Autores

Souza, I.C. (UNEMAT) ; Souza, C.A. (UNEMAT) ; Sodré, F.S.S. (UNEMAT) ; Santos, M. (UNEMAT)

Resumo

A pesquisa foi desenvolvida na bacia hidrográfica do córrego Salobra, inserida no município de Porto Estrela, MT. Objetivou avaliar a erosão acumulada e magnitude da erosão. Os procedimentos metodológicos iniciaram com revisão bibliográfica, delimitação da área da bacia e trabalho de campo. Para verificar da erosão acumulada e magnitude da erosão recorreu-se a técnica de pinos e estacas. Os resultados mostraram que a maior erosão acumulada e magnitude da erosão ocorreram no segmento III. Nas seções I, III, V ocorreu sedimentação na base de alguns pinos. Nas seções II, IV e VI os pinos foram removidos devido à dinâmica fluvial atuante. Os dados mostraram susceptibilidade a erosão devido à composição granulométrica das margens somadas a outros fatores

Palavras chaves

Bacia hidrográfica; Erosão marginal; Processos erosivos

Introdução

Bacia hidrográfica é uma área delimitada pelo relevo na qual a água se movimenta das áreas altas para as baixas. Os canais de drenagem estão instalados nas áreas baixas e funcionam como vias de concentração e transporte dos sedimentos produzidos na área drenada pelo rio principal e seus afluentes (QUEIROZ, 2011). A contínua variação do nível do rio é considerada como um dos fatores mais importantes na erosão marginal, pois controla a atuação das forças de origem fluvial sobre os materiais das margens que são representadas pelas ondas e correntes (FERNANDEZ, 1990). Os estudos da dinâmica fluvial são extremamente importantes para o entendimento do tipo de canal, velocidade, vazão, largura, profundidade, erosão transporte e deposição. A dinâmica fluvial é considerada como sendo a remoção, transporte e deposição das partículas envolvidas em toda a rede de drenagem e incide, diretamente, no equilíbrio do sistema fluvial. Quando acontecem distúrbios no sistema, o canal vai se ajustando e reajustando até encontrar um novo equilíbrio (CHRISTOFOLETTI, 1977). Dentre as principais formas de erosão hídrica, pode-se destacar a erosão pelo impacto da chuva, a erosão laminar, a erosão em sulcos e voçorocas, erosão em queda, erosão subterrânea e a erosão que ocorre ao longo do leito e das margens dos rios e canais (BRANCO,1998). Para Silva (2007), o assoreamento é causado, principalmente, por processos erosivos na bacia hidrográfica, acelerados pela interferência antrópica, sobretudo, pela prática intensiva agropecuária. Justiniano (2010) descreve que a estabilidade da margem está diretamente ligada as suas propriedades físicas que a mantém resistente à erosão. Além dessas propriedades, outros fatores influenciam na variação da erosão fluvial, tais como: a ausência de mata ciliar, a característica e uso da margem e, principalmente, a força hidráulica no período das cheias. Neste contexto, realizou-se estudo na bacia hidrográfica do córrego Salobra inserida no município de Porto Estrela, MT. A presente pesquisa objetivou avaliar erosão acumulada e magnitude da erosão, na bacia hidrográfica do córrego Salobra, afluente da margem esquerda do rio Paraguai.

