Análise e caracterização das áreas de risco no Córrego do Capim - Capinópolis/MG

Autores

Rodrigues de Oliveira Costa, H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA)

Resumo

O presente trabalho buscou compreender o processo de ocupação das vertentes no município de Capinópolis/MG, gerados pelo mesmo. Para isso fez-se necessário as seguintes procedimentos metodológicos: a) levantamento bibliográfico sobre a temática; b) trabalho de campo; c) mapeamento da área; d) levantamento e caracterização dos pontos considerados de risco. Como resultados, levantamos oito pontos considerados como risco para a população que habita a área, seja econômico, à saúde ou ambiental.

Palavras chaves

riscos; ambiental; campo

Introdução

O surgimento das aglomerações urbanas passou a exigir do homem uma série de medidas a serem tomadas, como a busca por suprimentos, manutenção de recursos básicos e organização deste espaço. A necessidade que o homem se depara, é de dominar o espaço para que ele tenha capacidade de habita-lo, desta forma o que passamos a observar é que na medida em que o homem ocupa, ele passa a destruir determinadas características naturais. O problema se encontra na ocupação inadequada, assim como nas consequências que a mesma repercutirá nas atividades antrópicas e dinâmica ambiental daquele determinado local. Passam a surgir o que consideramos como áreas de risco, sejam elas riscos ao meio ambiente ou o risco a sociedade e suas atividades socioeconômicas. O presente trabalho visa apontar questionamentos referentes à relação do homem com a natureza, e como as reações da mesma passam a ser caracterizadas como riscos ambientais, sejam em relação a alagamentos, inundações ou enchentes. No momento em que adotamos o relevo como base para as atividades antrópicas e suas interações, “necessário se faz partir do princípio de que o relevo se constitui em produto do antagonismo das forças endógenas (forças tectogenéticas) e exógenas (mecanismos morfodinâmicos), registrado ao longo do tempo geológico, e responsável pelo equilíbrio ecológico” (CASSETI, 1991, p.7). A partir do momento em que temos a influencia do homem sobre a natureza partimos da ideia de que de uma forma ou de outra o homem receberá algo como resposta. Tais consequências passam a ser tratadas aqui como riscos, sejam eles: sociais, ambientais ou econômicos. Para se compreender a questão do risco, faz-se necessário entender diversos conceitos que estão relacionados a este estudo, sendo o risco compreendido como aquele que “indica a probabilidade de ocorrência de algum dano a uma população (pessoas ou bens materiais)” (NOGUEIRA, 2006, p. 29).

Material e métodos

Para a realização desta pesquisa, estabeleceram-se os seguintes procedimentos metodológicos: 1- Levantamento de artigos, dissertações, teses e livros que abordam a temáticos sobre a questão das enchentes, alagamentos, vertentes, fundos de vale e ocupação na geração de áreas de risco, que serão realizados em bibliotecas da Universidade Federal de Uberlândia, Prefeitura Municipal, sites da EMBRAPA, do IBGE entre outros; 2- Foram aplicadas técnicas de mapeamento de cartas temáticas, para isso foram utilizados programas como o Global Positioning System (GPS) e imagens de satélite (SPOT, 2003), no qual foi identificado as coordenadas geográficas, que foram inseridas na imagem de satélite, obtendo dessa maneira um produto final com a identificação dos pontos de alagamento e enchentes da cidade de Capinópolis. Para isso foram utilizados alguns programas, por exemplo, Corel Draw®2 e SPRING3; 3- Trabalhos de campo para obter informações sobre o processo de ocupação de vertentes e fundos de vale, no qual serão aplicadas entrevistas com moradores dessas áreas. 4- Levantamento e cadastramento das possíveis áreas de risco, por meio de observações de campo, análise de imagens de satélite (SPOT, 2012) e programas específicos;

Resultado e discussão

A Geografia tem como objeto de estudo as interações do homem com a natureza, assim como compreender a forma como este passa a influenciar a dinâmica natural, transformando a natureza para o seu benefício sem levar em consideração tal dinâmica. De acordo com Casseti (1991, p. 11), “o aparecimento do homem, em algum momento do pleistoceno, a evolução das forças produtivas vai respondendo pelo avanço na forma de apropriação e transformação da ‘primeira natureza’, criando a ‘segunda natureza’”. Desta forma temos o homem como principal atuante na transformação do espaço que ele ocupa. Considerando que o homem passa a ocupar e se estabelecer principalmente em áreas próximas à cursos d’agua, temos as vertentes como áreas mais susceptíveis à ocupação antrópica. Segundo Casseti (1991, p. 35), “é portanto na vertente que se materializam as relações das forças produtivas, ou seja, onde ficam impregnadas as transformações que compõem a paisagem”. Segundo Fonseca (2013, p. 12), a questão da ocupação de vertentes e fundos de vale, deve ser levada ainda em consideração pelo viés socioeconômico, sendo que “Em relação aos fundos de vale, são muitas vezes ocupados pelos grupos menos favorecidos da sociedade, pelo fato de não deterem recursos que lhes proporcionem acesso a ambientes mais seguros, que são mais valorizados”. Formamos a ideia inicial de desastres naturais, que de acordo com Pedro e Nunes (2012, p. 82) “ocorrem naturalmente, mas são agravados e intensificados pelo homem, que tanto induz como também acelera os processos naturais”. Quanto ao risco podem-se levar em consideração diversas interpretações, como a de Nogueira (2006, p. 29), na qual “o termo risco indica a probabilidade de ocorrência de algum dano a uma população (pessoas ou bens materiais)”. Pensando-se neste quadro de degradação ambiental e áreas de risco, optou-se em estudar a cidade de Capinópolis – MG, pois esta apresenta características que permitem identificar pontos como áreas de riscos ambientais. A cidade de Capinópolis encontra-se localizada na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Microrregião Geográfica de Ituiutaba, cujas coordenadas geográficas são 18° 40’ 55’’ S e 49°34’12’’W. O processo de expansão da cidade de Capinópolis ocorreu basicamente no entorno Córrego do Capim. Temos isto relacionado ao córrego ter sido a primeira fonte de água para as atividades desenvolvidas na época, o que fez com que o povoado fosse atraído para as margens deste. O primeiro ponto identificado como área de risco, no caso ambiental, é a instalação de processos erosivos do tipo ravina, nas margens do córrego. Neste ponto conseguimos observar a presença de tubulações, resíduos dentro desta ravina além do descarte de resíduos nas áreas mais próximas do córrego. A tubulação encontrada no local é responsável por direcionar os fluxos de água das ruas captadas pelos bueiros da rua e joga-lo no córrego. Já os resíduos identificados dentro da mesma se configuram como uma medida para “tapar o buraco”, o problema é que nos períodos de chuva mais intensa todo este material passa a ser direcionado ao córrego. Outro ponto observado apresenta o descarte inadequado de resíduos de construção civil e ainda resíduos advindos a própria população que os descarta de forma inadequada no próprio canal fluvial. Neste sentido, identificamos o descarte de madeiras, restos de construção civil (tijolos, telhas, reboco, bidê) e caixas de papelão, todos descartados às margens do curso d’água. Por conta da putrefação destes materiais, o local exala um mau cheiro que passa a incomodar a população local, que se incomoda com a situação, mas não para de descartar lixo no mesmo.

