros e Vales. Dentre as unidades identificadas e mapeadas, levando em consideração a declividade, a dissecação do relevo e a cobertura vegetal as que apresentaram maior vulnerabilidade morfológica foram às unidades: Morros e Borda de Patamares Estruturais.
Palavras chaves
Relevo; Paisagem; Geoprocessamento
Introdução
A paisagem de acordo com Passos (2013) é um mosaico formado por vários elementos que o constitui como um conjunto pleno. Nesse contexto, a geomorfologia apresenta-se como um elemento constituinte da paisagem, sendo um dos elementos mais marcantes da mesma. Dessa forma, o estudo da paisagem passa pelo conhecimento geomorfológico, pois o mesmo gera informações importantes para o planejamento das atividades humanas. O estudo fundamentou-se na abordagem sistêmica. A abordagem sistêmica constitui-se uma ferramenta essencial à análise da dinâmica ambiental e ao conhecimento dos fenômenos desencadeados por ações naturais e/ou humanas. A referida abordagem possibilita visualizar os riscos potenciais de cada área e realizar um planejamento ambiental com vistas a otimizar o uso dos recursos naturais. Nesse viés, Ross (2009) aponta que é necessário compreender as potencialidades naturais e humanas, e ainda as fragilidades dos sistemas ambientais naturais e socioculturais das sociedades humanas. As bases do método sistêmico para análise da paisagem foram lançadas por Sotchava na década de 60 e por Bertrand na década de 70 do século XX, conforme afirmam Soares e Aquino (2012). Nesse viés, Bertrand (1972) conceitua paisagem como o resultado da combinação dinâmica dos elementos físicos, biológicos e antrópicos que interagem dialética e perpetuamente. Ressalta-se, ainda, que os estudos geomorfológicos são de fundamental importância para o entendimento das relações dialéticas existentes nos ambientes naturais e as alterações desencadeadas pelo processo de ocupação humana, que geram ao longo do tempo desequilíbrios e acentuam a fragilidade dos ecossistemas (DE NARDIN, 2006). Lima (1987) enfatiza que o estudo geomorfológico reveste-se de grande importância em estudos ambientais, de modo que procura mostrar a distribuição espacial dos conjuntos de forma que compõem cada compartimento estrutural-topográfico, suas origens e características evolutivas, dados estes indispensáveis, principalmente, aos trabalhos de levantamento e exploração dos recursos naturais renováveis. Nessa mesma linha, Ross (1992) ressalta que o dinamismo do modelado possui diferentes velocidades, que são dependentes dos fatores naturais e das intervenções antrópicas. Considerando a importância da identificação das diferentes formas de relevo, para fins de entendimento de suas dinâmicas processuais o presente estudo objetivou mapear as unidades geomorfológicas do munícipio de Milton Brandão, Piauí.
Material e métodos
O estudo utilizou-se do método sistêmico de análise da paisagem, posto o mesmo ser de grande valia para análise do espaço geográfico (MENDONÇA, 1989). A elaboração do mapa das feições do relevo do município de Milton Brandão - PI, baseou-se no processamento e na análise dos dados de imagens da Missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), considerando-se os seguintes parâmetros morfométricos: a altimetria, a declividade e a curvatura. Para cada parâmetro (altimetria, declividade e curvatura) foi gerado um mapa. Estes posteriormente foram combinados e deram origem a um mapa síntese através da técnica de composição colorida, também conhecida de composição falsa cor. Essa técnica associou as três imagens derivadas com as três cores primárias: Vermelha (Red), Verde (Green) e Azul (Blue) (RGB). Desse modo, com base na interpretação visual da composição e em trabalho de campo, foi selecionada a composição que melhor representou as características morfológicas do município de Milton Brandão para ser utilizada na classificação das feições geomorfológicas, sendo que a variável altimetria foi associada à cor azul, a declividade à cor vermelha e a curvatura à cor verde. O processo de interpretação das imagens foi feito considerando-se o Manual Técnico de Geomorfologia elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), o trabalho de Florenzano (2008) e ainda o Dicionário Geológico-Geomorfológico de Guerra e Guerra (1993). Em síntese, a partir da interpretação visual foi realizada a compartimentação das unidades de relevo, por meio de vetorização das feições identificada através do Sistema de Informação Geográfica (SIG) ArcGIS versão 10.1, cuja licença foi adquirida pelo Laboratório de Geomática da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Resultado e discussão
A área estudada refere-se ao município de Milton Brandão, que foi emancipado
em 1º de janeiro de 1997, por meio do processo de desmembramento do
município de Pedro II. Milton Brandão está localizado na microrregião de
Campo Maior e compreende uma área de 1.371,743 km2, distando 227 km de
Teresina, a capital do Estado do Piauí. O município limita-se com o
município de Pedro II ao norte; Buriti dos Montes e Juazeiro do Piauí ao
sul; a oeste com Jabotá do Piauí, Sigefredo Pacheco e Juazeiro do Piauí e a
leste com Pedro II. A sede municipal da cidade pesquisada está situada às
coordenadas geográficas 04º41'04"S e 41º 25'20"O, conforme apresentado na
Figura 1.
