Autores

Santos, W.L. (UFAC) ; Silva, P.M. (UFAC)

Resumo

A dinâmica sedimentológica em ambientes fluviais da Amazônia ainda carece de estudos mais dinâmicos que permitam o seu entendimento. Por se tratar de ambiente tropical, há rápida mudança nos padrões de evolução da rede de drenagem. Analisou-se a concentração de sedimentos em suspensão em um paleomeandro (lago do Amapá), a partir de coleta de amostras de água no período seco na região (mês de agosto/2015). Acredita-se que a dinâmica sedimentológica do Lago do Amapá seja resultado da dinâmica de alteração do uso e ocupação da terra. A análise desse ambiente através de metodologias adequadas indicará, ou não, a partir de novos dados, o processo de assoreamento do Lago do Amapá. Conclui-se, afirmando a intensa relação entre o uso da terra e a Css naquele ambiente, com a presença de valores expressivos de Css na sua margem esquerda. A pesquisa está em fase de andamento e somente será concluída com a segunda coleta subsuperficial de água que ocorrerá no período de cheia sazonal (março/2016).

Palavras chaves

Uso da terra; Assoreamento; Lago do Amapá

Introdução

O complexo processo erosivo-sedimentológico envolve fatores de ordem física, meteorológica e antrópica e necessita ser estudado em seus efeitos (CHRISTOFOLETTI, 1981; PRUSKI, 2006). O escoamento superficial concentrado da água (runoff) é responsável pelo carreamento de partículas de sedimentos que se acumulam nos fundos de vale, originando o assoreamento, na maioria das vezes, proporcionado pelo desmatamento (HIGGITT, 1991; SILVA et al., 2003). Em ambiente amazônico, Leprun (1993) menciona que, após o desmatamento, as taxas de escoamento superficial são multiplicadas de 1,5 a 3,3 vezes. Este fato justifica a execução desta pesquisa, determinando os efeitos da concentração de sedimentos no rio Acre, em uma faixa do antigo curso (paleomeandro do Amapá). Possibilitará, ainda, identificar sazonalmente os indicadores do processo de erosão e sedimentação, responsáveis pela alteração ou não naquele ambiente fluvial. Valores de carga de sedimentos em suspensão são tidos como imprescindíveis para o reconhecimento das condições ambientais em um sistema hídrico. No entanto, este tipo de investigação tende a ser oneroso e demorado por diversas razões, entre elas a demanda por monitoramento e coleta constantes em diversas seções do canal fluvial, no intuito de identificar as alterações dessa variável. Contudo, esse tipo de abordagem é parte indispensável dos estudos de bacias de drenagem, notadamente quando se pretende avaliar o grau de interferência da ação antrópica sobre esse sistema. Algumas metodologias têm facilitado os cálculos da Css em rios. Entre elas, a utilização dos valores de Turbidez e Sólidos Totais aparecem como sendo uma alternativa viável. Na pesquisa desenvolvida por Piccolo et al. (1999), avaliou-se a correlação existente entre a Sólidos totais em suspensão, Cor e Turbidez para o Rio Jucu – ES, na qual os autores concluem que as melhores correlações foram entre a concentração de Sólidos Totais e a Turbidez, evidenciando que o parâmetro Turbidez é o mais indicado para indicação indireta da Css. Também Vestena (2008), estudando a bacia do rio Caeté, no município de Alfredo Wagner (SC), identificou a Css pelo mesmo procedimento e encontrou valores estatisticamente significativos para aquela bacia. Para Santos et al. (2001), a turbidez pode apresentar uma excelente correlação linear com a Css, principalmente se tratando da concentração de materiais finos. Esses autores também destacam que a turbidez é um indicador melhor do que a descarga líquida para estimar a Css. A partir disso, supõem-se a existência de índices de Turbidez consideráveis, causados pela presença predominante de materiais finos, decorrentes da natureza argilosa dos solos existentes na região. Estudos com essa abordagem no estado do Acre são quase inexistentes e, considerando-se a grande carga de sedimentos em suspensão nos rios da região, têm-se como necessárias investigações científicas dessa natureza no sentido de identificar as fontes da Css.

