Autores
Gomes, R.M.R. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE) ; Silva, F.M.C. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE) ; Miro, J.M.R. (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE)
Resumo
Para se atingir uma educação atrativa e de qualidade, muitos educadores optam por utilizar o método Construtivista. De acordo com tal método, o aluno deve exercer ação ativa na construção do seu conhecimento. Pensando em educar utilizando este método, a pesquisa teve como objetivo levar alunos do colégio Santos Dumont/RJ, a uma aula de campo no morro do Itaóca, e posteriormente discutir as relações socioambientais existentes no Morro, a partir da construção de maquete. Este projeto foi aplicado aos alunos do Ensino Fundamental II, como método avaliativo no 4º. Bimestre/2015. E para sua efetiva qualidade, dividiu-se este plano em quatro etapas: pré-campo, aula de campo, pós-campo e culminância. Para diagnosticar a atividade foram aplicados dois questionários: pré-campo e pós-campo, após a construção das maquetes. Os resultados obtidos mostram que os alunos evoluíram nos seus conhecimentos sobre os temas trabalhados, além da interação entre eles, ter proporcionado trocas de conhecimento.
Palavras chaves
MACIÇO DO ITAÓCA; ESCOLA DA PONTE; CONSTRUTIVISMO
Introdução
Um dos desafios dos docentes em sala de aula é criar maneiras inovadoras de ensinar, de estar sempre se reinventando, para prender a atenção dos alunos, tornar as aulas mais atraentes, fazer com que eles construam o seu conhecimento e não apenas decorem os conteúdos. De acordo com a teoria do Construtivismo, é importante no processo de Ensino Aprendizagem aproximar os conteúdos a vivência dos alunos. Em Geografia isso significa trabalhar com as diferentes escalas e sempre relacioná-las com questões do lugar, pois ajuda o aluno a melhor entender o conteúdo e não apenas decorar o assunto debatido em sala de aula, deixando-o mais interessante quando eles participam da construção do seu conhecimento (STRAFORINI, 2004, p. 69). Para Castellar (2005, p. 39) o mais difícil na prática docente é provocar a dialética entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento acadêmico. Já Cavalcante (2010, p. 03), considera os conhecimentos cotidianos dos alunos, especialmente a respeito do lugar onde vivem a melhor forma de construção do conhecimento. Para esses três autores, o Construtivismo é a melhor maneira de se trabalhar a aprendizagem escolar, pois faz com que o aluno seja o sujeito produtor do próprio conhecimento, sujeito ativo no processo, diferentemente do Ensino Tradicional, em que eles são vistos como uma tábua rasa, não participando da sua construção. Nesta direção, Simielli (1991) diz que a maquete é um recurso didático eficiente para as aulas de Geografia, pois exibe modelos espaciais num plano tridimensional, por isso mais próxima à realidade, diferentemente de outros recursos que a apresentam de forma bidimensional. Desta forma, permite que o aluno compreenda conceitos abstratos, que possuem representação limitada em sala de aula. Além do uso de maquete contribuir com o método Construtivista, ela possibilita a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, pois é um recurso metodológico concreto, que permite que os cegos tenham acesso às informações que não teriam por conta da falta da visão. Além disso, o uso de maquetes favorece a maior interação de todos os alunos, melhorando o interesse e sua melhor apreensão dos conteúdos que estão sendo discutidos (GOUVÊA et alii, 2014). O trabalho de campo no ensino de Geografia é um dos recursos que possibilita um ensino inovador, permitindo contextualizar o espaço geográfico com suas contradições e apresentar a ciência como algo que pode ser percebida no cotidiano. Esse olhar abrangente sobre a paisagem facilita a formação de um aluno mais crítico, ético e participativo, frente aos desafios da vida em sociedade (CORDEIRO & OLIVEIRA, 2011). O relevo do município de Campos dos Goytacazes é diversificado, apresentando uma grande planície fluviomarinha a leste; tabuleiros de Formação Barreira na porção central, ao norte e ao sul do rio Paraíba do Sul; e alcançando o domínio dos Mares de Morros e Serra do Mar, a oeste e a norte. O território alcança a sudeste o Oceano Atlântico, formando o cabo de São Tome. Como se vê na Figura 1, que representa parte do município, ao contrário do que se pensa, a morfologia de Campos não é composta apenas pelo que denominou de Baixada Campista. Metade do seu território é constituída por colinas onduladas, que ganham altitudes médias nas faixas mais movimentadas, e alcançam serras de até 800 metros de altitude (RAMALHO, 2005). Dessa maneira, utilizando-se das teorias Construtivistas e método da Escola da Ponte, objetivou-se discutir os conteúdos de Geografia para alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental de forma integrada numa dinâmica que envolveu a construção de maquetes da área que seria observada in loco num Trabalho de Campo. O ambiente escolhido como objeto da dinâmica foi o Maciço do Itaóca, localizado a 14 km do centro da cidade, além de ter fácil acesso, nele é possível trabalhar diferentes conteúdos geográficos, como: clima, vegetação, geologia, integrando os aspectos físicos e sociais do Espaço Geográfico.
