GEOMORFOLOGIA E ADEQUABILIDADE DO USO AGRÍCOLA DAS TERRAS NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ
Autores
Amorim, J.V.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Frota, J.C.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Valladares, G.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ) ; Aquino, R.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ) ; Guimarães, C.C.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma avaliação do uso das terras do Sertão Central do Ceará, levando em consideração a adequabilidade agrícola e o relevo. Os resultados apresentados são fruto das análises dos mapas de adequabilidade e de geomorfologia da área. A maior parte da área de estudo encontra-se subutilizada ou com uso adequado, devido aos solos com maior capacidade de suporte utilizados com pastagem ou vegetação nativa e as áreas mais frágeis com vegetação nativa.
Palavras chaves
SIG; Fragilidade; Adequabilidade agrícola
Introdução
Os estudos geomorfológicos são de fundamental importância para o entendimento dos ambientes naturais e das alterações desencadeadas pela ocupação humana, que possibilitam ao longo do tempo a geração de desequilíbrio aumentando assim a fragilidade dos ecossistemas. Dessa forma, a divisão do meio físico em unidades geomorfológicas auxiliam na compreensão da dinâmica de suas caraterísticas ambientais e estas, por sua vez, constituem-se num instrumento fundamental no auxílio às ações de planejamento ambiental. Partindo dessa análise e levando em consideração a adequabilidade das terras, pode-se inferir que o estudo desta, além de também contribuir para ações de um planejamento ambiental, constitui-se num instrumento valoroso no sentido de orientar ações de monitoramento da degradação na área de estudo e no manejo das terras, destacando se as mesmas possuem ou não um uso adequado. A região cearense é caracterizada por práticas de agricultura que fazem referência às queimadas e desmatamento total de áreas, gerando desequilíbrios na fauna e na flora nativa da região, bem como no processo de produção. Além disso, muitos municípios da região apresentam relevo ondulado a montanhoso onde, as práticas de agricultura não são adequadas. No entanto, as necessidades humanas precisam ser atendidas e por conta disso, estas terras têm sido usadas, mesmo que de forma incorreta. Desta forma, o uso intensivo do solo, sem interrupção e sem técnicas de conservação tem provocado erosão e comprometido a produtividade dessas terras. Diante do exposto, faz-se importante a avaliação da capacidade de suporte das terras às diferentes formas de uso, empregando mapas de aptidão agrícola, de uso e cobertura, de adequabilidade e mapas de geomorfologia como referenciais de planejamento e gestão agroambiental. Partindo desta perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a adequabilidade de uso das terras na área do sertão central do Ceará levando em consideração o fator geomorfológico.
Material e métodos
A área de estudo está inserida entre quatro municípios do Estado do Ceará, são eles: Pedra Branca, Senador Pompeu, Mombaça e Piquet Carneiro. Esses municípios pertencem à microrregião do Sertão de Senador Pompeu, inserida na bacia do Rio Banabuiú, região de médio Jaguaribe, com extensão de aproximadamente 150.000 hectares. Esta localizada entre as coordenadas geográficas 5°21’ e 5°53’ de latitude sul e 39°18’ e 39°51’ de longitude oeste. A área de estudo localiza-se em uma faixa de dobramentos antigos, denominada cinturão orogênico do Atlântico, considerando os grandes domínios estruturais. Essa área teria sido submetida por até três fases de dobramentos, acompanhadas de metamorfismos e intrusões alternadas por longas fases erosivas (ROSS, 2008). De acordo com RADAMBRASIL (1981) e IBGE (1999), a área de estudo está inserida em dois compartimentos geomorfológicos: O Planalto Sertanejo e a Depressão Sertaneja. A denominação utilizada por MDA (2010) destaca a predominância da Depressão Sertaneja e dos Maciços Residuais, sendo os últimos “[...] relevos residuais resultantes dos processos erosivos que ocorreram na era Cenozóica, fase em que se deu a maior modificação e modelação do relevo nordestino [...]” (MDA, 2010, p.129). É importante ressaltar que a área de estudo possui altitudes que variam entre 250m a 1.000m. Para confecção do mapa de adequabilidade do uso agrícola das terras foi realizada a sobreposição do mapa de uso e cobertura das terras, com o de aptidão agrícola, fazendo a sobreposição dos dois mapas em Sistema de Informações Geográficas (SIG). O mapa de geomorfologia foi produzido por meio da interpretação de uma imagem com composição falsa cor, incluindo altimetria, declividade e curvatura (AQUINO, 2013).
