A prática de ensino em geomorfologia na formação inicial do professor de geografia
Autores
da Conceição Neves, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ) ; Lopes Pinto, B. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA) ; Genoveva Nascimento Torezani Fontes, T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ)
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados do uso de oficina como uma metodologia de ensino da Geomorfologia na formação inicial do professor de Geografia. Este trabalho justifica-se pela necessidade de repensar práticas no ensino de Geomorfologia na formação do professor de Geografia. Inovar na prática do ensino da Geomorfologia não significa apenas trazer o recurso em si, mas sim, construir discussões que possam estimular o aprendizado Geomorfológico do licenciando em Geografia.
Palavras chaves
Ensino de Geomorfologia; Formação do Professor; Aprendizado Geomorfológic
Introdução
Emerge nos dias atuais a demanda por um ensino contextualizado e participativo. O Ensino da Geomorfologia não foge desse contexto. Logo, cabe ao professor de geografia diversificar sua prática pedagógica para torná-la mais interessante no processo de ensino-aprendizagem e de modo que possibilite ao aluno um ambiente propício à pesquisa escolar. A formação do professor de modo geral, já vem sendo pensada e reformulada na academia de modo que as pesquisas desenvolvidas nesse rol de discussões abarcam a complexidade ato de aprender e ensinar como elementos base na formação do professor (GARCIA, 1998). Para Cavalcanti (1998) o aluno quando é tomado enquanto sujeito do conhecimento geográfico, este ganha a possibilidade de compreender com mais sensatez a realidade espacial local. O professor nessa perspectiva de ensino-aprendizagem deve agir como mediador dessa compreensão e estabelecer metodologias que a contemplem num ensino eficaz e condizente com a realidade do aluno. Sob esse viés, Chiapetti e Souza (2008, p. 236) corroboram ao afirmar que “para resgatar a qualidade do ensino, é preciso buscar a totalidade do conhecimento”. É nessa busca pela totalidade geográfica que insere-se a Geomorfologia enquanto categoria base para o desafio da produção do conhecimento contextualizado. O professor de Geografia deve pensar criticamente na sua prática de ensino voltado a uma dinâmica de ensinar e aprender de forma contextualizada e significativa. Contudo, o ensino da geomorfologia não tem sido explorado de forma positiva nos cursos de Licenciatura em Geografia, de modo a estimular o futuro professor no desenvolvimento de metodologias na universidade que contribuam para sua prática docente. Neste trabalho apresentaremos os resultados do uso de oficina como uma metodologia de ensino, no que refere-se ao escopo da Geomorfologia na formação inicial do professor nos cursos de Licenciatura em Geografia.
Material e métodos
A proposta apresentada resulta de uma experiência em sala da aula a qual foi aplicado uma oficina enquanto metodologia para ensinar e aprender Geomorfologia nos espaços de formação do professor de Geografia. Como ideia inicial, optou-se como recorte trabalhar a dinâmica, evolução e diversificação das formas de relevo da existente na delimitação da Região Nordeste. O público-alvo deste trabalho foram os alunos do curso Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), justificado pelo fato de que neste curso todo o conteúdo referente à Geomorfologia é oferecido em apenas uma única disciplina, dando uma visão geral das diferentes temáticas e não aprofundando os diferentes conteúdos que se incluem na Ciência Geomorfológica. Logo, esta proposta veio subsidiar no desenvolvimento da prática docente em geografia de modo a construir e ampliar compreensão da Geomorfologia pelos discentes do curso de Licenciatura em Geografia. Para a aplicação da oficina optou-se pelo tema “Grandes sistemas naturais do Brasil: Uma leitura geográfica dos domínios geomorfológicos presentes na Região Nordeste”. Foi compreendido no momento de elaboração da proposta da oficina que é necessário o entendimento dos diversos domínios Geomorfológicos existentes na Região Nordeste assim como seus processos de formação e esculturação. A proposta de construção da oficina foi subdividida em 04 (quatro) momentos, sendo estas: 1) O resgate do conhecimento prévio acerca do elemento geográfico relevo; 2) Revisão teórica acerca dos conceitos-chave da Geomorfologia; 3) Confecção didática de perfis topográficos; 4) Elaboração do mapa tátil do relevo estrutural que se faz presente no Nordeste. Os recursos didáticos utilizados para as etapas da oficina foram: cartolina colorida, tesoura, cola, lápis de cor, papel milimetrado, régua, lápis e borracha. Como recursos pedagógicos foram utilizados o projetor, maquetes, fragmentos de rochas, cartas topográficas, textos, imagens e vídeos.
