CARACTERIZAÇÃO PAISAGÍSTICA DO MUNICÍPIO DE TIBAGI - PR

Autores

Hornes, K.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ) ; Nóbrega, M.T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ) ; Palhares, J.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ)

Resumo

O presente trabalho foi realizado no município de Tibagi-PR com o intuito de estudar a paisagem local, sua compartimentação horizontal e vertical, a fim de se obter o potencial geoecológico. A compartimentação paisagística permitiu o reconhecimento do seu funcionamento. Desse modo, a interação dos elementos bióticos e abióticos proporcionou a formação de biomas e usos diferenciados que foram detalhados nos diferentes compartimentos paisagísticos encontrados no município.

Palavras chaves

ESTRUTURA; PAISAGEM; POTENCIAL

Introdução

A região dos Campos Gerais (MAACK, 2002) possui um patrimônio natural importante, onde seus campos, capões, formas de relevo destacam-se como monumentos que vêm intrigando a imaginação e a curiosidade de muitos, o que explica o crescente interesse de pesquisadores e visitantes em geral (MELO, 2003; HORNES 2003; MORO, 2001 ). Esse interesse vem fortalecendo a atividade turística e o desenvolvimento econômico de vários municípios na região, a exemplo de Tibagi (200 quilômetros da capital paranaense Curitiba), onde foi realizado o desenvolvimento deste trabalho. Situado na borda do Segundo Planalto Paranaense (MAACK, 2002), tem além da importância histórica desde a época das sesmarias, e posteriormente do tropeirismo e da extração de diamantes, uma situação geológica e geomorfológica particular. No seu território existem rochas de diferentes períodos, perturbadas por tectonismo responsável pelo grande número de fraturas, que deram origem a paisagens de exceções (AB'SABER, 2003) como "canyons", relevos estruturais (escarpas, cornijas, formas antropozoomórficas, rios encachoeirados, etc.). Essas paisagens foram ainda submetidas a sucessões de diferentes climas, testemunhados em parte por relíctos de vegetação, como as manchas de cerrado, presentes até hoje (MORO, 2001). Entretanto a ausência de informações sobre a origem das paisagens ali existentes permitem aos visitantes apenas uma reflexão lúdica. Assim, o objetivo geral proposto nesta pesquisa é o de estudar a paisagem no município de Tibagi, estado do Paraná, sua estrutura, organização e potencialidades. Os objetivos específicos serão identificar e caracterizar as diferentes macro unidades de paisagem em Tibagi com destaque para aquelas que apresentem potencial para o desenvolvimento do turismo ecológico; identificar o papel da geologia e da geomorfologia na estruturação e definição do potencial ecológico das unidades de paisagem com possibilidades para o desenvolvimento do ecoturismo.

Material e métodos

No desenvolvimento deste trabalho adotou-se a metodologia básica de estudos de paisagem, apresentada em Bólos (1992) e Monteiro (2001). Em uma primeira etapa realizou-se o levantamento dos dados sobre os elementos do meio abiótico e biótico a fim de se conhecer a estrutura geoecológica da paisagem e as suas variações no espaço e tempo, dentro dos limites do município de Tibagi, adotado como recorte espacial para esta pesquisa. Nos trabalhos de campo foram empregadas diversas técnicas de observação e registro envolvendo: o uso de GPS (GARMIN-ETREX LEGEND C) para o georeferenciamento dos pontos observados; câmera fotográfica digital (Olimpus modelo D-395) para o registro das diversas feições; sondagens a trado até 2m de profundidade (no máximo), trena, tabela de cores Munsell e pedocomparadores para o reconhecimento dos solos e da sua distribuição ao longo de segmentos de vertente. A pedologia foi realizada a partir do relatório elaborado pela Embrapa (2005).Os trabalhos de campo foram particularmente aplicados nos estudos de detalhe (vertentes) realizados no setor nordeste do município (Fazenda Santa Lídia do Cercadinho e RPPN Itaytyba). Com base nas informações levantadas e na observação de levantamentos aerofotográficos (DGTC, 1962; 1:70.000; CCGP, 1966; 1:50.000), procedeu-se à elaboração e adaptação para uma mesma escala dos vários temas abordados (hipsometria, hidrografia, geologia e solos utilizando o software ArcView para execução e modificação dos mapas), tendo em vista a realização da análise integrada desses elementos e, desse modo, reconhecer a sua estrutura geoecológica. A utilização de imagem de satélite (Landsat) disponibilizada pelo EMBRAPA (2006) possibilitou a visualização do uso e ocupação do solo no município. Assim, concluída essa etapa, e após a análise conjunta dos dados geoecológicos e dos sócio-econômicos foi possível à identificação das diferentes unidades de paisagem.

