Identificação e Análise da Cobertura e Uso da Terra voltada à conservação do patrimônio geomorfológico das Guaritas do Camaquã - RS

Autores

Von Ahn, M.M. (DGEO-UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) ; Santos, F.C.A. (PPGEO-UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) ; Simon, A.L.H. (DGEO-PPGEO-UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS)

Resumo

Este trabalho foi realizado no Geossítio das Guaritas do Camaquã, no Estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de reconhecer e analisar as características das coberturas e usos da terra, visando identificar áreas de conflito entre a ocupação da área e a Geodiversidade, afim de viabilizar ações de geoconservação que possam culminar na estruturação de um Geoparque. De forma geral, constatou-se que as coberturas encontram-se preservadas, e os usos não comprometem a Geodiversidade da área.

Palavras chaves

Ocupação do espaço; Geodiversidade; Conflitos Ambientais

Introdução

A avaliação das mudanças na paisagem é fundamental para a eficiência na gestão territorial, pois pode subsidiar as decisões relacionadas ao uso e conservação de recursos naturais e ambientais. Para auxiliar no entendimento dessas alterações, a paisagem é comumente subdividida em classes de cobertura e uso da terra (TURNER II et al., 1995; LAMBIN et al., 2000). Segundo Bie et al. (1996) e IBGE (2013), o termo uso da terra comumente está associado às atividades realizadas pelo homem numa dada extensão de terra ou em um ecossistema, com o objetivo de obter, através do uso dos recursos da terra, benefícios e produtos. O conceito de cobertura da terra é definido pelos elementos presentes na natureza como a vegetação (natural ou plantada), água, gelo, rocha nua, areia e superfícies similares, além de construções artificiais geradas pelo homem, que recobrem a superfície da terra. Hoje em dia há um consenso de que as alterações provocadas pelo uso da terra são as principais causadoras de mudanças ambientais locais, regionais e globais (LAMBIN et al. 1999). As consequências podem ser observadas não somente no que tange às alterações na cobertura da terra, mas em diversos outros aspectos como o clima, a biodiversidade e a geodiversidade. Partindo dessa premissa, torna-se necessário compreender a importância de se proteger e conservar o patrimônio geológico-geomorfológico, bem como evidenciar como ocorre a dinâmica de cobertura e uso da terra em áreas de proteção da geodiversidade: os geossítios. Desta forma, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de elaborar um Mapa de Cobertura e Uso da Terra da Área de Proteção do Geossítio das Guaritas do Camaquã, que possibilite identificar possíveis áreas de conflito entre o uso da terra e a geodiversidade.

Material e métodos

A metodologia envolveu os seguintes procedimentos: (1) Levantamento e revisão de literaturas referentes à temática abordada; (2) Organização da base cartográfica: o limite do Área de Proteção do Geossítio foi definido de acordo com as orientações de Paim et al. ( 2012), sendo que a organização da base cartográfica desta área pautou-se nos dados vetoriais do Estado do Rio Grande do Sul, em escala 1:50.000 (HASENACK; WEBER, 2010); (3) Seleção das imagens do Google Earth para o mapeamento da cobertura e uso da terra: este procedimento seguiu as orientações de Simon; Trentin (2009), a partir da utilização do software Google Earth, de onde foram obtidas 153 imagens em escala aproximada de 1:50.000. Durante a obtenção das imagens foram definidos 4 pontos de controle em cada vértice, os quais foram utilizados, posteriormente, no processo de georreferenciamento; (4) Georreferenciamento das imagens do Google Earth: realizado no ambiente do software ArcGIS 10.0, ocorreu a partir do registro das informações espaciais sobre os quatro pontos de controle pré-definidos nas 153 imagens; (5) Delimitação das classes de cobertura e uso da terra: reconhecidas e delimitadas tendo como base o sistema de classificação elaborado pelo IBGE (2013) iniciando pelas áreas com maior representatividade espacial;(6) Realização de trabalho de campo: ocorreu no dia 22 de fevereiro de 2014, com o objetivo de analisar as informações obtidas através do mapeamento, reconhecer características peculiares da área e avaliar os possíveis conflitos existentes entre as classes de uso da terra identificadas no mapeamento e a geodiversidade do Geossítio das Guaritas do Camaquã.

