Autores

Clemanete, E. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO) ; Ernildo de Lima, T. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO) ; Alves de Souza, C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO)

Resumo

O presente estudo teve como finalidade verificar o processo de sedimentação no baixo curso do rio Sepotuba, afluente da margem direita do rio Paraguai. Realizou- se pesquisa bibliográfica, atividade de campo para obtenção da batimetria com o uso do sonar Garmim e de molinete fluviométrico para verificação da velocidade do fluxo. Para coletar os sedimentos suspensos usou-se a garrafa de Van Dorn e para os sedimentos de fundo utilizou-se a draga Van Veen. As amostras foram submetidas a análises físicas usando o método de pipetagem e de peneiramento. Na composição granulométrica dos sedimentos da seção transversal predominou areia fina variando entre 87,45 e 95,82 %. Na barra submersa predominou areia fina (98,5%). Na barra de sedimentos, no cordão marginal estabilizado e na mata ciliar a granulometria ficou distribuída entre areia media, areia fina e silte, em sua maioria.

Palavras chaves

Rio Sepotuba; baixo curso; granulometria

Introdução

Tucci (2001) define bacia hidrográfica como área de captação natural da água de precipitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório. A bacia hidrográfica compõe-se basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um leito único no exutório. O estudo foi desenvolvido no baixo curso do rio Sepotuba, afluente da margem esquerda do rio Paraguai. A bacia hidrográfica do Paraguai é uma área de sedimentação, que possui forma de anfiteatro o que resulta em uma imensa bacia de recepção de água e sedimentos produzidos no Planalto Cristalino que a circunda. Sendo o rio Paraguai um dos rios de planície mais importantes do Brasil (SOUZA, 2004). A planície de inundação do rio Sepotuba sofre influência do regime de cheia, que contribui para formação de várias feições morfológicas tais, como: baías, braços, lagoas, furados, vazantes, além das feições de acumulação como os cordões e os diques marginais e as praias (SOUZA, 2012). De acordo com Penteado (1974), o rio transporta os detritos das rochas intemperizadas de três modos: em suspensão, pelo fluxo turbulento (silte e argila), em rolamento ou arrastamento no fundo (seixos e areia), e em saltação por correntes ascendentes. Quando as forças hidrodinâmicas reduzem até a condição de não poderem continuar a deslocar os sedimentos, ocorre a deposição (CUNHA, 1996). Assim, busca-se avaliar a erosão marginal e o transporte de sedimentos dos cursos d’agua, para se sugerir adequação aos trabalhos na bacia. As partículas de granulometria minúsculas (silte e argila) se conservam em suspensão pelo fluxo turbulento, constituindo a carga de sedimentos em suspensão, as partículas de granulometria maior e mais grosseiras, como a areia e os cascalhos, são roladas, deslizadas ou saltam ao longo do leito dos rios. A carga de sedimentos em suspensão e a carga do leito devem ser computadas na geometria hidráulica, estando relacionadas com a vazão. (CHRISTOFOLETTI, 1980) Para Novo (2008) Os rios podem depositar sua carga, em qualquer ponto ao longo do seu curso, mas a maior parte do material é depositada onde o gradiente do canal é pequeno ou onde há mudanças bruscas no gradiente e na velocidade de escoamento. Os depósitos podem ser classificados em dois tipos: de canal e de planície de inundação. Os processos de sedimentação que ocorrem no rio Paraguai acontecem no canal ou na planície de inundação. Para Kellerhald et al. (1976) e Dietrich (1985), as características da calha estão, em sua maioria, associadas aos processos de erosão e deposição. Os depósitos de sedimentos pertencem a diferentes categorias, como os que se desenvolvem no eixo central, ou seja, os bancos ou barras centrais (mid channel bar), as barras laterais (channel side bar e point bars), barras submersas e ilhas fluviais. Alguns trabalhos destacam-se sobre mudanças morfológicas e processo de sedimentação no rio Paraguai como os estudos de Silva (2012) que apresentou a evolução das feições morfológicas do rio Paraguai. Lima (2014) mostra as feições morforlológicas e sedimentos de fundo entre a baía do Ponto Certo à foz do Córrego Jacobina no rio Paraguai. Silva (2014) realiza a caracterização ambiental e morfológica entre a foz do rio Jauru a ilha Tucum. Leandro (2014) pesquisou a composição granulométrica dos sedimentos de fundo na baía Comprida. Souza et. al. (2013), realizou estudos sobre a sedimentação no baixo curso dos rios Sepotuba, Cabaçal e Jauru, afluentes do rio Paraguai. O presente estudo teve como objetivo verificar o processo de sedimentação no baixo curso do rio Sepotuba, afluente da margem direita do rio Paraguai.

