Autores

Cosme da Silveira de Paula, W. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Andrade Lemos, J. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Ferreira de Oliveira, E. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO) ; Alves de Souza, C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO)

Resumo

A bacia do Alto Paraguai abrange parte do Mato grosso e Mato Grosso do sul, o canal principal da bacia é o rio Paraguai, considerado um dos rios mais importantes do Brasil, e seu corredor fluvial possui grandes áreas de planícies alagáveis. O objetivo do presente estudo foi avaliar as variáveis hidrodinâmicas no período de cheia nos anos 2014 e 2015 na baía Carne Seca em Cáceres - Mato Grosso. Os trabalhos a campo foram realizados no período chuvoso sendo escolhidas cinco seções transversais para verificar a hidrodinâmica. A velocidade foi obtida com auxilio de um molinete fluviométrico; a profundidade e a largura com sonar GARMIN 527xs. A vazão variou de 543,91 a 1.616,68 m³/s no rio Paraguai e na baía a variou de 15,03 a 143,62 m³/s. Os maiores valores de vazão foram encontrados no ano de 2014 exceto a seção 1. A metodologia empregada mostrou-se satisfatória para a aquisição dos dados necessários a pesquisa.

Palavras chaves

Rio Paraguai; Vazão; Cheia

Introdução

A extensão da bacia do Alto Paraguai é de 396.000km² abrangendo parte do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Seus limites a norte são a Chapada dos Parecis e Serra de Cuiabá, ao sul, pelo rio Apa, a leste, pelas serras da Bodoquena, Maracaju e São Domingues e, a oeste, pelas Repúblicas do Paraguai e Bolívia (BRASIL, 1997). Rio é um amplo corpo de água em movimento, confinado em um canal (CUNHA, 2010). Souza (2004) afirma que o rio Paraguai é um dos rios mais importantes do Brasil e seus afluentes percorrem vastas áreas de planícies e pantanais mato-grossenses contribuindo para a manutenção das características locais, pode ser considerado com uma imensa bacia de receptação de águas e sedimentos. Para Souza (2004) o padrão de drenagem na área de estudo é meandrante e para Chistofoletti (1980) os canais meândricos possuem curvas sinuosas, largas, harmoniosas e semelhantes entre si, devido ao trabalho de escavação na margem côncava e de deposição na margem convexa. Baía são áreas deprimidas que contém água, descrevendo formas circulares, semicirculares ou irregulares (SOUZA; LEANDRO; SOUZA, 2014). Alguns estudos contribuíram para mostrar o comportamento morfológico e sedimentológico ao longo do corredor fluvial do rio Paraguai. Como os trabalhos desenvolvidos por Silva (2010), Silva (2012), Justiniano (2010), Silva et al. (2014), Leandro (2015). Porém nessa área especifica, não possui trabalhos anteriores sobre a temática, tornando relevante a realização de estudos sobre uso das margens e as variáveis hidrodinâmicas. A baía Carne Seca situa-se no rio Paraguai, na sua margem esquerda ocorre expansão urbana (bairro Jardim Paraíso) da cidade de Cáceres. Também verifica fluxo intenso de embarcações, bem como, a presença de moradores que utilizam as imediações para pesca e recreação. O estudo gerou resultados sobre as variáveis hidrodinâmicas, tornando assim, um instrumento importante para subsidiar medidas de uso e gestão. Conforme o exposto acima o presente estudo tem por finalidade avaliar as variáveis hidrodinâmicas na baía Carne Seca no município de Cáceres Mato Grosso, entre os períodos de Cheias nos anos 2014 e 2015.

Material e métodos

Área de estudos A área de estudos corresponde a uma baía localizada na margem esquerda do rio Paraguai na área de expansão urbana da cidade de Cáceres - Mato Grosso, nas proximidades do bairro Jardim Paraíso, situando-se entre as coordenadas geográficas 16º04’37” a 16º 05’20” S e 57º42’22” a 57º42’ 19” O. Foram determinadas cinco seções transversais o levantamento das variáveis hidrodinâmicas. A seção 1 localiza-se a montante da entrada da baía, a seção 2 na entrada da baía, a seção 3 no meio da baía, seção 4 na saída da baía, e na seção 5 saída da área de estudos (Conforme a Figura 1). Procedimentos metodológicos Trabalho de gabinete O trabalho de gabinete consistiu em levantamento bibliográfico e determinação da área de estudo, bem como mensuração da largura do canal e calculadas as áreas da seção e vazão. A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes ao tema (MARCONI e LAKATOS, 2003). Cunha (2009) afirma que a velocidade é medida em m/s e se trata da relação entre uma distância percorrida e o percurso do tempo (V= D/T). A área da seção é obtida através do cálculo (A=L x P) onde A é a área da seção, L a largura e P profundidade média. A descarga é o volume de água que alcança determinado ponto do canal, num período de tempo, é medida em m³/s usando a equação Q=A.V onde A é área da seção e V velocidade média. Elaboração do mapa de localização O mapa foi elaborado com uso do software ArcGis, versão 10.1 com imagem de satélite RapidEye disponibilizadas gratuitamente no catálogo de imagens do Ministério do Meio do meio ambiente com resolução espacial de 5m. Trabalho de campo Os trabalhos de campo foram realizados nos períodos de cheia, em dois anos (2014 e 2015). Para o levantamento dos dados referentes à velocidade utilizou-se molinete fluviométrico (MLN-7) em que a velocidade do fluxo é mensurada em três diferentes profundidades 20%, 50% e 80% respeitando o comprimento da haste do molinete. O procedimento é efetuado nas margens e centro do canal de cada seção, posteriormente é feito a média para obter a velocidade média da seção. Para obtenção das coordenadas geográficas utilizou-se o GPS (GARMIN GPSMAPº 64); a profundidade e largura foram levantadas através do sonar GARMIN 527xs.

