INVENTÁRIO DE GEOMORFOSSÍTIOS E PATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO NO MUNICÍPIO DE ANGRA DOS REIS (RJ) COMO BASE AO PLANEJAMENTO TURÍSTICO
Autores
Lemos Pocidonio, E.A. (DEPTO. TURISMO – CEDERJ; PPGG-IGEO/UFRJ)
Resumo
O trinômio Geodiversidade, Geoturismo e Geoconservação busca reunir diretrizes a um planejamento turístico mais eficaz. Este trabalho procura exemplificar a relevância do patrimônio geológico-geomorfológico na implementação do turismo em Angra dos Reis, através da metodologia de inventariação com coleta de dados cadastrais e valoração, permitindo a criação de ranking dos geomorfossítios e subsidiando tomada de decisões precisas quanto ao uso e preservação ambiental.
Palavras chaves
geoturismo; patrimônio geológico-gemo; geociências
Introdução
O trinômio Geodiversidade, Geoturismo e Geoconservação está em voga no atual contexto mundial e os estudos que abordam essa temática são relevantes e necessários para um planejamento turístico mais eficaz. Neste contexto, o município de Angra dos Reis (RJ), internacionalmente reconhecido por suas belezas cênicas que envolvem principalmente elementos físico-naturais moldados por uma evolução geológico-geomorfológica ímpar mostra ser um importante laboratório para pesquisas nesta temática (Figura 1). Desta forma, partindo-se da utilização do trinômio apresentado como base conceitual para inventariação de aspectos turísticos, procurar-se-á fornecer argumentos essenciais à implementação da atividade geoturística e que tanto valorize quanto respeite a vocação natural local. Ressalta-se que o desconhecimento de aspectos geológico-geomorfológicos e da desconsideração destes em políticas de planejamento territorial, tem levado à ocupação desordenada e à perda de atributos turísticos importantes no município. Acredita-se, portanto, que a partir da implementação de tais aspectos em atividades turísticas pode-se dinamizar o turismo, a partir do estabelecimento e divulgação de sítios apropriados a fins turísticos. Deve-se ainda atrelar a tais atividades, mecanismos educativos que tenham como base o conhecimento das Geociências e que levem o uso e ocupação adequado, bem como contribuam para a proteção da mesma. O presente trabalho tem, portanto, como objetivo desenvolver uma proposta de inventário do patrimônio geológico-geomorfológico que tenha como finalidade subsidiar a implementação de roteiros geoturísticos que valorizem esta abordagem junto ao segmento turístico governamental e privado. Para tanto serão utilizados métodos disseminados na literatura que incluem elementos físico-ambientais em políticas de implementação turística local.
Material e métodos
O trabalho foi realizado em etapas de gabinete e de campo, respectivamente: a) levantamento bibliográfico a fim de construir o embasamento teórico-conceitual, principalmente, referente aos procedimentos metodológicos empregados, levantamento de dados secundários referentes aos atrativos turísticos da área de estudo, através de consulta a artigos, dissertações e sites de turismo; b) realização de etapas de campo onde uma primeira proposta de roteiro geoturístico foi avaliada e a metodologia de inventariação foi aplicada nos diferentes atrativos pré-selecionadas do referido roteiro. O aporte teórico-metodológico baseia-se em Brilha (2005; 2006), Pereira (2006), Nascimento et al (2008), Moreira (2011), Sharples (2000), entre outros e, especificamente, para o levantamento e inventariação foi utilizado o trabalho de García-Cortés e Carcavilla (2009), cuja proposta baseia-se na atualização do modelo de inventariação espanhol e que utiliza-se de um esquema de valoração em quatro classes: valores científico, didático, turístico/recreativo e de vulnerabilidade; sendo ainda enquadrados em dois grupos de geomorfossítios: interesse e proteção, ficando assim elencados: (a) Interesse: Científico, Didático e Turístico/Recreativo; e (b) Proteção: Vulnerabilidade. Além deste suporte metodológico, foi também empregada à proposta de Mansur (2010) voltada a geoconservação no Domínio Tectônico Cabo Frio, RJ, utilizando-se das estratégias de geoconservação de Brilha (2005, a saber: inventariação, quantificação, classificação, conservação dos geossítios, valoração e divulgação do patrimônio geológico, métodos estes já disseminados na literatura. E para enquadrar os geossítios/geomorfossítios dentro do contexto de patrimônio geológico construído foi utilizada apenas a primeira parte da metodologia referente ao cadastro de geossítios, que se refere ao cadastramento dos atrativos turísticos, ficando as etapas de valoração e ranqueamento destinados apenas para os geossítios/geomorfossítios.