Resultado e discussão
Foram identificadas 7 unidades geomorfológicas: 1-Morros e morrotes; 2-Vales de
serra; 3-Encostas muito dissecadas; 4-Pediplanos; 5-Vale Banabuiú; 6-Inselbergs
e 7-Interflúvios isolados (Figura 1), onde, a unidade 1 abrange 24753,2 ha e
apresenta 61,2% de uso subutilizado em uma área de 15138,1 ha, cerca de 27,7% de
uso adequado, 10% de uso sobreutilizado e 0,7% de corpos hídricos (Figura 2).
Nota-se que esta unidade possui um grau de fragilidade intermediário devido
principalmente ao grau de declividade e presença de solos pouco a moderadamente
profundos. A unidade 2 abrange 6413,0 ha e representa um uso mais subutilizado,
com cerca de 80% em uma área de 5130,2 ha, sendo 8,6% de uso adequado e cerca de
2% de uso sobreutilizado. Apresenta ainda 2,6% de corpos hídricos. Essa unidade
apresenta pouca fragilidade, por não apresentar declividade muito acentuada.
A unidade 3 abrange uma área de 14882,4 ha e apresenta, 16,2% de uso
subutilizado, 63,4% de uso adequado, 19,3% de uso sobreutilizado e 0,2%
representa os corpos hídricos. Destaca-se como uma área de muita fragilidade por
apresentar um relevo muito movimentado. A unidade 4 que ocupa a maior área
corresponde a 94173,2 ha, sendo que 83,4% da área apresenta uso subutilizado,
1,1% uso sobreutilizado, 11,1% uso adequado e 1,5% representa os corpos
hídricos. Essa unidade apresenta pouca fragilidade por caracterizar um relevo
suave ondulado e solos mais profundos.
A unidade 5 apresenta um grau de fragilidade que varia de intermediário a muito
frágil, devido a ação da água corrente que causa erosão no terreno e os solos
rasos da ordem dos neossolos. Esta unidade ocupa uma área de 4319,3 ha, onde
60,5% da área destaca-se com uso subutilizado, 11,5% uso sobreutilizado, 24,6%
uso adequado e 1,6% de corpos hídricos.
As unidades 6 e 7 destacam-se como áreas muito frágeis, ocupam 1246,2 ha e
2802,0 ha, sendo que na unidade 6, 68,3% da área apresenta uso adequado, 7,6% de
uso sobreutilizado, 24% de uso subutilizado e 0,1% de corpos hídricos. Já a
unidade 7, compreende cerca de 54,9% de uso adequado, 26,3% de uso
sobreutilizado, 18,5% de uso subutilizado e 0,1% de corpos hídricos.
Fonte: Renê Pedro de Aquino, 2013.
Fonte: Jéssica Cristina Oliveira Frota, 2014.
Conclusões
A área de estudo apresenta um alto potencial agrícola, com exceção dos solos declivosos das encostas dissecadas, interflúvios e inselbergs e de solos rasos, diante do exposto, a maior parte dessas terras encontra-se subutilizada, ou seja, com outros usos, principalmente pastagem e vegetação nativa.
Agradecimentos
À PETROBRAS pelo financiamento da pesquisa. À Universidade Federal do Piauí, pela oferta de bolsas do Programa de Iniciação Científica (PIBIC/UFPI) dos dois primeiros autores.
Referências
AQUINO, Renê Pedro de. Vulnerabilidade ambiental dos compartimentos morfopedológicos de trecho do alto Banabuiú - CE. 89f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação Em Geografia. Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2013.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério de Planejamento e Orçamento. Diagnóstico ambiental da Bacia do Rio Jaguaribe: diretrizes gerais para a ordenação territorial. Salvador, 1999. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/diagnosticos/jaguaribe.pdf> Acesso em: 17 fev. 2014.
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais. Parte da Folha SB.24/25 – Jaguaribe-Natal, vol.23, 1981.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Plano territorial de desenvolvimento rural sustentável: território cidadania do Sertão Central. Fortaleza: Instituto Agropolos do Ceará, 2010.
ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. – 5.ed. rev. e ampl., 1. reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.