Autores

Estevam, A.L.D. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) ; Souza, C.P. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)

Resumo

O emprego de imagens orbitais para a interpretação morfotectônica consiste numa estratégia para geração de mapas estruturais, sendo estes fundamentais à análise dos delineamentos estruturais e sua interação com a produção dos modelados terrestres. Esta metodologia é capaz de fornecer à pesquisa geomorfológica em escala sub-regional, as condições necessárias para o estudo dos padrões de alteração de segmentos da rede de drenagem, assim como sua correlação com a compartimentação do relevo. O objetivo deste trabalho é cartografar e analisar os aspectos morfológicos do Planalto dos Geraizinhos nas proximidades das cidades de Vitória da Conquista e Itambé ambas localizadas na Região Sudoeste do Estado da Bahia. Esta pesquisa resultou na delimitação e caracterização de compartimentos geomorfológicos distintos delineados por morfotectônica. Esta investigação tem como base o estudo da Imagem de Satélite LANDSAT TM, bandas 3,4 e 5 na escala 1: 25. 000 associados aos trabalhos de campo.

Palavras chaves

Morfotectônica; Modelados; Compartimentos geomorfológicos

Introdução

Para análise adequada das feições do relevo é necessário o estudo das deformações provocadas pelos efeitos da tectônica. Neste trabalho a análise visual das estruturas geológicas são fundamentadas pelos trabalhos de campo, nos quais podem ser observados e discutidos os traços característicos da paisagem e sua interação com as estruturas do substrato rochoso e das características dos depósitos de encostas e das stone lines identificadas na área objeto desta investigação. Sendo assim, para análise cuidadosa da gênese e evolução do relevo local foi necessário utilizar os referidos temários para a pesquisa sobre a morfotectônica. A área investigada localiza-se sob a orientação L-W e abrange áreas dos municípios de Vitória da Conquista e Itambé. Compreendem as coordenadas de latitude de 14o 00’00’’S (limite setentrional), 15o 30’ 00’’S (limite meridional) e longitude 40o 00’00’’ (limite oriental) de 41o 00’ 00’’ W (limite ocidental). A área de análise localiza-se no compartimento geotectônico do Bloco de Jequié, sua constituição litológica é essencialmente composta por rochas granulíticas e gnáissicas. Os compartimentos geomorfológicos analisados encontram-se fortemente delimitados por depósitos coluvionares sotopostos às coberturas detríticas Tércio-Quaternária e a unidade complexa de rochas metamórficas segundo, Brasil (1981).

Material e métodos

Para alcançar os objetivos propostos, foram adotados os seguintes procedimentos metodológicos: i) Estudos genéricos da área baseados nas análises de campo. Foram analisadas as estruturas e as organizações dos depósitos de encostas. Como tais elementos associados às influencias do clima e da tectônica produziram os modelados atuais. ii) Análise documental Foram analisados os Mapas Geológicos, Geomorfológicos e Pedológicos do Projeto Radambrasil na escala de 1:1.000 000 (Folha Salvador), associados a estas leituras foi realizada a análise visual da imagem de satélite LANDSAT TM, bandas 3,4 e 5 na escala 1:25. 000 do ano de 2005. A fundamentação técnica conferida a este trabalho advém da leitura e do mapeamento das estruturas geológicas e do relevo. Posteriormente foram realizadas três fases de campo que compreenderam do reconhecimento a interpretação das formas de relevos, considerando-se também os traços paisagísticos marcantes na paisagem geomorfológica no Sudoeste baiano. Há de se destacar que as etapas de campo conferiram a consistência necessária ao processo de investigação. Culminou-se na identificação de compartimentos geomorfológicos diversos e notadamente organizados por diversificadas feições de relevo estruturais. Tais observações, complementaram-se à análise da literatura aplicada ao tema.

