Autores

Oliveira, T.A. (IFSULDEMINAS-CAMPUS POÇOS DE CALDAS)

Resumo

Este trabalho apresenta a organização das drenagens na bacia hidrográfica do rio Lourenço Velho, Sul do estado de Minas Gerais, com inferências sobre a importância do quadro litoestrutural para a formação de padrões característicos. É apoiado pela análise e interpretação de imagens ASTER com integração das informações geológica e topográficas. Os resultados são ratificados pelos dados apresentados em outros estudos e desenvolvidos junto aos terrenos da Mantiqueira.

Palavras chaves

Canais de drenagem; Litoestrutura; Bacia hidrográfica

Introdução

O contexto litoestrutural da área correlata à Serra da Mantiqueira, porção Sul do estado de Minas Gerais, distingue-se em um conjunto complexo de rochas pré-cambrianas, tensionadas por cinturões de cisalhamento e feixes de falhas. Informações disponibilizadas por Magalhães Jr. e Diniz (1997) em estudo realizado na bacia do rio Sapucaí sobre os padrões e direções de drenagem e por Magalhães Jr. e Trindade (2005) sobre a relação da morfodinâmica fluvial cenozoica em zonas de contato com as estruturas geológicas lineares, denunciam de forma inconteste, o comando que a litologia e os alinhamentos estruturais exercem sobre a organização dos canais fluviais nessas áreas. Oliveira (2013;2014) destacou que na a bacia hidrográfica do rio Lourenço Velho o modelado é trabalhado pela incisão vertical, e os alinhamentos geológicos estruturais exercem função primordial na configuração e orientação dos vales e topos de interflúvios. Este trabalho, elaborado a partir da análise e interpretação de imagem ASTER em integração às informações geológicas e topográficas disponíveis para a área em questão, culminou na apresentação de considerações sobre os padrões de drenagem característicos da bacia hidrográfica do rio Lourenço Velho e a relação desses padrões com o contexto litoestrutural da área.

Material e métodos

O trabalho desenvolveu-se a partir de informações adquiridas por meio da consulta à bibliografia especializada sobre e da análise e interpretação de imagem ASTER, disponível gratuitamente em ambiente virtual. As folhas topográficas Itajubá (IBGE,1971) SF.23-Y-B-III-3; Lorena (IBGE, 1975) SF.23-Y-B-VI-2; Santa Rita do Sapucaí (IBGE,1971) SF.23-Y-B-II-4; Virgínia (IBGE,1971) SF.23-Y-B-III-4, foram utilizadas na composição do mosaico topográfico da bacia, nas atividades de campo e no auxílio à interpretação dos dados de morfometria. As informações litoestruturais, em formato shape file, foram extraídas da folha geológica Itajubá (SF-23-Y-B=III), trabalho coordenado por Trouw et. al (2008) em parceria com a CPRM. O projeto “Geodiversidade” editado pela CPRM (2006) ofereceu suporte aos ajustes necessários. A extração da rede de drenagem foi processada no software Global Mapper 11 e a análise e interpretação dos padrões a elas correlatos seguiu os pressupostos de Christofoletti (1974) e de Soares e Fiori (1976), adaptados às necessidades do trabalho. O programa Global Mapper 11 viabilizou também a organização e sistematização das informações dos arquivos shape e o programa ArcGIS 9.3 deu conta da integração dos dados e elaboração do documento cartográfico final. As discussões finais foram pautadas nos resultados conquistados pela integração dos dados de gabinete aliados às observações em campo. A cartografia dos padrões de drenagem, oriunda da interpretação da imagem ASTER em associação às informações topográficas foi elaborada em escala 1:50.000. Ajustes escalares mostraram-se necessários quando da integração aos dados litoestruturais. Atendendo às necessidades o documento cartográfico produzido, é aqui apresentado em escala de menor detalhamento.

