A AULA DE CAMPO NA SERRA DO TEPEQUÉM - AMAJARI/RORAIMA COMO METODOLOGIA DE ENSINO NA DISCIPLINA DE GEOMORFOLOGIA

Autores

Falcão, M.T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORAIMA - UERR) ; Nascimento, F.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORAIMA - UERR) ; Chacon, T.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORAIMA - UERR) ; Pinheiro, M.N.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORAIMA - UERR)

Resumo

A aula de campo é um importante recurso pedagógico para a compreensão da geomorfologia, permite ao acadêmico a compreensão in loco dos conceitos geomorfológicos e principalmente da atuação antrópica sobre o meio natural. Nesse sentido o presente artigo tem como objetivo demonstrar a importância da aula de campo na disciplina de Geomorfologia, o estudo foi realizado na Serra do Tepequém município de Amajarí/RR com os acadêmicos do curso de Geografia da Universidade Estadual de Roraima.

Palavras chaves

Recurso pedagógico; Meio natural; Aula de campo

Introdução

A geomorfologia pode ser compreendida como o estudo das formas da terra. Neste sentido, para estudar a geomorfologia é importante considerar como integrante de seu objeto de estudo os processos responsáveis pelas ações capazes de criar ou destruir as formas de relevo (GUERRA; CUNHA, 2007). Assim, são de suma importância as aulas de campo dentro da disciplina de Geomorfologia, para que os acadêmicos possam observar o relevo e compreender as dinâmicas dos fatores endógenos e exógenos que influenciam na configuração e reconfiguração da paisagem. A Serra do Tepequém localiza-se na porção norte do Estado de Roraima no município de Amajari, pertence ao Planalto Sedimentar Roraima e apresenta topo irregularmente aplainado, com altitudes máximas de aproximadamente 1.100 metros, com contornos de escarpas abruptas, que se limita com extensos pedimentos ravinados (BESERRA NETA, 2007). Dessa forma, a região se configura como um excelente cenário geomorfológico para o desenvolvimento de aula de campo, no qual além dos fatores endógenos, pois, a área de estudo está inserida no domínio Urariqüera, que é caracterizado por forte estruturação WNW-ESSE a E-W e feixes de lineamentos NW-SE, influencia dos fatores exógenos que intensificam os processos erosivos. No que se refere a influencia antrópicos, principalmente através do uso intenso da terra decorrentes da atividade garimpeira nos anos 80, proporcionaram uma intensa mudança na paisagem, que torna a área um ambiente propício ao estudo geomorfológico (CPRM, 1999) Diante do exposto, o presente artigo objetivou demonstrar a importância da aula de campo na disciplina de Geomorfologia tendo como ambiente natural a Serra do Tepequém município de Amajarí / Roraima, a aula ocorreu na disciplina de Geomorfologia com a participação dos acadêmicos do curso de licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Roraima.

Material e métodos

A aula de campo foi realizada na Serra do Tepequém que está localizada no município de Amajarí. Durante a aula, ao longo do percurso foram realizadas 04 paradas, com o intuito de analisar, discutir e reconhecer pontos específicos relacionados à disciplina de geomorfologia: a primeira parada foi no Igarapé do Paiva, a segunda ocorreu na área de formação de voçorocas, a terceira parada foi na área de descarte irregular de resíduos sólidos, a quarta e última parada nas lagoas decorrentes da atividade garimpeira. A aula de campo teve inicio em sala de aula, no qual foram trabalhados os conceitos geomorfológicos tendo como suporte o Manual Técnico de Geomorfologia do IBGE (2009), Bigarella (2003) e Brasil (1975), bem como foi reconhecida as unidades geomorfológicas do estado de Roraima e da região de estudo, tendo como suporte o uso de sistema de posicionamento global- GPS, máquina fotográfica, trena para medição da largura e profundidade da voçoroca estudada e caderneta de campo, para as anotações pertinentes a cada ponto estudado. Ao final os acadêmicos produziram relatórios, no qual puderam demonstrar os conhecimentos adquiridos durante a aula de campo.

