Autores
Barros, D.V. (UEMA) ; Silva, Q.D. (UEMA) ; Rodrigues, T.O. (UEMA) ; Santana, R.G. (UEMA) ; Costa, C.M. (UEMA) ; Lisboa, G.S. (UEMA) ; Leão, C.A. (UEMA)
Resumo
Os movimentos de massa são fenômenos naturais que fazem parte da evolução geomorfológica das encostas e da paisagem. Nas áreas urbanas, estes eventos são potencializados, causando perdas materiais e humanas para a sociedade. Partindo deste pressuposto, objetivou-se neste trabalho diagnosticar as áreas com ocorrência dos fenômenos supracitados na bacia do rio Bacanga, São Luís- MA, através de trabalhos de campo. Para o alcance destes objetivos realizou-se um levantamento bibliográfico, trabalhos de campo, entrevistas e mapearam-se as áreas com ocorrência de movimentos de massa na área em questão. Três áreas foram diagnosticadas com os fenômenos supracitados, sendo uma no bairro Salinas do Sacavém e duas na Vila Embratel. Conclui-se que existem áreas com ocorrência de movimentos de massa na área urbana da bacia em questão e que são aproximadamente 210 pessoas afetadas. Acredita-se que este e outros trabalhos poderão ser utilizados para minimizar estes problemas na área urbana de São Luís.
Palavras chaves
Movimentos de massa; Salinas do Sacavém e Vila Embratel; Bacia hidrográfica do Bacanga
Introdução
Os movimentos de massa são os deslocamentos descendentes de materiais presentes nas encostas como rochas, solos, enchimentos artificiais ou a combinação desses, podendo ser classificados conforme o tipo de movimento e o material envolvido (ARAÚJO, ALMEIDA e GUERRA, 2005; FERNANDES e AMARAL, 2003). Os movimentos de massa são fenômenos onde ocorre um movimento coletivo de solo e/ou rocha, onde a gravidade /declividade possui um papel significativo (GUERRA, 2014). A água também pode ser um fator relevante na ocorrência desses fenômenos, dependendo da porosidade dos materiais e da quantidade de chuva ou outro tipo de forma de água a que estão expostos (PRESS, SIEVER, GROTZINGER E JORDAN, 2006). Apesar de a água ter a capacidade de tornar o processo ainda mais catastrófico, esta não é necessariamente o principal agente desse processo geomorfológico (PETLEY, 1984; SELBY, 1990; GOUDIE, 1995 citado por GUERRA, 2014). Os fenômenos supracitados são naturais, fazendo parte da evolução geomorfológica das encostas e da paisagem, no entanto, podem ser agravados devido à interferência antrópica. Em sua maioria, estes processos se destacam em escala global por causarem grandes prejuízos à humanidade, com danos na ordem de dezenas de bilhões de dólares por ano (FERNANDES E AMARAL, 2003). Por meio do estudo da ação antropogênica evidencia-se a relação entre o ser humano e as encostas. Os processos de movimentos de massa têm impacto direto no uso da terra e podem em casos extremos constituir riscos à vida humana (SMALL E CLARK, 1982 apud GUERRA, 2011). Existe uma série de características intrínsecas das encostas que podem desencadear os movimentos de massa (SELBY, 1993 apud GUERRA, 2011), porém nas áreas urbanas, essas características são potencializadas devido ao uso intensivo e desordenado das encostas. De acordo com Guimarães et. al. (2008), o Brasil apresenta condições climáticas e geomorfológicas favoráveis ao desencadeamento desses fenômenos. No entanto, a ocupação irregular das encostas, com o consequente desmatamento e o corte de taludes nas áreas urbanas, propicia maior suscetibilidade à ocorrência desses eventos. A expansão urbana tem acontecido de maneira intensa em todo o Brasil desde os anos 1960, e em São Luís (MA) não foi diferente. Segundo a análise realizada por Diniz (2007) citado por Silva (2012), o crescimento urbano de São Luís vem aumentando consideravelmente nas últimas décadas, e a partir de dados publicados e trabalhos de campo, observou-se que muitas populações do município residem em áreas de ocupação inadequada. Neste sentido e como consequência do crescimento urbano, grande parte da população tem se deslocado para locais com menor visibilidade social, locais estes na maioria das vezes impróprios para a ocupação humana. Acredita-se que este fato deve estar relacionado à expansão urbana desse município nos últimos 60 anos. Baseado em dados do IBGE e na análise estatística, Diniz (2007), citado por Silva (2012), afirma-se que 87,1% da população de São Luís já era urbana em 1960, e que este número aumentou significativamente nos anos seguintes. Segundo dados da Defesa Civil Municipal, no ano de 2009, o município de São Luís apresentou diversos bairros com áreas de risco a movimentos de massa, sendo que vários deles estão situados na bacia hidrográfica do Bacanga. De acordo com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM (2012) identificou-se a ocorrência destes fenômenos em diversos bairros situados na bacia hidrográfica do Bacanga, dentre eles estão a Vila Embratel e o bairro Salinas do Sacavém. A partir destes pressupostos e da grande quantidade de famílias que têm enfrentado problemas relacionados ao uso inadequado do solo em São Luís, objetivou-se neste trabalho diagnosticar, através de trabalhos de campo, as áreas com ocorrência de movimentos de massa nos bairros supracitados, a fim de que este e outros documentos sirvam como base para o poder público no que tange ao planejamento territorial de São Luís.