Figura 1 - Mapa de localização do Município de Milton Brandão-PI.
Fonte: IBGE (2014).
O conhecimento da estrutura geológica de determinada área possibilita
conhecer a fragilidade das rochas às intempéries naturais. As unidades
geológicas identificadas no município de Milton Brandão foram as seguintes:
rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba e as coberturas colúvio-eluviais.
As formações geológicas que se fazem presentes no município são: a Formação
Serra Grande, a Formação Cabeças e a Formação Pimenteiras.
A Formação Pimenteiras, data do período Devoniano Inferior, tem em sua
composição arenito, siltito e folhelho. Na parte basal do pacote sedimentar
da Formação repousam os sedimentos do Grupo Serra Grande, datado do período
Siluro-Devoniano, composto de conglomerado, arenito e intercalações de
siltito e folhelhos (CPRM, 2004).
Quanto ao aspecto climático o município apresenta médias pluviométricas de
1.144,6 mm, concentradas nos meses de janeiro a maio, com temperaturas
variando de 22,4ºC a 26,9ºC. Seus valores de evapotranspiração potencial e
real são elevados, havendo ocorrência de uma média de 6 meses secos, o que
evidencia não haver uma disponibilidade hídrica regular anual no município,
sendo o mesmo classificado de acordo com Thornthwaite e Mather (1955) como
uma área de tipo climático subúmido seco.
Os principais cursos d’água que drenam o município de Milton Brandão são os
rios Capivara, Parafuso e Corrente que, por sua vez, são afluentes do rio
Poti. Além disso, o município possui uma rede de drenagem local composta por
pequenos riachos intermitentes. Diga-se, ainda, que a área estudada
apresenta um padrão de drenagem do tipo dentrítico, mostrando que não há
nenhuma orientação evidente dos canais (CPRM, 2004).
Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2004) no município distinguem-
se dois domínios hidrogeológicos, isto é, o das rochas sedimentares e o de
basaltos da Formação Sardinha. As unidades pertencentes ao domínio rochas
sedimentares são da Bacia do Parnaíba, pertencentes ao Grupo Serra Grande e
às formações Pimenteiras e Cabeças. As rochas do Grupo Serra Grande
correspondem a arenitos e conglomerados e normalmente apresentam um
potencial médio, sob o ponto de vista da ocorrência de água subterrânea,
tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo.
No que diz respeito às características pedológicas, na área estudada há
predominância de Latossolo Vermelho-Amarelo e de Neossolos Litólicos, além
da presença de Podzólicos e Neossolos Quartzarênicos, de acordo com a
EMBRAPA (1986). Esses solos são recobertos pelo complexo vegetacional
constituído por carrasco, cerrado e caatinga.
3.2 Mapeamento Geomorfológico de Milton Brandão, Piauí
Associados aos elementos da paisagem anteriormente citados, tem-se o relevo
que se encontra segmentado nas seguintes unidades geomorfológicas que foram
mapeadas no presente estudo: Borda de Patamares Estruturais, Colinas,
Chapadas, Morros e Vales abertos. As referidas unidades serão melhor
detalhadas a seguir:
Colinas: são pequenas elevações com declividade suave e em geral constituem
em uma forma de relevo derivado resultante do processo de erosão (IBGE,
2009). Em Milton Brandão essas feições ocupam uma área de aproximadamente
118,8 Km2, algo correspondente a 8% da área total do município. Nesta
unidade as cotas altimétricas variam de 230 a 380 metros. São estruturas que
se apresentam suavemente onduladas e com um nível médio de dissecação, sendo
recobertos tanto pela vegetação de carrasco em sua maioria como a de
caatinga, de forma minoritária, levando em consideração esses atributos foi
possível constatar que tal unidade apresenta nível moderado a alto de
vulnerabilidade morfológica.
