APROPRIAÇÃO DO RELEVO E AS IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS URBANAS NO BAIRRO GABRIELA EM FEIRA DE SANTANA-BAHIA.
Autores
Silva, M.T.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS) ; Silva, M.G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS) ; Oliveira Júnior, I. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS) ; Silva, S.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS) ; Santana, I.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS)
Resumo
O trabalho busca denotar a importância da Geomorfologia para planejamento de uso e ocupação do solo urbano, além de verificar a degradação ambiental proveniente desse processo, tendo como recorte espacial de análise o bairro da Gabriela em Feira de Santana-BA. Realizou-se pesquisa bibliográfica e trabalho de campo. Infere-se que a ocupação indevida e mal planejada da referida área alterou a paisagem natural e decorreu em problemas ambientais locais.
Palavras chaves
Geomorfologia; uso do solo urbano ; degradação ambiental
Introdução
O município de Feira de Santana-BA tem sua origem nos primórdios do século XVIII atrelada à abundância de água. Os primeiros núcleos de povoamento feirense decorreram-se na bacia hidrográfica do rio Jacuípe, onde há presença de muitas nascentes que torna os riachos mais perenes encontrados no município (SANTO, 2012). Por várias décadas, a expansão urbana em Feira de Santana-BA seguiu rumo ao tabuleiro interiorano, pois este se constitui em uma grande área plana, mais fácil para construções, sendo também objeto de especulação imobiliária. Enquanto ocorre essa ocupação, algumas áreas continuam não ocupadas pelo fato de ser “caracterizada por variação topográfica considerada grande para os padrões planos da cidade, e observa-se também nesta área a presença de [...] muitas nascentes”. (SANTO, 2012, p.189). Com isso, constata-se que o relevo é um elemento importante para a organização espacial urbana em Feira de Santana-BA. O objetivo proposto desta pesquisa é denotar a importância da Geomorfologia para o planejamento de uso e ocupação do solo urbano. Para tal, tornou-se necessário verificar de que forma a Geomorfologia pode subsidiar a organização espacial urbana em Feira de Santana-BA, tendo como recorte espacial de análise o bairro da Gabriela. Conforme Cerqueira et al (2004, p.1), o bairro “caracteriza-se por relevo plano e afloramentos de rochas cristalinas, possuindo uma densa drenagem e litologia de cobertura sedimentar e Geomorfologia plana contendo a maior parte das nascentes”. Com a implantação de conjuntos habitacionais por parte do poder público e ocupação irregular advinda das invasões, essa parte da cidade, onde se encontra o bairro Gabriela, foi aos poucos sendo ocupada, bem como as áreas de proteção ambiental dos rios. Propõe-se, assim, verificar a degradação ambiental proveniente da ocupação irregular e enfatizar que o planejamento do espaço urbano deve considerar os elementos geomorfológicos.
Material e métodos
Inicialmente, realizou-se um levantamento bibliográfico para uma fundamentação teórica básica. Dentre os principais autores destaca-se Bérgamo e Almeida (2006) para tratar da Geomorfologia enquanto subsídio para o uso e ocupação do solo; Corrêa (1995) para discutir o espaço urbano bem como os agentes que atuam na sua produção; Araújo e outros (2003) para tratar da degradação ambiental, levando em consideração que todo processo de urbanização geram mudanças geomorfológicas e ambientais; Guerra (2011) que traz estudos sobre a Geomorfologia urbana e Santo (2012) que trata do processo histórico do crescimento urbano de Feira de Santana-BA. Como próximo passo da pesquisa, desenvolveu-se um trabalho de campo para observar a dinâmica de uso e ocupação da localidade estudada e seus atributos geomorfológicos e analisar a deterioração ambiental, resultantes da pressão ambiental, principalmente, sobre os recursos hídricos. No processo de levantamento de dados em campo, registrou-se em fotografias a paisagem local para análise dos dados e a sistematização das informações, associadas às referências bibliográficas.
Resultado e discussão
A Teoria Marxista afirma que a existência humana é embasada em condições
materiais, com isso o homem se apropria da natureza para dela retirar os
subsídios necessários para sua existência, modificando-a e produzindo os meios
para que possa existir. Assim, o espaço urbano é oriundo da apropriação do solo
pelo homem a fim de suprir a necessidade de produzir, consumir, habitar e viver
(CARLOS, 1999).
