Autores

da Rosa, E.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) ; Nascimento, G.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA)

Resumo

A Geografia cada vez mais assume um papel de destaque na formação escolar, sendo esta, muitas vezes, o elo entre o que o aluno vivência no seu cotidiano e o que este aprende dentro da sala de aula. Diante deste panorama, a formação de um grande arcabouço de conhecimento e conceitos em sala de aula é essencial, mas tão importante quanto, é encontrar formas de torná-los acessíveis e instigantes. O presente trabalho apresenta os resultados obtidos a da proposição de uma oficina educativa para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Zenir Aita e a Escola Estadual de 1° Grau Professora Celina de Moraes, ambas da rede pública do município de Santa Maria/RS, que teve como objetivo a utilização de uma maquete elaborada na escala 1:900.000, com os compartimentos geomorfológicos do estado do Rio Grande do Sul e assim,contribuir para a percepção e compreensão dos alunos sobre as formas de relevo desse estado.

Palavras chaves

Geografia; Maquete; Geomorfologia

Introdução

No decorrer dos tempos muitas mudanças vêm ocorrendo em nossa sociedade, tanto tecnológicas como educacionais. Sendo assim, faz-se necessário refletir sobre o processo educativo e a importância que a Geografia tem na formação escolar. Tornar as aulas acessíveis e instigantes, voltadas a realidade dos alunos, com materiais didáticos que sejam alternativas aos livros didáticos e complementares à aula expositiva, desperta maior interesse e compreensão por parte dos alunos. Dessa forma, fazer uso de recursos visuais tais como fotografias, mapas, imagens de satélites, maquetes, entre outros, são ferramentas indispensáveis para o ensino da Geografia. Alfabetizar cartograficamente não consiste em desmistificar as noções de representação do mundo através de imagens ou mapas e sim construir noções através de propostas concretas, tais como oficinas, que permitam uma interpretação espontânea dos sinais gráficos, os quais representam um mapa e a organização dessas representações de maneira coerente, dentro de uma perspectiva do ponto de vista de cada mapeador (CASTROGIOVANNI, 2007). Quanto ao uso da maquete Simielli (2003) salienta que o trabalho com este tipo de recurso não é simplesmente a confecção da maquete, e sim a sua utilização como instrumento para a compreensão do fenômeno ou tema estudado, pois, sendo um produto tridimensional, permitirá a possibilidade de ver as diferentes formas topográficas, as diferentes altitudes de um determinado espaço, e, consequentemente, relacionar com outras informações que também podem ser representadas ou discutidas como a erosão, desmatamento, urbanização, enchentes, movimentos de massa e tantos outros fenômenos associados às formas de relevo e à ocupação humana do espaço. Esta é uma representação, em escala reduzida, de um fenômeno arquitetônico ou natural. Comumente seu uso é requerido como recurso didático de ensino, tornando as aulas mais dinâmicas e o aprendizado mais fácil, nesse caso, favorecendo uma visualização dinâmica do relevo. O relevo compreende as diferentes formas e aspectos da superfície da crosta terrestre, ou seja, o conjunto de desnivelamentos da superfície do globo. Em topografia, o relevo é definido como a diferença de cota ou altitude existente entre um ponto e outro, porém, na geologia e na geomorfologia, é um termo descritivo, sujeito à explicação e interpretação de sua formação e de sua paisagem (GUERRA;GUERRA, 2006). Nesse sentido, a maquete além de representar o espaço geográfico, permite ao aluno a percepção do abstrato no concreto. Esses compartimentos têm diferentes processos de formação e transformação, e podem ser melhores compreendidos com o uso da maquete que foi elaborada na escala horizontal definida em 1:900.000 e escala vertical 1:20.000. Sob esta perspectiva, as escolas de aplicação da oficina de ensino foram a Escola Municipal de Ensino Fundamental Zenir Aita, localizada no Parque Antonio Reis e a Escola Estadual de 1° Grau Professora Celina de Moraes localizada no bairro Km 3, no município de Santa Maria/RS. Ambas as escolas tem como característica, uma boa recepção à projetos de extensão e ensino desenvolvidos por discentes e docentes do Laboratório de Geologia Ambiental/LAGEOLAM da Universidade Federal de Santa Maria onde são desenvolvidos projetos e estágios curriculares e extracurriculares. O relevo do Rio Grande do Sul é objeto de estudo no primeiro ciclo da educação básica e, por esse motivo, o tema foi escolhido para a abordagem com o 6° ano de ambas a escolas. O objetivo do presente trabalho é relatar os procedimentos de elaboração da maquete e relatar a percepção dos graduandos em licenciatura do curso de Geografia, diante a aplicabilidade deste recurso didático, em atividades de ensino.