Material e métodos
Esta pesquisa foi realizada com os alunos do Colégio Santos Dumont, com sede no município de Campos dos Goytacazes, que se diferencia de outros da rede privada de ensino por sua preocupação em dar autonomia aos seus alunos, na intensão de formar cidadãos mais críticos e ativos, para os desafios do século XXI. O colégio aderiu em 2015 ao modelo, desenvolvido pelo professor José Pacheco, denominado Escola da Ponte. Vasconcelos (2006) diz que o método surgiu na década de 1970 com o desejo de se estabelecer uma escola que respeitasse as diferenças individuais dos alunos. Dessa forma, algumas interrogações deram origem a mudanças na organização escolar, na relação com os trabalhadores da educação e com seus alunos cursistas. O projeto visou à elaboração de maquetes escolares para o estudo dos conteúdos geográficos junto aos alunos do Ensino Fundamental II do 4° bimestre, a partir do Maciço do Itaóca. Para isso, os alunos foram divididos em grupos para a confecção da maquete e a atividade em quatro momentos: 1° - Pré Campo: divisão dos alunos em grupos, aula informativa sobre o maciço do Itaóca e seu entorno, e distribuição da lista de materiais para a confecção da maquete; 2° - Aula de Campo: ida ao Morro do Itaóca, para observação e analise da paisagem; 3° - Pós Campo: confecção da maquete do morro Itaóca, com base em carta topográfica, informações trazidas da aula de campo e de pesquisas realizadas pelos alunos; 4° - Culminância: apresentação e discussão dos grupos, sobre cada tema trabalhado. Observa-se, ainda, que cada grupo foi composto por alunos de diferentes séries do Ensino Fundamental e tinham um conteúdo especifico para discussão e apresentação, além de um professor responsável por orientá-los. Os temas trabalhados pelos grupos foram: clima, geomorfologia, cobertura vegetal e uso da terra. Além disso, todas as maquetes deveriam representar os elementos: rio Paraíba do Sul, Maciço do Itaoca, Tabuleiro e Planície, rio Ururaí, lagoa de Cima e Rodovia BR 101, que são elementos observáveis no ponto final do Trabalho de Campo. Para avaliar a atividade foram aplicados dois questionários aos alunos, antes da aula de campo e depois da elaboração da maquete. O objetivo dos questionários foi diagnosticar o conhecimento prévio dos alunos sobre os temas trabalhados no projeto, e se houve evolução nas respostas após o trabalho de campo e da construção da maquete.
Resultado e discussão
O projeto foi apresentado aos alunos como processo avaliativo para a disciplina Geográfica do 4º bimestre letivo, o que garantiu a atenção dos alunos e da coordenação da escola.
Na Aula de campo, os alunos já foram orientados a observar características que os ajudariam na elaboração da maquete. A subida foi realizada a pé por todos, para se conseguir observar as características da fauna e da flora, alterações na temperatura do ar em função da mudança de altitude e características do uso da terra. No topo do morro, os alunos tiveram uma visão ampliada do município.