Conclusões

Tendo como inicio de sua urbanização as áreas de fundo de vale, Capinópolis/MG possui sua área central ou “bairro Primitivo”, como é chamado pelos moradores mais antigos, no fundo de vale onde encontramos o Córrego do Capim. Primeiramente é necessário sensibilizar a população que mora no entorno a parar de descartar seus resíduos tanto domésticos quanto de construção civil no córrego. A partir dai pensar em medidas para retirar o lixo que se encontra no córrego, desobstruindo o fluxo de água, permitindo que no período de chuvas a agua não fique impedida de fluir. As formas de relevo, a atuação da população local e as chuvas no verão, são capazes de alterar a dinâmica local, caracterizando este como uma área de risco, seja ela por causar danos a saúde da população, impossibilitando as atividades antrópicas ou o que é encontrado, um córrego poluído pelos materiais descartados ali e ocupação inadequada das vertentes.

Agradecimentos

Referências

AFINI JUNIOR, B. Fundos de Vale. Disponível em: < http://www.revistadae.com.br/artigos/artigo_edicao_90_n_528.pdf>. Acesso em: 23 de março de 2014.
AMARAL, R. do; RIBEIRO, R. R.. Inundações e enchentes. In: TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. (Org.). Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. 196 p.
BRANDÃO, A. M. P. M. Clima Urbano e enchentes. In: GUERRA, A. T.; CUNHA, S.B. (org.). Impactos ambientais urbanos no Brasil. 5 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
BRASIL. Ministério das Cidades. Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios. Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, 2007. 176 p.
BRASIL. Ministério das Cidades. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília, DF, 2006. 111 p.
CANIL, K. Áreas de Risco aos Processos de Escorregamentos no Município de Santos, SP: Análise e Indicadores de Vulnerabilidade. Disponível em: < www.agb.org.br/evento/download.php?idTrabalho=4534‎>. Acesso em: 10 de junho de 2013.
CARVALHO, C.S.; GALVÃO, T. Ação de Apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos em assentamentos Precários. CARVALHO, C.S.; GALVÃO, T.(org). Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Ministério das cidades, Cities Alliance, 2006.
CASSETI, Valter. Ambiente e Apropriação do Relevo. São Paulo: Editora Contexto, 1991. 84p.
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 001/86. Estabelece os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental. Brasília, IBAMA, 1986.
DURLO, M. A.; SUTILI, F. J. Bioengenharia: Manejo Biotécnico de Cursos de Água. Santa Maria: Edição do Autor, 2012. 189 p.
FONSECA, R. G. Uma Proposta de Avaliação do Risco de Enchentes nas Cidades da Microrregião de Ituiutaba. Ituiutaba: UFU, 2013.
MOREIRA, I. V. D. Avaliação de Impacto Ambiental – AIA. Rio de Janeiro, abril 1985. Disponível em: < http://dgx64hep82pj8.cloudfront.net/PAT/Upload/1492611/AIA%20CONCEITOS.pdf>. Acesso em: Acesso em: 23 de março de 2014.
NOGUEIRA, F. R. Gestão dos Riscos nos Municípios. In: BRASIL. Ministério das Cidades. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Ministério das Cidades; Cities Alliance, 2006. p. 26-46.
NUNES, J. O. R. (Org.) (et al.). Trilhando pelos solos. Presidente Prudente: Copy Set, 2010. 33 p.
PEDRO, L. C.; Nunes, J. O. R. A Relação Entre Processos Morfodinâmicos e os Desastres Naturais: Uma Leitura Das Áreas Vulneráveis A Inundações e Alagamentos em Presidente Prudente – SP. Caderno Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, n.34, v.2, p.81-96, ago./dez.2012.
SISTEMA brasileiro de classificação de solos. 3 ed. Brasília, DF: EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 2013. 353 p.
TOMINAGA, L. K. Desastres Naturais: Por que ocorrem? In: TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. (Org.). Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. 196 p.


APOIO
CAPES UEA UA UFRR GFA UGB