Resultado e discussão
Procurando subsidiar a lacuna existente na estruturação turística local, haja
vista que há na área uma atenção quase exclusiva ao segmento do turismo “Sol e
Mar”, a definição do roteiro geoturístico foi balizado inicialmente em Pocidonio
(2011), no qual avaliou as indicações do potencial existente ao Geoturismo a
partir dos diferentes “Corredores Turísticos” propostos pela Prefeitura
Municipal: Ponta Leste, Ponta Sul, Centro e Contorno. E assim a partir deste
trabalho, em associação aos demais levantamentos bibliográficos para a área,
foram propostos os seguintes eixos para os roteiros geoturísticos, nomeados em
função do posicionamento geográfico: Eixo Geoturístico Centro - EGTC (Corredor
Turístico Centro), com 4 (quatro) atrativos; Eixo Geoturístico Sul – EGTC
(Corredor Turístico Contorno) - 1 (um) atrativo; Eixo Geoturístico Leste - EGTL
(Corredor Turístico Ponta Leste) - 4 (quatro) atrativos; Eixo Geoturístico
Oeste - EGTO (Corredor Turístico Ponta Sul) - 5 (cinco) atrativos, e Eixo
Geoturístico Noroeste - EGTNW, definido como Corredor Turístico Serra D’água,
com 1(um) atrativo (Figura 2).
O EGTC teve como atrativos selecionados o Convento São Bernardino de Sena,
Travessa Santa Luzia e o Chafariz da Carioca por apresentarem calçamento
histórico, estilo “pé de moleque”, confeccionado por mãos escravas a partir de
material rochoso oriundo da Serra do Mar, permitindo recontar parte da história
do município; além do fato que do Convento pode-se ter uma visão panorâmica de
parte da baía de Angra, local ideal para apreciação e conhecimento de aspectos
geológico-geomorfológicos locais; e o Cais dos Pescadores que possui seu
potencial geoturístico pelo fato de apresentar aspectos voltados à natureza
evolutiva das feições costeiras e seus depósitos correlativos, além de permitir
discutir sobre a evolução recente local, com aterros parciais das enseadas e
formação de ambientes tecnogênicos.
Para o EGTS foi selecionado o Mirante das Tartarugas, por constituir bom local
para observação de elementos da paisagem e discussão de aspectos evolutivos
geológico-geomorfológicos. O EGTL tem como atrativos o Monumento do Aquidabã,
Forte do Leme e Mirante do Camorim que apresentam como característica comum o
fato de serem locais para visualização e compreensão da conformação geológico-
geomorfológica local, além da Cachoeira da Caputera, que possui beleza cênica e
possui fácil acesso, permitindo ao geoturista compreender conceitos inerentes a
geomorfologia e a evolução da paisagem local.
Para o EGTO, o Mirante da Praia do Laboratório apresenta alto potencial para a
descrição e compreensão da dinâmica evolutiva local, por meio de visualização de
elementos geológicos e geomorfológicos, e a Vila Histórica de Mambucaba possui
parte de fachadas de casarões antigos e vestígios de calçamento pé de moleque
preservado, possibilitam não só contar fatos históricos como elementos da
formação geológico-geomorfológica por aí estar situada a desembocadura do rio
Mambucaba e, portanto, permitir observações sobre os processos geomorfológicos
costeiros atuais, além de possibilitar a observação do cenário de serras e
cristas do relevo que contornam a bacia. Além da Praia Secreta, que apresenta em
toda sua extensão blocos rochosos que dão ao local uma beleza única, formando
pequenas grutas a partir da sobreposição de alguns desses blocos; e as Ruínas do
Condomínio do Bracuí que representa uma antiga construção embargada de um
empreendimento hoteleiro, além da foz do rio Bracuí, que permite discutir
elementos evolutivos como na foz do rio Mambucaba.
E, finalmente, o EGTNW com o atrativo Mirante da Serra D´água que possui uma
vista privilegiada, acesso fácil, permitindo observar diferentes feições do
relevo (serras, morros, colinas e planícies), além de ser um ponto onde há a
interação serra e mar, pela possibilidade de visualização da Baía de Angra dos
Reis.
Localização e distribuição das unidades geomorfológicas da área de estudo
Mapa de pontos de interesse geoturístico do município de Angra dos Reis (RJ)
Conclusões
O Geoturismo é um segmento da atividade turística que vem ganhando notoriedade no meio acadêmico e social por possibilitar o incremento de elementos, em geral, negligenciados por essa atividade. Aspectos abióticos do meio ambiente, em especial, o relevo e a geologia, possibilitam maior inserção das Geociências na sociedade. E, assim, promovem visibilidade a aspectos geológicos-geomorfológicos que possibilita não apenas incentivar sua proteção, mas sua inclusão em políticas de planejamento de uso do solo, se tornando o inventário, portanto, uma importante ferramenta para esta contextualização. O município em questão tornou-se assim um laboratório ilustrativo para pesquisas que envolvam a temática ambiental, haja vista que seu relevo singular, tão pouco explorado enquanto produto turístico local, possa assumir importância nas atividades econômicas desenvolvidas ou a serem implementadas na área.
Agradecimentos
A Capes pela viabilidade do presente projeto de pesquisa.
Referências
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