Material e métodos
Para o alcance do objetivo deste trabalho realizou-se um breve levantamento bibliográfico relacionado aos conceitos de movimentos de massa, áreas de risco e geomorfologia urbana em diversas publicações como teses, dissertações, artigos científicos, periódicos impressos e eletrônicos, anais de eventos e dentre outros. Para o mapeamento, processamento e espacialização dos dados referentes a movimentos de massa na bacia hidrográfica do Bacanga, utilizou-se o software ArcGIS for Desktop Advanced, versão 10.2, licença EFL999703439. Esta etapa do trabalho foi realizada no grupo de pesquisa GEOMAP (Grupo de Pesquisa Geomorfologia e Mapeamento), do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Maranhão. Realizaram-se dez trabalhos de campo durante o desenvolvimento do trabalho, os quais ocorreram entre os dias 24 de fevereiro e 28 de outubro de 2015. Os trabalhos de campo tiveram a finalidade de diagnosticar áreas com ocorrência de movimentos de massa na bacia estudada (áreas estas que foram identificadas neste trabalho) além da realização de entrevistas. Elaborou-se também uma ficha de campo a partir de outras já elaboradas por diversos autores como Fernandes e Amaral (2003) e conforme a realidade local. A ficha de campo apresenta doze questões as quais tratam dos aspectos físicos da encosta, tais como as dimensões, inclinação, tipo de material das mesmas, e da forma de uso da área, como instalações residenciais e comerciais no entorno das encostas, dentre outras. As entrevistas foram abertas, semiestruturadas com oito perguntas em média. Durante esta etapa em campo, outras perguntas foram sendo acrescentadas aos moradores conforme a necessidade e a disponibilidade do entrevistado. Na elaboração do mapa de localização das áreas com ocorrência de movimentos de massa na bacia hidrográfica do Bacanga foram utilizadas cartas topográficas da DSG/ME- MINTER, (que estão disponibilizadas na página do ZEE-MA, Zoneamento Ecológico–Econômico do Estado do Maranhão), folhas 13, 21, 22, 23, 29, 30, 31, 38 e 39, referentes à área de estudo, na escala de 1:10.000. Adquiriu-se o banco de dados de Morais (2014) e Bezerra (2011), nos quais havia shapes referentes aos aspectos geoambientais da área, incluindo a vetorização da drenagem e das curvas de nível. A partir dos trabalhos de campo diagnosticaram-se as áreas com ocorrência dos fenômenos estudados (áreas identificadas neste trabalho) e com o GPS marcou-se os polígonos referentes às localidades, uma vez que o mapa proposto era de localização das áreas com ocorrência de movimentos de massa na área urbana da bacia hidrografia do Bacanga.
Resultado e discussão
A bacia hidrográfica do Bacanga possui uma área de 95,18 Km², sendo
considerada a segunda maior bacia hidrográfica da Ilha do Maranhão, ocupando
uma área drenada do município de São Luís. Durante um ano de pesquisa
mapearam-se trêsáreas com ocorrência de movimentos de massa na área urbana
da referidabacia,sendo uma no bairro Salinas do Sacavém e duas no bairro
Vila Embratel (Mapa 1).Devido à escala de trabalho, no mapa de localização
aparecem apenas duas áreas.Tendo em vista que duas estão localizadas no
mesmo bairro, não foi possível fazer a distinção das mesmas.
