CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS E SUA INFLUÊNCIA NA ESPACIALIZAÇÃO DA REDE DE DRENAGEM NA BACIA DO RIO BRANCO, MATO GROSSO, BRASIL

Autores

Oliveira, J.D. (UNEMAT) ; Souza, C.A. (UNEMAT) ; Cruz, J.S.B. (UNEMAT) ; Sousa, J.B. (IFMT)

Resumo

O estudo objetivou levantar as características geológicas e geomorfológicas, bem como verificar sua influência na espacialização da de rede drenagem na bacia hidrográfica do rio Branco. A caracterização geológica e geomorfológica foi realizada através da compilação das informações presente nos relatórios do Projeto RADAMBRASIL (1982), elaboração dos mapas de geomorfologia e geologia da bacia hidrográfica do rio Branco e de visita in loco. Na bacia hidrográfica do rio Branco possui quatro unidades geomorfológicas: a Chapada dos Parecis, o Planalto Dissecado dos Parecis, a Depressão do Alto Paraguai e os Aluviões Atuais. Verifica-se as seguintes unidades geológicas: Formação Utiariti, Grupo Aguapeí (Formação Morro Cristalino, Vale da Promissão e Fortuna), Grupo Rio Branco (Suíte Intrusiva Rio Branco e Suíte Intrusiva Salto do Céu), Formação Pantanal e Aluviões Atuais.

Palavras chaves

geológicas; espacialização; rede de drenagem

Introdução

A bacia hidrográfica foi definida segundo Guerra (2003), “como um conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes”. Lanna (1995) salienta que a bacia hidrográfica transforma-se em unidade ambiental, pois nela podem-se estabelecer as melhores relações entre causa e efeito. Além disso, constitui-se uma unidade espacial de fácil reconhecimento, delimitação e caracterização. A bacia hidrográfica tem sido utilizada como uma unidade geomorfológica fundamental, isso se deve ao fato de suas características governarem, no seu interior, todo o fluxo superficial da água. Assim, vem sendo considerada uma unidade territorial ideal para o planejamento integrado do manejo dos recursos naturais (PISSARRA; POLITANO; FERRAUDO, 2004). A hidrografia de uma bacia reflete a estrutura geológica (litológica e tectônica), a evolução morfogenética regional, o clima e as intervenções antrópicas. O uso das terras é a principal atividade humana que afeta a hidrografia de uma bacia, mas outras atividades, como a transposição, também podem causar consideráveis alterações (SNADDON; WISHART; DAVIES, 1998; LATRUBESSE et al. 2005). Segundo Lacerda e Alvarenga (2000), a natureza das rochas, representada basicamente pela constituição mineralógica/geoquímica e estruturação, sob ação de diferentes condições morfoclimáticas e agentes de erosão, tais como águas correntes (erosão linear ou vertical), erosão mecânica sob variações da temperatura e decomposição química, reflete suas propriedades geomorfológicas ou comportamentais. Na geomorfologia os estudos das formas de relevo levam em consideração a origem, a estrutura, natureza das rochas, o clima do entorno, bem como as diferentes forças modeladoras (endógenas e exógenas), que agem como construtores e destruidores do relevo terrestre (Guerra; Guerra, 2008). Estudo realizado por Santana e Souza (2015) analisando os compartimentos geomorfológicos em trecho do rio Paraguai demonstra a importância de se estudar o relevo e a geologia como instrumento de compreensão da dinâmica fluvial. Outros estudos tais como o de Osterkamp e Hupp (2010), Andrade e Souza (2009) e Leandro, Souza e Nascimento (2014) subsidiaram a pesquisa. Desse modo, esta pesquisa objetivou levantar as características geológicas e geomorfológicas e verificar sua influência na espacialização da rede drenagem na bacia hidrográfica do rio Branco, afluente da margem esquerda do rio Cabaçal, localizada na região sudoeste do estado de Mato Grosso.

Material e métodos

Área de Estudo A bacia do rio Branco com área de aproximadamente 1.027,80 km² tem sua nascente principal na Chapada dos Parecis, município de Reserva do Cabaçal, passando pelo perímetro urbano de Salto do Céu e Rio Branco e desaguando a esquerda do rio Cabaçal no município de Lambari D’Oeste, estando localizada entre as coordenadas geográficas 14º 59’ à 15º 20’ de latitude S e 57º 58’ à 58º 26’ longitude W. Procedimentos metodológicos A caracterização geológica e geomorfológica foi realizada através da compilação das informações presentes nos relatórios do Projeto RADAMBRASIL (1982), análises de periódicos científicos, elaboração dos mapas de geomorfologia e geologia da bacia hidrográfica do rio Branco e de visita in loco. Foram analisadas as cartas topográficas de Rio Branco e Camarcan do Ministério do Exército em escala 1:100.000 que subsidiaram a leitura referente à sua localização no contexto geomorfológico. A elaboração dos mapas de geologia e geomorfologia em escala de 1:300.000 partiu das informações do Projeto RADAMBRASIL (1982) com auxílio do software ArcGis, versão 10.1 com as imagens de satélite LANDSAT TM5 e TM8.

