A UTILIZAÇÃO DO JORNAL COMO INSTRUMENTO DE REIVINDICAÇÃO PARA MORADORES EM ÁREAS DE RISCO, MANAUS - AM.
Autores
Macena, L.S.L. (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA) ; Costa, R.C. (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA)
Resumo
Este trabalho objetiva explanar sobre a utilidade dos jornais como meio de reivindicação e mobilização social para moradores em áreas de risco de Manaus – AM fazendo um levantamento com os noticiários de grande circulação manauara de 2007- 2010. Os resultados das informações apenas comprovam que moradores organizados têm maiores chances de serem atendidos tendo a seu favor o instrumento midiático que é o jornal.
Palavras chaves
Jornal; Manaus ; Área de Risco
Introdução
Os meios de comunicação se constituem formas da sociedade ter informação do que ocorre na cidade, no bairro, no país, entre outros. É comum ver que a notícia é uma marca intrínseca da indústria informativa, e o que tira por vezes a maior credibilidade conferida ao jornal é a forma como é apresentada a sociedade. Não é novo que uma única notícia tenha múltiplos enfoques sujeita aos profissionais que com ela trabalha. Ou ainda, a fim de não atingir nenhuma esfera de poder dos órgãos competentes aos problemas citadinos vêem-se manchetes como: “A fúria da Natureza ocasionando desastres”, atribuindo à natureza o problema, e não a falta de políticas públicas ou de aplicação das leis de ordenamento do solo urbano. Em se tratando de Risco, as notícias de problemas urbanos dão significativa margem de lucro, pois expõe deficiências da cidade, a fragilidade do poder público e a carência das pessoas que são afetadas por eventos de categorias diversas, enfim, faces de um problema de falha infraestrutural. A função política dos jornais é importante na sensibilização e mobilização dos cidadãos na tomada de decisões face ao problema. Segundo Carvalho (2002, p. 8): “Do ponto de vista político, a comunicação social é importante pelo mesmo tipo de razão, porque influencia a opinião dos cidadãos e, portanto a popularidade de ações a adotar pelos governos. Simultaneamente, o jornal influencia a percepção que os atores políticos têm dos problemas e muitas vezes contribuem para a definição da agenda política.” Em suma, cria um arcabouço discursivo no qual os assuntos são socialmente construídos; direcionando atenção para determinados problemas e acontecimentos, o jornal inicia frequentemente “uma cadeia de reações sociais e decisões em relação aos mesmos” (ibid). A parcela da sociedade que é usuária da indústria da informação mesmo ciente desse veículo de reivindicação e mobilização social o procura para manifestar uma indignação pública denunciando/relatando à imprensa.
Material e métodos
A metodologia consistiu em reunir jornais IMPRESSOS dos anos de 2007 a 2010 da cidade de Manaus coletados pelo grupo de pesquisa INPA/LAES. Foram realizados recortes das notícias referentes ao risco, e a partir deles construídos gráficos, mapas e tabelas destas informações dos seguintes jornais da cidade: A Crítica, Amazonas em Tempo, Dez Minutos, Hoje e Diário do Amazonas. Objetivando analisar como os eventos de risco são tratados pela indústria informativa, visto ser um dos meios pelo qual a sociedade se informa. Não se pode levar em conta a maneira como a informação é construída, pois fica claro que a empresa dos jornais mais triviais são os que possuem os textos mais enxutos, linguagem popular, por vezes irreverente, para repassar às pessoas com eufemismo notícias alarmantes. São os jornais repletos de figuras principalmente destinados às pessoas menos favorecidas às quais, também precisam manter-se informados. Já os jornais com matérias mais extensas, linguajar rebuscado, geralmente é para o público inverso que visa outros conteúdos e que pode pagar maior quantia freqüentemente - dado empírico. O importante nesta pesquisa foi a compreensão das notícias (apenas jornais impresso), a fim de comparar com os dados da Subsecretaria de Defesa Civil (anos 2007 a 2010, Dados coletados oficialmente), se a quantidade de ocorrências vem das localidades que também mais procuram a imprensa para reivindicação. Nestes recortes viu-se que as localidades que mais chamaram atenção da imprensa, com suas formas peculiares tiveram os problemas solucionados em menos tempo, o que deixa esse local em evidência na mídia, mesmo não sendo àquela comunidade com maior registro de ocorrência, mostrando que o evento qual não seja de grande repercussão nacional não terá espaço nos jornais se não houver um movimento social, uma causa mais forte que o diferencie, como uma inundação ou um deslizamento de tantos outros vistos, tornando-o alvo para lucro financeiro à indústria informativa.
Resultado e discussão
Em Manaus há exemplos de fatos que retratam o momento da crise tratada pelos
moradores e antes que aconteça, a forma como a mobilização das pessoas pôde
trazer de um reparo nas ruas à realização de obras sociais de renome para tratar
o problema.
No ano de 2007, por exemplo, houve um diferencial no registro de
ocorrências quando em Abril nos dias 9 e 10 houve uma chuva que mesmo sendo
normal para o período de janeiro a maio ocorreu em toda cidade, que das 1.444
ocorrências registradas em 2007, apenas em Abril foi de 725 excedendo as
ocorrências do ano inteiro.