Material e métodos

As primeiras atividades desenvolvidas corresponderam ao levantamento bibliográfico de estudos geomorfológicos do Rio Grande do Sul para que pudessem fundamentar o uso de novos recursos no ensino da Geografia e a importância desses recursos, em especial a maquete. A maquete foi baseada nas curvas de nível do RS, plotadas em folha A0. Foi realizado o cálculo da escala horizontal, em um segundo momento as curvas foram copiadas em folha de papel vegetal e posteriormente reproduzidas em placa de isopor, através de alfinete e papel carbono, fazendo o traçado da curva de modo a se produzir um pontilhado nestas. Em seguida, essas foram cortadas conforme as curvas de nível, sobrepostas considerando uma ordem crescente de altitude e, então,coladas. A próxima etapa foi o uso da massa corrida para corrigir o modelado do terreno e assim, retirar a aparência artificial desse causado pelos degraus do isopor. O Rio Grande do Sul é dividido segundo Carraro et al. (1974), em 4 províncias geomorfológicas: Escudo Sul-riograndense, Depressão Periférica, Planalto Rio Grandense e Planície Costeira. O Escudo Sul-riograndense, localizado no centro-sul do estado, é onde ocorrem as rochas mais antigas, especialmente do tipo ígneas e metamórficas, parcialmente recobertas por rochas sedimentares (CPRM, 2006). Apresenta uma paisagem predominantemente de morros arredondados e com altitudes que, em geral, não ultrapassam 300 metros. A Depressão Periférica compreende uma faixa de terras relativamente baixas, planas ou levemente onduladas, que se estende de leste a oeste, formada por rochas sedimentares da Bacia do Paraná, que formaram-se no interior do Continente Gondwana, representando uma extensa área de deposição (MILANI et al. 2007) e, também, depósitos recentes de importantes rios do Estado. O Planalto Rio-grandense é formada por rochas vulcânicas com associação, especialmente nos primeiros derrames, com rochas areníticas. A origem está relacionada à desagregação do Continente Gondwana no Jurássico-Eocretácico (ROISENBERG, A.; VIERO, 2000). Estudos petrográficos mostram uma variação no teor de sílica que permite classificar as rochas desde basaltos até riolitos. Nessa unidade de relevo se encontra as maiores altitudes do estado. A Planície Costeira está localizada na porção leste do estado do Rio Grande do Sul, apresenta formação recente na escala geológica, e constitui a mais ampla planície costeira do litoral brasileiro. Sua formação se deu a partir do final do Terciário, em sistemas de leques aluviais coalescentes que foram retrabalhados por quatro ciclos regressivos-transgressivos, correlacionáveis aos eventos glaciais do final do Cenozóico (TOMAZELLI & VILLWOCK, 2000). Apresenta baixas altitudes, com formação de restingas, lagunas e lagoas, com destaque para a Laguna dos Patos e a Lagoa Mirim. Considerando a compartimentação geomorfológica estabelecida, foram instaladas luzes de led com diferentes cores para discriminar as unidades geomorfológicas do RS. A próxima etapa foi o tingimento da serragem, utilizada para a sua cobertura, determinando-se que a cor verde escuro representaria o Planalto, o verde claro a Depressão Periférica, a Planície Litorânea representada pela cor amarela, o Escudo Sul –Riograndense, na cor marrom. A cor azul foi utilizada para tingimento dos corpos d´agua. Por fim, foi realizado o traçado dos principais rios e a indicadas as principais cidades do estado, assim como a colocação de elementos básicos de cartografia, como título, escala, orientação e legenda. Confeccionada a maquete, esta foi apresentada aos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Zenir Aita e Escola Estadual de 1° Grau Professora Celina de Moraes, em períodos normal ou inverso, considerando a particularidade de disponibilidade de horário e cronograma de atividades de cada instituição, sendo possível observar a sua aplicação no ensino da temática geomorfológica.