Material e métodos

Área de estudo A bacia do córrego Salobra localiza-se no município de Porto Estrela, região Sudoeste do Estado de Mato Grosso. A área de estudo encontra-se entre as coordenadas geográficas 15º 20’ 00” a 15º 50’ 00” de latitude Sul e 57º 02’ 00” e 57º 20’ 00” de longitude Oeste. 2.2. Procedimentos Metodológicos Para levantamento da largura e profundidade dos locais foi utilizado sonar Garmin GPSMAP 420S. Utilizou-se para levantamento da velocidade do fluxo com uso do molinete hidrométrico. Para calcular a área na seção transversal no nível de margens plenas e área da seção molhada foi adotada a fórmula: A = L x P (CUNHA, 2009). Para obter o cálculo da vazão utilizou-se a seguinte fórmula: Q = V x A (CUNHA, 2009). Para monitorar e avaliar a dinâmica dos processos erosivos nas margens do córrego Salobra foi fixado pinos de ferro e estacas de madeira. Este método foi amplamente revisado e utilizado pelos pesquisadores Cunha (1996), Souza (1998), Souza e Cunha (2007), Silva (2009), Justiniano (2010), Santos (2012), Bindandi (2014) entre outros. Pinos de ferro Os pinos eram de aço com 30 cm de comprimento. Foram introduzidos na margem e deixados expostos 10 cm para auxiliar na quantificação conforme a estabilidade ou o aumento da exposição dos pinos. Para obter a magnitude da erosão foi usada a fórmula de Hooke (1980), adaptada por Fernandez (1995), sendo: Em= (Lı – Lо) /t Onde: Em = Magnitude da erosão calculada em cm/dia ou cm/mês; Ll = Comprimento do pino exposto pelo processo erosivo; L0 = Comprimento exposto inicialmente (10 cm); t = Tempo transcorrido entre cada monitoramento (dias ou meses). Conforme a altura da margem foram fixados de um a quatro pinos na posição horizontal, a partir do topo até o nível da água em intervalos de aproximadamente 50 cm a 1m. Os pinos foram fixados em coluna no sentido vertical das margens côncavas, onde os processos erosivos são mais intensos e pela maior facilidade na execução dos trabalhos. Estacas de madeira Foram utilizadas estacas de madeira para garantir o controle de erosão, no caso de ocorrência de perda dos pinos. Em cada seção foi fixada uma estaca com 30 cm de comprimento, afastadas 2 metros da margem do canal. Ficando expostos 10 cm servindo de suporte nas aferições da erosão marginal após o período de dez meses. As estacas foram fixadas conforme proposto por Hugues (1977), inseridas em pontos estratégicos, de forma que não fossem removidas por desmoronamentos e moradores locais.

Resultado e discussão

A bacia hidrográfica do córrego Salobra possui área de 779,18 km², está classificada em sua grandeza como “média”. Hierarquicamente está classificado como canal de quarta ordem, apresentado densidade de drenagem de 0,21 km/km² e a densidade de rios é 0,084 canais /km2. Os principais afluentes são os córregos Três Corações, Camarinha, Salobinha, Marajora, Macacos e Fundo. De acordo com Villela e Mattos (1975), a densidade de drenagem em uma bacia hidrográfica de baixa grandeza fica abaixo de 3,5 km/km² (Figura 1). A rede de drenagem no alto curso é influenciada pelo controle estrutural da Província Serrana, seu curso está encaixado entre os vales formados por sinclinais e anticlinais, constituindo uma rede de drenagem mais retilínea, devido ao conjunto de serras nessa unidade. No médio curso a rede de drenagem apresenta-se de forma meandrante divagante, a medida que córrego se direciona para a confluência com o rio Paraguai. O estudo permitiu a obtenção de dados sobre vazão, batimetria, erosão acumulada ao longo do perfil longitudinal em seis seções. Seção I A primeira seção encontra-se na Estação Ecológica Serra das Araras. O canal apresenta baixa sinuosidade, tendo seu leito encaixado e calha em forma de “U”, devido ao controle estrutural da Província Serrana. A calha principal (talvegue) apresenta de forma irregular com afloramento rochoso (arenito) no sentido transversal do canal, formando soleiras, ou seja, barramentos naturais dificultando a vazão da água, fazendo com que o canal apresente diferenças na largura e profundidade na calha formando baciamentos. A sessão I encontra-se no alto curso, apresentando profundidade média de 30 cm; velocidade do fluxo 0,01 m/s e vazão 0,03 m3/s. A erosão acumulada variou de 3 a 5,5 cm, a magnitude da erosão variou de 0,30 a 0,55 cm/mês Santos (2012) trabalhou a bacia do córrego Cachoeirinha, vizinha do córrego Salobra, os valores encontrados foram superiores, no alto curso do córrego Cachoeirinha a velocidade do fluxo foi 0,04 m/s e a vazão registrou 0,015 m3/s. Silva (2009) encontrou valores superiores a encontrada no Salobra, o córrego das Pitas apresentou erosão acumulada de 3 a 14 cm e a magnitude da erosão variou de 0,44 a 0,88 cm/mês. Dias (2012) verificou a erosão marginal e acumulo da erosão no rio Guabiroba- SP, os índices da erosão acumulada variaram ente 4,60 a 45,00 cm. A segunda seção encontra-se no alto curso da bacia, no sítio Carnauba, próximo à comunidade Salobra Grande. O leito caracteriza-se em formato de “U”. Os dados batimétricos apresentaram 14,80 m de largura, a margem plena mediu 21,50 m, a base da margem 16 m. A altura da margem esquerda atingiu 9,30 m de altura caracterizando uma margem íngreme e base da margem rampeada. Apresenta 34 cm profundidade, 0,01m/s de velocidade e 0,09 m2/s de vazão. A baixa velocidade do fluxo pode ser explicado pelo alargamento do canal e formação de bancos de sedimentos grosseiros. A erosão acumulada, a erosão nessa seção atingiu cerca de 31 cm. A seção III encontra-se, na fazenda Marajoara, médio curso do córrego Salobra, o canal fluvial é meandrante. O córrego possui 7 m de largura. A altura dos barrancos apresentaram 1,90 m na margem direita e 2,75 m. A profundidade média atingiu 25 cm, apresentando a velocidade do fluxo foi de 0,28 m/s e a vazão 0,49 m³/s. A erosão acumulada na margem esquerda variou de 3,30 a 9 cm e a magnitude da erosão variou de 0,33 a 0,9 cm/mês. Justiniano (2010) acrescenta que a erosão causa danos econômicos, sociais e ambientais, uma vez, que há perda de terras e, por sua vez, o material erodido promove o assoreamento e colabora para a formação de bancos de sedimentos. A seção IV encontra-se no médio curso da bacia, o canal apresenta-se meandrante divagante e ocorre estreitamento e aprofundamento da calha, apresentando 5,76 m de largura e 60 cm de profundidade média, a altura do barranco na margem direita atingiu 1.60 m, e margem esquerda 41 cm. A velocidade da água foi de 0,32 m/s, e a vazão 1.10 m³/s, não foi possível verificar a erosão acumulada. A quinta seção encontra-se na ponte da estrada de acesso à comunidade Boi Morto. O canal caracteriza-se meandrante divagante, o fundo do leito é revestido por rochas areníticas formando soleiras. A largura do canal atingiu 13,05 m, a profundidade media 73 cm, apresentando velocidade do fluxo de 0,21 m/s e vazão 1,99 m³/s. A altura do barranco na margem direita registrou 6,30 m sendo totalmente rampeada, a margem esquerda se apresenta de forma íngreme na margem plena 2.30 m e rampeada na base 3,10 m. A vegetação ciliar encontra-se descaracterizada predominando as pastagens no entorno. A erosão acumulada na margem direita côncava variou de 2,00 a 4,40 cm e a magnitude da erosão de 0,20 a 0,44 cm/mês. A sexta seção encontra-se próximo a confluência do córrego e o rio Paraguai, aproximadamente 3 km a jusante da cidade de Porto Estrela. Nesta seção, a largura do canal apresentou 7,83 m, e profundidade média 1,04 m, a velocidade da água atingiu 0,57 m/s e a vazão 1,73 m³/s. Não foi possível verificar a erosão acumulada a estaca e os pinos não foram encontrados.

