MAPEAMENTO DAS CLASSES DE DECLIVIDADE DA MICROBACIA DO RIO SALAMANCA-BARBALHA-CEARÁ.
Autores
Pinheiro, M.A. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI-URCA) ; Silva, J.M.O. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI-URCA) ; Reis, E.M. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI-URCA)
Resumo
Este trabalho teve por objetivo mapear a declividade da microbacia do rio da Salamanca com base nas classes propostas pela Embrapa (1999). A microbacia está inserida na Chapada do Araripe localizada no sul do Ceará no município de Barbalha. A área de estudo apresenta maiores setores de declividade inserida em um relevo plano (0 – 3%) a suave ondulado (3 – 8%) com 259km2 e a menor área em um relevo escarpado (>75%) com 0,8 km2.
Palavras chaves
Microbacia; Declividade; Planejamento ambiental.
Introdução
As bacias hidrográficas são consideradas unidades ideais de planejamento e gestão ambiental, pois este sistema integra vários componentes do meio físico e não apenas a questão dos recursos hídricos. Diante disto, a geomorfologia assume um papel relevante para o planejamento, pois o relevo é a base para as atividades humanas. Compreender a topografia de uma área é necessário para planejar as ações sobre um determinado território. Partindo desta percepção territorial é possível evitar diversos problemas estruturais de nível ambiental e social, como por exemplo, a erodibilidade e o uso do solo de forma irregular, outro suporte ao planejamento ambiental, e o mapeamento de topografia e declividade de um município (CHAVES et al 2013). O trabalho tem por objetivo mapear a declividade da microbacia do rio Salamanca no município de Barbalha-Ceará, com a finalidade de contribuir para os estudos geomorfológicos da área e subsidiando o planejamento ambiental. A microbacia abrange uma área de 380 km², sendo as nascentes localizadas na Chapada do Araripe, passa pelo município de Barbalha até desaguar no rio Salgadinho próximo ao município de Missão Velha, formando a Sub-bacia do Salgado, que se encontra com o rio Jaguaribe nas proximidades do município de Icó. Através do modelado do terreno podem-se obter informações sobre os fenômenos hidrológicos como o escoamento superficial e a declividade que influencia a velocidade dos rios nos diferentes setores do alto, médio e baixo curso de um rio. Os dados geomorfológicos permitem interpretar uma questão indispensável para o planejamento ambiental, segundo Santos (2004): a relação entre as configurações superficiais do terreno, a distribuição dos aglomerados urbanos e dos usos do solo em função das limitações impostas pelo relevo. Por meio de utilização de mapas temáticos são comprovadas as características de declividade, drenagem e hipsometria de um referido município e propostas alternativas para o uso e ocupação da área.
Material e métodos
Incialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica com o levantamento de trabalhos e artigos científicos publicados sobre a temática de geomorfologia e planejamento ambiental. Para a elaboração da cartografia básica que incluísse os municípios, distritos, estradas, açudes, curvas de nível que se encontravam dentro dos limites da área de estudo, adquiriu-se os shapes referentes à área de estudo com a COGERH (Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos) e da Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME). Para a confecção do mapa de altitude e de declividade da microbacia utilizou-se a base digital de elevação (SRTM), disponível em uma versão refinada para o território brasileiro através do TOPODATA - Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil (Valeriano, 2005; Valeriano, 2008) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As classes de declividade adotadas neste trabalho seguiram as proposições da Embrapa (1999) que estabeleceu 06 classes que podem variar desde um relevo plano com declividades de 0 a 3% até um com declividades superiores a 75% caracterizando um relevo escarpado. As nomenclaturas e a descrição litológica da Chapada foram baseadas em trabalhos da CPRM (2003), Costa (2003) e DNPM (1996).
Resultado e discussão
As principais formas de relevo da Chapada do Araripe e onde se encontra a
microbacia são: Chapada, Talude e Pediplano (DNPM, 1996). A essas áreas Costa
(2003) acrescenta mais uma área que corresponde a Escarpa. A Chapada é
constituída pelos arenitos e siltitos da Formação Exu, com relevo tabular e
bastante plano. A Escarpa é uma área abrupta, com declividade acentuada que foi
modelada pelos agentes erosivos e constituída pelos arenitos da Formação Exu.
Segundo Magalhães (2006) no rebordo erosivo festonado da Chapada do Araripe é
encontrado um paredão de arenito denominado cornija. O Talude bordeja o sopé da
Chapada do Araripe, incluindo, geologicamente, as Formações Arajara (siltitos e
arenitos argilosos e/ou caulínicos) e Santana (margas, folhelhos e calcários,
com níveis intercalados de gipsita). A área de pediplano ou Vale do Cariri
relaciona-se às Formações Brejo Santo e Missão Velha (Jurássico), Abaiara e Rio
da Batateira (Cretáceo), ora balizados pelos arenitos da Formação Mauriti e/ou
pelas rochas do embasamento cristalino (MAGALHÃES, 2006). Outra forma presente
na microbacia é a planície fluvial com uma área de 32km2, sendo caracterizada
como plana resultado da acumulação fluvial e sujeita a inundações periódicas.
A figura 01 ilustra a hipsometria da microbacia que possui um modelado com
altitudes que vão de 340 a 980m. A maior parte da bacia encontra-se em altitudes
entre 340 – 480 metros. A área mais plana da bacia corresponde ao setor da
planície fluvial com 340 a 410 metros e a área mais alta corresponde o alto
curso do rio Salamanca englobando o topo e a encosta da chapada.