Resultado e discussão

Dentre as potencialidades do uso deste recurso didático está a possibilidade de expor aos alunos que os conceitos estudados nos livros didáticos existem nos espaços de vivências e que tudo está localizado sobre o relevo. Conteúdos relacionados a paisagem e elementos físicos quando trabalhados pelo professor muitas vezes são de difícil compreensão por parte dos alunos, por apresentarem conceitos prontos e abstratos. De acordo com Luz & Briski (2009), a utilização de maquetes pode permitir ao educando, fazer uma análise geográfica, interpretar o relevo, descrever suas formas, entender o porquê dessas formas, bem como a transformação no decorrer do tempo, entendendo os problemas e as dinâmicas sociais e relacionar tudo isso com a realidade. As maquetes também possibilitam a visualização do objeto a ser estudado em terceira dimensão, permitindo a introdução de diferentes dados e informações, e assim partindo do concreto pode-se chegar a um nível de abstração suficiente para a interpretação de mapas e cartas hipsométricas. Sendo assim, deve-se aliar esse recurso ao professor e ao livro didático a fim de formar cidadãos preparados para reconstruir o conhecimento; não que essa ferramenta seja capaz de garantir a sua aprendizagem, mas que desperte um interesse maior pela aula. Para isso o professor não deve esquecer que a maquete deve ser trabalhada conforme os conhecimentos de seus alunos, respeitando a sua idade para que os mesmos consigam absorver e adquirir o máximo o que está sendo proposto de forma clara e objetiva e assim, construir seus conceitos e potencialidades. Foi possível perceber que a maquete é um recurso didático eficiente, pois permitiu aos alunos da Escola Zenir Aita e Celina de Moraes visualizar o relevo do Rio Grande do Sul de maneira tridimensional (Figura 1), observar o terreno de forma mais objetiva, além de possibilitar uma discussão com relação a escalas de representação horizontal e vertical. Por ser um produto tridimensional permitiu a possibilidade de ver as diferentes formas topográficas, as diferentes altitudes de uma determinada região do estado e assim, relacionar com outras informações que também puderam ser discutidas como erosão, desmatamento, urbanização, áreas de risco e vários outros fenômenos associados a forma de relevo e a ocupação humana do espaço. A hidrografia principal também pôde ser analisada diretamente junto à maquete permitindo uma discussão mais concreta destas temáticas, desenvolvendo várias cognitivas, sendo possível discutir dados sobre bacias hidrográficas e processo de inundação. Observou-se que ao longo da explanação, utilizando a maquete, os alunos demonstraram muita curiosidade e interesse gerando vários questionamentos acerca das informações apresentadas, tanto de localização de cidades, principais rios e as diferenças de altitudes. As principais cidades foram representadas, o que permitiu identificar algumas pontos de interesse e relacionar com o relevo, como na porção denominada “Serra Gaúcha” no Planalto Rio-grandense, caracterizada pelas grandes altitudes, temperaturas amenas, por exemplo e ainda a localização da cidade de Santa Maria, onde o projeto foi aplicado, que geomorfológicamente, apresenta como característica a transição entre a área da Depressão Periférica e o Rebordo do Planalto. Além do conhecimento geomorfológico, foi possível a partir das informações contidas na maquete, despertar uma visão crítica a respeito de coisas que acontecem ao seu redor, como foi o caso do problema da derrubada das matas nas encostas, do descarte indevido de lixo, a poluição dos rios causados por defensivos agrícolas e esgoto doméstico, entre outros problemas relacionados ao aspecto físico e ambiental. A construção da maquete geomorfológica do RS e o seu uso como recurso didático, serviu como um meio ilustrativo para enriquecer e fixar o conteúdo trabalhado dentro de sala de aula, visto que, temas ambientais trabalhados apenas na teoria tem maior dificuldade de fixação. Constatou-se que a aplicação da maquete geomorfológica do Rio grande do Sul com os alunos dos 6° anos das escolas Zenir Aita e Celina de Moraes foi uma atividade instigadora e motivadora para tratar temas relacionados à Geografia, principalmente pela possibilidade de trabalhar com os alunos, amparado em um recurso concreto e palpável. Para tanto, o uso da maquete geomorfológica auxiliou na compreensão sobre os assuntos como relevo, cartografia e hidrografia. Sendo assim, pode-se destacar as maquetes como importantes recursos para a explicação de certos fenômenos que estão presentes no espaço geográfico e que quando estudados apenas em mapas ou discutidos nas aulas de Geografia, tornam-se de difícil compreensão.

