Autores

Hoffmann Costa, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA - UFOB) ; Araujo Alves, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA - UFOB) ; Gomes Carvalho, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA - UFOB) ; Barbosa dos Santos, G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA - UFOB)

Resumo

O presente trabalho consiste em um levantamento morfométrico de duas lagoas pertencentes ao sistema lacustre do médio rio Grande e rio Preto, oeste da Bahia, uma localizada no distrito de Taguá, município de Cotegipe e outra no município de Santa Rita de Cássia. Foi realizado o levantamento morfométrico das lagoas utilizando-se parâmetros primários: área, amplitude máxima, perímetro, comprimento máximo, largura máxima, altitude e parâmetros secundários: largura média, profundidade relativa e forma. Para a realização da pesquisa foram realizados trabalhos em campo com receptores GPS geodésico e de navegação e em gabinete com processamento dos dados empregando-se softwares específicos como: TrackMaker, LeicaGeo Office Combined, CAD e ArcGis 9.3. Foi possível identificar a forma circular para ambas as lagoas, no entanto com especificidades para cada uma delas devido à proximidade com ambientes externos ao sistema lacustre.

Palavras chaves

GPS Geodésico; Levantamento Morfométrico; Lagos

Introdução

A morfometria de lagos visa tratar da quantificação e medida dos diversos elementos da forma, englobando o conjunto de métodos para determinar as dimensões físicas deste sistema fazendo uso de parâmetros para representação em fatores primários e secundários (SPERLING, 1999). Para Neumann et al., (2008), os critérios utilizados para o reconhecimento dos sedimentos lacustres não são definitivos, sendo o diagnóstico do mesmo complexo e frequentemente mostram um caráter interpretativo, desta forma a morfometria dos corpos d’água que tem efeitos relevantes sobre quase todas as variáveis físicas, químicas e biológicas dos lagos são passiveis de diversas interpretações por integrar várias ciências (WETZEL, 1993). A área de estudo, localiza-se na região oeste da Bahia, nos municípios de Cotegipe (Distrito de Taguá) e município de Santa Rita de Cássia, inseridos na Bacia Hidrográfica do rio Grande, um dos principais afluentes a margem esquerda do São Francisco no que tange a sua extensão, limitada ao norte pelo estado do Piauí, a oeste pelo estado de Tocantins e a sul pelo município de Barreiras, no extremo oeste baiano, estando cerca de 900 km da capital Salvador e 630 km do Distrito Federal. Geotectonicamente as lagoas estão sobre o Cráton do São Francisco, inseridas nas coberturas arenosas inconsolidadas quaternárias, margeadas a NW pela faixa de dobramento rio Preto e formações do Grupo Bambuí (Formação Serra da Mamona, Formação São Desidério, Formação Riachão das Neves, Formação Canabravinha, Formação Formosa) e Grupo Santo Onofre (EGYDIO-SILVA, 1987; CAXITO, 2010; UHLEIN et al., 2011; CAXITO et al., 2012). Damasceno (2012) cartografou algumas lagoas no mesmo sistema lacustre desta pesquisa, identificando formas circulares, irregular e semi-circulares em um recorte específico, atestando a interligação das mesmas por canais de drenagem intermitentes, possuindo ainda uma baixa intervenção antrópica.

Material e métodos

Na realização do levantamento morfométrico foi empregado receptor GPS de navegação da marca Garmim, um par de receptores GPS Geodésico (L1/L2) da marca Leica modelo 900, e softwares específicos para o processamento dos dados coletados em campo. Foi realizado um pré-projeto no visualizador Google Earth para definir os limites das áreas e os pontos a serem levantados. A posteriori, o referido projeto foi salvo com extensão KML e aberto no software TrackMaker. Do TrackMaker foi exportado para o receptor GPS de navegação. Em campo o receptor base foi estacionado sobre um ponto materializado nas imediações da área a ser levantada. Com o GPS de navegação localizava-se aproximadamente os pontos em campo e com receptor GPS Geodésico móvel (Rover) determinava-se suas coordenadas. Na Lagoa pertencente ao distrito de Taguá foram coletados 143 pontos enquanto que na lagoa do município de Santa Rita de Cássia, 48 pontos. O método adotado pela coleta foi o estático-rápido. Os pontos foram coletados no dia 07 e 08 de Agosto de 2015, com um tempo de rastreio de 30 segundos para cada ponto equidistantes de 40 a 60 metros. Após a coleta de todos os pontos, os dados foram processados no software LeicaGeo Office Combined. Para tal, os arquivos obtidos no receptor base foram convertidos para o formato Rinex, possibilitando sua importação para o site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), adotando o método PPP (Posicionamento por Ponto Preciso) e gerando um relatório com as coordenadas planialtimétricas oficiais. Na sequência houve o processamento dos arquivos obtidos no receptor móvel em função das coordenadas da base. A posteriori os dados foram exportados para o software CAD e ArcGis 9.3 possibilitando a realização dos parâmetros morfométricos primários e secundários seguindo a metodologia adaptada proposta de Sperling (1999).

