PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ANÁLISE PRELIMINAR DO “MORRO DO CHAPÉU”, PRUDENTÓPOLIS-PR
Autores
França da Silva, J.M. (UNICENTRO) ; Oka-fiori, C. (UFPR)
Resumo
O Patrimônio Geomorfológico refere-se às formas de relevo que possuem determinado valor científico, didático, cultural, ecológico ou econômico, podendo ser considerado como um dos componentes da geodiversidade, que se refere à diversidade natural abiótica da superfície terrestre. O presente trabalho pretende fazer uma análise do geomorfossítio Morro do Chapéu, localizado em Prudentópolis (PR) propondo sua inserção na categoria Monumento Natural do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Palavras chaves
Geopatrimônio; Áreas Naturais; Unidades de Conservação
Introdução
Os aspectos bióticos da natureza, enquanto patrimônio natural, referem-se a biodiversidade; e os aspectos abióticos, por sua vez, à geodiversidade, esta, entendida como “a variedade natural de aspectos geológicos (minerais, rochas e fósseis) geomorfológicos (formas de relevo e processos) e pedológicos, incluindo suas coleções, relações, propriedades, interpretações e sistemas” (GRAY, 2004, p.8). O Patrimônio Geomorfológico, integrante da geodiversidade, refere-se a uma área que apresenta um determinado interesse geomorfológico (geomorfossítio), possuindo valores científicos, ecológicos, culturais, estéticos ou econômicos (PANIZZA, 2002), os quais apresentam caráter superlativo frente aos demais componentes da geomorfologia de uma determinada área, devendo, por este motivo, serem consideradas como prioritárias nas estratégias de geoconservação. Frente ao exposto, o presente trabalho pretende apresentar os resultados preliminares da análise de uma forma de relevo que faz parte da Escarpa da Esperança, denominada localmente como Morro do Chapéu, a qual está localizada no município de Prudentópolis, estado do Paraná. O Morro do Chapéu está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Esperança, criada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) mediante a Lei Estadual nº 9.905 de 27 de janeiro de 1992. A APA apresenta como um dos objetivos específicos à proteção de saltos e cachoeiras de extrema beleza cênica e de monumentos naturais de interesse geomorfológico, com formas de relevo relacionadas aos derrames basálticos ocorridos na bacia do Paraná no período geológico Jurássico-cretáceo (entre 150 a 115 milhões de anos). (IAP, 2009). Neste contexto, partimos do pressuposto que este recorte espacial apresenta grande potencial para pesquisas científicas na abordagem do patrimônio geomorfológico.
Material e métodos
Os métodos e procedimentos adotados na pesquisa podem ser subdivididos em cinco etapas principais: a) Revisão bibliográfica: relativa à análise dos conceitos de geodiversidade, geoconservação e patrimônio geomorfológico; e à caracterização geológico-geomorfológica do geomorfossítio; b) Trabalhos de campo: para análise e registro de dados referentes à pesquisa, utilizando-se de mapas preliminares, aparelho de GPS (Global Positioning System) e máquina fotográfica; c) Utilização de imagem SRTM – Shuttle Radar Topography Mission: para caracterização geomorfológica preliminar da área em estudo; d) Utilização do método de Panizza (2002): que numa abordagem quantitativa, propõe uma classificação para avaliação das geoformas de acordo com grau de preservação (bem preservado=1, moderadamente preservado=0.5 e mal preservado=0.25); e interesse científico (sem interesse=0, interesse local=0.25, interesse regional=0.5, interesse suprarregional=0.75 e interesse mundial=1); e) Análise digital do relevo: para caracterização, mapeamento e quantificação da área de estudo.
Resultado e discussão
Em termos geomorfológicos o morro do Chapéu está inserido na transição do
Segundo e Terceiro Planalto Paranaenses, a qual é demarcada pela Escarpa da
Esperança.
