Autores
da Silva Lima, C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO) ; Ernildo de Lima, T. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO) ; Alves de Souza, C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO)
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar a evolução das feições morfológicas no período de 27 anos (1984 a 2011) no segmento entre a foz do rio Jauru e a ilha Tucum no rio Paraguai. Os procedimentos utilizados foram: revisão bibliográfica, atividade de campo e gabinete. As mudanças espaço- temporal das feições morfológicas foram analisadas a partir de imagens do satélite LANDSAT 5 TM, na órbita/ponto 227/71, datado de 08/08/1984 e 16/06/2011. O trecho estudado possui 8.74 km de extensão, com área total de 24.81 km². Em 1984 registrou-se a ocorrência de 3 baías, 20 lagoas, 1 barra de sedimentos e 2 ilhas. Em 2011 registrou a presença de 3 baías, 29 lagoas, 3 barras de sedimentos e 2 Ilhas. Algumas feições surgiram e outras desapareceram nesse período.
Palavras chaves
Rio Paraguai; evolução; feições morfológicas
Introdução
O rio Paraguai possui sua nascente na encosta da Serra dos Parecis localizado ao norte do estado de Mato grosso, sendo considerado o principal formador da Bacia do Alto Paraguai. Souza, Sousa e Lani (2009) citam que o rio Paraguai constitui um dos rios mais importantes de planície no Brasil, tendo seus afluentes, vasta área de planície, e pode ser considerado pela sua forma de anfiteatro como imensa bacia de recepção de águas e sedimentos. Souza (2004) estudou a evolução de feição no rio Paraguai no ano de 1975 e 2004 destacando que as mudanças nas feições morfológicas da planície e na calha do rio são resultado da própria dinâmica do corredor fluvial, que está relacionada ao índice de precipitação, declividade do terreno, litoestrutura local e características do solo. Estes fatores são essenciais para manter o equilíbrio na dinâmica do corredor fluvial, em termos de erosão, transporte e deposição. Os processos de sedimentação que ocorrem no rio Paraguai acontecem no canal ou na planície de inundação. Para Kellerhald et al. (1976) e Dietrich (1985), as características da calha estão, em sua maioria, associadas aos processos de erosão e deposição. Os depósitos de sedimentos pertencem a diferentes categorias, como os que se desenvolvem no eixo central, ou seja, os bancos ou barras centrais (mid channel bar), as barras laterais (channel side bar e point bars), barras submersas e ilhas fluviais. Vários pesquisadores realizaram estudo sobre evolução de feição morfológica destaca-se: Goswami et. al.(1999) em Assan (Índia) monitorou feição morfológica no rio Subanssiri. No Brasil, Fernandez (1990) com estudo sobre mudanças no canal fluvial do rio Paraná, Souza (1998) sobre a dinâmica do córrego Piraputanga, Souza e Cunha (2007) que discutiram evolução das margens do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Taimã – Mato Grosso; e Silva et al. (2012) também discutiram evolução de feição no rio Paraguai. O presente artigo estudo teve objetivo analisar a evolução das feições morfológicas no período de 27 anos (1984 a 2011), no segmento entre a foz do Jauru e a ilha Tucum no rio Paraguai.
Material e métodos
Área de estudo A área de estudo corresponde ao trecho do rio Paraguai, entre a foz do rio Jauru e a jusante da ilha do Tucum. A área encontra-se entre as coordenadas geográficas 16° 22’ 32.85’’ e 16° 27’ 22’’ a de latitude Sul e 57° 46‘ 59.75’’ a 57° 48’ 15.26’’ de longitude Oeste. Tendo 8.74 km de extensão, com área total de 24.81km2. Procedimentos metodológicos O presente estudo foi desenvolvido em etapas e trabalho de gabinete, seguido pelos procedimentos: Revisão bibliográfica, Vetorização cartográfica, e trabalho de campo. 1ª Etapa - Revisão bibliográfica Foi realizada revisão bibliográfica em obras de referências, sobre a temática e da área de estudo. A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os trabalhos realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecerem dados atuais e relevantes ao tema (MARCONI e LAKATOS, 2007). 2ª Etapa - Vetorização cartográfica A vetorização cartográfica foi realizada no software SIG (Sistema de Informações Geográficas) ArcGis® 10.2.2, de 08/08/1984 e 16/06/2011, que permitiu a realização das seguintes operações: • Leitura, visualização, edição, gestão de dados espaciais e entender os dados espaciais do mundo e atividades humanas; • Análises de dados foram incluídas consultas da área em particular e elaboração de modelos complexos, destacando componentes espaciais dos dados e componentes temáticos. • Geração de dados através de mapas, informes e gráficos. As mudanças espaços-temporais das feições morfológicas foram analisadas a partir de imagens do satélite LANDSAT 5 TM, referentes à órbita/ponto 227/71, datado de 08/08/1984 e 16/06/2011 adquiridos pelo catálogo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A composição colorida efetuada nas bandas 3, 4 e 5 onde os limites entre o solo e a água são mostrados mais claramente, sendo possível a vetorização das feições positivas e negativas. O ponto de partida foi através de trabalho de gabinete utilizando-se tratamento das imagens pelo software ArcGis 10.2®, de 1984 classificando as ilhas, barras de sedimentos e lagoas, e em seguida com imagens de 2011 fazendo a comparação das mudanças no corredor fluvial. Tabelas da área em Km² e perímetro em Km, calculados pela função Calculate Geometry2 no software ArcGis 10.2®.