A determinação do mapa de declividade são formas de representação do relevo,
pois indicam a inclinação das vertentes e aspectos relativos à dissecação do
relevo. Através destas variáveis é possível analisar o uso que lhe é atribuído e
até mesmo planejar sua ocupação. Segundo Santos (2004) a declividade é avaliada
em planejamento com o objetivo de observar as inclinações de um terreno em
relação a um eixo horizontal. Esse tema permite inferir informações como formas
de paisagem, erosão, potencialidades para uso agrícola, restrições para ocupação
urbana, manejos e práticas conservacionistas.
A figura 02 ilustra a declividade da área que apresenta desde um relevo plano
(0-3%) até um setor de relevo escarpado (>75%). Para a classificação das classes
declividade da bacia utilizou-se a proposta da EMBRAPA (1999). A maior parte da
área se encontra entre a declividade de 0 a 3% (relevo plano e suave) com uma
área de 147 Km², é uma superfície de topografia esbatida ou horizontal, onde os
desnivelamentos são muito pequenos. Esta área corresponde ao setor da planície
fluvial e ao topo da Chapada. A declividade do terreno não oferece restrição ao
uso, mas na planície fluvial existe o risco à inundação em alguns locais e o
topo da chapada possui uma importância para a captação da água da chuva, pois os
arenitos da Formação Exu são porosos e permeáveis o que garante a rápida
infiltração da água e é uma área protegida por lei. A classe B: 3 a 8%, em uma
área 102 Km² (relevo suave ondulado)- abrange setores com declives suaves, nos
quais, na maior parte dos solos o escoamento superficial é lento ou médio, com
arenitos da formação da Exu. A classe C: 8 a 20% possui 95 Km² (relevo
ondulado)- são áreas onde o relevo é ligeiramente inclinado, nos quais o
escoamento superficial para a maior parte dos solos é médio ou rápido.
Litologicamente corresponde a Formação Santana (margas e folhelhos) e Formação
Arajara (arenitos e siltitos). A classe D: 20 a 45%, com 31 Km² (relevo forte
ondulado) abrangem áreas bastante inclinadas, onde o escoamento superficial é
muito rápido em boa parte dos solos. A classe E: 45 a 75% possui 4,3 Km²
(relevo montanhoso) representam as áreas com altas suscetibilidades à erosão,
não sendo recomendadas para o uso agrícola. A Classe F (> 75%) com área de 0,8
Km² representando um relevo Escarpado, não sendo recomendada a ocupação.
HIPSOMETRIA DA MICROBACIA DO SALAMANCA BARBALHA- CEARÁ
DECLIVIDADE MICROBACIA DO SALAMANCA BARBALHA-CEARÁ.
Conclusões
O planejamento ambiental é uma das muitas alternativas quando para a preservação, recuperação e conservação dos sistemas ambientais. A geomorfologia deve ser entendida como um importante elemento do planejamento ambiental, devido suas características que estão interligadas aos múltiplos aspectos não só de ordem física, mas também social, econômica e cultural. O mapeamento da declividade e da hipsometria da microbacia auxilia na compreensão do relevo, permitindo um estudo sobre os processos hidrológicos, pois a água é um dos principais agentes na esculturação do relevo. A microbacia em estudo possui maiores áreas com declives planos a suave ondulado, o que permite uma maior ocupação do solo, com exceção de alguns setores. A parte urbana de Barbalha concentra-se nestas áreas em meio a planície fluvial do Salamanca e em locais com topografias mais elevadas.
Agradecimentos
A Universidade Regional do Cariri pelo apoio financeiro através da bolsa de iniciação científica PIBIC-URCA, a Profª. Juliana Maria Oliveira Silva pela dedicação e orientação no trabalho e aos colegas dos laboratórios de Análise Ambiental – LaGeo, Geoprocessamento – LabGeo e o de Geomorfologia e Pedologia – GeoPed.
Referências
CHAVES, M. E. D. LOURENÇONI, D. SOARES J. F; FERREIRA, E; PENA, M. R.S; MIRANDA L. H. de. Geomorfologia e Planejamento Ambiental: Mapeamento do Relevo e Delimitação das Classes de Declividade no Município de Campos Gerais – MG. In: X Congresso Nacional de Meio Ambiente, 2013, Poços de Caldas-MG. Anais do X Congresso Nacional de Meio Ambiente, 2013. p 1-6.
COSTA, F. DAS C. S. da. Análise Geoambiental do Cariri. Crato: URCA, 2003 (mimeo).
CPRM- ATLAS DIGITAL DO ESTADO DO CEARA- 2003.
DNPM. Departamento Nacional de Produção Mineral. Programa Nacional de Estudos dos Distritos Mineiros. Projeto de Avaliação Hidrogeológica da Bacia Sedimentar do Araripe. Fase I. Recife: DNPM, 1996.
EMBRAPA. Manual de classificação dos solos. Brasília, CNPS, 1999.
MAGALHÃES, A. O. Análise Ambiental do Alto Curso da Microbacia do Rio Batateira no Município de Crato/CE: Subsídios ao Zoneamento Ecológico-Econômico. (Dissertação de Mestrado). UFC, 2006. p. 196
SANTOS, R. F. Planejamento Ambiental : teoria e prática. São Paulo: Oficina de Texto, 2004.
VALERIANO, M. M. Modelo digital de variáveis morfométricas com dados SRTM para o território nacional: o projeto TOPODATA. In: XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2005, Goiânia, GO. Anais do XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2005. p. 1-8.
VALERIANO, M. M.; Rossetti, D. F.; Albuquerque, P. C. G. Topodata: desenvolvimento da primeira versão do banco de dados geomorfométricos locais em cobertura nacional. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2009, Natal, RN. Anais..., São José dos Campos, SP : INPE, 2009.