Potencialidades educativas de aspectos Geomorfológicos da Serra dos Tapuias - Bahia.

Autores

Meira, S.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Santos, G.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA)

Resumo

O presente artigo discute a potencialidade didática de dois sítios geomorfológicos da Serra dos Tapuias, município de Riachão das Neves, Bahia. Para sua realização foram realizadas busca de referencial teórico, reconhecimento em campo para compartimentação da paisagem e técnicas de inventariação e avaliação de patrimônio geológico segundo seu caráter educativo. Após análise percebe-se que as áreas configuram-se com potencial para a instituição de práticas ligadas a educação ambiental.

Palavras chaves

Patrimônio Geomorfológico; Geossítio; Educação Ambiental

Introdução

Em meio a crescente vertente ambiental que domina diversos campos do saber as Ciências da Terra encontrou no estudo da Geodiversidade e do Patrimônio Geológico uma importante ferramenta. As principais discussões na temática iniciaram na década de 1990 e apresentam como objetivo o estudo dos elementos abióticos da paisagem e dos processos ativos, isso associado a proteção de elementos que adquirem valor patrimonial (isso por meio de técnicas de geoconservação) e a difusão de conceitos e temas referentes as Ciências da Terra. Diante disso, a educação ambiental é um dos elementos primordiais nas medidas de geoconservação, já que auxilia a criar “uma cultura geológica na sociedade de uma forma em geral, fazendo com que os termos geológicos mais comuns comecem a fazer parte do vocabulário cotidiano dos cidadãos” (MOREIRA, 2008, p. 78) e incentivando assim a criação de uma consciência ambiental completa que contemple todos os aspectos da natureza e não apenas o biológico, como acontece atualmente. O presente artigo se insere nesse bojo teórico e realiza a descrição das potencialidades educativas de dois geossítios de caráter geomorfológicos presentes na Serra dos Tapuias, município de Riachão das Neves, oeste da Bahia. O local tem como principal potencialidade o fato de ser uma síntese da geologia e geomorfologia da região em que está inserida, além de apresentar no topo relevo ruiniforme. Sendo assim, o trabalho adquire relevância por se tratar de uma abordagem nova para a área de estudo, bem como na contribuição a discussão da geodiversidade e patrimônio geológico, a qual carece de aprofundamento em âmbito estadual e nacional.

Material e métodos

O presente artigo é parte da monografia intitulada “Geodiversidade da Serra dos Tapuias – Riachão das Neves (Bahia): Inventariação e Avaliação de Geossítios” que teve como objetivo discutir questões referentes a geodiversidade e o patrimônio geológico da área. Porém, nesse momento, serão abordados apenas dois dos cinco geossítios inventariados na monografia, os quais se apresentam como elementos geomorfológicos e com potencialidades educativas. A metodologia partiu em um primeiro momento da busca de referencial teórico sobre os temas, seguida por três trabalhos de campo, onde foi realizada a análise da paisagem e a inventariação dos Locais de Interesse Geológico (geossítios), a qual teve como base adaptação da metodologia proposta por Pinto (2011) e Pereira (2006), composta por fichas de caracterização dos prováveis geossítios, que conta com elementos como a localização, características petrográficas, geomorfológicas, tipo de geossítio, registro fotográfico e uma avaliação preliminar. A avaliação do valor educativo e da vulnerabilidade dos geossítios seguiu adaptação de metodologia apresentada por Brilha (2005). Devido a características intrínsecas da área de pesquisa algumas classes foram retiradas, como as de Infraestrutura Logística e Densidade Populacional, ou alteradas, como as classes de Segurança, Associação com outros valores e Beleza Cênica. Os geossítios podem alcançar valores que variam entre 1 (para mínimo) e 4 (para o máximo), diante disso foram estabelecidas classes, sendo que elas compreendem o intervalo entre 1 – 1,99 para o valor baixo, 2 – 2,99 para o valor médio e entre 3 - 4 para o valor alto.

