ANÁLISE DO PADRÃO DE USO E COBERTURA DA TERRA ASSOCIADO AOS ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO-BAHIA
Autores
Costa, D.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Lima, J.M. (UNIVESIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Souza, D.T.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Oliveira Junior, I. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ; Franca-rocha, W.J.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA)
Resumo
O trabalho objetivou analisar a relação entre os aspetos geomorfológicos e o uso da cobertura da terra no município de Juazeiro-Bahia, para subsidiar a discussão sobre as potencialidades e restrições ambientais. Os dados sobre o relevo foram obtidos pelo processamento do MDT (MIRANDA, 2005), associados aos dados de uso e cobertura em ambiente SIG. Identificou-se que a agropecuária ocorre em áreas de baixa altitude, declividade e em função, inclusive, da existência da rede hidrográfica.
Palavras chaves
Geoprocessamento; Planejamento Territorial; Geomorfologia
Introdução
Historicamente, o homem ocupa os ambientes e apropria-se do espaço, de variadas formas e com diferentes finalidades. O modelado terrestre constitui-se como um dos fatores biofísicos condicionantes para o desenvolvimento dos diversos modos de ocupação. Casseti (1994) afirma que a geomorfologia constitui um importante subsídio para a compreensão da forma de apropriação do relevo, bem como dos demais recursos naturais. Os aspectos do relevo podem funcionar como fatores de potencialidades para o desencadeamento de atividades agropecuárias, em função da declividade e altimetria, por exemplo, que pode solicitar mais gasto de energia na realização do trabalho. Na Geomorfologia existe uma gama de metodologias para análise e correlação das feições morfoesculturais com as formas de apropriação do solo, dentre as tais, encontram-se a de Crepani e outros (2001), Ross (1994), Lepsch e outros (1991) e IBGE (2013). As geotecnologias, sobretudo com o avanço das técnicas computacionais, possuem um influente papel nos estudos geomorfológicos e geoambientais. A geração do Modelo Digital do Terreno (MDT) permite o cálculo de variáveis associadas ao relevo, como a declividade e a hipsometria, as quais podem subsidiar o ordenamento territorial. Este trabalho tem por objetivo utilizar os dados de declividade e hipsometria, gerados a partir de cálculos com o MDT para analisar o padrão de uso e cobertura da terra no município de Juazeiro, que está localizado no Norte do Estado da Bahia. A área de estudo está incluída no domínio climático tropical semiárido, compõe o bioma caatinga (BRASIL, 2010) e é caracterizada como um importante polo agrícola, onde são cultivadas frutíferas por meio da irrigação, cujas águas são captadas do rio São Francisco e afluentes.
Material e métodos
Para a efetivação do presente estudo, realizou-se o levantamento de referências bibliográficas para fornecer aporte teórico e metodológico. Pesquisou-se sobre os fatores físicos, biológicos e sociais da área de pesquisa, sobre técnicas de geoprocessamento como auxílio ao ordenamento territorial e sobre os aspectos geomorfológicos e suas correlações com as formas de uso cobertura da terra. Elaborou-se um banco de dados em formato de Sistema de Informação Geográfica (SIG), com dados sobre relevo, uso e cobertura da terra, geologia, solos, hidrografia etc., de fonte secundária (BRASIL, 1982; SIG-BA, 2003) e levantadas em estudos de campo. Procurou-se enfocar na análise dos mapas de unidades geomorfológicas e de uso e cobertura vegetal produzidos pelo SIG-BA (2003), de escala 1:1000000, e do MDT (MIRANDA, 2005), com resolução de 30 m. A elaboração da base cartográfica ocorreu em ambiente SIG, bem como a construção dos mapas de declividade e hipsometria. Para a definição das classes dos referidos mapas, realizou-se alguns testes, baseados em Crepani e outros (2001), no intuito de associá-los aos demais dados cartográficos, como os mapas de uso e cobertura da terra e de relevo (SIG-BA, 2003). A partir da definição das classes dos mapas, relacionou-se os dados sobre o relevo com o mapa de uso e cobertura da terra em ambiente SIG, por meio da tabulação cruzada, para indicar as proporções do uso e das feições vegetais em função do relevo.
Resultado e discussão
Observou-se nos mapas produzidos (FIGURA 1) que os aspectos do relevo (declividade e hipsometria) e o mapa de uso e cobertura vegetal estão diretamente relacionados. A ocorrência da agropecuária é mais intensa nas zonas de baixas declividades (0 – 2, 2 - 6%) e de menor altimetria (315 m a 391 m). As baixas declividades representam áreas cultiváveis e que permitem o uso do maquinário agrícola, sem grandes consequências para a degradação do solo (LEPSCH et al., 1991). Outro dado a ser observado é que estas áreas de exploração econômica obedecem às características da rede de drenagem, se instaurando nas proximidades dos rios e corpos de água, facilitando assim, processos de irrigação.
