Autores
Macedo, H.S. (UFS) ; Cruz, R. (UFS) ; Araújo, H.M. (UFS) ; Campos, I.M. (UFS) ; Santos, A. (UFS)
Resumo
Aracaju, não fugindo a regra dos demais centros urbanos em expansão, vem ao longo do tempo, apresentando problemas nas encostas esculpidas no Grupo Barreiras, localizados nas porções norte e oeste da cidade, as quais têm se constituído em áreas potencias de riscos para a população mais carente. Neste contexto, o presente estudo, visa identificar o processo de erosão urbana no município de Aracaju levando-se em consideração a ocorrência do fenômeno na parte continental, associando a interferência dos processos morfogenéticos e antropogênicos na área. Os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento do trabalho foram: revisão bibliográfica, levantamento de documentos cartográficos e visita a campo. As encostas sem a proteção da cobertura vegetal como defesa natural do solo contra a erosão, apresentam, diversas feições erosivas em estágios evolutivos diferenciados e atualmente indicam possibilidades de riscos para a população residente.
Palavras chaves
Feições Erosivas; Ambiente Urbano; Controle-Prevenção
Introdução
O crescimento rápido e desordenado em diversas cidades especialmente nos países em desenvolvimento é um dos grandes responsáveis pelas alterações ambientais que vem ocorrendo e muitas vezes ocasionando uma intensificação provocada pela ação humana. Segundo Guerra (2006), a urbanização cresceu de forma acelerada e hoje se reconhece que as grandes cidades têm seus problemas ambientais específicos, produzindo desta maneira uma gama variada de efeitos ambientais adversos. Os principais processos erosivos desencadeados nos centros urbanos são causados pelas águas das chuvas. Esses processos são agravados pela ação humana através da alteração das características das condições naturais, seja pelo desmatamento, remoção e ocupação de encostas, com a impermeabilidade de áreas e pela criação de caminhos preferenciais por meio da construção de vias de acesso (GALERANI et al.,1995). O ambiente urbano apresenta-se como uma das maiores expressões de transformação do espaço físico pela ação humana. Uma delas é o desencadeamento das feições erosivas aceleradas que consiste no aumento da faixa de erosão em decorrência da quebra do equilíbrio do meio ambiente pelas atividades humanas. Para todos os casos o uso e o manejo inadequado do solo, levam a ocorrência dos processos erosivos acelerados que muitas vezes se tornam de caráter irreversível. Nas áreas urbanas os prejuízos decorrentes dos processos erosivos são incalculáveis pelo caráter catastrófico inerente as áreas envolvidas, colocando em risco moradias e equipamentos de infraestrutura face aos insucessos das obras de controle quando são implementadas pelo poder público. Aracaju não fugindo a regra dos demais centros urbanos em expansão vem ao longo do tempo apresentando problemas relacionados à erosão nas encostas esculpidas no Grupo Barreiras localizadas nas porções norte e oeste as quais tem se constituído em áreas potenciais de risco para a população mais carente. As encostas situadas nas zonas norte e oeste da cidade sem a proteção da cobertura vegetal como defesa natural do solo contra a erosão apresentam diversas feições erosivas (sulcos, ravinas e voçorocas) em estágios evolutivos diferenciados e atualmente indicam possibilidades de riscos para a população residente, pois considerando as características inerentes a elas as edificações assentadas no topo e em seu terço médio e inferior de forma desordenada e desprovida de um planejamento eficaz de uso do solo podem sofrer desabamento e deslizamento pelo movimento de massa na medida em que Aracaju por sua condição climática está sujeita aos desastres associados a esses movimentos nas encostas. Sendo assim, propostas de controle e gestão do uso e ocupação do solo são pertinentes na medida em que avaliam a capacidade de suporte do ambiente e apontam mecanismos disciplinadores das ações antrópicas. Tais propostas devem ser realizadas com base em diagnósticos ambientais integrados, analisando a relação sociedade-natureza e os problemas ambientais. Devem ainda ter a capacidade de contextualizar a área de estudo em unidades como também espacializar e correlacionar os dados disponíveis, mostrando a interconexão entre as intervenções humanas e os sistemas ambientais. Portanto a análise das feições erosivas visa à constatação da dinâmica a que está sujeita esta unidade espacial, contribuindo direta ou indiretamente para identificar e equacionar os problemas ambientais, possibilitando direcionar as ações da sociedade para possíveis soluções que cada cenário oferece. Neste sentido o desenvolvimento dessa investigação visa contribuir nas atividades de planejamento e gestão territorial do município na medida em que analisou a erosão na parte continental (tabuleiros costeiros) exatamente onde se encontra uma das duas unidades geomorfológicas e se desenvolve o espaço urbano de Aracaju.