Material e métodos

A área de estudo compreende um paleomeandro do rio Acre denominado Lago do Amapá, localizado em uma APA (Área de Preservação Ambiental) de mesmo nome. Na figura 1, abaixo, pode-se observar a localização e os pontos de monitoramento ao longo do lago. O lago do Amapá possui uma extensão aproximada de 3 km e, ainda, é periodicamente inundado pelas águas do rio Acre no período das chuvas na região (outubro a março). Foi realizado levantamento teórico-conceitual, com leituras temáticas e elaboração da revisão bibliográfica. Literaturas sobre assoreamento fluvial, composição do relevo fluvial e dinâmica sedimentológica em ambientes fluviais. A atividade de campo consistiu em selecionar 10 (dez ) pontos de monitoramento ao longo do lago, com uso de um GPS Garmin 78s. A seleção foi feita de forma equidistante, de 300 em 300 metros, demarcando-se o ponto com estacas, no total de 20 (vinte) no tamanho de 80 cm cada. As estacas foram pintadas e marcadas com fita adesiva e fincadas em cada ponto de amostragem, em pontos que facilitavam a sua visualização. Abaixo, os pontos de monitoramento. Após a demarcação dos pontos, elaborou-se o check-list necessário para os procedimentos de coleta e análises laboratoriais da água. Realizou-se a 1ª coleta de água e sedimentos em campo, relativa ao período de seca regional (mês de agosto/2015) nos 10 (dez) pontos previamente selecionados no Lago do Amapá (fig. 1), obedecendo uma distância de aproximadamente 300 m um do outro. Em cada ponto, foram coletadas subsuperficialmente 3 amostras de água (margem esquerda, meio e margem direita do lago), totalizando-se 30 (trinta) amostras, seguindo a orientação da laboratório da Unidade de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Acre (UTAL/UFAC). Após, realizou-se as análises laboratoriais, com a leitura das variáveis físicas Sólidos Totais e Turbidez, conforme método de Macêdo (2003). Com a utilização do software Excell for Windows elaborou-se a curva de regressão para as duas variáveis, sendo possível, então, aferir a concentração de sedimentos em suspensão (Css), conforme a metodologia utilizada por Piccolo et. al. (1999), Silva et. al. (2001), Vestena (2008) e Santos (2013). A pesquisa está em fase de andamento, com o planejamento da 2ª coleta de água, desta feita, no período de cheia sazonal que deverá ocorrer até o mês de março de 2016.

Resultado e discussão

A partir da sumarização dos dados foi possível elaborar a curva-chave a partir da plotagem dos valores de Turbidez e Sólidos Totais para extrair os valores de Css. Os modelos utilizados não se adequaram aos dados, por estes se distanciarem em muito da média, revelando valores extremos que apresentaram alta variabilidade para o conjunto dos dados analisados, com R2=0,0713 (meio), 0,083 (direita) e 0,0494 (esquerda). Com a sumarização dos dados, observou-se que a maior concentração de sedimentos em suspensão foi observada na margem esquerda (E) do Lago, chegando a valores elevados como por exemplo no ponto 9, com 109,1914 mg/L de sedimentos, conforme se observa na tabela 2. Estes valores elevados podem estar relacionados a existência de uma via vicinal (ramal) que está a 10 (dez) metros da margem esquerda do Lago, favorecendo o escoamento de material particulado para o canal a cada evento chuvoso, culminando com o aumento da Css. Por outro lado, a margem direita (D) é tida como mais preservada, com grande quantidade de área de floresta, abrigando moradores que realizam agricultura de subsistência com fraca interferência na Css do Lago, chegando ao valor máximo de 10,6969 mg/L de sedimentos. A menor Css foi observada no meio (M) do Lago, com valor máximo de 7,3259 mg/L no primeiro ponto de coleta. A ocorrência do aumento da Css no período de seca, indica a contribuição de sedimentos provenientes de áreas fontes próximo do curso de água que condicionaram uma resposta rápida na taxa de sedimentos em suspensão (SEEGER et al., 2004). O declínio nos valores da Css possivelmente ocorreu pela reduzida quantidade de sedimento disponível nestas áreas. A ocorrência de picos de Css também pode estar relacionado, segundo Sammori et al. (2004), à intensidade das chuvas na região que ocasionam a lavagem de material particulado (wash load) para os fundos de vale. Vestena (2008), em seus estudos na bacia do rio Caeté, no município de Alfredo Wagner (SC), identificou a Css pelas mesmas causas com valores estatisticamente significativos para aquela bacia. Mesmo em se tratando de ambiente lótico a referência quanto às causas são válidas e se estabelecem nos diferentes tipos de ambientes, inclusive nos de água parada (lênticos). Para Santos et al. (2001), a turbidez pode apresentar uma excelente correlação linear com a Css, principalmente se tratando da concentração de materiais finos. Esses autores também destacam que a turbidez é um indicador melhor do que a descarga líquida para estimar a Css. A partir disso, supõem-se a existência de índices de Turbidez consideráveis, causados pela presença predominante de materiais finos, decorrentes da natureza argilosa dos solos existentes na região e ao tipo de uso e ocupação da terra. Estudos com essa abordagem no estado do Acre são quase inexistentes e, considerando-se a grande carga de sedimentos em suspensão nos rios da região, têm-se como necessárias investigações científicas dessa natureza no sentido de identificar as fontes da Css também nos ambientes de água parada (lênticos).

