Autores
Roney Figueiredo Barbosa, A. (UFAC) ; Beatriz Lima Magalhães, M. (UFAC) ; Lima Santos, W. (UFAC) ; Moreira Lira, E. (UFAC)
Resumo
Partindo do pressuposto de que tanto os fatores endógenos, como os exógenos, são “forças vivas'', e que sua ação modela e transforma o relevo. Portanto, a análise geomorfopedológica de uma topossequência implica o conhecimento da evolução que o relevo apresenta, desta feita, realizada em uma vertente localizada na Rodovia BR-364, trecho Feijó–Tarauacá/Acre. Foram abertas três trincheiras, seguindo a metodologia dos geomorfological sites (AUGUSTIN, 1979). No laboratório, foi realizada a análise textural das amostras, na qual obteve-se a descrição morfológica do solo. Como resultado das análises inferiu-se que a área estudada está em processo de movimentação de massa em superfície e em subsuperfície, demonstrando-se a dinâmica de evolução da vertente. Com base nos valores granulométricos, pode-se concluir que na vertente está ocorrendo a movimentação de material em subsuperfície, resultado, possivelmente atrelado ao escoamento dunniano.
Palavras chaves
Geomorfologia ; Topossequência; Tarauacá
Introdução
Segundo Penteado (1978) o campo de estudo geomorfológico é, pois, uma superfície de contacto, que une a parte sólida do globo: a litosfera, com os seus envólucros: líquido e gasoso. Como todas as superfícies de contacto, a superfície da litosfera é o reflexo de um equilíbrio móvel entre forças de natureza diferente. Essas forças têm sua origem no interior da Terra: processos endógenos, e no exterior, processos exógenos, referentes à atmosfera-hidrosfera e biosfera. Esse campo é dinâmico porque as forças agem e reagem, gerando um sistema de interferências. Assim, tendo como base para o estudo da dinâmica de vertente utilizamos o conceito de vertente que foi consagrado por Dylik (1968), sendo genericamente entendida como “toda superfície terrestre inclinada, muito extensa ou distintamente limitada, subordinada às leis gerais da gravidade (...)”. Uma vertente contém subsídios importantes para a compreensão dos mecanismos morfogenéticos responsáveis pela elaboração do relevo na escala de tempo geológico (propriedades geoecológicas), permitindo entender as mudanças processuais recentes (processos morfodinâmicos), na escala de tempo histórico, se individualizando como palco de transformações sócio reprodutoras. Na área estudada foi analisada a paisagem, observando a morfologia do relevo, o domínio morfoclimático da região, a ação do clima, a ação antrópica, as mudanças do relevo no local. Na observação, levou-se em consideração os fatores endógenos e exógenos como modeladores da paisagem. Como fatores exógenos, considera-se o clima (elementos climáticos), a vegetação e o próprio homem através de seus diversos usos da terra. Como fatores endógenos que tem-se as atividades que acontecem no interior da terra e refletem no relevo superficial. Segundo Guerra (2008) topossequência é a sequência de solos que ocorrem numa área, sendo diferente um do outro em função da posição topográfica que cada um ocupa. Para melhor compreensão da dinâmica dos solos se faz necessário o entendimento de alguns fatores e processos, (AMARAL apud REIS et al, 2007) A partir dos estudos de sequência topográfica é possível entender a pedogênese e o comportamento dos solos, sobretudo por possibilitarem o estabelecimento de correlações entre a profundidade e a superfície. O objetivo deste trabalho foi apresentar uma análise geomorfopedológica de uma sequência topográfica, realizada na Rodovia BR-364, trecho Feijó– Tarauacá/Ac, avaliando as possíveis hipóteses de sua evolução.