Resultado e discussão

Após a análise integrada dos elementos que compõem a paisagem foi possível identificar três macro unidades (Figura 1), definidas a partir da diferenciação da estrutura geoecológica. Os aspectos geológicos mostraram-se bons indicadores nesse processo por estarem diretamente relacionados a aspectos do relevo, pedológicos e hidrográficos. A primeira unidade o platô do arenito Furnas (Figura 1) ocorre predominantemente. Está entalhado profundamente pela drenagem paralela, preferencialmente orientada pelas fraturas que ocorrem na direção NW- SE e, menos frequentemente, na direção NE-SW. A drenagem recortou este plano com vales estreitos e profundos e alguns canyons, em que se destaca aquele do rio Iapó. A vegetação dominante é composta de campo rupestre, sujo e de inundação com a presença da Floresta Ombrofila Mista Aluvial e de capões da Floresta Ombrofila Mista, o relicto de cerrado (AB` SABER, 2003). O clima predominante da área é o Cfb. O uso do solo dessa unidade na faixa oriental é a pecuária bovina extensiva, que se utiliza da vegetação de campos como pastagem. Nas vertentes com solos pouco espessos aparecem o reflorestamento de pinus. A prática da agricultura acaba ocorrendo na alta e média vertente onde o solo é mais espesso. Os solos são pobres em nutrientes o que exige maiores gastos com a adubação por hectare. Na segunda unidade domina a Formação Ponta Grossa (Figura 1). A hipsometria varia entre 700m a 800m nos setores central e norte da unidade, ficando mais elevada no setor sul onde o canal do rio Tibagi aparece mais encaixado e com traçado mais retilíneo. Desta forma, o relevo se apresenta como colinas amplas de topos arredondados e vertentes longas e de fracas declividades, nos setores central e norte, enquanto que ao sul a morfologia dominante é de colinas médias com vertentes curtas. Essa unidade está sob influência do clima Cfa e Cfb com as isotermas predominantes de 19ºC a 20ºC . O controle tectônico não é tão evidente quanto o da primeira unidade. Em alguns casos as fraturas permitem a exposição da Formação Furnas proporcionando o aparecimento de lageados. A vegetação nativa é rara de ser encontrada a não ser próximo as nascentes, e rios. Aparece como Floresta Ombrófila Mista Aluvial. Os Latossolos são ácidos e necessitam da aplicação de corretivos como o calcário, além disso são erodidos com facilidade, principalmente com a utilização do arado. Com o advento do plantio direto isto foi reduzido. Nesta unidade a presença de pastagens não é comum. A agricultura desenvolvida é principalmente voltada para as plantações de soja, milho, trigo. A silvicultura é praticamente nula. O potencial turístico se destaca com a presença de locais com afloramentos fossilíferos que por ventura podem contribuir para a atividade turística, principalmente ligada a interesses científicos como roteiros paleontológicos e geológicos. Além disso é nesta área que o rio Tibagi é utilizado para prática de esportes. Devido ao controle tectônico o seu leito, nas proximidades da ponte da cidade de Tibagi, apresenta-se extremamente rápido e turbulento com diversas cachoeiras e corredeiras. A terceira unidade (Figura 1) é dominada por rochas do Grupo Itararé, com pequenas ocorrências a sudoeste dos Grupos Guatá e Passa Dois. O Grupo Itararé é bastante heterogêneo, por este motivo o relevo, a pedologia e o uso também se diversificam. O relevo é mais enérgico, exibindo formas amorreadas intercaladas por interflúvios mais altos, de topos estreitos, configurando-se em alguns locais, sobretudo no setor norte, como serras que se destacam na paisagem. A rede de drenagem é mais densa do que nas outras unidades. A vegetação natural predominante é a Floresta Ombrofila Mista apresentando, contudo, diversas espécies da flora tropical. Os solos dessa unidade podem apresentar variações de textura o que promove respostas diferentes ao potencial erosivo.

Conclusões

Através da imagem Landst (INPE, (Figura 1)) verificou-se o tipo de uso do solo, a variação espacial e as relações entre os usos e a estrutura geoecológica da paisagem, sobretudo nos aspectos relativos à geologia e relevo. No setor leste, sobre a Formação Furnas (Figura 1), apesar do relevo ainda se apresentar como colinas com topos achatados, os vales da drenagem aparecem mais encaixados na forma de canyons. Sobre esta Formação os solos são mais rasos, predominando os Cambissolos, ao lado de Neossolos Litólicos e afloramentos de rocha. Nesta área a pratica agrícola é reduzida, predominando o campo utilizado pela pecuária. Já, onde o Grupo Itararé e as pequenas faixas do Grupo Guatá, Formação Serra Alta, Formação Teresina , Formação Palermo e Irati preponderam, a oeste e noroeste do município, devido a grande variedade litológica; ao grau de dissecação do relevo e a pedológica, existem variações quanto ao uso do solo, alternando entre agricultura, reflorestamentos e pastagens.

Agradecimentos

Referências

AB’SABER, A. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 160 p. 2003.

DGTC - Departamento de Geografia, Terras e Colonização do Estado do Paraná. Levantamento aerofotogramétrico 1:70.000 do Estado do Paraná. Curitiba:Fx 190 n.2820, 2822, 2824. DGTC (órgão incorporado pela atual Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA),1962/1963.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. Caracterização do solos do município de Tibagi - Pr.Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, dezembro 2002. Disponível em: <http://www.cnpf.embrapa.br/servicos/publicacoes/gratuita/boletimPD/BPD%2014-2002_Parana_Tibagi.PDF. Acesso em: 25 jul.2005.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. Imagem de satélite
(Landsat). Disponível em: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/satelite/landsat.html
Acesso em: 25 fev.2006.

HORNES, K. Caracterização geomorfológica da RPPN Itaytyba como subsídio para implantação do turismo geológico. Monografia (Graduação) – Faculdade de Geografia, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa: 107 f, 2003.
MAACK, R. Notas preliminares sobre clima, solos e vegetação do Estado do Paraná. Arquivos de Biologia e Tecnologia, Curitiba, v. II, p.102-200, 1948.
MAACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 3º ed. Curitiba: Imprensa Oficial, 440 p. 2002.
MELO, M. S. de (Coord.) et al.Caracterização do patrimônio natural dos Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa: UEPG, (Fundação Araucária). Projeto concluído. 2003.
MONTEIRO, C. A. DE F. Geossistemas a história de uma procura. São Paulo: Editora Contexto, 128 p. 2001.
MORO, R. S. A vegetação dos Campos Gerais da escarpa devoniana. In Ditzel, C. C. H.M.; SAHR, C.L.L. Espaço e Cultura: Ponta Grossa e os Campos Gerais. Ponta Grossa: Ed. UEPG, p. 481-503, 2001.


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