Resultado e discussão

Tendo como base o sistema de classificação elaborado pelo IBGE (2013), foram identificadas no mapeamento 10 classes de cobertura e uso da terra: Área Urbanizada; Área de Mineração; Campo Limpo; Campo Sujo; Corpos de Água; Afloramento Rochoso; Culturas Temporárias; Instalações Agrícolas; Florestal e Silvicultura. Devido às particularidades das coberturas e usos da terra presentes no Geossítio das Guaritas do Camaquã, foram reconhecidas e inseridas no sistema de classificação as Áreas de mineração; Campo Limpo; Campo Sujo e Afloramento Rochoso, constituindo um sistema de classificação ajustado à área de estudo (Figura 1). A cobertura Florestal é a que possui maior representatividade no Geossítio, ocupando 178,74 km² (35,80%) de uma área total de 499,66 km². Estas formações se encontram bem distribuídas pela área, com menor predominância nas proximidades das Minas do Camaquã, onde ocorrem as áreas de Silvicultura, que ocupam 3,58 km² (0,71% da área). As áreas de campo sujo e campo limpo ocupam 113,44 km² (22,72%) e 106, 05 km² (21,24%) respectivamente. Geralmente próximas às estas áreas se encontram instalações agrícolas, que ocupam 3,06 km² (0,61% da área). Estas instalações estão associadas à prática pecuária desenvolvida nas áreas de campo, com proveito das gramíneas de boa qualidade, evitando assim a retirada das coberturas naturais para a implantação de pastagens. As culturas temporárias, também atreladas à ocorrência de instalações agrícolas, ocupam pouco espaço na área do geossítio correspondendo à 4,24 km² (0,85%). A evolução deste uso pode contribuir para a mecanização das práticas e alteração das coberturas e deve ser monitorada no sentido de compreender sua expansão sobre pontos onde ocorrem formas do relevo que tenham significativa importância para o geossítio. Os Afloramentos Rochosos ocupam 84,32 km² (16,89% da área) do geossítio. Esta cobertura foi reconhecida para este mapeamento devido à sua relação com a ocorrência de feições ruiniformes, características das formações sedimentares do geossítio em questão. No que se refere aos Corpos de Água, eles ocupam a menor extensão espacial no geossítio compreendendo 0,90 km² (0,18% da área total), e foram identificados numa pequena extensão do Rio Camaquã e no segmento do Arroio João Dias barrado para a captação de água para a aglomeração urbana das Minas do Camaquã. Por fim, têm-se as áreas urbanizadas e as áreas de mineração, ocupando respectivamente 1,41 km² (0,28%) e 3,58 km² (0,71%) se encontrando exclusivamente nas proximidades da vila das Minas do Camaquã. A análise do mapa de cobertura e uso da terra (Figura 2) possibilitou a identificação de atividades antrópicas bem distribuídas no Geossítio. Apesar destas atividades estarem presentes, constatou-se que os elementos da Geodiversidade não são alvo de grandes impactos, pois estas atividades são pontuais e utilizadas em sua grande maioria para a prática da pecuária. Identificou-se que a pequena porcentagem referente às culturas temporárias refere-se a cultivos de subsistência, atrelados às propriedades rurais que tem na pecuária sua principal fonte de renda. Ressalta-se que de acordo com o mapeamento, as áreas referentes às culturas temporárias refletem as principais alterações nas coberturas da terra, porém, ainda não representam significativo comprometimento da geodiversidade da área. Destaca-se que não só as áreas de campo limpo, mas também as áreas de campo sujo são utilizadas para a criação de gado, ou seja, as atividades antrópicas tendem a ocorrer a partir do aproveitamento de coberturas já existentes, não descaracterizando de forma expressiva a paisagem da área. Dessa forma, verificou-se que as coberturas se encontram significativamente preservadas, fato positivo para as ações que visam à estruturação de um Geoparque e aproveitamento da geodiversidade para atividades turísticas, científicas e pedagógicas.

Figura 1

Figura 1: Sistema de classificação das coberturas e usos da terra ajustado à área de estudo. Fonte: Autor.

Figura 2

Figura 2: Mapa de Coberturas e Usos da Terra da Área de Proteção do Geossítio das Guaritas do Camaquã. Fonte: Autor.

Conclusões

De forma geral, verificou-se que as atividades antrópicas estão atuando em harmonia com a geodiversidade, ocorrendo conflitos pouco significativos entre o uso da terra e os elementos geológico-geomorfológicos, ao passo que as coberturas se encontram consideravelmente preservadas, fato positivo para as ações que visam à estruturação de um Geoparque e aproveitamento da geodiversidade para atividades turísticas, científicas e pedagógicas, uma vez que a cobertura vegetal relaciona- se estreitamente com as feições ruiniformes do geossítio na composição de paisagens peculiares da área. Cabe destacar que este mapeamento de cobertura e uso da terra será confrontado com o mapeamento geomorfológico das Guaritas do Camaquã e com o mapeamento geomorfológico das Minas do Camaquã, afim de compreender se as alterações na cobertura da terra contribuem para desequilíbrios na morfodinâmica e nas feições do relevo que apresentam expressiva importância para os geossítios.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio financeiro concedido (processo 408218/2013-4). À Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pela bolsa de Iniciação Científica concedida.

Referências

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HASENACK, H.; WEBER, E. (orgs.). Base cartográfica vetorial contínua do Rio Grande do Sul - escala 1:50.000.Porto Alegre: UFRGS-IB-Centro de Ecologia. 2010. 1 DVD-ROM (Série Geoprocessamento, 3).

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