Resultado e discussão

Dos geossítios inventariados na Serra dos Tapuias dois tem na geomorfologia a sua principal importância, sendo eles os Geossítios “Feições Ruiniformes” e “Panorâmico”, representados no Mapa 1 pelos números 4 e 5, respectivamente. Mapa 1: Geossítios da Serra dos Tapuias. O Geossítio Feições Ruiniformes localiza-se no topo da Serra dos Tapuias em meio aos arenitos silicificados e conglomerados da Formação Serra das Araras (Grupo Urucuia). É um geossítio área, que tem início na feição do Pórtico (coordenas UTM X:0491532/Y:8713842), a 742 metros de altitude, e fim na caverna conhecida como Casa dos Tapuias (coordenadas UTM X:0491730/Y:8713920), a 755 metros de altitude. Segundo Ab’Saber (1977, p.2) a “topografia ruiniformes são heranças de processos geológicos e geomorfológicos, mais ou menos complexos, que se enquadram na categoria das paisagens de exceção”. A gênese das feições ocorre devido a erosão diferencial que desintegram as rochas, a qual pode se desenvolver por características intrínsecas ou a fatores externos que convergem os agentes erosivos em determinados pontos. Na Serra dos Tapuias é oriunda de características intrínsecas das rochas, sendo visualizados veios de rochas conglomeráticas com cimento muito friável entre arenitos menos friáveis. A diferença litológica geraria pontos de maior erosão (erosão diferencial) que com o tempo origina dutos de maiores dimensões, evoluindo para um relevo ruiniforme. O valor educativo do geossítio foi de 2,70 (médio). A difícil acessibilidade das feições, a existência de vegetação e demais obstáculos que dificultam a visualização de alguns atributos e a potencialidade didática atingir apenas 2 valores, já que os elementos da geodiversidade abordam apenas conteúdos do ensino médio e superior, são questões que impossibilitaram um melhor resultado. Em contrapartida o geossítio apresenta elevada associação com valores ecológicos, já que é possível visualizar diferentes fitofisionomias do cerrado, indo desde campo rupestre até espécies típicas do cerrado stricto-sensu, bem como a valores culturais, já que são nessas feições se encontram pinturas rupestres. Outro fator relevante é o grande apelo cênico das feições. A vulnerabilidade do geossítio foi de 1,85 (baixo). A distância das feições de atividades potencialmente degradadoras e de vias de acesso, corroborou para o baixo grau de vulnerabilidade da área. As feições não apresentam possibilidade de deterioração de seus conteúdos principais por ações antrópicas, porém elementos secundários, como as pinturas rupestres, são passíveis de degradação pelo homem, o que já vem ocorrendo em algumas áreas através de pichações. O Geossítio Panorâmico localiza-se sobre a “Casa dos Tapuias”. É possível visualizar a diferença das áreas de chapada e de depressão, bem como as feições do relevo em mesa, escarpas, frentes de recuo erosivo, zona de rampas, escorregamentos e o trabalho da rede hidrográfica. Devido a diversidade de elementos o geossítio apresenta o valor educativo de 3,13 (alto). Foi atribuído o valor máximo em diversos campos avaliativos, dentre eles o de diversidade geológica, já que o geossítio apresenta mais de três tipos de elementos da geodiversidade (geomorfológico, petrológico, hidrológico, pedológico), e no campo de condições de observação, por se tratar de um geossítio panorâmico não há obstáculos que impeçam a visualização dos elementos da geodiversidade. O local também apresenta elevada associação com elementos ecológicos e culturais, é possível visualizar nuances da vegetação local, bem como do uso e ocupação do solo do Povoado de Canudos e entornos. Por fim, o inegável apelo cênico do geossítio. A vulnerabilidade atingiu o valor de 1,85 (baixo). A dificuldade de acesso, distância de atividades antrópicas potencialmente degradadoras e as características intrínsecas do ambiente que impossibilita a deterioração em seus elementos principais são os responsáveis pelo resultado.

Mapa 1

Geossítios da Serra dos Tapuias.

Conclusões

Os dois geossítios geomorfológicos inventariados na Serra dos Tapuias apresentam inegáveis potencialidades educativas. O geossítio “Feições Ruiniforme” pela existência de formas que exemplificam diferentes processos de erosão e de diferenciação de rochas. O geossítio “Panorâmico” por representar os principais elementos da geomorfologia regional. Cabe incentivar estudos sobre a temática de patrimônio geológico (e sua relação com a educação ambiental) na área, bem como sobre descrição da gênese e características aprofundadas da paisagem. Tal busca deve ter como objetivo relacionar os temas e conteúdos das ciências da Terra passíveis de serem discutidos nos geossítios com o conteúdo curricular de séries do ensino médio e/ou superior, para desenvolver possíveis trabalhos de campo com intuito educacional para o local.

Agradecimentos

Ao CNPq por auxílio financeiro através de bolsa de mestrado para o primeiro autor. Ao grupo de pesquisa "Sistemas Costeiros e Oceânicos" do CNPq.

Referências

AB’SABER, A. N. Topografia Ruiniformes no Brasil. In: Geomorfologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, 1977.
BRILHA, J. Património Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Braga: Palimage Editores, 2005.
MOREIRA, J. C. Patrimônio Geológico em Unidades de Conservação: Atividades interpretativas, educativas e geoturísticas. Tese. (Doutoramento em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. 2008.
PEREIRA, P. Património geomorfológico: conceptualização, avaliação e divulgação: Aplicação ao Parque Natural de Montesinho. Tese (Doutoramento em Ciências. Área de conhecimento em Geologia). Escola de Ciências, Universidade do Minho, Portugal. 2006
PINTO, A. M. R. T.. Caracterização e valorização do património geológico da Penha (Guimarães – Norte de Portugal). 2011. 202 f. Dissertação (Mestrado em Património Geológico e Geoconservação). Escola de Ciências, Departamento de Ciências da Terra, Universidade do Minho, Braga, Portugal. 2011.


APOIO
CAPES UEA UA UFRR GFA UGB