Figura 01

Localização da bacia hidrográfica do córrego Salobra, município de Porto Estrela, MT. (Fonte: Souza, 2015).

Figura 02

Imagem de satélite com a localização dos pontos onde foram instaladas as estacas, os pinos (Fonte: Google Earth, 2016).

Figura 03

Pinos de ferro para monitor a erosão marginal do córrego Salobra. (Fonte: Souza, 2015).

Considerações Finais

Os dados mostraram que na seção I a erosão acumulada variou de 3 a 5,5 cm, a magnitude da erosão variou de 0,30 a 0,55 cm/mês. A seção II apresentou 34 cm profundidade, 0,01m/s de velocidade e 0,09 m2/s de vazão. A erosão acumulada, e magnitude da erosão nessa seção atingiu cerca de 31 cm. Na III, a erosão acumulada na margem esquerda variou de 3,30 a 9 cm e a magnitude da erosão variou de 0,33 a 0,9 cm/mês. A altura do barranco na margem direita atingiu 1.60 m, e margem esquerda 41 cm na IV seção. A velocidade da água foi de 0,32 m/s, e a vazão 1.10 m³/s, não foi possível verificar a erosão acumulada. Na V seção, a erosão acumulada na margem direita côncava variou de 2,00 a 4,40 cm e a magnitude da erosão de 0,20 a 0,44 cm/mês. A largura do canal na VI seção, apresentou 7,83 m, e profundidade média 1,04 m, a velocidade da água atingiu 0,57 m/s e a vazão 1,73 m³/s. Não foi possível verificar a erosão a estaca e os pinos não foram encontrados. A erosão acumulada e magnitude da erosão foram mais expressivas no segmento III, nas seções I, III, V ocorreu o processo de sedimentação na base de alguns pinos. Nas seções II, IV e VI os pinos foram removidos devido à dinâmica fluvial atuante. Os pontos de maior fragilidade estão nas seções II, III, IV e V, seria importante adoção de práticas conservacionista nas seções citadas, visando a recomposição da vegetação ciliar e qualidade ambiental.