Conforme Corrêa (1995), o espaço urbano é o “conjunto de diferentes usos
da terra justapostos entre si” e é um reflexo das relações sociais existentes.
Desse modo, nele se reverbera as desigualdades socioeconômicas e, ao mesmo
tempo, é uma condição para essas relações. Sendo intrínseco às relações sociais,
é produzido por agentes que realizam determinadas ações para a reprodução
espacial, a exemplo dos promotores imobiliários, do Estado e da população
marginalizada.
Entre as marcas do processo de produção e reprodução do espaço urbano
encontram-se a degradação e deterioração ambiental, resultantes da alteração da
paisagem, com intervenções no espaço natural, decorrente, muitas vezes, da
ocupação irregular. Por degradação ambiental entende-se como a redução, oriunda
da inter-relação de processos que agem sobre a terra, dos potenciais dos
recursos renováveis (ARAÚJO et al., 2013), resultantes, normalmente, da
incompatibilidade das ações humanas sobre os condicionantes biofísicos no
processo de ocupação de uma área (OLIVEIRA JORGE, 2011).
Pode-se verificar esse processo a partir do nascimento do bairro
Gabriela, por meio da alteração da posição original da nascente de um dos
riachos (Foto 01). Em 1994, para conter o avanço do processo erosivo e o
assoreamento do riacho, a prefeitura municipal construiu um paredão de concreto.
Como a topografia do bairro é, em relação ao tabuleiro interiorano, acidentada,
com declividade em alguns pontos em torno de 40º (SANTO, 2012), é comum a
prática de aterros para a construção de ruas e edificações (Foto 2). Esse fato
altera o processo de infiltração de águas pluviais no solo e dá início aos
processos erosivos, durante o período da construção. (ARAÙJO et al., 2013,
p.70).
Ademais, a execução de obras de infraestrutura impermeabiliza o solo, o
que pode ocasionar, no decurso do tempo, a redução do volume de água disponível
para a nascente. Em outros locais, o desmatamento das margens dos riachos
ocasionou erosão e alterou a dinâmica das nascentes e o curso normal dos
riachos, constituindo em um dos problemas urbanos que modificam a configuração
geomorfológica (OLIVEIRA JORGE, 2011; SANTOS FILHO, 2011).
Entre os problemas geomorfológicos urbanos, encontra-se a poluição das
fontes hídricas, classificadas em pontuais ou difusas (BOTELHO, 2011). As
pontuais se referem aos despejos de águas servidas diretamente nos corpos de
água (Foto 2) e a poluição difusa acontece quando materiais, como lixo,
sedimentos e esgotos, são carreados em direção aos cursos de água por meio do
escoamento superficial que é ampliado devido à impermeabilização do solo.
Santos Filho (2011, p.229) indicou que “toda urbanização gera drásticas mudanças
na Geomorfologia”. Essas ações provocadas pela produção do espaço urbano, como a
impermeabilização do solo, são destacadas por Botelho e Silva (2011) como as
principais alterações no ciclo hidrológico. Segundo Guerra (2011), o processo de
urbanização requesta a instalação de estruturas pouco permeáveis entre o solo e
a água da chuva, o que diminui a infiltração e aumenta o escoamento superficial,
dando início a processos erosivos, como os identificados na área de estudo.
Conclusões
No decurso desse trabalho, procurou-se destacar a importância de se considerar os elementos geomorfológicos para o planejamento urbano, haja vista que as ações antrópicas provocam transformações no meio ambiente e alteram o equilíbrio e a dinâmica dos sistemas geomorfológicos. A degradação de áreas urbanas é resultante da divisão social do trabalho, da relação entre classes sociais e a natureza e da ocupação de áreas impróprias para habitação. Esses fatores reproduzem e ampliam as desigualdades socioespaciais, evidenciadas pela apropriação indevida do relevo. Com isso, é necessário tomar medidas urgentes para orientar a expansão urbana e planejar as transformações do espaço urbano, com o intuito de preservar ou conservar os ambientes, como é o caso das nascentes e cursos de rios localizados no bairro da Gabriela. A ocupação indevida e mal planejada da referida área alterou a paisagem natural, decorreu em problemas ambientais locais, como erosão, poluição pontual e difusa.
Agradecimentos
Referências
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