Resultado e discussão
A oficina teve como introdução a realização de uma breve exposição acerca dos
objetos de estudo da ciência geográfica tendo como ênfase o estudo da relação
homem-natureza na produção do espaço geográfico. Para tanto, utilizamos o
projetor para expor imagens diversificadas que demonstrassem essa relação sempre
enfatizando o uso do relevo na instalação da sociedade humana ao longo do
período histórico (figura 1a). Para o ensino da geomorfologia aplicamos uma
revisão teórica dos conceitos-chave e expomos imagens dos domínios
Geomorfológicos existentes no território Brasileiro. Neste momento, tecemos
considerações sobre os o conceito de relevo, seus processos de formação assim
como sua relevância para os estudos de planejamento ambiental e uso/ocupação.
No segundo momento, utilizamos a maquete enquanto recurso didático que
possibilita uma representação das diferentes formas do relevo (agrupadas em
domínios) na diversidade dos ambientes existentes no recorte da Região Nordeste,
que nesse caso, enfatizamos a representação dos processos de esculturação da
depressão sertaneja que tem uma expressiva representação no Nordeste (figura
1b). Ainda na maquete foi discutido as variações de temperatura de acordo com a
altimetria representada no relevo regional bem como a função desses desníveis
topográficos para a diferenciação do relevo e do próprio ambiente de modo geral
(estrutura pedológica, faunística, hídrica etc.).
No terceiro momento, realizamos a atividade de confecção de perfis
topográficos. Para tanto apresentamos seu conceito de topografia e sua função
real na configuração do relevo assim como sua significância em atividades de uso
e ocupação da terra (figura 1c e 1d).
É interessante ressaltar que até este momento, os discentes do curso de
Geografia mostraram-se participativos e imersos nas discussões acerca da
temática desenvolvida, pois as atividades propostas na oficina tornaram-se
indicativos para o surgimento de novas práticas de ensino na Educação Básica
onde os discentes irão atuar. Em uma de suas narrativas, o licenciando 01
enfatizou que “a Geomorfologia é muito boa de trabalhar em sala de aula, basta
ter criatividade e praticamente tudo pode ser representado e feito pelo próprio
aluno sob minha mediação”. Percebe-se daí que parte do professor a posição de
querer modificar o próprio ato de ensinar a aprender os conteúdos referentes a
Geomorfologia através da criatividade, tornando-a assim, mais atraente ao
diversificar sua metodologia de ensino.
Como última ação pedagógica da oficina, realizamos a construção do mapa
tátil dos domínios morfoestruturais do Nordeste. Utilizamos a variação da
coloração das cartolinas para criar uma concordância com a variação hipsométrica
do relevo estrutural existente no recorte da Região Nordeste (figuras 2a e 2b).
Nesta ultima ação da oficina foi enfatizada a estruturação da dos domínios
morfoestruturais presentes na Região Nordeste e sua diferenciação a partir da
atuação dos processos morfogenéticos que tem uma dinâmica diferenciada tanto na
área litorânea com a formação da planície costeira e dos Tabuleiros quanto na
porção continental do Nordeste que tem com maior ênfase na Depressão Periférica
e Interplanáltica.
1a: Exposição dos conceitos da Geomorfologia. 1b: Utilização da maquete para a explicação do relevo. 1c e 1d: Confecção de perfis topográficos.
2a: Construção dos mapas táteis. 2b: Resultado final dos mapas táteis.
Conclusões
O ensino da Geomorfologia assim como as discussões que circundam os elementos físico-geográficos deparam-se hoje com uma forte abstração no contexto da escola básica. Essa realidade está intrinsicamente relacionada na própria formação do professor de Geografia. Nesse sentido, vale ressaltar a importância em pensar novas práticas que estimulem a valorização do ensino da Geomorfologia na formação inicial do professor nas universidades. Em suma, inovar na prática do ensino em Geografia, dando ênfase aos conteúdos propostos pela ciência geomorfológica não significa apenas trazer o recurso pelo recurso, mas sim, construir discussões críticas que possam estimular o aprendizado do sujeito em prol de uma leitura crítica e analítica da paisagem de modo a compreender a Geomorfologia e sua aplicabilidade aos estudos ambientais. É pensando nesse modelo de prática que a formação inicial do professor de Geografia será remodelada numa perspectiva contextualizada e dialógica.
Agradecimentos
Referências
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998. 192p.
CHIAPETTI, R. J. N.; SOUZA, M. E. de. O ensino de geografia como caminho para o desenvolvimento de competências. In: CHIAPETTI, R. J. N. (org.). Discutindo geografia: doze razões para se (re)pensar a formação do professor. Ilhéus: Editus, 2008.
GARCIA, C. M. Pesquisa sobre formação de professores: o conhecimento sobre aprender e ensinar. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 9, p. 51-75, 1998.