Resultado e discussão

Após a geração e análise visual do Mapa Morfotectônico da área investigada, identificou-se três compartimentos geomorfológicos distintos localizados ao longo das encostas do Planalto dos Geraizinhos. Foram diagnosticados patamares do relevo em condições topográficas descontinuas, segregados por escarpamentos de amplo raio de curvatura e direcionamento S-NW. Em principio este trabalho concebeu as deformações existentes ao longo do Planalto dos Geraizinhos, como resultantes do eixo tectônico ativo durante o neocenozóico, fato descrito com propriedade por Valadão (1998). Tal principio, explica a gênese do relevo escarpado da Serra do Marçal, importante complexo morfoestrutural de extrema relevância para a configuração da paisagem atual. Para melhor compreensão dos aspectos morfotectônicos cartografados, foram identificados neste trabalho os seguintes compartimentos geomorfológicos: i. Zona de modelado plano I Esta unidade integra um conjunto de feições de modelados embutidos na superfície de aplanamento do ciclo Sul Americano, (KING, 1956). Constitui-se num a área de topo do Planalto dos Geraizinhos, com altitudes que variam entre 800 a 1.090 metros. Na imagem de satélite esta Zona é percebida através de textura lisa com cor cinza claro. Após as análises da organização dos depósitos de encosta constatou-se que esta superfície foi fortemente retocada por processos deposicionais de grande magnitude. Posteriormente foi também retocada por Pediplanação intensa no transcorrer do Eógeno. Tais informações são consubstanciadas pela existência pedimentos detríticos embutidos ao longo da área investigada. ii. Zona de modelados dissecados Com altitudes que variam entre 668 a 430 metros, esta unidade detém íntima correlação com os escarpamentos gerados pelos episódios de soerguimento ocorridos entre o Oligoceno, Mioceno e Plioceno, que alçaram a zona pediplanada do Planalto dos Geraizinhos. Esta unidade abarca formas de relevos constituídas de vertentes íngremes acima de 35% de inclinação, recortadas por vales alveolares profundos, que detém sua gênese vinculada aos processos de dissecação fluvial da cobertura aluvio-coluvionar. Esta área é identificada na visualização da imagem de satélite com cor verde, e configuração extremamente rugosa, morfoescultura originada pelos processos de incisão fluvial vinculada ao sistema de drenagem dendrítico e superimposição da drenagem aos alinhamentos estruturais do substrato rochoso. iii. Zona de modelado plano II Área submetida a pediplanação, detém altitudes que variam entre 390 a 348 metros e interliga o sopé da Serra do Marçal ao assoalho da Depressão de Itambé – Itapetinga. Esta unidade geomorfológica aloja a bacia hidrográfica do Rio Pardo, constituindo-se de modelados planos pontilhados por feições residuais convexas.

Considerações Finais

Posteriormente às análises exaustivas de campo, estudos no Mapa Morfotectônico e análise de literatura. Observou-se, que os relevos que configuram o Planalto dos Geraizinhos, foram submetidos aos seguintes fenômenos que retocaram o seu relevo: a) Os processos de dissecação do relevo apresentaram maiores correlações com a estrutura geológica quando comparadas com as litologias. Tal fato, detém extrema importância, pois possibilita levantar discussões relevantes sobre a gênese do relevo regional e suas associações com os escarpamentos advindos de falha geológica. Tal configuração é perceptível através da observação da superimposição dos sistemas de drenagem da bacia Hidrográfica Rio Pardo. Destaca-se que esta bacia drena de forma abrangente a Zona de modelados planos II através da orientação dos rios em nítido eixo estrutural. Analisou-se inúmeras descontinuidades dos sistemas fluviais associadas aos planos de fraqueza do substrato. b) A Zona de modelados planos II foi submetida a fenômenos episódicos de coluviação. Tais episódios, foram estimulados pelo soerguimento Plio-Miocênico. Essas características foram observadas através dos espessas camadas de materiais detríticos imersos em matriz caulinítica, concreções ferruginosas assentadas sobre stone lines. Após as discussões em campo, observou-se a existência de paleosuperfícies, possivelmente geradas em ambientes influenciados por paleoclima com forte sazonalidade das precipitações.

Agradecimentos

Laboratório de Geoprocessamento do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Sudoeste da Bahia.

Referências

BRASIL/M.M.E. Projeto Radambrasil: Levantamento de Recursos Naturais, Folha SD. 24. Rio de Janeiro. Ministério das Minas e Energia. Salvador. 1981.
KING, L. K. A. Geomorfologia do Brasil Oriental. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. n. 2, p.3 - 118, 1956.
VALADÃO, R. C.; DOMINGUEZ, J.M.L. Evolução de Longo-Termo do Relevo do Brasil Oriental. (Denudação, Superfícies de Aplainamento e Soerguimentos Crustais). Salvador, 224p. (Tese de Doutorado - UFBA). 1998.