Nos valores de média declividade (6% a 20%; 20% a 50%) e de média altitude (391 m a 696 m) predominam a caatinga parque e pequenas manchas de caatinga arbórea arbustiva. Em trabalho de campo, observou-se a presença de afloramentos rochosos e uma produção extensiva de caprinos e bovinos, em meio à vegetação. Nesses ambientes, em função dos desníveis topográficos, associados aos solos suscetíveis à erosão, a utilização da terra constitui em um fator de pressão ambiental e geram processos erosivos acelerados e um estado de deterioração ambiental.
Nos ambientes de grandes declives (50% a 97%) e altitudes (696 m a 925 m) predominam a caatinga arbórea arbustiva, campo rupestre e floresta estacional, pois as práticas da agropecuária se tornam inviáveis em áreas de intensos desníveis topográficos e constituem como campo de preservação da fauna e flora (LEPSCH et al., 1991). A legislação ambiental estabelece como área de preservação permanente as encostas ou parte dessas com declividade superior a 47% (BRASIL, 2012), o que indica o relevo como um elemento no processo de ordenamento territorial.
Por meio da relação entre os mapas, observou-se a representatividade das áreas de uso associada às unidades geomorfológicas (FIGURA 2). Identificou-se que aproximadamente 73% das atividades agropecuárias se desenvolvem na região de pedimentos funcionais. Essas correspondem à superfície de aplanamento, de inclinação suave, capeada por material detrítico descontínuo sobre a rocha, não apresentando dissecação marcada ou deposição excessiva (IBGE, 2009). Os pedimentos encontram-se sobre as rochas do tipo ígneas caracterizando uma área mais resistente, com a ocorrência de solos vertissolos, constituídos por fertilidade e associados às condições de clima e relevo, pois dificultam a remoção dos cátions básicos do solo (IBGE, 2007). Dessa forma, existe a viabilidade para a agricultura por ser uma área relativamente aplainada, com solo fértil e água para a irrigação.
Uma considerável parte da agropecuária, cerca de 25%, se concentra na unidade geomorfológica de região de acumulação fluvial, constituindo-se em uma área de forte influência dos rios nas práticas de irrigação. Por outro lado, em áreas onde não estão próximas dos rios, de maior declividade e solos poucos férteis, como nos planaltos kársticos, anticlinais aplanados e blocos deslocados da Chapada Diamantina, as atividades agrícolas são inviabilizadas e, por esse motivo, elas não ocorrem.
Os pedimentos funcionais ocupam a maior parte do município e neles são encontradas as maiores manchas de vegetação nativa do bioma caatinga. No total, 89% da caatinga arbórea-arbustiva, 74% da caatinga parque e 100% da floresta estacional são encontradas nos pedimentos funcionais.
Mapas de declividade, uso e cobertura da terra e Hipsometria
Distribuição percentual das classes de uso e cobertura da terra nas unidades geomorfológicas
Conclusões
A análise do Modelo Digital do Terreno e da tabulação cruzada possibilitou observar a relação entre o padrão de uso do solo e cobertura da terra com os aspectos geomorfológicos do município de Juazeiro-Ba. O desenvolvimento das atividades agropecuárias é condicionado pelo relevo, uma vez que identificou que a agropecuária se concentra nas áreas de baixas declividades, de menores valores altimétricos e onde encontram-se, principalmente, rios perenes. As manchas da caatinga estão dispostas nas áreas de declives acentuados e de altitudes elevadas. Nas áreas situadas ao sul do município de Juazeiro-BA, notou-se que há presença de um relevo favorável ao desenvolvimento das atividades agropecuárias, ainda sem exploração. No entanto, para gerar um plano de manejo dessas áreas, é preciso aprofundar os estudos, relacionando os diversos elementos e processos ambientais, para a configuração de zoneamentos e de práticas sustentáveis.
Agradecimentos
Referências
BRASIL. Projeto RADAMBRASIL Folha SD.23. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 1982.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Monitoramento do Bioma Caatinga 2002 a 2008. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente; Centro de Informação, Documentação Ambiental e Editoração Luís Eduardo Magalhães, 2010
BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências.
CASSETI, V. Elementos de Geomorfologia. Goiânia: UFG, 1994.
CREPANI, E. et al. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento Aplicados ao Zoneamento Ecológico-Econômico e ao Ordenamento Territorial. São José dos Campos-SP: INPE, 2001.
IBGE. Manual Técnico de Geomorfologia. Rio de janeiro: IBGE, 2009.
_____. Manual Técnico de Pedologia. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
______. Manual técnico de uso e cobertura da terra. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.
LEPSCH, I. F. et al. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. 2. ed. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1991.
MIRANDA, E. E. de; (coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005. Disponível em: http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 30 jul. 2014.
ROSS, J.L.S. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, v. 8, p. 63-74, 1994.
SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOREFERENCIADAS – SIG-BAHIA Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos – SIRH. Salvador: Superintendência de Recursos Hídricos, 2003. 2 CD - Rom.