Chapadas: constituem um conjunto de formas de relevo de topo plano,
elaboradas em rochas sedimentares, trata-se de um acamamento estratificado
que em certos pontos esta na mesma cota da superfície de erosão, essa feição
esta contida nos planaltos conservados em estruturas monoclinais (LIMA,
1987). É a feição geomorfológica de maior expressão espacial no município,
abrangendo uma área de aproximadamente 524,7 Km2 o que corresponde a
aproximadamente 39% da extensão territorial de Milton Brandão. Nesta unidade
geomorfológica foram identificadas cotas altimétricas que vão de 230 a 580
metros, há uma predominância de áreas planas e com baixo grau de dissecação
no topo e de áreas fortemente onduladas nas bordas e elevado nível de
dissecação do relevo. E unidade é recoberta pela vegetação de cerrado e pelo
carrasco. A análise combinada destas características permite inferir para
esta unidade vulnerabilidade morfológica baixa nas áreas do topo e alta a
muito alta nas bordas/vertentes.
Vales: se caracterizam pelas superfícies mais abertas, pouco entalhadas, com
fundos planos, constituídas geralmente por sedimentos inconsolidados, essa
feição abrange uma área de aproximadamente 620,8 Km2, o que corresponde a
aproximadamente 45% da área total do município de Milton Brandão. Nos vales
foram identificadas cotas altimétricas que variam de 180 a 380 metros, é
nessa unidade também que se encontram as áreas menos dissecadas e mais
planas do município, sendo esta unidade recoberta por vegetação de carrasco
e de caatinga, dessa forma pode-se inferir que esta unidade apresenta baixa
vulnerabilidade morfológica.
Borda de Patamares Estruturais: de acordo com o manual técnico de
geomorfologia do IBGE (2009) corresponde ao rebordo erosivo que limita a
superfície tabular, formando degraus, de topo parcial ou totalmente
coincidente com um plano estratigráfico exumado. Ocorre predominantemente em
bacias sedimentares ou nos limites destas com outras estruturas
discordantes, em contatos de camadas de rochas de litologias distintas. Essa
feição corresponde a aproximadamente 7% da área total do município, o que em
valores absolutos equivale a 89,8 Km2.
Morros: são elevações que surgem na paisagem cuja altitude em torno de 100 a
200 metros, sendo que alguns correspondem a morros testemunho, sendo que
estes assim são denominados segundo Guerra (1993) pelo fato de serem colinas
de topo mais ou menos planas situadas adiante de uma escarpa de cuesta,
sendo estes mantidos por sua composição mais resistente ao processo erosivo
atuante naquela área. Apesar de não ser identificadas cuestas no município
de Milton Brandão-PI há a presença de morros testemunhos que se situam
adiante das chapadas e da borda de patamar estrutural, essa formação abrange
aproximadamente 1% da área total do município o que equivale a
aproximadamente 18,3 Km2.
Os morros e as bordas de patamares estruturais foram as unidades
identificadas com maior declividade e dissecação, ambas em grande parte
apresentam cotas altimétricas acima de 400 metros, sendo que nas bordas de
patamares estruturais as altitudes podem chegar a 648 metros. Nessas
unidades foram verificados os índices de vulnerabilidade morfológica alta e
muito alta.
As feições que perfazem e constituem o modelado da paisagem do município de
Milton Brandão foram espacializadas e tal espacialização pode ser verificada
por meio da Figura 2 que apresenta o mapa geomorfológico do município
estudado.
Figura 2 - Unidades geomorfológicas do município de Milton Brandão-PI.
Fonte: Soares (2015).
Apresenta a localização geográfica do município de Milton Brandão-PI
Apresenta o mapeamento e a disposição geográfica das unidades geomorfológicas em Milton Brandão-PI
Considerações Finais
O mapeamento permitiu a identificação das seguintes unidades geomorfológicas: Borda de Patamares Estruturais, Colinas, Chapadas, Morros e Vales abertos. Sendo que dentre elas os Vales é que tem maior representatividade espacial na paisagem do município. Considerando as características: declividade, dissecação e cobertura vegetal, foi possível inferir que os morros e as bordas de patamares estruturais foram as que apresentaram maior vulnerabilidade morfológica. A identificação de unidades geomorfológicas aliada a analise de suas vulnerabilidades considerando a abordagem integrada reveste-se de importância no sentido de subsidiar o ordenamento territorial das atividades para fins de uso adequado do solo. Recomenda-se a realização de estudos semelhantes a estes para os demais municípios piauienses.
Agradecimentos
Referências
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