Material e métodos
Aracaju esta inserida na mesorregião do leste sergipano estando localizada entre as coordenadas geográficas: 10°55’00” de latitude sul e 37º03’00” de longitude oeste. Limita-se ao Norte com o rio do sal que o separa do município de Nossa Senhora do Socorro na extremidade Sul com o rio vaza barris a Oeste com os municípios de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro e a Leste com o rio Sergipe e Oceano atlântico. Situado a uma altitude de 4 m acima do nível do mar, Aracaju compreende uma área territorial de 181,857 km². Como aporte metodológico para a construção do objetivo central dessa pesquisa faz-se necessário analisar os processos evolutivos das feições erosivas que de modo geral intensificam-se com o desenvolvimento do sistema de produção capitalista através da maior apropriação e transformação dos ambientes naturais por parte do homem. Esses processos por sua vez são de fundamental importância para que se compreenda como a erosão ocorre e quais as suas principais consequências. O homem como agente no processo da dinâmica da paisagem age de modo a alterar tanto positivamente quanto negativamente os sistemas ambientais, derivando assim diferentes níveis de alteração nos sistemas biofísicos terrestres o que Monteiro (1978) denomina por derivações antropogênicas. Os procedimentos metodológicos adotados foram desenvolvidos a partir de revisão bibliográfica, levantamento de documentos cartográficos e visita a campo com registros fotográficos. No primeiro momento a revisão bibliográfica foi de suma importância, pois fundamentou o presente trabalho através das informações encontradas nas mais diversas obras que tratam a respeito do assunto em questão como: livros, periódicos, monografias, dissertações, teses e anais de congressos e/ou encontros. O levantamento dos documentos cartográficos como: cartas, fotografias aéreas e imagens de satélites em diferentes datas e escalas, serviram para complementar as informações sobre as feições erosivas nos morros esculpidos no Grupo Barreiras. A pesquisa de campo auxiliada através da caderneta de anotações, GPS e câmera fotográfica digital, possibilitou descrever sobre a interferência dos processos morfogenéticos e antropogênicos na produção das áreas de risco. No presente estudo considerou-se para efeito de monitoramento das feições erosivas aquelas que porventura estão em estágio inicial e/ou médio de degradação, passível de intervenção e recuperação. O método de abordagem visando à delimitação de áreas com diferentes suscetibilidades a erosão por ravinas e voçorocas foi realizado com base em análises qualitativas. Essa abordagem metodológica baseou-se na análise integrada da paisagem ponderando-se o comportamento das águas e incidências de ravinas e voçorocas em relação aos fatores geológicos, geomorfológicos e pedológicos.
Resultado e discussão
O município de Aracaju está inserido na Província Costeira e Margem
Continental que inclui a Bacia Sedimentar de Sergipe (posicionada a leste do
Estado avançando sobre a plataforma continental). Duas unidades do relevo
dominam a paisagem de Aracaju: a Planície Costeira e os Tabuleiros Costeiros
representados pelos morros elaborados sobre litologias do Grupo Barreiras.
A planície Costeira no município de Aracaju ocupa uma faixa alongada e
assimétrica no sentido NE-SW, sendo constituída por sedimentos quaternários
marinhos e continentais, estando limitada na parte continental pelas
vertentes do Grupo Barreiras.
Nos Tabuleiros Costeiros desenvolvem-se os morros e colinas predominando na
zona Norte nos bairros (Porto Dantas, Cidade Nova e Santos Dumont) as formas
arredondadas mais elevadas da cidade cerca de 100m, ponto de maior cota
altimétrica no morro do urubu e a Oeste exatamente nos bairros (Jabotiana,
Santa Maria e América), onde também ocorrem afloramentos do Grupo Barreiras
as altitudes são bem elevadas.
As encostas variam bastante em comprimento, declividade e formas de um local
para outro além de poder variar bastante num mesmo local algumas vezes.
Todas essas variações devem-se a diferenças geológicas, pedológicas,
geomorfológicas e climáticas.