Material e métodos

Área de estudo A área de estudo corresponde ao baixo curso do rio Sepotuba. Entre as coordenadas geográficas 15°53’18.20” a 15°55'16.60" Latitude Sul e 57°39'32.60" a 57°39'12.50 " Longitude Oeste com 4,5 km de extensão. A bacia hidrográfica do rio Sepotuba – sub-bacia da BAP - possui uma área superior a 984.000 hectares (9.840 km2), representando cerca de 1% da área do Estado de Mato Grosso. Está localizada entre as coordenadas 8.458.830 e 8.217.240 N na direção norte-sul e 315.608 e 515.708 N na direção Leste-Oeste do sistema de projeção cartográfica UTM, Fuso 21, Meridiano Central -57º Datum SAD- 69 (SERIGATTO, 2006). Procedimentos Metodológicos Alguns procedimentos foram necessários: trabalhos de gabinete, atividades de campo e análises de laboratório. Trabalho de Gabinete Revisão bibliográfica. A pesquisa bibliográfica se deu pela coleta geral de informações sobre os trabalhos realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecerem dados atuais e relevantes ao tema (MARCONI e LAKATOS, 2003). Nela, se destacaram de trabalhos de Serigatto sobre o rio Sepotuba, Cunha e Guerra sobre Geomorfologia, Souza com artigos sobre processos de sedimentação do Rio Paraguai e periódicos como a Revista Geo Pantanal, entre outros. Trabalhos de Campo ROSS E FIERZ (2009) sugerem que o trabalho de campo deve ser dividido em três fases. Na primeira, se observa a descrição dos fatos com a maior precisão possível, na segunda se interpreta material de cunho cartográfico para se construir mapas, e na terceira dedica-se a produção de ensaios de campo e experimentos. Nesse sentido, realizou-se atividades em seção transversal do rio, visando caracterização da área e coleta de material: observação das feições geomorfológicas, batimetria e coleta de sedimentos. A atividade foi empreendida no mês de agosto, período de estiagem. Para medir largura e a profundidade do canal foi utilizado ecobatímetro. Para medir a velocidade do fluxo usou o molinete fluviométrico. Para obter índice de vazão utilizou a seguinte fórmula: Q = V x A (Cunha, 2009). Onde: Q = Vazão; V = Velocidade das águas; A = Área. Coleta de Sedimentos: • Na coleta de sedimentos de fundo utilizou-se um coletor de sedimentos de fundo denominado draga Van Veem (mostrador de mandíbulas). • Para coletar o sedimento em suspensão foi usada a garrafa de Van Dorn. A carga suspensa foi armazenada em garrafas esterilizadas com a própria água. Para coletar o sedimento da planície de inundação uma pá de jardinagem, todo o material foi estocado, etiquetado e conduzido para posterior análise no Lapegeof. Análises de laboratório Análise dos sedimentos de suspensão Para análise dos sedimentos transportados em suspensão foi usado o método de evaporação. As amostras de sedimentos em suspensão foram acondicionadas em béqueres pesados anteriormente. Realizou-se secagem do material em estufa modelo TE-394/2 sendo os béqueres pesados três vezes com auxílio de balança analítica, onde, se obtiveram os valores de sedimentos em suspensão (mg/L) (CARVALHO et al., 2000). Método de pipetagem (dispersão total) Para fracionamento do material de fundo em areia, silte e argila, utilizou-se o método de pipetagem - dispersão total (EMBRAPA, 1997). Método de peneiramento Para determinação do tamanho das partículas de sedimentos de fundo foi adotado o método de peneiramento. A fração areia separada pelo método de dispersão total foi seca em estufa a 100°C. Posteriormente o material foi submetido a processo mecânico de peneiramento no Agitador Eletromagnético, com uma sequência de peneiras padronizadas, por 30 minutos. O material retido em cada uma das peneiras foi pesado separadamente, determinando as frações areia (grossa, média e fina) (EMBRAPA, 1997).