Geologicamente, faz parte da Formação Serra Geral, que se refere a derrames
vulcânicos básicos, não explosivos, ocorridos na Bacia do Paraná entre 115 e 135
milhões de anos atrás (Mesozóico) quando da ruptura do supercontinente Gondwana
e conseqüente abertura do oceano Atlântico. Representa um dos mais volumosos
vulcanismos continentais da Terra, abrangendo uma área de 1.200.000 km2 no
Brasil (regiões sul e centro-oeste), Paraguai, Uruguai e Argentina, além da
parte hoje separada pelo oceano atlântico, na costa oeste africana. Os derrames
foram formados essencialmente por lavas basálticas, sendo de composição
riolítica e dacítica nas bordas sul e leste da bacia. Entre os derrames, em
erupções fissurais, formaram-se ainda diques básicos aproximadamente a 130,5
milhões de anos atrás (MINEROPAR, 2001).
Segundo Leinz (1949) o intenso magmatismo ocorrido na Bacia do Paraná, de
manifestações tanto extrusivas quanto intrusivas e de variado caráter químico,
ocorreram de forma intermitente a climas áridos, sendo constatadas intercalações
de sedimentos associados a efêmeros episódios de sedimentação eólica.
No estado do Paraná, a deposição de derrames de lavas basálticas da Formação
Serra Geral se insere na unidade estratigráfica Grupo São Bento e as
intercalações sedimentares são representadas pelas formações Botucatu, Rio do
Rastro, Pirambóia e Caiuá (MAACK, 1981).
A Escarpa da Esperança, que demarca uma das bordas da formação Serra Geral,
sofre, desde sua formação, ação intempérica que modifica sua posição inicial, o
que é evidenciado por diversos morros testemunhos que demonstram o quanto a
escarpa recuou até chegar a sua configuração atual. Um destes testemunhos é o
denominado Morro do Chapéu (Figura 1).
Este testemunho dos derrames basálticos é utilizado atualmente em atividades
educativas em cursos de graduação de geografia e geologia do estado do Paraná e
do Brasil, pois sua visualização é facilitada por um mirante nas margens da
rodovia BR-277.
Com base no método de Panizza (2002), bem como análise em campo, constatou-se
que o Morro do Chapéu, apesar de estar inserido em uma unidade de conservação,
apresenta elevado grau de degradação (mal preservado), sendo utilizado,
atualmente, na agropecuária e silvicultura.
Além disso, entre os projetos de duplicação da rodovia mencionada, existe a
possibilidade de o morro ser destituído do local, o que acarretaria uma grande
perda para as ciências da Terra, dada sua importância didática e científica
(interesse científico suprarregional).
A próxima etapa da pesquisa irá avaliar e classificar o patrimônio
geomorfológico da área de estudo no contexto da legislação ambiental brasileira,
apresentando propostas conceituais e metodológicas.
Figura 1: Morro do Chapéu representado por imagem SRTM e fotografia
Conclusões
O Patrimônio Geomorfológico é tema recente de pesquisa científica, e apesar de contribuir com importantes elementos na definição de paisagens naturais, não tem sido reconhecido de maneira correta nas estratégias de conservação do patrimônio natural mundial e brasileiro. Por este motivo, em parceria com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), iniciou- se em 2014 um estudo que busca contribuir com a divulgação e conservação do objeto de estudo, tendo como base o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), buscando analisar a viabilidade de sua inserção na categoria Monumento Natural, a qual objetiva “proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural”. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2000, p.17). O estudo encontra-se em estágio inicial, cujos desafios são relativos à viabilidade de desapropriação e elaboração de um método específico às características da área de estudo.
Agradecimentos
Referências
GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. Chichester – England: John Wiley and Sons, Chichester – England, 2004.
INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ (IAP). Plano de manejo da Área de Proteção Ambiental da Serra da Esperança. Curitiba: IAP, 2009.
LEINZ, V. Contribuição à geologia dos derrames basálticos do Sul do Brasil. São Paulo: Boletim da Universidade de São Paulo nº 103, 1949.
MACK, R. Geografia Física do Estado do Paraná. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Olympio, 1981.
MINEROPAR (MINERAIS DO PARANÁ S/A). Atlas geológico do Estado do Paraná. 2001.
MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE, RECURSOS HÍDRICOS E AMAZÔNIA LEGAL (MMA). Lei n.º 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=149&idCon
teudo=8355>. Acesso em: 15 junho. 2014.
PANIZZA, M. Estudios recientes en Geomorfología Património, montaña y dinámica territorial. Valladolid: Sociedade Española de Geomorfología, 2002.