Considerando o perfil das encostas em Aracaju encontram-se vertentes
convexas com pouca concavidade na parte basal, constituindo-se áreas de
erosão e aporte de sedimentos e sua maior instabilidade decorre da ausência
de cobertura vegetal nas áreas de concentração de fluxo.
As encostas em Aracaju constituem-se essencialmente de argila sendo
sedimentar de origem clástica, homogênea em sua composição química a base de
silicatos de alumina com elementos pouco solúveis.
Cruz (2015), destaca que a ocupação intensa dessas áreas têm acelerado a
dinâmica erosiva e feições morfogenéticos contribuindo para a formação de
sulcos, ravinas e voçorocas que além de alterar as formas das vertentes
expõem em situação de riscos à população instalada nessas localidades como
mostram as figuras abaixo (1 e 2).
Em que se pese a degradação ambiental das encostas em Aracaju é também
provocada pelo desmatamento devido à construção desordenadas de casas e
acúmulo de lixo que são resultados da ação antrópica.
O uso indevido dos sistemas ambientais físicos de Aracaju tem
causado impactos e riscos ambientais. Os impactos por sua vez acompanharam
todo o processo de construção do ambiente urbano local. No rápido
crescimento de Aracaju houve a expansão tanto da sua área periférica quanto
da sua zona de expansão sobre os municípios vizinhos, resultando num
processo de metropolização. Essa nova dinâmica urbana segundo França (1999),
gerou os assentamentos precários e alto grau de degradação ambiental.
A ocupação desordenada da população em áreas de maior declividade tem
estimulado sobremaneira o processo erosivo que se constitui em uma ameaça a
sua própria sobrevivência, principalmente nos ambientes litologicamente
sedimentares envolvendo os bairros: Porto Dantas, Coqueiral, Cidade Nova,
Santos Dumont, América e Santa Maria. Esta ocupação instalada nas encostas
dos Tabuleiros Costeiros aumenta o desequilíbrio entre a pedogênese e a
morfogênese em escala local.
A erosão acelerada de relevante interferência na evolução das vertentes no
espaço urbano é efeito da combinação entre os processos morfogenéticos e as
degradações provocadas pelas ações humanas como a alteração das
características das condições naturais, seja pelo desmatamento, remoção e
ocupação de encostas, aumento das áreas impermeabilizadas e pela criação de
caminhos preferenciais por meio da construção de vias de acesso.
O agravamento da erosão que se verifica em vários pontos de ocupação em
Aracaju está diretamente relacionado ao crescimento vertiginoso da cidade
sem uma política de planejamento adequada as condições ambientais, pois o
que se verifica a cada ano é que a maioria da população em condições sociais
precárias se expõe aos riscos geomorfológicos e geológicos não somente pela
vulnerabilidade do ambiente, mas em alguns casos pelo tipo de moradia
construída a exemplo das casas feitas de Papelão, Madeirit e Alvenaria.
Estas construções passam a ocupar espaços desordenados intensificando o
fluxo de escoamento superficial concentrado.
Para gerenciar as causas e consequências dos eventos geomorfológicos
e geológicos que colocam a população em risco como os movimentos
gravitacionais de massa. Devem-se estabelecer e programar práticas de
prevenção e controle bem definidos. Os projetos de uso e ocupação do solo
urbano devem ser precedidos de planejamento urbanístico integrado que
contemple eficiente e adequado sistema de drenagem, devendo contemplar
também como condição básica a correta concepção de obras de correção quando
o processo erosivo já está instalado (ALMEIDA FILHO & SANTORO, 2004).
A proteção de encostas é uma forma de atuação imprescindível em
qualquer situação ou local, representando um investimento relativamente
pequeno. Para encostas de grandes extensão e volume de terra pode ser a
única solução economicamente viável (CASTELLO; POLIDO, 1986), neste sentido
o uso de estruturas de contenção torna-se inevitável em taludes de
estabilidade crítica, principalmente naqueles que ameaçam vidas humanas.
Os métodos adotados para o controle erosivo variam de acordo com a
necessidade local. O plano de ação presente nos principais métodos, contém
soluções individuais ou até mesmo de grande envergadura, tais como
manutenção de áreas permeáveis dentro dos lotes, cobertura com lona, sacos
de areia e até barragens (macrodrenagem), passando por sistemas de
microdrenagem e pavimentação (GALERANI et al, 1995).
