Autores

Queiroz, D.A. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Silva Neto, J.C.A. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Aleixo, N.C.R. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS)

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar a erosividade das chuvas no município de Tefé/AM, ao longo de 30 anos de 1985-2014. Para o desenvolvimento desta pesquisa foram realizadas leituras pertinentes ao tema, além da utilização dos dados do INMET e dados da Universidade do Estado do Amazonas, localizada no município de Tefé-Am. Nos procedimentos metodológicos utilizou- se a variáveis da EUPS (Equação Universal de Perdas de Solo) e o modelo matemático proposto por Tomaselli et al. (1997 apud Souza e Galvani, 2014). Observou-se que os índices de erosividade acima de 1000 MJ mm ha-¹ h-¹ mês-¹ ocorrem entre janeiro e maio, e entre 900 e 700 MJ mm ha-¹ h-¹ mês-¹ ocorreram nos meses de novembro e dezembro, os índices entre o intervalo de 400 a 600 MJ mm ha-¹ h-¹ mês-¹ ocorreram nos meses de junho, julho, setembro e outubro, e o mês de agosto com o menor índice de erosividade com 300,4 MJ mm ha-¹ h-¹ mês-¹.

Palavras chaves

processos erosivos; índice de erosividade; precipitação pluviométrica

Introdução

A Geografia ao longo de seus estudos busca analisar e compreender a relação entre sociedade e natureza e suas transformações ao longo do tempo e espaço, partindo dos pressupostos da análise da paisagem que é uma forma de decodificar o espaço analisado e suas interferências ocasionadas pelo homem sobre o meio. Nesse sentido a paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza, (SANTOS, 1997 apud SUERTEGARAY, 2001) significando que, a paisagem está em perfeita transformação, ou seja, em constante evolução. Nesse sentido, o solo é um dos principais elementos que compõem as paisagens naturais e sociais, pois sofrem influências advindas dos fenômenos naturais e antrópicos. Porém, as mudanças relacionadas aos agentes antropogênicos aceleram as transformações no meio natural, trazendo consigo vários problemas e um deles é vinculado ao uso inadequado do solo. Neste sentido, a modificação do solo e alteração do seu processo de pedogênese é produzida principalmente pela associação de fatores como desflorestamento associada à grande intensidade de chuvas que ocorre na região amazônica e tipo de solos e relevo. O clima também desempenha grandes influências no processo erosivo, produzido pelos agentes da chuva e vento, e que de certo modo é um dos principais atuantes na transformação do relevo. Segundo Cavalcanti & Ferreira et al (2009, p. 200) “a Amazônia apresenta significativa heterogeneidade espacial e sazonal da pluviosidade, sendo a região com maior total pluviométrico anual”. Essa quantidade de precipitação ao atingir o solo, faz com que o processo de erosão natural modele a superfície deste ambiente ao longo dos tempos. Entretanto, este fenômeno pode tornar-se intenso, devido às interferências do homem que traz consigo impactos ambientais que ocasionam o uso inadequado da terra, em diversas áreas da Região Amazônica. Desse modo, o presente artigo apresenta a análise do processo de erosividade das chuvas no município de Tefé/AM, abordando análises que foram elaboradas a partir dos dados de erosividade das chuvas, utilizando-se de exemplos empíricos para identificação das mudanças do uso do solo e associação à transformação da paisagem. Diante disso, a pesquisa teve como objetivo determinar o índice de erosividade por meio de modelo matemático e dados diários de precipitação pluviométrica com série histórica de 30 anos de 1985-2014. O município de Tefé/AM é localizado na região do Médio Solimões no estado do Amazonas e possui 61.453 habitantes, de acordo com o IBGE (2010). O município de Tefé localiza-se entre as coordenadas geográficas 03º15’39” a 05º34’22” S e 64º04’12” a 68º58’32” W, possuindo uma extensão territorial de 23.704km², tendo sua área urbana localizada à margem direita da foz represada do Rio Tefé, que deságua no lago com o mesmo nome, limitando sua porção oeste, noroeste e norte (SILVA, 2009, apud RODRIGUES, 2011, p. 77). Em relação ao clima da região, Albuquerque e Vieira (2014, p.228) abordam que “as características climáticas compreendem altas temperaturas e umidade elevadas praticamente o ano inteiro”, ou seja, o clima desta região e caracterizado como quente e úmido, e seu período de sazonalidade é entre o mês de Janeiro à Julho classificado de período chuvoso onde dar-se à época das cheias, e entre o mês de Agosto à Dezembro é o período da vazante dos rios, que consisti no período da da seca na região. Na região amazônica os processos erosivos tem forte influência do impacto da chuva, devido sua precipitação anual ser em média de 2.300 mm, e os eventos de chuva diária que podem ultrapassar 60 mm, obtendo precipitações elevadas comparadas a outros lugares do mundo, essa configuração das chuvas na região, associada a fatores como: cobertura vegetal e uso da terra, tipos de solos e relevo influenciarão diretamente no desencadeamento dos processos erosivos na região.