Após a aula de campo, ocorreram encontros entre os alunos e professores para elaborarem-se as maquetes de acordo com o tema proposto. Cada grupo levou o material necessário para sua construção, pois todos os materiais solicitados foram de baixo custo, sendo a atividade viável pelo baixo custo e aplicabilidade.
Para elaborar a maquete, os alunos pesquisaram o tema atribuído a seu grupo e interagiram com os outros, trocando experiências e se orientando com os professores. Na última etapa do projeto, cada grupo elaborou uma apresentação, na forma de seminário, que foi apresentado utilizando o recurso do software Power point, e a maquete elaborada. Na Figura 02 observam-se a estas etapas do projeto.
Percebeu-se com os questionários aplicados que houve avanço no entendimento dos temas abordados pelos grupos, pois em mais de 50% os alunos responderam o questionário pós-teste de forma mais estruturada, quando se compara com o questionário pré-teste. Na Tabela 1 foram selecionadas temas dos questionários para compreender a evolução de cada grupo.
Os resultados obtidos na aplicação do projeto ratificam Straforini (2004), quando diz que as aulas de campo integram alunos de diferentes séries e proporcionam a troca de conhecimento entre eles. Observa-se que a maior parte dos alunos não conhecia o local, apesar de ser um maciço próximo da cidade.
Mais de 50% dos alunos já tinham experiência com aulas de campo, pois eles participaram de outros momentos como esse na escola. Todos os alunos consideraram que o uso da maquete potencializou o Ensino de Geografia Física e que dinamizou o processo de ensino aprendizagem.
Mapa do relevo onde o Maciço do Itaóca está inserido
Registro das etapas do projeto
Resultados dos questionários
Considerações Finais
Conclui-se que o uso de maquete em Trabalhos de Campo é um recurso metodológico importante no Ensino de Geografia, pois potencializa o processo de ensino aprendizagem, possibilitando que os alunos construam seu próprio conhecimento. Além disso, tornou a aula mais atrativa, fazendo com que eles tenham maior interesse em discutir os temas propostos e possibilitando uma relação inovadora entre o professor e seus alunos.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer ao Instituto Federal Fluminense e ao Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação; Ao Conselho Nacional de Pesquisas – CNPq; Ao laboratório Sala Verde IFF Campos, por se um espaço em que proporcionou discussões e crescimento a respeito deste projeto; Ao Colégio Santos Dumont, por acreditar no projeto e possibilitar a aplicabilidade do mesmo.
Referências
CASTELLAR, S. (Org). Educação Geográfica: Teorias e práticas docentes. SP, Contexto, 2005, p.38-49.
CAVALCANTI, L. S. A Geografia e a Realidade escolar contemporânea: Avanços, caminhos, alternativos. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em movimento – Perspectivas atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010.
CORDEIRO. J. M. P; OLIVEIRA. A. G de. A aula de campo em Geografia e suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem na escola. Revista Geografia (Londrina), v. 20, n. 2, p. 099-114, maio/ago. 2011.
GOUVÊA, E. R de.; GOMES, R. M. R.; MIRO, J. M. R. O uso de maquetes como instrumento didático em Geografia junto a deficientes visuais. VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, Vitória/ES, 2014.
RAMALHO, R. S. Diagnóstico do meio físico como contribuição ao planejamento do uso da terra do Município de Campos dos Goytacazes. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Campos dos Goytacazes-RJ, 2005.
SIMIELLI, M. H. et al. Do Plano Tridimensional: a maquete como Recurso Didático. In: Boletim Paulista de Geografia, n.70, 2º Semestre – São Paulo: AGB, AGB, 1991.
STRAFORINI, R. Ensinar Geografia: O desafio da totalidade mundo nas séries iniciais. São Paulo, Annablume, 2004, p. 64-73.
VASCONCELLOS, C. S. Reflexões sobre a Escola da Ponte. Revista de Educação AEC n. 141 out./dez.2006.