A GEOLOGIA/GEOMORFOLOGIA COSTEIRA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA: POR UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA CONTEXTUALIZADA

Autores

Novais Souza, M.P. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA)

Resumo

Os livros didáticos continuam a ser a principal referência na sala de aula para alunos e professores das escolas públicas e privadas do país, embora muitas vezes utilizado de forma variada: em alguns momentos estimula a reflexão sobre o espaço geográfico e em outros trabalha com a Geografia de modo tradicional e não reflexivo. O objetivo deste trabalho é analisar como a geologia/geomorfologia costeira é abordada nos livros didáticos de Geografia, bem como refletir a prática pedagógica docente.

Palavras chaves

Zona Costeira; Livros Didáticos; Prática Pedagógica

Introdução

A formação política e territorial brasileira apresenta uma relação direta com o litoral, onde nesse espaço dar-se-á o início ao processo de colonização e povoamento pelos europeus. De acordo com Filho & Camillo (2006, p. 27). O Brasil era, nos primeiros tempos, ilha que se colocava entre as muitas terras de além-mar, a fornecer produtos primários à metrópole. Sua ocupação se fez beirando o litoral. O posicionamento das populações junto ao litoral nos primeiros tempos deve ser visto como a fixação entre dois vazios: o continental e o oceânico. O litoral brasileiro possui uma extensão de aproximadamente 8.500 km, ao longo da qual ocorrem unidades fisiográficas diferenciadas, onde reside parte significativa da população urbana, concentrada nas principais cidades do país. A posição do Brasil, apresenta distinção entre as nações marítimas, pois possui posição geográfica e estratégica voltada para o Atlântico, o que lhe garante condição equidistante dos centros mundiais de decisão na Europa e América do Norte, proximidade da África Austral, tornando-se elo de ligação marítima com outras nações, através dos seus portos de águas profundas, bem como clima favorável para navegação e comunicação. Portanto, entendemos a importância da construção/ampliação do debate sobre a mentalidade marítima/litorânea brasileira, no sentido de compreender os conceitos e determinados processos e fenômenos relacionado a esse ecossistema. Neste contexto, adquire relevância o entendimento de como a geologia/geomorfologia da Zona Costeira é apresentada nos manuais didáticos, principalmente de Geografia, onde a abordagem das definições das formas que compõem a fisionomia dessa paisagem, como também o debate teórico muda de coleção para coleção, de autor para autor. O objetivo deste trabalho é analisar como a geologia/geomorfologia costeira é abordada nos livros didáticos de Geografia, bem como refletir a prática pedagógica docente no que concerne ao ensino de uma geografia contextualizada.

Material e métodos

Pesquisas sobre o uso e qualidade teórica-conceitual dos livros didáticos de geografia ainda encontra-se incipientes e fragmentado, há uma lacuna sobre estudos mais aprofundados sobre essa temática e uma rede de pesquisadores, pois esse material mesmo diante desse novo momento das tecnologias midiáticas, permanece na centralidade da prática pedagógica e caracteriza a cultura escolar. A metodologia utilizada baseou-se em revisão bibliográfica, consulta ao Guia de Livros Didáticos do Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD 2012) e análise comparativa, onde foi avaliado utilizando os seguintes critérios: a) análise do perfil do autor ou autores; b) adequação dos textos e da linguagem ao público ao qual se destina; c) qualidade das imagens, representações gráficas e cartográficas; d) coerência da proposta teórico-metodológica; e) abordagem conceitual; f) as fontes bibliográficas (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007). No final do século XX, o Governo Federal estabeleceu a política de avaliação dos manuais didáticos em todas as dimensões, com objetivo de apresentar as escolas e os professores coleções com qualidade conceitual, informações geográficas corretas, atualizadas e isentas de preconceitos e, clareza nas proposições metodológicas. Respaldado nos critérios de análise comparativa e nas orientações e informações do GUIA PNLD (2012) foram selecionados dois livros didáticos do 1º ano do Ensino Médio, de coleções e autores diferentes, onde foram analisados os conteúdos relacionados a dinâmica das paisagens costeiras. A escolha dos livros do 1º ano do E.M para análise justifica-se pois é nessa série que é são retomados conceitos e conteúdos trabalhados no Ensino Fundamental II pertinente a ciência geográfica, de maneira consistente e aprofundada.