Maquete Final

O uso da maquete em sala de aula como recurso didático.


Maquete Final


Maquete final com detalhes das luzes de led

Considerações Finais

Durante a execução do projeto e desenvolvimento das oficinas da maquete geomorfológica do RS, os alunos do 6° ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Zenir Aita e Celina de Moraes sentiram-se mais instigados e motivados a trabalhar com os temas relacionados a Geografia, tais como: relevo, cartografia e hidrografia, isso pode ser percebido através dos questionamentos no momento da apresentação da maquete e também pelos bons resultados obtidos na prova sobre o assunto. Nesse sentido, pode-se concluir que as maquetes são colaboradoras e indispensáveis para a explicação de certos fenômenos de difícil compreensão presentes no espaço geográfico quando estudados apenas na teoria, proporcionando um melhor entendimento dos alunos ao tema que está sendo representado. Não obstante, salienta-se que pensar novas práticas de ensino para as aulas de Geografia, não constitui tarefa fácil para o professor, e que isto pode ser facilitado pela aproximação entre instituições de ensino superior e ensino básico, resultando em saltos qualitativos para os professores da rede pública, educandos e ainda graduandos que possam a ser inseridos em práticas pedagógicas.

Agradecimentos

Trabalho desenvolvido com apoio financeiro de projetos PROLICEN/UFSM, FAPERGS e CNPq.

Referências

CARRARO, C. C. Mapa Geomorfológico do Estado do Rio Grande do Sul. FAPERGS – UFRGS/Instituto de Geociências, 1:1.000.000, 1974.

CASTROGIOVANNI, A. C.; COSTELLA, R. Brincar e Cartografar com os diferentes mundos geográficos: a alfabetização espacial. Porto Alegre; EDIPUCRS, 2007.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS – CPRM. Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: CPRM, 2006. Escala: 1:750.000.

GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2006.

LUZ, R. M. D.; BRISKI, S. J. Aplicação didática para o ensino da Geografia Física através da construção e utilização de maquetes interativas. 10º ENPEG – Porto Alegre/RS. 30 de agosto a 02 de setembro 2009.

MILANI, E.J.; MELO, J. H. G.; SOUZA, P.A.; FERNANDES, L.A.; FRANÇA, A.B. Bacia do Paraná. B. Geoci. Petrobrás, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 265-287, maio/nov., 2007.

ROISENBERG, A.; VIERO, A. P. O vulcanismo mesozoico da Bacia do Paraná no Rio Grande do Sul. In: HOLZ, M.; DE ROS, L. F. (Ed.) Geologia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000. p. 355-374.

SIMIELLI, M. E. Do Plano ao Tridimensional: a maquete como recurso didático. Separata do Boletim Paulista de Geografia. AGB – SP, n° 70. 2003.

TOMAZELLI, L. J. & VILLWOCK,J. A. O Cenozóico do Rio Grande do Sul: Geologia da Planície Costeira. In:HOLZ, M. & DE ROS, L.F. (Ed). Geologia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, CIGO/UFRGS. P.375-406.