Resultado e discussão

A origem da baía está associada ao rompimento do colo do meandro, que possibilitou o surgimento de uma ilha fluvial. Neste trecho a margem esquerda é ocupada por residências, (bairro Jardim Paraíso). Nesse local é realizada atividade mineradora de extração de areia no leito. A dragagem é feita no centro do canal, com uma bomba de pressão que conduz a areia e água através de canos para margem do rio, geralmente esses canos são furados, perdendo sedimentos no leito. Outras atividades também são realizadas nesse trecho, tais como: uma marina, que aluga barcos para turismo e pesca além da captação de água para abastecimento de um frigorífico (Figura 1). A dragagem por subducção é realizada em dois pontos, o primeiro realizado a montante da área de estudos no rio Paraguai e a segunda draga localiza-se ao lado da saída da baía. Na entrada da baía (seção 1) o local é usado por banhistas de diversas faixas etárias, a pesca de barranco é realizada nas proximidades do local, mesmo com tubulações de despejo de dejetos in natura a montante no rio Paraguai. A pesca é realizada ao longo de toda a área. Além da dragagem na área de estudos está inserido um estaleiro de manutenção de embarcações localizado na desembocadura da baía (seção 4) à margem esquerda. O grande fluxo de embarcações modificam as variáveis, pois interrompem o fluxo da água. A seção 1 Encontra-se nas coordenadas geográficas 16º 04’ 04’’ S e 57º 02’ 19.7’’ W, a montante da área é efetuado dragagem, a vegetação da margem esquerda está degradada, no entanto a margem oposta encontra-se com a vegetação preservada, nas proximidades da seção é jogado dejetos in natura, e devido à proximidade com a área urbana o fluxo de embarcações é constante. Em 2014 a profundidade média na seção1 foi de 4,60 m, com largura de 220,90 m, a área da seção calculada foi de 1.016,14 m², a velocidade medida foi de 1,43 m/s e a vazão 1.453,08 m³/s. Em 2015 registrou-se 3,56 m de profundidade, com largura registrada de 218,33 m, a área da seção calculada foi de 777,25 m², a velocidade mensurada foi de 2,08 m/s e o resultado da vazão ficou em 1.616,68 m³/s. Estes dados são demonstrados na tabela 1. A segunda seção corresponde à entrada da baía Carne Seca, a população utiliza o local para banhar, pescar no barranco e a para navegação. O levantamento das variáveis demonstrou que a profundidade media da calha foi 2,30 m e largura foi de 55,61 m, a área da seção foi de 127,90 m² com velocidade de 0,34 m/s, a vazão foi de 43,48 m³/s (Tabela 1) Em 2015 registrou-se a profundidade de 0,80 m e a largura 49,31 m, área da seção de 39,44 m², com velocidade de 0,57 m/s e a vazão de 22.48 m³/s (Tabela 1). Nas proximidades da terceira seção há residências e a população realiza pesca de barranco. Em 2014 constatou-se profundidade media de 2,50 m diminuindo para 1,40 m em 2015 (Tabela 1). Verificou-se que houve a diminuição da largura que em 2014 era 23,27 m e 18,84 m em 2015, diminuindo também a área da margem plena de 58,17 m² para 18,84 m² para os mesmo anos (Tabela 1). Quanto à velocidade do fluxo não houve variação significante 0,61 m/s em 2014 e 0,57 m/s em 2015 (Tabela 1). Porém observou a redução da vazão sendo 35,48 m³/s (2014) reduzindo para 15,03 m³/s em 2015 (Tabela 1). A quarta seção corresponde à saída da baía, na margem esquerda localiza-se um estaleiro de manutenção de embarcações, o grande número de barcos atracados impede o fluxo de embarcações para montante pela baía e ainda a tubulação da segunda draga fecha a entrada da seção. Em 2014 profundidade do canal foi de 3,30 m, que possuía 77,72 m de largura (Tabela 1); a área da seção foi de 256,47 m², a velocidade do fluxo foi de 0,56 m/s, a vazão registrada foi de 143,62 m³/s. Em 2015 a profundidade diminuiu para 2,30 m, a largura para 76,18 m, a área da seção foi de 175,09 m². Registrou-se a velocidade de 0,15 m/s e a vazão 26,26 m³/s. A quinta seção encontra-se no rio Paraguai na curva do meandro. O fluxo de embarcações é constante, a pesca é praticada no barranco, dejetos in natura são despejados diretamente no canal. Em 2014 a profundidade do canal era 5,40 m aumentando para 5,76 m em 2015 conforme tabela 1. A velocidade foi de 0,76 m/s e a vazão com 657,90 m³/s em 2014. Em 2015 a profundidade registrada foi de 5,76 m, a largura com 162,81 m, a área da seção calculada foi de 937,78 m², a velocidade foi de 0,58 m/s e a vazão registrada de 543,91 m³/s (Tabela 1). No período de cheia do ano de 2014 registrou-se os maiores valores de vazão exceto na seção 1. O baixo valor de vazão registrado na seção 5 pode ser explicado devido aos resultados das velocidades nas seções 4 e 5. A profundidade do canal diminuiu no ano de 2015, que explica a diminuição das vazões nas seções. A área de estudos registrou maiores valores de vazão em comparação com o estudo de Silva et al. (2014), isso pode ser explicado devido a atuação humana através do processo de dragagem que aumenta a profundidade do canal e consequentemente a área da seção, diminuindo a rugosidade do fundo do leito e aumentando a velocidade. O aumento da velocidade está associado a retirada da cobertura vegetal que potencializa o efeito erosivo e provoca erosão marginal aumentando a largura do canal.