Resultado e discussão

A bacia hidrográfica do rio Sepotuba drena 11.460 km2, com vales estreitos e cobertos por vegetação densa no alto e médio curso. No seu baixo curso é representada por uma vasta planície de inundação com várias feições, como meandros abandonados, bifurcação formando dois canais, canais secundários, ilhas fluviais, várias barras centrais e laterais, barras submersas, cordões e diques marginais. A mata ciliar apresenta-se densa e conservada. O processo de sedimentação na bacia hidrográfica do rio Sepotuba está associado ao material de origem e da ocupação e uso inadequado da bacia, relacionado às atividades realizadas direta e indiretamente nos cursos d’água. Os ambientes presentes no baixo curso da bacia hidrográfica do rio Paraguai são: a calha do rio Paraguai, as barras submersas, as barras centrais e laterais, os cordões marginais, os diques marginais e a mata ciliar. A planície de inundação nesse trecho apresenta acumulação dos sedimentos como resposta a energia do sistema fluvial no período de cheia e estiagem. Na seção transversal o barranco na margem esquerda é íngreme medindo 2,85m, a vegetação apresenta conservada com a presença de arbustiva e arbórea. O leito possui a profundidade média de 3.76 m e a vazão de 110,05 m³/s. A barra submersa possui 6,20 m de largura, o cordão estabilizado tinha 50,4 metros de largura com vegetação espaçada, a faixa de mata ciliar era de 50 metros, apresentando vegetação ripária conservada. Ao traçarmos a seção transversal pudemos verificar a espacialização dos sedimentos nos vários ambientes. A distribuição dos sedimentos está associada a capacidade de transporte de sedimentos do rio. A transferência de energia de um sistema fluvial caracterizado pelas variáveis água e sedimentos permite que as mudanças no sistema sejam compreendidas a partir das atividades que são propulsoras desses processos. As mudanças nos sistemas fluviais podem ser analisadas a partir das feições geomórficas, sendo possível observar sequências sedimentares (KINGHTON, 1998). Na seção transversal os dados apresentam predominância de areia fina na calha e na barra submersa. Na calha do rio Sepotuba predominou areia fina variando entre 87,45 e 93,78%. Na barra submersa predominou areia fina (98,5%). Na barra de sedimentos, no cordão marginal estabilizado e na mata ciliar a granulometria ficou distribuída principalmente em areia media, areia fina e silte. Na barra lateral foi registrada a ocorrência de 14,05% de areia grossa, 21,32% de areia média, 25,75% areia fina, 38,07% de silte e 0,17% de argila. O cordão marginal apresenta 7,0% de areia grossa, 29,35% de areia media, 27,77% areia fina, 37,05% silte e 0,78% de argila. Na mata ciliar a granulometria dos sedimentos ficou assim distribuída: 10,62% eram de areia grossa, 29,95 de areia media 26,275% areia fina, 32,26% silte e 0,88% de argila. O aumento da quantidade de silte nesses ambientes está relacionado ao transbordamento do rio Sepotuba, prolongando o fluxo (água e sedimentos) na planície de inundação. Os trabalhos de Cunha (1996), destacam que as barras de areia encontradas ao longo dos rios também estão relacionadas com a rapidez das águas dos rios e depende de vários fatores como a declividade do perfil longitudinal, o gradiente hidráulico, volume de águas, configuração da seção transversal, nível de rugosidade do leito e viscosidade da água. Esses fatores fazem com que a velocidade tenha caráter dinâmico ao longo do canal. A carga suspensa (silte) pode atingir maior distancia, justificando ao aumento da proporção de silte nos ambientes: barra de sedimentos, no cordão marginal estabilizado e na mata ciliar. A carga de sedimentos transportada em suspensão no rio Sepotuba apresentou o valor de 580 mg/l. Os processos deposicionais responsáveis pela morfogênese da planície de inundação são atribuídos a modelos de deposição por acreção lateral e vertical. Apesar da complexidade em definir os processos desses tratos deposicionais na construção da planície, admite-se que há a predominância de materiais finos (tabela 01). Contudo, em decorrência de diferentes processos, a composição pode apresentar-se bastante variada (LEWIN, 1996). Primariamente atribuiu-se a construção das planícies a depósitos muito próximos do canal com a formação de barras de pontal (LEOPOLD, 1994). Na foz, os rios perdem velocidade no fluxo e diminuem a declividade, dificultando o transporte de sedimentos maiores. Deste modo, os sedimentos grosseiros acabam sendo depositados à montante. Neste contexto, esta seção difere da tendência natural. A carga de fundo deveria ser composta principalmente por sedimentos finos, visto que esta seção encontra-se no baixo curso do rio Sepotuba. Os dados mostram que o rio Sepotuba, mesmo no baixo curso, possui competência para transportar materiais grosseiros. Estando associado às variações no regime de vazões, contribuindo para mudar a morfologia de leito e da planície de inundação.

Tabela 01

Tabela 01 - Composição granulometria de sedimentos na seção transversal no baixo curso do rio Sepotuba.

Considerações Finais

Os ambientes presentes no baixo curso da bacia hidrográfica do rio Paraguai são os seguintes: a calha do rio Paraguai, as barras submersas, as barras centrais e laterais, os cordões marginais, os diques marginais e a mata ciliar. Registrou-se a predominância de areia fina no leito e na barra submersa, porém na barra, no cordão marginal e mata ciliar a composição granulométrica dos sedimentos ficou distribuída principalmente entre areia media, areia fina e silte.

Agradecimentos

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