Resultado e discussão

A primeira parada foi realizada nas coordenadas N 03º 46’25.8’’/W 61º 43’ 16.4’’, no Igarapé do Paiva. Nesse ponto foi ressaltado que a serra do Tepequém, apresenta uma estrutura de relevo tabular com altitudes máximas de até 1100 metros. Conforme Beserra Neta et al. (2007), a paisagem da serra, em seu interior, apresenta áreas aplainadas, com altitudes que variam entre 575 a 670 metros, cujo formato alongado é limitado por morros residuais e encostas íngremes. No igarapé do Paiva foram discutidos ainda os processos de degradação do corpo hídrico consequência a exploração de ouro e diamante principalmente na década de 70 e 80, no qual foi enfatizado o processo de assoreamento que causou o desmatamento da mata ciliar, alterando de forma significativa a geomorfologia da área. Na segunda parada ocorreu em uma das voçorocas existentes na região, localizada nas coordenadas N 03º 46’26.4’’/W61º 43’ 53.7’’, no qual foram trabalhados os conceitos de voçoroca, que conforme Florenzano (2008) que são rupturas acima de 50 cm de largura e profundidade são denominadas voçorocas. Foram trabalhados ainda os agentes erosivos (água, vento e gravidade) e os tipos de erosão (laminar e ravinamento). Nesse momento os acadêmicos puderam medir a largura e a profundidade da voçoroca, que teve como medidas 2,10m de profundidade por 10 m de largura. Os acadêmicos puderam vislumbrar a presença dos morros alinhados, escarpas erosivas e encostas, bem como a unidade geomorfológica de Roraima denominada Planalto Sedimentar Roraima que se caracteriza pela presença de contornos de escarpas abruptas, que se limita com extensos pedimentos. No terceiro ponto ocorreu nas coordenadas geográficas: N 03º 46’ 26.3’’/ W61º 43’ 42.9’’ foi trabalhado à questão ambiental, no qual foram discutidos os problemas socioambientais decorrentes do lançamento dos resíduos sólidos a céu aberto, bem como a alteração na paisagem natural da região, e a falta da aplicabilidade das políticas existentes relacionadas a essa questão. Foi ressaltado o crescimento da população de moradores do Tepequém que têm provocado o aumento do volume de resíduos. Na área de estudo não há um local adequado para destinação dos resíduos, levando os moradores jogam seus resíduos de forma irregular, e a diminuição do volume ocorre através da queima do material. Souza, Falcão e Marinho (2012) em pesquisas realizadas no Tepequém, relataram a presença de vários tipos de resíduos descartados sem nenhum cuidado, como garrafas PET (23%), vidros (15%), latinhas de cerveja (31%), resíduos estes deixados pelos turistas/banhistas. Porém a presença de resíduos classificados como perigosos pela NBR 10.004 (2004), como pilhas, encontrados em uma quantidade significante (8%) chamou a atenção para o problema, devido à presença de metais pesados como chumbo, mercúrio e cádmio em sua composição. O último ponto ocorreu nas coordenadas N 03º46’18.6’’/W 61º43’42.5, nesse local foram discutidas as sequelas decorrentes da utilização de explosivos no local de extração dos minerais, a principal alteração foram a criação de crateras, que posteriormente foram reaproveitadas, a partir de um projeto do SEBRAE, para a criação de tambaqui. Durante a aula foi verificado a ausência de peixes, conforme a medição do Ph da água estava variando entre 4.5 e 5, ou seja, abaixo do ideal para criação de peixes. No decorrer das aulas os acadêmicos demonstraram interesse e expuseram o conhecimento adquirido em sala de aula durante a aula de campo.

Conclusões

A aula de campo de fato contribui para inter-relação acadêmico/espaço geográfico, principalmente no que se refere à compreensão dos fatores geomorfológicos que integram a paisagem. A partir da aula de campo realizada no na Serra do Tepequém, pode-se afirmar que a Geomorfologia não pode ser compreendida meramente como uma disciplina que compõe a matriz curricular do Curso de Geografia, mas sim contribui para a formação individual e coletiva interferindo na qualidade do ambiente vivido e experimentado.

Agradecimentos

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: Resíduos Sólidos- Classificação. Rio de Janeiro/RJ, 2004.
BESSERA NETA, L.C. Análise evolutiva da paisagem da serra Tepequém - Roraima e o impacto da atividade antrópica. 190f. 2007. Tese (Doutorado em Geoquímica e Petrologia) Instituto de Geociências. Universidade Federal do Pará, Belém, 2007.
BRASIL. Projeto Radambrasil: Levantamento dos Recursos Naturais. Folha NA 20 Boa Vista e parte das Folhas NA 21 Tumucumaque, NB 20 Roraima e NB 21. IBGE, Rio de Janeiro, 1975.
BIGARELLA, J.J. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003. Vol. 3.
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. Serviço Geológico do Brasil Roraima Central. Folha NA.20-X/NA.21-V, Roraima, Manaus: CPRM, 1999. Escala 1:500.000. 1 CD Rom.
FLORENZANO, T.G. (Org.). Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.
GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Manual Técnico de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 1994. (Manuais Técnicos em Geociências).
SOUZA, J.; FALCÃO, M.T.; MARINHO, N. A. O Turismo na Serra do Tepequém / RR e a geração de resíduos. In: I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA. Anais..., Manaus, 2012.


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