Resultado e discussão
O rio Paraguai no segmento estudado possui padrão retilíneo, resultante do
controle estrutural da Província Serrana na margem esquerda, porém na margem
direita registra uma faixa de planície de inundação. Verifica também nesse
trecho a presença de várias ilhas fluviais e barras de sedimentos centrais e
laterais.
Com relação à composição geológica, segundo Souza (2004), na margem direita
é caracterizado por aluviões atuais (depósitos recentes de areias, silte,
argilas e cascalhos). Na margem esquerda o segmento apresenta controle
estrutural, definido como Província Serrana pelo projeto RADAMBRASIL (1982),
destacando-se a Formação Raizama e a Formação Araras.
A vegetação presente é caracterizada como floresta aluvial dossel
emergente. Em 1984 registrou baixa ocorrência de vegetação de médio porte.
Em 2011 a vegetação é mais abundante era a vegetação arbustiva, no entanto
observou à presença de área desmatada que foi destinada a plantação de pasto
para criação bovina.
O trecho estudado possui 8,74 km de extensão, com área total de 24,81 km².
Em 1984 registrou-se a ocorrência de 3 baías, 20 lagoas, 1 barra de
sedimentos e 2 ilhas. Em 2011 registrou a presença de 3 baías, 29 lagoas, 2
barras de sedimentos e 3 Ilhas. Em 27 anos houve o aumento de 11 lagoas,
desaparecimento de 2 lagoas e surgiram 2 bancos de sedimentos. .
As ilhas fluviais reduziram sua dimensão. A ilha 1, denominada ilha da Barra
do Rio Velho apresentou perda de 0.012 km² e a ilha 2 (ilha Tucum)
apresentou perda de 0.017 km². Essas reduções em suas áreas podem estar
associadas à erosão fluvial. A ilha 3 aumentou seu tamanho estando associado
a processo de sedimentação a montante da ilha.
Conforme Bayer e Zancopé (2014) a presença de ilhas está associada à
continuidade do processo sedimentar. Tal processo gera primeiramente barras
arenosas de centro de canal como consequência de fatores hidrodinâmicos que
promovem uma expansão e desaceleração dos fluxos, perda de capacidade de
transporte e acumulação de materiais predominantemente arenosos a montante e
nas laterais das barras.
As três baías presentes na área de estudo, correspondem a um meandro
abandonado que devido processo sedimentação originou as três baías.
Permaneceu a mesma quantidade de baías, no período analisado, mas elas
apresentaram aumento na área. Em 2011 a lagoa 16 conectou com a baía 1
(figura 01).
Em 1984 lagoas presentes na área eram 20 evoluindo para 31, porém registrou
o desaparecimento de duas lagoas (12 e 16). Observa-se que a maior parte das
lagoas diminuiu de tamanho até o ano de 2011. As lagoas 1,3, 5, 6, 13 e 14
aumentaram o seu tamanho e 10 lagoas diminuíram sua área.
A redução do tamanho das lagoas está associada ao processo de sedimentação.
No período de cheias o rio transborda abastecendo as lagoas, junta com a
água são transportados sedimentos, com perda da competência de transportar
no período estiagem o material é depositado nas lagoas. Santos et. al.,
(2008) discute que os depósitos sedimentares originam da deposição de
materiais que estavam em transporte e em diversos graus de mobilidade, que
ocorrem tanto nas margens quanto nos canais do rio, formadas nos locais em
que a velocidade é menor pelo aumento de carga sedimentar (tabela 01).
As barras de sedimentos são depósitos recentes sujeitos a estabilização ou
remoção dependendo do regime hidrológico. Em 1984 havia 1 barra central de
sedimento, em 2011 surgiram 2 barras. A segunda barra de sedimentos
encontra-se na margem direita próxima da planície de inundação e a terceira
barra de sedimentos está localizada a jusante da ilha Tucum no centro do
canal. Os dados confirmaram que a primeira barra de sedimentos apresentou
aumento de 0,036 km² em sua área. De acordo com Novo (2008, p. 226), as
barras são depósitos arenosos finos, simétricos, com diques marginais
radiais que dão origem à bacia de sedimentação interna.
Figura 01 – Feições positivas e negativas presentes no rio Paraguai, entre a foz do rio Jauru e a jusante da ilha do Tucum.
Considerações Finais
No trecho estudado o rio Paraguai possui o padrão de canal retilíneo, influenciado pelo controle estrutural da Província Serrana (na margem esquerda), na margem direita se desenvolveu uma planície de inundação. No período de 27 anos registrou algumas alterações no rio Paraguai e na planície, como: o surgimento de lagoas, baías e barras de sedimentos também houve aumento e redução de feições. As alterações ocorridas podem estar relacionadas à dinâmica fluvial do rio Paraguai, associado ao regime hídrico de cheia e estiagem e a baixa declividade no entorno.
Agradecimentos
Referências
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