Tabela1: Variáveis hidrodinâmicas

Variáveis hidrodinâmicas da área de estudos abrangendo o rio e a baía Carne Seca em Cáceres - Mato Grosso, nos períodos de cheias, dos anos de 2014/5.

Figura 1: Mapa de localização

Baía Carne Seca Sudoeste do estado de Mato Grosso – Brasil.

Considerações Finais

Ao longo da área de estudos foram evidenciados diversos tipos de uso, a margem esquerda possui casas, tablados, ancoradores, dragas, lançamento de dejetos in natura e pesca de barranco. O fluxo de embarcações é constante pela posição geográfica da baía, bem como pelo estaleiro de manutenção de embarcações. As variáveis oscilaram em todas as seções e, os resultados demonstraram que a seção 1 possui a maior vazão variando de 1.453,08 m³/s em 2014 e 1.616,68 m³/s em 2015 no rio Paraguai. Os dados demonstraram a diminuição da vazão a jusante com 657,90 m³/s em 2014 e 543,91 m³/s na seção 5 situada no Paraguai.

Agradecimentos

Referências

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ed. São Paulo: Editora Blucher, 1980.
CUNHA, S. B. Canais Fluviais e a Questão Ambiental. In: Cunha, S.B; Guerra, A. J. T. A Questão Ambiental Diferentes Abordagens. 6º.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
CUNHA, S. B. da. Geomorfologia Fluvial. In: GUERRA. A. J. T.; CUNHA, S. B. da. (Org). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Editora Bertrand do Brasil, 2009, p. 211-252.
GARCEZ, L. N; ALVAREZ, G.A. Hidrologia. 2ºed. São Paulo: Edgard Blucher, 1988.
JUSTILIANO, L. A. A. Dinâmica Fluvial do Rio Paraguai Entre a Foz do Sepotuba e do Cabaçal. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres, 2010.
LEANDRO, G. R. S. Dinâmica Ambiental e Hidrossedimentológica no Rio Paraguai Entre a Volta do Angical e a Cidade de Cáceres – MT. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro 2015.
Ministério do Meio Ambiente. Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai –PCBAP- Volume II Tomo I Diagnóstico dos Meios Físicos e Bióticos Meio Físico. Brasília, 1997.
Pesquisa In: Fundamentos da Metodologia Científica. (org) Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos: 5ºed. São Paulo: Atlas S.A, 2003.
SILVA, A. Geomorfologia do Megaleque do rio Paraguai, Quaternário do Pantanal Mato-Grossense, Centro-Oeste do Brasil. Tese (Doutorado em Geociências e Meio Ambiente) Instituto de Geociências e Ciências Exatas do campos de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Rio Claro, 2010.
SILVA, V.N. et al. Caracterização Morfológica e Sedimentológica do Rio Paraguai, no segmento entre a foz do córrego Jacobina a foz da baía dos Pestiados, Cáceres – Mato Grosso, Brasil. Edição Especial 4, V.10, N.1, p.212-216, 2014.
SILVA. E. S. F. Dinâmica Fluvial do Rio Paraguai no Segmento Entre o Furado do Touro e Passagem Velha, Pantanal de Cáceres – Mato Grosso. 2012. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres, 2012.
SOUZA, C.A. Dinâmica do Corredor Fluvial do Rio Paraguai Entre a Cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã-MT. 2004. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
SOUZA, C.A; LEANDRO, G.R.S; SOUZA, J.B. Migração Lateral do Canal do Rio Paraguai entre a Cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã – Mato Grosso. Vol. 16, No31(2014).
WALKER, J. The application of Geomorphology to the management of river-bank erosion. Journal of Chartered Institution of Water and Environmental Management, v. 13, n. 4, p. 297- 300, 1999.