Agradecimentos

Referências

BINDANDI, Nádia Micheli. Evolução da navegação, Morfologia e Sedimentação no Rio Paraguai no município de Cáceres, Mato Grosso, Brasil. Dissertação de mestrado, UNEMAT, 2014.
BRANCO, N. Avaliação da produção de sedimentos de eventos chuvosos em uma pequena bacia hidrográfica rural de encosta. Dissertação. Santa Maria, RS, Brasil1998. Disponível em: http://w3.ufsm.br/enquadra/Trabalhos/DissAnteriores/BRANCO.pdf acesso dia 05/09/2014.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo. Hucitec. 1977.
CUNHA, Sandra Batista da, e GUERRA, Antonio Teixeira. Geomorfologia Exercícios, Técnicas e Aplicações. Editora Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2009.
CUNHA S. B. e GUERRA A.J.T. Degradação Ambiental. IN: Geomorfologia e Meio Ambiente (org.) Guerra A J.T. e Cunha S.B Ed.Bertrand do Brasil. 1996.
DIAS, W.A. Dinâmica erosiva em margens plena de canal fluvial. Dissertação, Ponta Grossa, 2012.

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Manual de Métodos de análises de solos. 2 ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 1997.

FERNANDEZ, O. V. Q. Mudanças no Canal Fluvial do rio Paraná e processo de erosão nas margens: região de Porto Rico, PR. Dissertação (Mestrado Geociências e Ciências Naturais) UNESP: Rio Claro, 1990.

FERNANDEZ, O. V. Q. Erosão marginal no lago da UHE Itaipu (PR), 1995. Tese de (Doutorado em Geociências e Ciências Exatas) - Universidade estadual Paulista, Rio Claro,1995.

HOOKE, J. M. Na analysis of the processes of river bank erosion. Journal of Hidrology, 1980.
HUGUES, D. J. Rates of Erosion on Meander Ares. In: GREGORY, K. J. (Org.). River Channel Changes. Chichester. ed: John Wiley & Sons, 1977.
JUSTINIANO, L. A. A. A dinâmica fluvial do rio Paraguai entre a foz do rio Sepotuba e a foz do rio Cabaçal. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais), UNEMAT. Cáceres-MT, 2010.

QUEIROZ, F.L.L, Aspectos da dinâmica hidrossedimentológica e do uso e ocupação do solo na bacia do córrego arapuá (MS). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Três Lagoas, 2011.

MINISTÉRIO DO EXÉRCITO – Diretoria de Serviço Geográfico SD-21-Y-D-VI e SD-21-Y-D-III escala de 1:100. 000, 1975.
SILVA, S. A. da Avaliação do Assoreamento do Lago Bonsucesso, Jataí – GO. Curitiba, 2007.

SANTOS, Marcos dos. Uso e Ocupação da Terra e a Dinâmica Fluvial da Bacia Hidrográfica do Córrego Cachoeirinha, Município de Cáceres - Mato Grosso, Dissertação de Mestrado, UNEMAT, 2012.

SILVA L. N. P. da , Bacia hidrográfica do córrego das Pitas-MT: Dinâmica fluvial e o processo de ocupação, como proposta de gestão dos recursos hídricos.( Dissertação de Mestrado) CÁCERES MATO GROSSO, BRASIL, 2009.

SILVA, S. A. da Avaliação do Assoreamento do Lago Bonsucesso, Jataí – GO. Dissertação (Geologia). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007.

SOUZA,C.A. Bacia hidrográfica do córrego Piraputanga-MT: avaliação da dinâmica atual. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1998.

SOUZA, C.A. e CUNHA, S.B. Dinâmica do Corredor Fluvial do Rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã-MT. Revista Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Três Lagoas. Ano 4, v. 1, n. 5, p. 18 – 42, 2007.

SOUZA, I. C. Bacia hidrográfica do córrego Salobra: caracterização ambiental, uso e ocupação da terra e dinâmica fluvial- município de Porto Estrela, Mato Grosso. Dissertação de Mestrado, UNEMAT, 2015.

VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do
Brasil, 1975.