Resultado e discussão

As unidades geomorfológicas da bacia são definidas como Chapada dos Parecis e Planalto Dissecado dos Parecis (Serras Roncador - Salto do Céu); Depressão do Alto Paraguai e Planícies Fluviais. O Planalto Dissecado dos Parecis possui ampla rede fluvial composta por pequenos corpos d’água, que contribuem com drenagem, devido à distribuição espacial (Figura 01). A geologia da área é formada pelo Grupo Aguapeí (Formações Morro Cristalino, Vale da Promissão e Fortuna), Grupo Serra do Rio Branco (Suíte Intrusiva Salto do Céu e Suíte Intrusiva Rio Branco), Grupo Parecis (Formação Utiariti), Formação Pantanal e Aluviões Atuais, (Figura 02). A nascente principal do rio Branco encontra-se no Planalto Dissecado dos Parecis, na Formação Utiariti. As demais nascentes surgem e percorrem o Planalto Dissecado dos Parecis com as ocorrências litológicas: Grupo Aguapeí, Grupo Serra do Rio Branco e Grupo Parecis. Verificou-se a existência de algumas nascentes na Chapada dos Parecis na Formação Utiariti. Há uma pequena faixa de planície de inundação no baixo curso, recoberta por aluviões atuais. A concentração do fluxo e a hierarquização da rede de drenagem são controladas e influenciadas pela sua estrutura geológica e pelo relevo, contribuindo para a espacialização da rede de drenagem formando distintas paisagens. Chapada dos Parecis Corresponde principalmente às áreas pediplanadas, amplas superfícies tabulares erosivas e interflúvios tabulares com altitude acima 580 m, segundo os estudos realizados pelo Projeto RADAMBRASIL (1982). Encontra-se no alto curso da bacia, litologicamente registra ocorrência de arenitos ortoquartzíticos da Formação Utiariti. Formação Utiariti caracteriza-se por ser uma unidade litoestratigráfica relativamente nova compreendida no período Cretáceo. Segundo RADAMBRASIL (1982), os pacotes basais da Formação Utiariti são de conglomerados grossos a arenitos conglomeráticos amalgamados, de espessura decimétrica a métrica, em ciclos de gradação normal e inversa, com laminação plano-paralela e estratificação cruzada acanalada. Planalto Dissecado dos Parecis Corresponde a uma superfície de relevo pouco dissecado, com caimento topográfico de norte para sul e sua altimetria oscila entre 200 e 600 m (RADAMBRASIL, 1982). Abrange o alto curso do rio Branco, constituindo a maior parte do relevo de topo contínuo e aguçado com diferentes ordens de grandeza e de profundidade de drenagem, geralmente separadas por vales e apresenta formas convexas. Apresenta formas erosivas de superfície tabular, relevo residual de topo aplanado, geralmente limitado por escarpas erosivas. Segundo os estudos do RADAMBRASIL (1982), a variação litológica associada às atividades tectônicas originou uma modificação nos aspectos geomorfológicos. Assim, a esculturação de metassedimentos gerou relevos tabulares de topo conservados. Estes relevos conservados apresentam escarpas estruturais escolonadas, com frente voltada para sudoeste e orientação geral sudoeste-noroeste. Em contrapartida, as litologias do complexo Basal originaram formas de dissecação convexa. O índice de aprofundamento da origem é drenagem de norte para sul. Nessa unidade geomorfológica apresentam-se várias ocorrências litológicas principalmente às ligadas ao Grupo Aguapeí, porém registra-se em menor proporção a ocorrência do Grupo Rio Branco e Grupo Parecis. Formação Morro Cristalino A Formação Morro Cristalino constitui o patamar superior da serra do Roncador com colinas abauladas e platôs com vertentes suaves abruptas, datada do Pré Cambriano Superior. Os estudos efetuados pelo RADAMBRASIL (1982) mostram que a Formação Morro Cristalino é formada por metarenitos de cores rósea, branca, bordô e cinza claro, bem como granulação média a grosseira e fina a média, com níveis conglomeráticos e frequentes intercalações de metaconglomerados e finos leitos de metassiltitos bordô. Os metaconglomerados que ocorrem intercalados na sequência metassedimentar possuem cor rósea e são litificados. Seus seixos são formados por grãos de quartzo subarredondados com diâmetro de até 2 cm. Estes seixos estão emersos em uma matriz de granulação média a grosseira (RADAMBRASIL, 1982). Formação Fortuna A Formação Fortuna compreende terrenos datados do pré-cambriano, constituindo um pacote basal do Grupo Aguapeí que são responsáveis pelo desenvolvimento de escarpas inferiores, que variam de suaves a abruptas, ocorrendo no sopé da Serra do Roncador. De acordo com os estudos realizados pelo RADAMBRASIL (1982), a Formação Fortuna é constituída, predominantemente, por metarenitos, ortoquartzíticos com intercalação lenticular ou difusa de metaconglomerado oliomítico, litificados e, às vezes, friáveis. Os metarenitos possuem cores roxa, vermelha, rosa, branca e creme e granulação média grosseira, sendo os grãos de quartzo subarredondados a arredondados com esfericidade média. Formação Vale da Promissão Responsável pela constituição do segundo patamar da serra do Roncador remota do Pré Cambriano Superior. A maior parte do curso do rio Branco se encontra nesta formação. Formada essencialmente por uma sequência predominantemente pelítica, constituída por metassiltitos, filitos, ardósias e secundariamente intercalações de psamíticos finos. Constituída por uma intercalação de metassiltitos e metarenitos muito finos a finos, litificados e friáveis, formados por quartzo e feldspatos caulinizados. Mostram-se estratificados plano-paralelamente em lâminas e camadas decimétricas, cujos estratos estão comumente com suaves mergulhos para nordeste (RADAMBRASIL 1982). Grupo Serra do Rio Branco Barros et al. (1982) denominam esta unidade como Grupo Rio Branco constituído por um conjunto plutôno-vulcânico bimodal, caracterizado por diabásio e gabros, na base e riodacitos, andesitos e dacitos, no topo. Leite, Saes e Weska (1985), aplicam o termo Suíte Intrusiva Rio Branco, para englobar as rochas hipoabissais máficas e félsicas da Serra de Rio Branco, dividindo-a em duas unidades ígneas: a basal, unidade meso-melanocrática, composta por olivina gabros, gabros e quartzo dioritos, que transicionam para a unidade leucocrática, formada por quartzo monzonitos e sienitos. A Suíte Básica Intrusiva Salto do Céu é constituída por dezenas de soleiras máficas composta por diabásios e microgabros, com espessura variando entre 1 a 5 m. (ARAÚJO; GODOY; ZANARDO, 2009). Depressão do Alto Paraguai A Depressão do Alto Paraguai correspondendo a uma superfície de relevo pouco dissecado com pequeno caimento topográfico de norte para sul, apresentando-se rampeada em sua seção oeste, geralmente associada a sedimentos finos. Sua altimetria oscila entre 120 e 300 m (RADAMBRASIL, 1982; ROSS 1985). O médio e baixo curso do rio Branco encontra-se nessa unidade com a presença das formações Vale da Promissão e Pantanal, o seu afluente principal córrego Bracinho drena essa unidade quase na totalidade. Planícies fluviais Registra uma pequena faixa de planície de inundação, recoberta por aluviões atuais, próxima a foz do rio Branco na margem esquerda. Na planície de inundação, os seus depósitos atuais estão associados aos processos de sedimentação nas planícies aluvionares do rio principal e seus afluentes. São depósitos pouco largos, porém linearmente ressaltáveis e compostos por areias, siltes, argilas e cascalhos, reconhecendo-se depósitos de canal de barra em pontal e transbordamento (GUIMARAES; ALMEIDA, 1969).