Material e métodos

A elaboração da presente pesquisa, primeiramente partiu-se dos levantamentos bibliográficos sobre temas ligados a erosão pluvial de REBELLO (2010) e referências relacionada sobre tempo e clima de Cavalcanti & Ferreira (2009). Para entender a dinâmica da erosividade das chuvas no município de Tefé, utilizou-se como referencial metodológico a proposta de erosão hidrossedimentologia em bacias hidrográficas de Silvia e Schulz et. al (2003), que aborda questões relacionadas de causa/efeito da erosão. Também foi realizada coleta de dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), que possui informações mensais e anuais que foram coletados desde anos de 1985-2014, e ainda os dados da UEA (Universidade do Estado do Amazonas-CEST), para analisar o grau de erosão hídrica pluvial ao longo dos anos nesta área, ressaltando nas análises dos dados a utilização de técnicas estatísticas clássicas. Utilizou-se a variáveis da EUPS (Equação Universal de Perdas de Solo). Segundo Larson et al. (1997 apud Silva e Schulz et al. (2003) o conhecimento sobre fatores que influenciam nos processos erosivos são importantes por que: É prever a médio e a longo prazo a erosão do solo, com base em séries períodos de coletas de dados, e a partir daí promover o planejamento de práticas conservacionistas para reduzir as perdas de solo à níveis aceitáveis. (LARSON et al. apud 1997 SILVA e SCHULZ et al. 2003, p.66) E neste processo os componentes desta equação são o (R) erosividade da chuva, (K), erodibilidade do solo, (LS) topografia, (C) uso da terra e as (P) práticas conservacionistas adotadas nas áreas agrícolas (WICSHIMEIER, SMITTH, 1978, apud SOUZA & GALVANI, 2014, p. 1945.). Desta forma, abordou-se a variável erosividade das chuvas, que segundo Tomaselli (1997 apud Souza e Galvani, 2014), determinou a equação de regressão da erosividade para os índices EI30, conforme a equação a seguir: EI30 = 111,6 (r²/P)0,714 Onde: EI30 = média mensal do índice de erosão expressa em MJ.mm.ha-1.h-1 r = precipitação média mensal em milímetros (mm); P = precipitação média anual em milímetros (mm). Neste contexto, foram realizados trabalhos de campo para medição da intensidade e localização dos processos erosivos como o uso do GPS, para identificar os pontos erosivos na área urbana/rural de Tefé. Portanto, neste processo da elaboração da presente pesquisa foram realizados trabalhos de campo na área de estudo, na qual foram identificadas alguns exemplos de processos erosivos na área, por meio de levantamento fotográfico e utilização de GPS.