No ano de 2008 ocorreu um diferencial nas ocorrências dos jornais
devendo-se principalmente a atenção direcionada à comunidade “Bairro União”,
zona centro-sul, bairro Parque Dez de Novembro – considerado bairros nobres.
Os moradores por meio de grandes alardes e busca da imprensa conseguiram a
retirada de 200 famílias por um programa do governo, não significando que toda a
zona esteja em risco, mas evidencia o nível de esclarecimento dos moradores, que
organizados obtêm melhores resultados em detrimento de localidades em piores
condições, mas sem movimento social.
Em 2009 foi a cheia do Rio Negro – com 29,77m – onde os das proximidades
de igarapés foram os atingidos além do evento ter afetado significativamente a
economia local; maior parte das ocorrências foi na orla da cidade, onde existe a
foz afogada das principais Bacias Hidrográficas da cidade: Mindú e Educandos, e
que em decorrência dessa cheia, muitos locais como a Ponta Negra, o Centro
comercial da cidade, e comunidades foram os mais atingidos.
O deslizamento do Porto Chibatão em 20/12/2010 também teve pela
imprensa grande atenção pela atingimento além do pontual - o polo Industrial de
Manaus - causando forte prejuízo financeiro.
Em Manaus, a zona leste apresentou pela Defesa Civil as maiores
ocorrências, no entanto, somente em 2010 e 2011 houve repercussão de seus
eventos com a retirada de parte dos moradores da Avenida Pista da Raquete, que
teve uma rápida expansão e pouquíssima infraestrutura nos espaços mais
declivosos da cidade. Isso deveu-se à organização de grupos de moradores
encabeçados por líderes comunitários que se manifestam por estes moradores. No
caso específico da Avenida Pista da Raquete, os moradores que tiveram suas casas
alagadas em janeiro de 2010 ficaram acampados na igreja católica –
aproximadamente 110 pessoas – e por fim, tiveram a atenção das autoridades
públicas.
Em fevereiro de 2011 quando três pessoas morreram por um deslizamento, e
pela situação sinistra o prefeito da época compareceu no local, trazendo
tumulto aos moradores e fez o prefeito insultar uma moradora, mostrando a falta
de conhecimento e o “descaso” das autoridades públicas em se tratando da
problemática do risco.
Essas pessoas são apontadas por morarem em tais condições, ou foram
morar ali, mas sabiam das condições do local, ou mais: acusadas de oportunistas
para conseguir auxílio público. Não há descarte de possibilidades, mas se posto
em percentuais dos trabalhos de campo realizados nas comunidades 90% não tem
condições de adquirir residência em local melhor e procurou esses espaços na
paisagem da cidade por ser única opção de adquirir moradia. Nos casos de novas
formações ocupacionais ainda vê-se estigmas lançados à população; também parte
dessa responsabilidade se deve aos jornais e como veiculam informações, que
dessa conotação tornam-se denúncias, como taxar os moradores de invasores,
criminosos, entre outros; isso mostra o grau de influência que os jornais
possuem.
Avaliando a importância das posições discursivas ou das perspectivas
promovidas por atores sociais e políticos e sua representação na
mídia jornalística é importante diversificar os instrumentos de análise lê-los
criticamente. O cruzamento destes dados no estudo abaliza
para um poder de perspectivação importante para a pesquisa, posto que com
algumas limitações (Carvalho, 2002).
Exemplo de 2009 para mostrar o resultado parcial de um dos 4 anos de pesquisa sobre a mobilização social na temática do risco no jornal
Conclusões
É importante que uma parcela da população moradora de áreas de risco conheça o instrumento de reivindicação e da mobilização que pode ser feito por meio dos jornais e saiba como se expressar no momento da crise e ter atendimento; e, principalmente, a visão da cultura de risco de prevenção antes que o evento aconteça. O jornalismo não pode administrar todas estas questões e os jornalistas nem sempre merecem elogios pela forma como as enfrentam (NEVEU, 2010), no entanto, reconhecidamente,podem ser a voz dos desprovidos de poder, neste caso representado por moradores de Áreas de Risco. Os eventos de risco são formas da relação sociedade-natureza como reflexo da formação sócio-espacial, portanto dentro da lógica da política dos grupos sociais envolvidos, na lógica dos conflitos territoriais de classes sócio-espaciais distintas como formadoras de conteúdos das paisagens, e na forma como são tratados pela imprensa no cotidiano (história em movimento e estruturação do espaço).
Agradecimentos
Agradecimentos ao CNPq pela bolsa PIBIC concedida no ano de 2009-2011. Esta pesquisa trata-se de uma temática dentro de uma pesquisa maior desenvolvida pelo LAES-INPA sobre as Áreas de Risco em Manaus.
Referências
CARVALHO, A. Mudanças climáticas, organizações ambientais e a imprensa britânica: uma análise do poder de perspectivação; in MIRANDA, J. B. e SILVEIRA J. F. (org.) As Ciências da Comunicação na Viragem do Século, actas do I Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Lisboa. Veja, 2002, p. 750-762;
NEVEU, Erik. As Notícias sem Jornalistas: uma ameaça real ou uma história de terror? SBPJor / Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo. Brazilian Journalism Research - Volume 6 - Número 1, 2010, p. 29-57.