Material e métodos
A pesquisa foi realizada no Estado do Acre, na microrregião de Tarauacá, em um trecho da BR-364, em uma propriedade rural, destinada à pecuária que está localizada nas coordenadas 70°41”55.54’W e 8°10”12.71’S, como podemos ver na Figura 01. Segundo o Zoneamento Ecológico e Econômico (ACRE, 2000), o relevo do estado é composto, em sua grande parte por rochas sedimentares, formando uma plataforma regular, que desce em cotas suaves da ordem de 300m, com exceção da região mais ocidental, que apresenta características oriundas da ramificação da Serra Peruana de Contamana, com altitude máxima de 600m. Os solos são de origem sedimentar, e abrigam uma vegetação natural, em sua maior parte composta de dois tipos de florestas, Tropical Densa e Tropical Aberta, caracterizadas por sua heterogeneidade florística. O clima é do tipo equatorial quente e úmido, com altas temperaturas, elevados índices de precipitação pluviométrica, e alta umidade relativa do ar. A rede hidrográfica é bem complexa, e sua drenagem bem distribuída (ACRE, 2000). Inicialmente, mediu-se a declividade da vertente, utilizando-se um clinômetro, marca Suunto P-5 e 3 (três) balizas topográficas. Utilizou-se os princípios da metodologia dos geomorfhological sites adotada por Augustin (1979). Na vertente foram abertos três perfis localizados sequencialmente na parte alta (true slope), média e baixa, denominados de setor 1, 2 e 3, respectivamente. O comprimento da vertente é de 40m de extensão, logo a distância do setor 1 para a 2 foi de 20 metros, com declividade: 5,0º; do setor 2 para o 3 foi de 20 metros, com declividade: 5,7º. Logo, segundo a classificação de SANTOS (2005) o relevo pode ser classificado Suave Ondulado, de 3 a 8% de declividade. Para a descrição da morfologia de um solo, recorre-se a abertura de uma trincheira de tamanho suficiente para que se possa avaliar as características morfológicas, tomar fotografias e coletar material. A abertura da trincheira é, na maioria das vezes, ainda feita manualmente. Para isso, algumas ferramentas básicas são indispensáveis [...] (SANTOS, 2005, p. 4). As profundidades dos 3 (três) perfis foram de 1,60m, 1,70m e 1,45m na alta, média e baixa vertente, respectivamente, todas com uma face vertical e em favoráveis condições para a avaliação dos horizontes. Depois da trincheira aberta, coletou-se as amostras de solos de todos os horizontes encontrados, sendo as mesas acondicionadas em sacos plásticos, com sua devida descrição. Em seguida, foi mensurado a espessura e profundidade de cada horizonte, conforme Santos (2005). No laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia da Universidade Federal do Acre (UFAC), foram realizadas as análises das amostras coletadas. Primeiramente, o material foi exposto para secagem durante cinco dias, seguindo-se com o destorroamento, pesagem, lavagem, e secagem do solo em estufa. A análise da textura do solo seguiu o procedimento da pipeta, como descrito no Manual de Métodos de Análise de Solo EMBRAPA 2011, Posteriormente, foi feita a descrição morfológica, identificando a cor, estrutura, consistência, transição, raízes e presença biológica. Assim, para que possamos estudar a caracterização se uma topossequência se fez necessário trabalhos anteriores próximo a área estudada, para tanto se fez o a análise bibliográfica de RIBEIRO NETO, 2001.
Resultado e discussão
A vertente estudada é do tipo retilínea, por apresentar um ângulo constante.
Além disso, é um local sofre influência com intemperismo, transporte e
deposição de materiais, pelo uso do solo ser destinado a pecuária, causando
sua degradação.
Pela observação no local, pode-se notar que sofreu a retirada quase total da
vegetação, assim a vertente está relacionada com a interação antrópica, e a
ação do homem tem efeito direto na evolução do processo de erosão, com a
retirada da vegetação desta área para usá-la como pastagem. Sabe-se que a
cobertura vegetal é responsável pela consistência do solo e que impede,
através das raízes, o escoamento das águas, sendo assim extremamente
necessária para manter a camada do solo, uma vez retirada esta cobertura, o
solo fica desprotegido e suscetível a erosão, principalmente da água, o que
é possível, pois trata-se de uma área de declive e a região possui altos
índices de pluviosidade.
A região amazônica possui altos índices pluviométricos (>2000 mm anuais),
logo, deve-se levar em conta que a água é o principal desencadeador dos
processos geomorfológicos, ou seja, os processos de transformação das
paisagens. Por se tratar de uma área de litologia suscetível a erosão, rocha
sedimentar, o impacto da chuva desagrega os materiais facilmente e os
transporta para a parte mais baixa da vertente. Segundo Teixeira (2005) a
precipitação é determinante, no entanto depende da litologia, isto é, são as
condições de infiltração, circulação e armazenamento da água no solo que
determinam a sua maior ou menor capacidade de resistência à ruptura.
Outra hipótese que podemos inferir sobre o local é que pode estar ocorrendo
rolamento constante do topo da vertente até a parte baixa, e ainda pode
estar ocorrendo influência da Neotectônica, haja vista estar em um local
onde há influência eventos sismológicos, considerando-se sua proximidade com
a cadeia andina.