Resultado e discussão

Segundo Aleixo & Silva Neto (2015, p.228) “o município de Tefé apresenta o período com maiores totais pluviais entre os meses de janeiro a maio e o período de diminuição das chuvas entre julho e setembro”. Assim, os resultados obtidos mostraram que a precipitação média mensal da área de estudo, os maiores índices de pluviosidade nos meses de Janeiro a Maio, e no período entre Junho a Dezembro ocorreram à diminuição das chuvas na região, conforme a análise do período entre 1985 e 2014. Conforme os valores mensais médios e percentuais da precipitação pluviométrica da área de estudo, Sendo que os primeiros três meses e os três últimos meses do ano correspondem a 60% do valor total da precipitação pluviométrica anual, no Município de Tefé. Em relação à pluviosidade e a sua distribuição média anual, referente aos anos analisados de 1985-2014, pode-se observar que 1988, 1989, 1990, 1999 e 2000 ultrapassaram a média de 2.500 mm, sendo que os outros anos como 2001, 2006, 2005, 2009, 2012, 2013 e 2014, também ultrapassaram a média e corresponderam a totais anuais mais chuvosos. Aleixo & Silva Neto (2015, p. 230) abordam que “a década de 1980 apresentou a maior diferença de anos-padrão com a presença de anos extremamente chuvosos, chuvosos, habituais, secos e extremamente secos”. A década de 1990 apresentaram menores valores pluviométricos, sendo que o ano de 2005 foi marcado pela a ocorrência da grande seca que atingiu a região Amazônica com a redução das chuvas intensas na região. Segundo Aleixo & Silva Neto (2015, p. 230) “apresentou o maior número de anos caracterizados como secos. A partir do ano 2000, predominou a ocorrência de anos chuvosos e habituais”. Cavalcanti (2009, p. 211) afirma que “a seca de 2005, uma das piores registradas na Amazônia, não estava relacionada ao El Niño, como a maioria das anteriores, mas ao aquecimento das águas do Atlântico Tropical Norte”. No que se refere ao evento do ENOS (El Niño Oscilação Sul), teve suas influencias nos anos de 1992, 1993 e 1998 de acordo com Aleixo & Silva Neto (2015, p.230) “o evento El Niño influenciou na diminuição da precipitação, com a caracterização de anos secos e extremamente secos”, sendo que o evento La Niña se apresentou nos anos de 1988, 1989 e 1999, onde obteve um aumento da pluviosidade analisando o total anual de chuva destaca-se que nos anos 1988, 1989, 1990 e 2012 foram os anos onde se observou o aumento de totais de chuvas que ultrapassaram a média de 2.300 mm. Desse modo, a média anual dos anos analisados foi usada para dispor o cálculo e o índice de erosividade no município de Tefé/AM. Os valores médios da erosividade estão densamente relacionados aos eventos da precipitação, e com isto, o cálculo elaborado se baseia nas médias anuais e mensais da mesma. Assim, como pode se observar no (gráfico 01) onde expõe a distribuição média anual do índice de erosividade da área de estudo. Verificou-se que o ano aonde se concentra os maiores índices de erosividade foram no ano de 1988 e 2012, pois a erosividade está diretamente ligada ao aumento da pluviosidade neste ano e os menores índices corresponderam aos anos de 1995 e 1998 e como havia abordado anteriormente. O Gráfico 02 exibe a distribuição mensal do índice de erosividade da área de estudo, desta forma os maiores valores ocorreram nos meses de março e abril e os menores índices nos meses de agosto e julho. Observou-se que os índices de erosividade acima de 1000 mm ocorrem entre janeiro e maio, e entre 900 mm e 700 mm ocorreram nos meses de novembro e dezembro, os índices entre o intervalo de 400 mm a 600 mm ocorreram nos meses de junho, julho, setembro e outubro, e o mês de agosto com o menor índice de erosividade com 300,4 mm. Os maiores índices de erosividade são observados entre os meses de janeiro a maio, sendo que o total correspondem a 60% do valor da erosividade. E os menores valores são dos meses de julho a agosto com o total de sua porcentagem de 13% e os meses de outubro, novembro e dezembro correspondem com 20% da erosividade das chuvas na área estudada. Desta maneira, diante dos altos índices de erosividade, ressalta-se que quanto maior o índice, maior será a perda do solo pela erosão. Assim, ação da erosão hídrica no solo é considerada uma das mais importantes formas de erosão que atuam no nosso planeta, vinculados aos fatores naturais e principalmente antropogênicos. Segundo Bertoni & Lombardo Neto, (1990, p. 45 apud Vitte & Mello, 2007, p.109) “a chuva é um dos fatores de maior importância para a erosão, sendo que sua intensidade, sua duração e a sua frequência são as propriedades mais importantes para o processo erosivo”. O efeito causado pela chuva no solo traz vários fatores que influenciam este fenômeno, tais como a erosividade (R) o fator ativo deste processo que é potencial das chuvas em causar a erosão, a erodibilidade (K) do solo que é denominado o fator passivo, sendo a capacidade que tem o solo de absolver a água (Silva & Schulz et al. 2003). Outro fator atuante de grande relevância na preservação do solo contra a intensificação da erosão, é a cobertura vegetal que vêm sob condições naturais intervir os impactos das gotas de chuvas que atingem a superfície terrestre como aborda Salomão (2005, p.232) “a cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão”. Nesse sentido, a erosividade em áreas de floresta com densa cobertura vegetal exerce menos influência no agravamento dos processos erosivos e na perda de solos. Diante desses fatores irá afetar em alto grau em áreas de solos exposto, com ausência de cobertura vegetal adequada, acarretando o solo a ficar propício aos primeiros impactos do processo erosivos, isto se deve ao fato de estar vinculado, ao tipo do solo e as práticas do manejo do solo. Deste modo, Silva e Schulz et al. (2003, p. 21) abordam que, “floresta fazem o papel de “amortecedores ” da energia cinética contida na gota d’água e as partículas do solo e evitando o primeiro passo do processo erosivo, que é a erosão por embate ou salpicamento”, ou seja, as copas das árvores servem de proteção das gotas d’água de chuvas no solo, porém algumas gotas de chuvas escorrem das folhas e atingem o solo, no entanto não exercem tantos riscos a superfície.