Geomorfologia da bacia hidrográfica do rio Branco.


Geologia da bacia hidrográfica do rio Branco.


Processos erosivos e formações geológicas

Considerações Finais

Na bacia hidrográfica do rio Branco possui quatro unidades geomorfológicas Chapada dos Parecis, Planalto Dissecado dos Parecis, Depressão do Alto Paraguai e as Planícies Fluviais. Na unidade Chapada dos Parecis registra a ocorrência da Formação Utiariti. No Planalto Dissecado dos Parecis registra principalmente ocorrência das litologias ligadas ao Grupo Aguapeí, porém registra em menor proporção a ocorrência do Grupo Rio Branco e Grupo Parecis (Formação Utiariti). A Depressão do Alto Paraguai é constituída litologicamente pela Formação Vale da Promissão e Formação Pantanal. Na planície fluvial ocorrem os aluviões atuais. Quanto à espacialização da rede de drenagem, a Chapada dos Parecis (Formação Utiariti) possui pobreza de drenagem superficial, representada por canais de primeira ordem, no Planalto Dissecado dos Parecis que possui ampla rede fluvial composta por pequenos corpos d’água, que contribuem com a drenagem, devido à distribuição espacial. Na Depressão do Alto Paraguai se encontram o médio e baixo curso do rio Branco, onde o seu afluente principal, córrego Bracinho, drena quase na totalidade. O estudo da geomorfologia e geologia facilita a compreensão da espacialização da rede de drenagem na bacia hidrográfica. Os resultados obtidos podem fornecer suporte para solucionar os problemas ambientais, sociais e econômicos como ferramenta para futuros estudos em planejamento e gestão de rios e bacias hidrográficas.

Agradecimentos

Referências

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