Resultado e discussão

Os trabalhos de Ebert (1968;1971), Leonardos Jr. et. al. (1974), Wernick e Penalva (1974), Cavalcante et. al. (1979), de Almeida e Hasui (1984) e Trouw et. al. (2007;2008) são aqueles que melhor caracterizam a geologia da Mantiqueira meridional e consequentemente, da bacia hidrográfica do rio Lourenço Velho. De forma geral, o conteúdo geológico dos terrenos aí contextualizados, é representado por granitos e granitóides pré-cambrianos da província geológica Mantiqueira, intercalados por metamórficas gnáissicas, ortognáissicas, paragnáissicas e migmatíticas. São presentes também depósitos aluvionares quaternários, pleistocênicos e holocênicos. Moura et. al (2013) aplicaram o índice de relação declividade x extensão do topo - RDE em drenagens afluentes do rio Lourenço Velho e deram conta da ação da tectônica ativa agindo na região com reflexos sobre os cursos d’água analisados. (MOURA et. al, 2013). As informações prestadas por Trouw et. al (2007;2008) destacaram a interferência de zonas de cisalhamento na configuração das drenagens. Os fraturamentos correlatos à zona de cisalhamento de Caxambu e à zona de Cisalhamento de Maria da Fé, de direção NE/SW, impuseram às drenagens de ordens superiores, afluentes diretas do Lourenço Velho, perfis retilinizados alinhados na mesma direção. Os contatos entre litologias graníticas e gnáissicas também representam importantes elementos orientadores das drenagens e dos seus padrões, tal como observado por Oliveira (2013). A análise da imagem ASTER calibrada com as informações litológicas e somada às informações de campo, expôs o aprofundamento vertical das drenagens pelos planos de menor resistência da rocha. De forma geral, a relação entre a estrutura e os cursos fluviais se dá pela predominância dos fraturamentos e falhamentos ajustados ao trend regional (NE/SW) que subsidiaram o posicionamento paralelo das drenagens tributárias diretas do rio Lourenço Velho e pela presença de fraturas transversais a essa orientação, onde os afluentes de ordens inferiores ajustaram seus cursos (Figura 1). Estes aspectos já haviam sido retratados no trabalho desenvolvido por Magalhães Jr. e Diniz (1997), que alertaram que a padronagem paralela das drenagens são reflexos dos sistemas estruturais de direções NE/SW, NNE/SSW e ENE/WSW constantes na bacia do rio Sapucaí, da qual a bacia do rio Lourenço Velho é tributária. Em resolução às informações extraídas da imagem ASTER, conjugada às informações geológicas, topográficas e de campo foi possível distinguir 4 padrões de drenagem característicos na bacia. - Padrão em treliça: ocorre largamente na bacia, cobrindo as porções leste, central e oeste da mesma. É resultante do controle que os lineamentos estruturais mais extensos exercem sobre os tributários diretos do rio Lourenço Velho. Nesse arranjo, os canais ajustados à declividade do terreno (consequentes)e em geral retilíneos, recebem canais que fluem em direção transversal (subsequentes) a eles, exibindo confluências em “angulação reta”. Em geral, os rios consequentes, de ordens superiores alinham-se ao trend regional, de orientação NE-SW e os subsequentes alinham-se aos sistemas de fraturamento perpendiculares a essa direção, criados ou pelos esforços mecânicos ativados tectonicamente ou pela ocorrência de zonas de menor resistência das estruturas rochosas. - Padrão retangular: as alterações repentinas de direção processadas pela drenagem denunciam esse padrão que ocorre de forma mais específica junto às subbacias dos ribeirões Sabará e Cambuí, na porção noroeste da bacia. Acompanham a tendência normal das drenagens ao ajuste proporcionado pela estrutura, configurando-se como uma variante do padrão treliçado. - Padrão Dendrítico Pinado/Retangular: O padrão dendrítico pinado em geral ocorre em consórcio com o padrão retangular, em porções restritas de uma mesma subbacia, onde os tributários unem-se aos canais principais em ângulos agudos. - Padrão radial: o padrão radial, na bacia do Lourenço Velho, está vinculado à incisão das drenagens pelas zonas de fraqueza dos corpos intrusivos, sendo comum o padrão radial centrífugo, ajustado à estruturas com diâmetros que variam entre 1,4 km a 6 km. O padrão radial centrípeto foi mapeado e vinculado a uma depressão topográfica de 6 km de diâmetro. (Figura 2)

Figura 1

Setas escuras: vales de ordens inferiores ajustados às zonas de fraqueza. Seta clara: vale de ordem superior alinhado ao trend regional.

Figura 2

Bacia hidrográfica do rio Lourenço Velho: litoestruturas e padrões de drenagem associados.

Considerações Finais

A análise e interpretação da imagem ASTER conjugada às informações topográficas e geológicas, mostrou resultados satisfatórios tendo em vista os objetivos aqui almejados. Tais resultados corroboram com aqueles apresentados por outros trabalhos desenvolvidos no âmbito das terras da Mantiqueira Meridional, porção Sul do estado de Minas Gerais e áreas limítrofes. Em sequência às observações aqui discutidas, pesquisas orientadas às sub bacias afluentes do Lourenço Velho estão em andamento, a fim de melhor caracterizar a relação existente entre os padrões das drenagens e seu comportamento frente ao condicionamento estrutural a elas impostas.

Agradecimentos

Referências

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