Caracterização morfopedológica e capacidade de uso da terra no município de Minaçu-GO.
Autores
Melo, R.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Costa, F.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Souza, J.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)
Resumo
O objetivo deste estudo é apresentar uma avaliação da capacidade de uso da terra e da suscetibilidade a erosão por compartimentos morfopedológicos. O estudo foi aplicado no município de Minaçu-GO e os resultados apresentam três grupos de compartimentos: Um grupo onde a suscetibilidade erosão é alta mas o uso é compatível; outro em que a suscetibilidade é moderada e com problemas simples de conservação e um terceiro grupo com alta suscetibilidade, com problemas complexos de conservação.
Palavras chaves
Morfopedologia; Uso da terra; Suscetibilidade a erosão
Introdução
A compartimentação morfopedológica compreende um procedimento de modelagem ambiental, com vistas a diagnosticar os processos de degradação relacionados ao substrato racha-relevo-solo. Esta metodologia visa definir unidades de paisagem que expliquem a ocorrência de impactos como processos erosivos, no intuito de subsidiar o planejamento da capacidade de uso da terra. A proposta deste trabalho é avaliar a capacidade de uso da terra e a suscetibilidade a processos erosivos, no município de Minaçu-Go, através dos procedimentos da compartimentação morfopedológica, com vistas ao planejamento de uso da terra. O município de Minaçu se localiza na mesorregião Norte Goiano, entre as coordenadas 13°09’00”/13°51’00” Lat. S. e 48°42’00”/48°05’00” Long. W. O município está inserido em uma das regiões onde extensas áreas do bioma Cerrado ainda permanecem preservadas, e isto se dá, principalmente, aos aspectos do meio físico como geologia, relevos e solos. Porém, inúmeros focos de processos erosivos têm sido identificados nas áreas de pastagem e atividades agrícolas. Segundo Sousa e Lima (2007) o estudo da capacidade de uso das terras tem por finalidade o planejamento de ações que venham ao encontro do potencial ecológico, econômico e produtivo dos solos. Dentre os maiores problemas relacionados ao uso das terras destaca-se, o risco de erosão, fato comum nas terras cultivadas sem planejamento.
Material e métodos
A aplicação da metodologia de compartimentação morfopedológica foi baseada em Castro e Salomão (2000). Cruzaram-se as bases de geologia, geomorfologia e solos e procedeu-se a delimitação das unidades homogêneas. Foram definidos quatorze compartimentos. Essas bases foram extraídas da Superintendência de Geologia e Mineração-SIC/GO disponíveis no sítio <http://www.sieg.go.gov.br/>. As descrições teóricas foram baseadas em Moreira et al. (2008), geologia; Goiás (2006), geomorfologia e Agência Ambiental de Goiás (2006), solos. Para a definição dos tipos de uso da terra e cobertura vegetal, utilizou-se a base shape, também disponível no SIEG com convalidação através de pesquisa de campo. A classificação também teve o auxílio do Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE (2006). Os mapas de declividade e hipsometria foram elaborados a partir do Modelo Digital do Terreno (MDT) – SRTM – TOPODATA/INPE (2005), disponível no sítio <http://www.dsr.inpe.br/topodata/documentos.php>. Para a elaboração dos mapas, foi utilizado o software ArcGIS 10. A definição das classes de erodibilidade e suscetibilidade a erosão se deu com base em Salomão (1999) e o diagnóstico da capacidade de uso da terra se deu com base em Lepsch (1991; 2002): Classe I: terras cultiváveis, aparentemente sem problemas especiais de conservação; Classe II: terras cultiváveis com problemas simples de conservação; Classe III: terras cultiváveis com problemas complexos de conservação; Classe IV: terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada, com sérios problemas de conservação; Classe V: terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação; Classe VI: problemas de conservação, parcialmente favorável à pastagem sendo mais apropriado a reflorestamento; Classe VII: problemas complexos de conservação, indicados para preservação e/ou reflorestamento; Classe VIII: problemas complexos de conservação, indicados para preservação.
Resultado e discussão
Os catorze compartimentos identificados estão especializados na Figura 1. As
classes de declividade, hipsometria e erodibilidade (Figura 2), também
contribuíram nas análises. Seque-se a caracterização e análise de cada
compartimento: CM-I: Estrutura braquianticlinal (EB) com base em granito e
sobreposta por xistos e quartzitos onde se desenvolveram Argissolos
Vermelhos
com erodibilidade média. As declividades variam de 20 a 45% e altitudes de
450 a
750m. Usos da terra são a pastagem, soja e milho e cobertura vegetal de
Savana
Parque e Savana Arboriza. CM-II: Superfície Regional de Aplainamento (SRA)
e
Morros e Colinas (MC) em Sequência Metavulcanossedimentar onde se encontram
Argissolos Vermelhos e Cambissolos com erodibilidade de média a alta.