Gráfico da Css (mg/L) no meio e nas margens do Lago do Amapá/AC

O gráfico demonstra os valores da Concentração de Sedimentos em Suspensão no Lago do Amapá.

Mapa de localização da área de estudo e pontos de monitoramento no Lag

O mapa demonstra os pontos de coleta de água para fins de leitura da Css.

Considerações Finais

Com o final da primeira parte da pesquisa, foi possível constatar a necessidade de investigações futuras relativas à sedimentação em ambientes fluviais no Estado do Acre. A Amazônia, por sua grande extensão em terras úmidas, ainda carece de pesquisas aprofundadas sobre o comportamento dos seus elementos naturais frente às mudanças e alterações ocorridas no âmbito do uso da terra ao longo das quatro décadas anteriores. Os dados demonstraram que há, possivelmente, um processo de assoreamento em curso no Lago do Amapá ocasionado, entre outros, pelas formas de uso da terra e pela frequência de eventos chuvosos que são responsáveis pelo carreamento de material particulado para o fundo de vale. A colmatação do Lago, nesse caso, já começa a ser percebida pela presença da vegetação no período seco (época da pesquisa de campo). Há, pelo que foi visto a partir dos dados, uma intensa relação do uso da terra com a Css naquele ambiente, o que poderá vir a torná-lo sem utilização pelos moradores da APA, que atualmente necessitam do mesmo para sobreviver através da pesca de subsistência. A construção de moradias e a destinação de efluentes domésticos na área também é uma realidade, contribuindo mais ainda para a deterioração do manancial. Pesquisas que visam a realização de estudos batimétricos no Lago estão em desenvolvimento, inclusive com a coleta de material de fundo, e futuramente estarão disponíveis para melhor compreender a dinâmica de alteração daquele ambiente.

Agradecimentos

Ao CNPq pela concessão de bolsa de Iniciação Científica à co-autora.

Referências

WETZEL, R.G. Limnologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

VESTENA, L.R. Análise da relação entre a dinâmica de áreas saturadas e o transporte de sedimentos em uma bacia hidrográfica por meio de monitoramento e modelagem. (Tese de Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Florianópolis, 2008.

SILVA, M.T. Efeitos do pulso de inundação sobre a estrutura da comunidade de peixes de um lago de meandro abandonado na Amazônia. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais. Rio Branco-AC: Universidade Federal do Acre, 2010.

SILVA, A.M., SCHULZ, H.E., CAMARGO, P.B. Erosão e Hidrossedimentologia em Bacias Hidrográficas. São Carlos: RiMa, 2003.

SAMMORI, T., YUSOP, Z., KASRAN, B., NOGUCHI, S., TANI, M. Suspended solids discharge from a small forested basin in the humid tropics. Hydrological Processes, v. 18, p. 721 –738, 2004.

SANTOS, W.L. O processo de urbanização e impactos ambientais em bacias hidrográficas: o caso do Igarapé Judia-Acre-Brasil. 165f. 2005. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais) – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2005.