Existem outras áreas com a ocorrência dos fenômenos aqui estudados na bacia
hidrográfica do Bacanga, no entanto o objetivo do trabalho era diagnosticar
estes fenômenos em áreas urbanas e consideradas de risco pela defesa civil
municipal. As demais áreas com ocorrência de movimentos de massa nesta bacia
ou são áreas rurais ou de risco social elevado, o que impossibilitou a
pesquisa nestas localidades.
Segundo dados da defesa civil municipal, a área com ocorrência de movimentos
de massa no bairro Salinas do Sacavém é considerada condenada e inapropriada
para uso residencial, porém existem ocupações na alta e na baixa encosta, e
todas as casas devem ser desocupadas. São aproximadamente cento e trinta
pessoas que precisam ser desalojadas nesta localidade.
Segundo relatos dos moradores do local, no ano de 2012 um casal morreu
soterrado enquanto dormia e uma família ficou desabrigada devido à
ocorrência de movimentos de massa na encosta. Todas as residências que
existiam ao final da rua foram abandonadas devido ao risco de ocorrer novos
movimentos de massa na localidade.
Em entrevista com populares, conversou-se comumamoradora, a qual está com
sua residência em uma área com ocorrência de movimentos de massa. Segundo a
própria moradora, somente nas primeiras chuvas do ano de 2015 a mesma perdeu
aproximadamente 1,5 m de terreno.Os movimentos de massa ocorrentes nesta
localidade são classificados como escorregamentos rotacionais, uma vez que
ao se desprenderam as porções de solo formam uma concavidade na encosta.
Sabe-se que os movimentos de massa, são fenômenos naturais que fazem parte
da evolução geomorfológica das encostas e da paisagem, no entanto, a ação
humana tem contribuído significativamente para o desencadeamento desses
problemas no bairro Salinas do Sacavém, através da deposição inadequada de
resíduos sólidos, os quais aceleram os processos erosivos no local.
Em relação à estrutura urbana, o bairro Vila Embratel apresenta maiores
características de urbanização em detrimento do bairro Salinas do Sacavém.
No primeiro, há pavimentação asfáltica, as moradias são bem consolidadas
enquanto que no bairro Salinas a estrutura não é totalmente apropriada.
Em entrevista ao jornal O Estado do Maranhão no ano de 2014, o até então
secretário de segurança e cidadania afirmou que quarenta e oito famílias se
encontravam em áreas de risco a movimentos de massa no eixo Itaqui Bacanga,
sendo que destas, trinta famílias encontram-se no bairro Salinas do Sacavém,
mais especificamente na área mapeada neste trabalho.
No bairro Vila Embratel diagnosticou-se duas áreas com ocorrência de
movimentos de massa, as quais receberam na pesquisa o nome da rua principal
de ocorrência do fenômeno. A Rua 15é uma área predominantemente urbana; nela
existem doze casas na base da encosta e também existem residências (não
contabilizadas) na porção superior da mesma. A encosta apresenta quinze
metros de comprimento e declividade de 6%;a base encontra-se comprometida
devido à ação antrópica. Osmoradores depositam resíduos sólidos na base da
encosta e, segundo relatos, constantemente há descida de material (movimento
de massa) em pequena escala. Enquanto a baixa encosta passa por estes
fenômenos encontrando-se sem vegetação, a alta encosta apresenta grande
quantidade de serrapilheira, e muitas árvores, as quais demonstram rastejo.
Em conversa com os moradores, os mesmos afirmaram que as descidas de
material nunca afetaram a população. Segundo os mesmos, a Defesa Civil
Municipal nunca realizou visita técnica nolocal e os populares acreditam que
não é necessário, uma vez que os movimentos de massa ocorrentes na região
são em pequena escala, e não oferece riscos a população.
Apesar destes fatos, acredita-se que alguns moradores omitem os fatos devido
ao medo de serem remanejados. Mesmo sem apresentar alta declividade, infere-
se que ocorrem movimentos de massa em pequena escala; a população pode ser
afetada, uma vez que a encosta fica ao fundo de algumas residências.
Outro fato agravante é a deposição constante de resíduos sólidos na encosta
pelos moradores do local. Constatou-se em campo que o movimento de massa
ocorrente no local é o escorregamento rotacional. A ocorrência do movimento
deixa certa concavidade na encosta onde os moradores depositam os resíduos,
incluindo uma quantidade excessiva de plásticos, o que no período chuvoso
facilita a descida superficial de material.