Declividades entre 3 a 8% são predominantementes e as altitudes variam de
350 a
450m. Os usos são pastagem, soja, milho e hortaliças e fragmentos de Savana
Arborizada. CM-III: EB em Suíte Granito onde são encontrados Argissolos
Vermelhos e Neossolos Litólicos com erodibilidade de média a muito alta. As
declividades são entre 20 e 45%, elevação entre 750 e 850m e cobertura de
Savana
Parque. CM-IV: MC em Complexo Máfico-Ultramáfico onde se encontram
Chernossolos
Argilúvicos com alta erodibilidade. Declividades entre 20 e 45% e altitudes
entre 650 e 750. Os usos são mineração, pastagem e Unidade de Conservação e
coberturas de Savana Parque e Savana Florestada. CM-V e CM-VI: Quartzitos,
metassiltitos e xistos em EB, solos variando entre Neossolos Litólicos,
Cambissolos e Argissolos Vermelhos com erodibilidade entre média e muito
alta,
declividades entre 20 a 45%, altitudes entre 450 e 550m e cobertura de
Savana
Arborizada e Savana Parque. CM-VII: Xistos e micaxitos em SRA onde são
encontrados Latossolos Vermelhos, Argissolos Vermelhos e Cambissolos, estes
possuem erodibilidade entre baixa e alta. As declividades variam entre 3 e
8% e
altitudes de 450 a 550m. O uso predominante é pastagem com alguns
fragmentos de
Savana Arborizada. CM-VIII: Granitos, xistos e micaxistos em MC onde são
encontrados Neossolos Litólicos, Argissolos Vermelhos e Latossolos Vermelhos
com
erodibilidade de baixa a muito alta. Declividades variando entre 20 a 45%,
altitudes entre 550 a 650m e Savana Arborizada como cobertura. CM-IX:
Granitos,
xistos e micaxistos em EB, onde se desenvolvem Neossolos Litólicos,
Cambissolos
e Argissolos Vermelhos com erodibilidade variando de média a muito alta.
Declividades entre 20 e 45% e altitudes entre 350 e 450m e cobertura de
Savana
Arborizada e Savana Parque e pequenos trechos de pastagem. CM-X:
Metassiltitos,
metargilitos, quartizitos e xistos em MC onde ocorrem Neossolos Litólicos e
Argissolos Vermelhos com erodibilidade média e muito alta. As declividades
variam de 20 a 45% e elevações de 550 a 650m com cobertura de Savana
Arboriza.
CM-XI: Metassiltitos e metargilitos em MC onde são encontrados Neossolos
Litólicos, Cambissolos e Argissolos Vermelhos com erodibilidade de média a
muito
alta. Declividades variando entre 20 e 45%, elevações entre 550 e 650 e
cobertura de Savana Arborizada e uso pastagem. CM-XII: Metacalcários, xisto
e
micaxisto em MC onde se encontram Neossolos Litólicos, Cambissolos e
Argissolos
Vermelhos com erodibilidade de média a muito alta. As declividades variam de
20
a 45% e elevações entre 450 e 550m. Os uso são pastagem e seringueiras e
cobertura de Savana Arborizada e Savana Parque. CM-XIII: Granito Morro Solto
e
Sequência Metavulcanossedimentar em MC onde se assentam Cambissolos e
Argissolos
Vermelhos com erodibilidade média e alta. Declividades entre 3 e 8%,
elevações
entre 350 e 450m. Pastagem é o uso predominante coexistindo com fragmentos
de
Savana Arborizada. CM-XIV: SRA desenvolvida sobre metadioritos, quartzos e
rochas do complexo Máfico-ultramáfico, os solos são Argissolos Vermelhos e
Cambissolos com erodibilidade média e alta. Declividades que variam de 3 a
8% e
altitudes entre 350 a 450. Os usos são pastagem, algodão e área urbana.
Figura 1: Mapa de compartimentos morfopedológicos do município de Minaçu-GO.
Figura 2: Mapas de declividades, hipsometria e erodibilidade do município de Minaçu-GO.
Conclusões
Os compartimentos III, V, VI, VIII, IX e X são áreas de vegetação de Cerrado preservadas, porém a suscetibilidade a erosão pode alcançar níveis altos dependendo do uso e manejo da terra, se enquadrando na classe XIII de capacidade de uso. Os compartimentos II, VII, XIII e XIV apresentam declividades moderadas e erodibilidade entre média e alta, estas condições relacionadas aos usos pastagem e agricultura atribuem moderada suscetibilidade a erosão. Estes compartimentos se enquadraram nas classes I e II de capacidade de uso da terra. Os compartimentos I, IV, XI e XII apresentam erodibilidade de média a muito alta e declividades de 20 a 45%, os usos são pastagem, agricultura, mineração e seringais com alta suscetibilidade a erosão. Estes compartimentos se enquadram na classe III de capacidade de uso.
Agradecimentos
À Universidade Estadual de Goiás por ter disponibilizado o Laboratório de Cartografia e Geografia Física e o transporte para o desenvolvimento da pesquisa. Os autores também agradecem o apoio financeiro disponibilizado pela UEG, por meio do Programa de Auxílio Eventos (Pró-Eventos).
Referências
CASTRO, S.S. & SALOMÃO, F.X.T. Compartimentação Morfopedológica: considerações meto¬dológicas. GEOUSP No 7, p.29-35, São Paulo. 2000.
GOIÁS (Estado). Secretária de Industria de Comércio. Superintendência de Geologia e Mineração. Geomorfologia do Estado de Goiás e Distrito Federal. Por Edgardo M. Latrubesse, Thiago Morato de Carvalho. Goiânia, 2006.
IBGE. Manual Técnico de Uso da Terra. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. (Manuais Técnicos em Geociências, n. 7)
LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de Textos. 2002. p.147-177.
LEPSCH, I et al. Manual para o Levantamento do Meio Físico de Classificação das Terras no Sistema de Capacidade de Uso. Campinas: Soc. Bras. de Ciência do Solo. 1991.
MOREIRA, M. L. O. et al. Geologia do Estado de Goiás e do Distrito Federal. Goiânia: CPRM/SIC – FUNMINERAL, 2008.
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SOUSA, F. A. de; LIMA, C. V. de. Capacidade de uso das terras como suporte ao planejamento ambiental na bacia hidrográfica do ribeirão Santo Antônio – Iporá-Go. Boletim Goiano de Geografia. Vol. 27, nº 3, p. 91-101, julho/dezembro, Goiânia, 2007.