Resultado e discussão

Adotaremos aqui para fins didáticos os seguintes prefixos para a identificação das lagoas: LT para a lagoa da bacia do rio Grande em Taguá município de Cotegipe e LSRC para a lagoa que se encontra na sub-bacia do rio Preto município de Santa Rita de Cássia (Figura 1). A Tabela 1 sintetiza os parâmetros morfométricos das duas lagoas estudadas. É possível perceber que a área da LSRC é aproximadamente três vezes maior do que da LT. A profundidade relativa atesta que a LSRC é consideravelmente mais rasa que a LT. A LT possui perímetro e o comprimento médio com valores que representam aproximadamente à metade dos valores da LSRC, a largura média possui o mesmo padrão, mas com menor variação entre as duas lagoas. Quanto ao fator forma ambas são consideradas circulares, porém a LSRC apresenta o fator forma de 2,21 (Figura 2) demonstrando ser mais alongada do que a LT com valor 2,01, (Figura 3) dando-lhe a forma perfeitamente circular. Quanto ao posicionamento altimétrico as duas lagoas possuem altitudes semelhantes. Silva (1984) ao estudar a morfometria das lagoas de Jaíba, na região norte de Minas Gerais, em um contexto litológico semelhante ao médio rio Grande (rochas do Grupo Bambuí encobertas por material inconsolidado), atesta que a origem daquelas lagoas se dá por processos de carstificação, e associa as de maior diâmetro, mais rasas e elípticas à fraturas em rochas metapelíticas com menor circulação subterrânea, e as circulares de menor diâmetro e maior profundidade à rochas carbonáticas com acentuada infiltração vertical. Considerando às áreas de localização das duas lagoas, é provável que ocorra situação semelhante com a LT e LSRC, visto que a primeira se localiza mais próxima de afloramentos rochosos carbonáticos da formação São Desidério, e a segunda próxima de afloramentos de rochas metapelíticas das formações Formosa, Canabravinha e Serra da Mamona.

Figura 1

Localização das lagoas

Figura 2

Topografia da LSRC

Figura 3

Topografia da LT

Tabela 1

Parâmetros morfométricos primários e secundários das lagoas

Considerações Finais

A análise morfométrica demostrou que as duas lagoas são circulares, no entanto a LSRC se mantem com lâmina de água durante as duas estações, é mais alongada e rasa, esta lagoa está próxima de afloramentos de rochas metapelíticas das formações Formosa, Canabravinha e Serra da Mamona obtendo provavelmente uma menor circulação de água subterrânea, isso influência de modo direto na capacidade de infiltração da água o que acarretará em maior volume, visto que, apresenta ainda em comparação com a LT, pouca variação de declividade. A LT esta inserida mais próxima ao contexto geológico de afloramentos rochosos carbonáticos da formação São Desidério, o que provavelmente condiciona maior capacidade de infiltração e percolação vertical, corroborando com os aspectos de maior stress hídrico.

Agradecimentos

Referências

DAMASCENO O. S. Análise e caracterização das lagoas de formação deflacionária na região de Taguá – Cotegipe – BA. Monografia de Graduação. Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável, Universidade Federal da Bahia. Barreiras, 2012.p 70.

SPERLING, E. V. Morfologia de lagos e represas. DESA/UFMG. Belo Horizonte. 1999.

SILVA, A. B. Análise morfoestrutural, hidrogeológica e hidroquímica no estudo do aquífero cárstico do Jaíba, norte de Minas Gerais. São Paulo, Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências, Tese de doutorado, 190 p, 1984.

NEUMANN, V. H.;et al. Ambientes Lacustres. In: AMBIENTES DE SEDIMENTAÇÃO SILICICLÁSTICA DO BRASIL. (Org.). SILVA, A. J. de C. L. P. et al. 1 ed. São Paulo: Beca, 2008. 133p.

WETZEL, R. G. Limnologia. Lisboa: Fundação Caloustre, 1993.

CAXITO, F. de A. Evolução Tectônica da Faixa rio Preto, Noroeste da Bahia / sul do Piauí. Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Geociências Programa de Pós-graduação em Geologia, Belo Horizonte, Minas Gerais, 01/07/10. P. 07; 08; 09.

CAXITO, F. de A.;et al. Depositional systems and stratigraphic review proposal of the Rio Preto Fold Belt, northwestern Bahia/southern Piauí. Revista Brasileira de Geociências, volume 42(3). Setembro, 2012.

EGYDIO-SILVA, M. O sistema de dobramentos Rio Preto e suas relações com o Cráton São Francisco. Tese de doutorado, IGC-Universidade de São Paulo, São Paulo, 1987. p. 95.

UHLEIN, A.; CAXITO, F. de A.; SANGLARD, J. C. D., UHLEIN, G. J. & SUCKAU, G. L.Estratigrafia e tectônica das faixas neoproterozóicas da porção norte do Cráton do São Francisco. Geonomos, CPMTC-Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais. 2011.19(2), 8-31.