Se for levado em conta que a vertente observada era contínua, pode-se
imaginar o quanto a drenagem tirou e basculhou para outra área. Neste local
podem ser notados pequenos morros testemunhos, que estão abaixo dos maiores,
são os pequenos patamares, estes são formados exatamente pelo material que
foi deslocado da parte de cima.
A figura 2. Demonstra a granulometria predominante nos solos dos três perfis
na alta, média e baixa vertente. Para isso, utilizamos como referência os
resultados obtidos nos horizontes B, como podemos ver o terço superior e o
terço inferior houve uma predominância maior de muita argila, já o terço
médio há maior percentual de um solo argiloso. Para chegar a essa conclusão
utilizamos os resultados da tabela 03.
Com base na análise física do solo, foi possível afirmar qual a principal
característica granulométrica predominante em cada perfil. Assim, utilizou-
se como parâmetro de avaliação o triângulo de classificação textural, com
base nos resultados da figura 03.
Com base na análise física dos perfis de solos pode-se obter muitas
informações, como porosidade, densidades globais e reais. Com base no teor
de argila, silte e areia, constatados nas análises laboratoriais, pode-se
inferir que na vertente estudada pode estar ocorrendo a troca de materiais,
pelo lençol freático, tanto horizontalmente como verticalmente. Haja vista,
ter a presença em maior ou menor quantidade de materiais, como areia, argila
e silte entre os horizontes. Entretanto, como há uma diferença muito grande
entre o percentual Argila no horizonte B2 e o horizonte C, uma das possíveis
explicações é o Neotectonismo, muito embora sua inconsistência nos
resultados.
É uma vertente de gravidade bem regulada, que depende do talhe e da
densidade das partículas. Quanto maior o diâmetro médio dos elementos
rolados maior será o declive. É notável a ondulação ao longo da
topossequência, logo podemos inferir que há a ocorrência de material rolado
ao longo dos perfis.
Portanto, com base nos resultados da análise do clinômetro, pode-se inferir
que o relevo da área estudada é Suave Ondulado. Por ser uma área com
declividade média de 5.35º, há a ocorrência de movimentação nas vertentes,
pois quanto maior o declive, maior será a influência da força da gravidade
sobre os materiais existentes que, caso estejam fragilizados, facilmente se
desagregam e se movimentam ao longo da vertente. Assim, infere-se que é uma
área que está em intenso processo de movimentação de massa.
o mapa tem por objetivo demonstrar o local da vertente na qual foi o objeto de estudo.
Nessa imagem representa o nosso método de análise que foi realizado para demonstrar os diferentes características de solo ao longo dos perfis.
A imagem demonstra a análise física dos 3 perfis.
Essa imagem tem por objetivo mostrar a ondulação do relevo no decorrer das vertentes e demonstrar a ondulação da vertente.
Considerações Finais
Os resultados obtidos nas análises, e as hipóteses levantadas, como, a influência da Neotectônica; a granulometria predominante nos solos dos três perfis na alta, média e baixa vertente; a movimentação de massas; e a ocorrência de rolamento constante do topo da vertente até a parte baixa, confirmam que a influência de fatores naturais (endógenos e exógenos) e antrópicos agem nesta vertente e estão modificando-a. Principalmente, pelo uso econômico que esta área possui, que causa a degradação da vegetação e erosão do solo. O estudo desta topossequência foi importante por incorporar conhecimentos envolvendo fatos de interesses diversos e atuais, ou seja, inserir o homem como modificador da paisagem, com a apropriação do relevo como recurso econômico. Uma ação do homem, como a retirada da vegetação, desencadeou e intensificou diversos fatores naturais nesta vertente, modificando radicalmente o predomínio da infiltração para o domínio do fluxo por terra; o desenvolvimento da morfogênese em detrimento da pedogênese; as atividades erosivas em relação ao comportamento biostásico relativo ao estágio anterior, dando lugar a rexistasia ao longo da vertente. Portanto, a Amazônia ainda possui poucos estudos Geomorfológicos, assim, este estudo é válido para maior compreensão desta região e comportamento do relevo, podendo prever e/ou reparar presentes e futuros danos naturais e antrópicos nesta paisagem. Assim, o estudo geomorfológico é importante para o planejamento urbano e regional.
Agradecimentos
Referências
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