Na Rua Santa Tereza há uma encosta com ocorrência de escorregamento em
pequena escala, com residências ao fundo. Nas proximidades dessa rua tem-se
também a Rua São Félix, que apresenta grande risco a escorregamentos e
muitas pessoas estão em risco nesta região, segundo o relatório do CPRM
(2011).
Não foi possível a realização de coletas de solo na Rua São Félix, por se
tratar de umaárea de alto risco social; os próprios moradores são impedidos
de conversar com pessoas que não fazem parte do bairro. Por este motivo só
foram coletadas amostras da encosta que abrange a Rua Santa Tereza e a rua
superior a esta.
O topo da encosta encontra-se totalmente impermeabilizado, pois existem ruas
pavimentadas, diversas casas e calçadas. Em entrevista com uma moradora da
região, a mesma relatou que nesta área há constantes movimentos de massa,
mas que durante o ano de 2015 não ocorreu nenhum escorregamento em grande
escala, apenas pequenas quantidades de solo foram destacadas ou se
desprenderam durante as chuvas. Em trabalhos de campo constatou-se que
existem em torno de vinte famílias afetadas, com uma estimativa de oitenta
pessoas aproximadamente que precisam ser remanejadas.
O quadro repete-se na Rua Santa Tereza, no que tangeà influência antrópica
na ocorrência destes eventos. A ação antropogênica tem contribuído
significativamente para o desencadeamento desses problemas nas áreas
supracitadas no bairro Vila Embratel, através da deposição inadequada de
resíduos sólidos, cortes nas encostas e construção de moradias na base da
encosta.
Os movimentos de massa ocorrentes na Rua Santa Tereza são classificados como
escorregamentos translacionais, uma vez que as parcelas do solo desprendem
de forma planar em relação à encosta.
No que diz respeito aos aspectos geoambientais das áreas estudadas, os
mesmos são favoráveis à ocorrência dos eventos aqui estudados (Quadro 1).
Em relação ao contexto geoambiental das áreas com ocorrência de movimentos
de massa no bairro Salinas do Sacavém e Vila Embratel, pode-se inferir que
por se tratar deáreas com relevo suave ondulado e dissecado, com presença de
neossolo regolítico, vertentes planares retilíneas e se tratar de uma
localidade com uso urbano, há propensão à ocorrência dos fenômenos aqui
estudados.No entanto, acredita-se que em ambas as áreas o fator deflagrador
destes problemas tem sido a ação antropogênica.
Considerações Finais
Durante um ano de pesquisa diagnosticou-se a partir dos trabalhos de campo, algumas áreas com ocorrência de movimentos de massa da bacia hidrográfica do Bacanga, no entanto objetivou-se na pesquisa concentrar o estudo na área urbana da mesma. Dentre estas áreas urbanas, algumas apresentavam alto risco social, o que impossibilitou o estudo nestas localidades. Em virtude destes fatos, diagnosticou-se durante esta pesquisa apenas três áreas, sendo duas no bairro Vila Embratel e uma no bairro Salinas do Sacavém. Em trabalhos de campo e análise de relatórios da Defesa Civil Municipal e do CPRM (2011), percebeu-se que todas estas são áreas de risco à população. Em relação ao que foi mapeado e do que foi observado em trabalhos de campo, pode-se inferir que as três áreas com movimentos de massa na bacia hidrográfica do Bacanga apresentam aspectos geoambientais favoráveis para a ocorrência destes fenômenos e que o processo de ocupação inadequada dessas áreas tem contribuído significativamente para o desencadeamento dos mesmos. Neste sentido, sugere-se que estas áreas continuem sendo estudadas, uma vez que o mapa de uso e cobertura do solo indica que há uma crescente ocupação do espaço nesta bacia e que existe atualmente um total de 210 pessoas atingidas no bairro Salinas do Sacavém e na Rua Santa Tereza, na Vila Embratel. Sendo assim, pode-se inferir que estas são áreas que podem ter maiores problemas futuramente, se não houver intervenção do poder público.
Agradecimentos
Agradeço a Deus pelo dom da vida; à Universidade Estadual do Maranhão; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo financiamento da pesquisa já encerrada; à Fapema pelo financiamento de equipamentos necessários à realização da pesquisa, à Profª. Drª Quésia Duarte da Silva pela orientação, apoio e carinho; ao Profº. Drº. José Fernando Bezerrapela orientação e amizade; à minha família; aos amigos do GEOMAP e à Paula, técnica do Laboratório de Geociências da UEMA.
Referências
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