As técnicas de mitigação dos riscos geomorfológicos deve objetivar a
estabilização das encostas. A aplicação das medidas estruturais e/ou não
estruturais é viável ou não a depender das características geográficas as
quais se desenvolve o risco.
De acordo com Carvalho e Galvão (2006), as medidas estruturais são aquelas
de cunho corretivo de alto custo e frequentemente ocasionam impactos
ambientais como:
• Obras de engenharia: são alternativas técnicas comumente aplicadas
para a prevenção e controle de acidentes de deslizamentos em áreas urbanas.
Há uma gama variada de possibilidades técnicas de engenharia capazes de
garantir a segurança de uma dada área de risco geológico ou hidrológico;
• Drenagem: as obras de drenagem têm por objetivo captar e conduzir as
águas superficiais e subterrâneas das encostas evitando a erosão,
infiltração e o acúmulo da água no solo, responsáveis pela deflagração de
deslizamentos;
• Proteção de superfície: tende a impedir a formação de processos
erosivos e diminuir a infiltração de água no maciço, sendo que essa proteção
pode utilizar materiais naturais ou artificiais, devendo-se sempre optar
pela utilização de materiais naturais o que são mais econômicos.
Outra medida de controle de erosão e movimento de massa é a instalação de
muros que geralmente é usado para oferecer resistência a um deslizamento ou
reter os blocos de rochas que estão soltos. Essas estruturas reforçam o
maciço de modo que este possa resistir aos esforços de instabilização. Os
chamados muros de arrimo são aqueles em que a reação do empuxo é dada pelo
peso e pelo atrito na sua base. Outras alternativas de contenção podem ser
classificadas como: revestimento da cobertura vegetal, estabilização do
corte, aterramento, gabião entre outras.
Dinâmica Erosiva em vertentes do Tabuleiro Costeiro no Bairro Porto Dantas.
Considerações Finais
As atividades produtivas humanas deixam marcas profundas e por vezes complexas de serem entendidas. A relação homem-natureza altera profundamente os sistemas naturais em que essas atividades humanas se desenvolvem. A partir da análise das características das feições erosivas de Aracaju, verificou-se, que na área de estudo a organização espacial se estabelece tanto por influência de elementos e fatores naturais quanto pela interferência humana. As ocupações de áreas de topografias mais elevadas na maioria das vezes são realizadas de forma desordenada sem um estudo ou plano de solo eficaz para o desenvolvimento da cidade, provocando desta forma uma variedade de problemas ambientais, entre eles a erosão comandada por diversos fatores naturais relacionados ao clima, relevo, solo e cobertura vegetal. De modo geral, as ocupações nas encostas de Aracaju já apresentam uma dinâmica crescente, sendo fundamental a intervenção do poder público na política de uso e ocupação do solo, concedendo desta maneira uma infraestrutura de obras em saneamento básico que garanta segurança a população residente.
Agradecimentos
Referências
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CARVALHO, C. S. & GALVÃO, T. Prevenção de Riscos de Deslizamento em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Ministério das Cidades; Citeis Alliance, 2006.
CASTELLO, R. R; POLIDO, U. F. As Encostas Urbanas: análise e proposta de metodologia para enfrentar o problema em Vitória (ES). Vitória: UFES, 1986.
CRUZ, R.; ARAUJO, H. M.; MELO, I. S. Analise das Feições Erosivas nas Zonas Norte e Oeste de Aracaju Sergipe. In: XVI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA E APLICADA 'TERRITÓRIOS BRASILEIROS: DINÂMICAS POTENCIALIDADES E VULNERABILIDADES'. 2015, Teresina. Anais...Teresina: UDUFPI, 2015. p. 1446-1453.
FRANÇA, V. L. A. Aracaju: estado e metropolização. São Cristóvão: EDUFS, 1999.
GALERANI, C. et al., Controle da erosão urbana. In: TUCCI, C. E. M.; PORTO, R. L. e BARROS, M. T. (Orgs). Drenagem urbana. Porto Alegre: EDUFRGS, 1995, p. 349-377.
GUERRA, A.J. T. & MARÇAL, M. dos S. Geomorfologia Ambiental. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
MONTEIRO, CARLOS. A. F. . Derivações Antropogênicas dos Geossistemas Terrestres no Brasil e alterações climáticas. ACIESP, p. 43-74, 1978.