Resultado e discussão

O primeiro manual do professor avaliado foi o Projeto ECO – Geografia, 1ª edição, 2010 de acordo o Guia PNLD a coleção composta por três volumes destinado ao Ensino Médio e apresenta como temática central a questão ambiental, elo entre os elementos sociais e naturais. Fundamentada na concepção da Geografia Socioambiental e na Teoria dos Sistemas (2012, p.23). No tocante a adequação dos textos e da linguagem ao público referente a questão da geologia/geomorfologia costeira, apresenta-se adequada, porém apresenta uma definição de Erosão Marinha superficial na página 65, onde apresenta algumas feições (costão rochoso, falésias) que são desconhecidos por muitos alunos e mesmo docentes de geografia, necessitando maior aprofundamento. Não faz nenhuma referência a linha de costa brasileira, sequer aos fatores antrópicos e aos fatores meteorológicos/climáticos/hidrológicos atuantes nesse sistema, apenas os condicionantes oceanográficos, ou seja, apenas fatores naturais. Nas páginas 80 a 86 a autora apresenta o conteúdo Águas Oceânicas, a linguagem é acessível e de fácil compreensão, no entanto, o texto apresenta apenas aspectos relacionados aos oceanos tais como características do relevo submarino, profundidade e a circulação oceânica, fazendo referência ao fenômeno do El Niño, no final do texto ela apresenta a problemática do lixo marinho, porém em nenhum momento ela apresenta as feições e processos, bem como as definições das feições da paisagem entre o limite da terra e do mar, tampouco há contextualização da problemática do lixo marinho com a Zona Costeira do Brasil. Outro aspecto analisado refere-se a qualidade das imagens, representações gráficas e cartográficas, a figura da página 65 utilizada apresenta fonte, de boa qualidade visual, agrega informações ao texto, porém a figura é descontextualizada espacialmente, não faz referência ao contexto brasileiro. Outro critério apreciado refere-se a coerência da proposta teórico-metodológica, onde nos textos referente a temática analisada apresenta-se superficial e desconectada da concepção socioambiental indicada pela coleção, não problematiza, apenas evidencia a questão da ocupação das regiões costeiras e a poluição marinha sem aprofundar a discussão das causas, restringido as suas consequências. A abordagem conceitual é frágil, pois não fica claro os conceitos e as feições geológicos/geomorfológicos da paisagem costeira, a fonte bibliográfica que subsidia os textos está restrita apenas uma obra, necessitando do professor buscar outras fontes de apoio pedagógico com novas abordagens sobre essa temática, como também aplicar práticas pedagógicas contextualizadas, como atividade de campo, uso de ferramentas como Google Maps e Google Earth e apresentações em multimídia. O segundo manual do professor analisado foi Geografia Geral e do Brasil – Espaço Geográfico e Globalização, destinado a turmas do 1º ano do Ensino Médio, 1ª edição, 2010. Apresenta uma abordagem crítica dos conteúdos, valorizando a participação do aluno na compreensão dos temas, promove o desenvolvimento da autonomia do processo de aprender, sob enfoque da criticidade cidadão, através da articulação do local e o global. O capitulo 6 intitulado de “As estruturas e as formas do relevo”, no qual faz parte da Unidade 2 que apresenta como tema central Geografia Física e Meio Ambiente, os autores abordam os conceitos relacionados a fisionomia da paisagem, mesmo os autores não sendo pós-graduados em geografia física, demonstram coerência teórico-metodológica quando apresentam a atuação do agentes endógenos e exógenos na configuração da modelagem do relevo da superfície terrestre e o estabelecimento de relação entre a dinâmica da natureza e a sociedade. Os resultados demonstraram que alguns manuais didáticos ainda conservam uma visão restrita sobre a temática em questão e, quase sempre associada às questões ambientais, porém já dispomos de livros didáticos que apresentam uma análise das regiões costeiras de formacontextualizada

Conclusões

A aprendizagem dos aspectos relacionados a geologia/geomorfologia do ambiente costeiro de forma contextualizada e significativa, ainda na Educação Básica, permitirá o aluno/cidadão a construção da consciência sobre as ações de intervenção humana nesse ecossistema, que resultam em alterações no Sistema Terra, com consequências ambientais, sociais e econômicas. Enriquecer o debate e compreender a dinâmica das regiões costeiras, resultará na ampliação do olhar sobre um ambiente de extrema importância histórica, cultural, territorial e econômica para o país. Construir a ponte entre pesquisa científica, a informação cotidiana e o ensino sobre as paisagens litorâneas contribuirão para o planejamento e ordenamento territorial dessas áreas. É fundamental que, ainda no processo de formação inicial dos docentes de Geografia, esse conteúdo possas ser trabalhado, aliando teoria e prática, onde seja capaz de subsidiar o aprimoramento do conhecimento e da didática.

Agradecimentos

Agradeço aos bolsistas/alunos do Programa de Iniciação a Docência (PIBID) do Departamento de Ciências Humanas (DCH), Campus IV, Jacobina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Referências

BRASIL. Guia de Livros Didáticos: PNLD 2012: Geografia. – Brasília: Ministério da Educação, Secretária da Educação Básica, 2011.
CHAVES, Paulo de Tarso (org.). Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006.
PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para Ensinar e Aprender Geografia. São Paulo: Editora Cortez, 2007.


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