Gráfico 01

Distribuição do índice de erosividade média anual da área de estudo

Gráfico 02

Distribuição mensal do índice de erosividade da área de estudo.

Considerações Finais

Por meio da análise dos processos da erosividade das chuvas foi possível determinar por meio dos dados pluviométricos e tratamento estatístico a elaboração da análise do índice anual e mensal da erosividade das chuvas para o município Tefé/AM. Verificou-se que o índice de erosividade está diretamente associado ao índice pluviométrico que se apresenta em um determinado ano, e isto pode ser observado nas análises dos dados referente à erosividade, visto que, as possibilidades de maiores perdas do solo relacionam-se com os meses em que o índice de erosividade é maior. Este fator faz com que as áreas que não possuem cobertura vegetal sejam mais atingidas pelos processos erosivos, esses danos causados ação da chuva e pela ação humana intensificam este processo. Ressalta-se que a erosividade das chuvas pode ocorrer tanto na paisagem natural agindo de forma natural no solo, mais por outro lado esta ação pode se ampliar gradualmente em paisagens alteradas, ou seja, este fenômeno se torna intenso com influências advindas das inter-relações entre sociedade e natureza. Por fim, este estudo inicial poderá servir como apoio para o entendimento das relações dos processos erosivos e perdas de solos produtivos na Região do Médio Solimões, e que diante destes fatores ressalta-se que os processos erosivos podem acarretar grandes danos às esferas ambiental e social da região.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico - CNPQ, pelo apoio financeiro por meio do Edital Universal para o projeto de pesquisa intitulado "Variabilidade Climática e Dinâmica Socioambiental no Médio Solimões-AM".

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